Robin Williams, actor cómico de dramático e vencedor de um Oscar da Academia em 1998 morreu ontem aos 63 anos. Williams foi encontrado pelas autoridades inconsciente e sem respirar na sua casa em Marin County, na Califórnia, e aponta-se para o suicídio por asfixia como causa mais provável da morte. O actor vinha sofredo de problemas de depressão há algum tempo, o que pode estar na origem do seu desespero. Williams tornou-se conhecido nos anos 70 na série "Happy Days" no papel de um extra-terrestre, Mork, tão popular que mais tarde teve honras de uma "sitcom" só para ele, "Mork & Mindy". O seu primeiro papel de destaque foi em 1980 com "Popeye" onde desempenhou o papel do marinheiro conhecido por comer espinafres, e mais tarde ficou consagrado em filmes como "Dead Poets Society", "Good Morning, Vietnam" e "Hook", onde fez o papel de Peter Pan. O seu amadurecimento como actor dramático valeu-lhe o Oscar para Melhor Actor Secundário na película "Good Will Hunting", mas tinha os seus altos e baixos, e seria sempre muito "marcado de perto" pela crítica. Outrora uma estrela, muito requisitado e garantia quase certa de êxito na bilheteira, a sua carreira veio sofrendo um declínio nos últimos anos, e o último filme em que teve "top-billing" foi em 2004, com "The Big White". Durante os anos 70 e 80 batalhou contra uma dependência da cocaína que quase arruinou a sua carreira, e em 2006 admitiu ser alcoólico. Nada que interferisse na sua vida familiar, pelo menos em matéria de envolvimentos românticos, pois casou três vezes e teve três filhos. Mesmo assim não evitou algum escândalo por altura do seu primeiro divórcio com Valerie Velardi, que o processou por lhe ter transmitido herpes (?).
A morte de Robin Williams foi destaque e causou algum choque nas redes sociais, uma vez que o actor terá entretido pelo menos duas gerações de cinéfilos, mas fico com a sensação de que este é mais um daqueles casos típicos de comiseração idólatra - agora "era o maior" porque morreu. Sinceramente deixei de seguir a sua carreira há bastante tempo, e nunca fui um grande fã. Tenho imensa pena de ter desaparecido Robin Williams, o ser humano, mas não considero que se tenha perdido um grande actor, e muito menos acho que a comédia terá ficado mais pobre. Pronto, pronto, já sei que estão com uma pedra em cada mão prontos a atirarem à minha cabeça, acusando-me de "não respeitar o momento", mas eu até estava simpatético com a morte do senhor, e sim, tal como referiu a sua terceira esposa e agora viúva, "é um momento triste que requer isolamento e tranquila reflexão" - uma forma eficaz de lidar com uma perda, neste caso. O que acontece é que de repente vejo quase toda a gente a recordar como Robin Williams era "o maior", e "como foi isto possível", e "já deixa saudades", quando ontem, na semana, no mês ou no ano passado nenhum destes "fãs" se interrogou: "por onde é que anda o Robbie Williams?". Agora não vale a pena lamentarem-se, ou fazerem-lhe elogios, que ele já não vos ouve. Vão tarde, ó seus fingidos.
A primeira vez que vi Robin Williams foi em "Dead Poets Society", ou "Clube dos Poetas Mortos", na versão portuguesa, e gostei, se bem que mais tarde fiquei a pensar que ficou aquém do seu potencial - essa foi uma oportunidade para relevar a sua "persona" histriónica, da qual usou e abusou noutras ocasiões. Além deste, contam-se pelos dedos de uma mão os papéis onde eu gostei de o ver. Menções honrosas para "The King Fisher", "Moscow on the Hudson", um dos seus primeiros filmes, que desconhecia e vi quase por acidente no canal inglês da Pearl nos anos 90, "Awakenings", ao lado de Penelope Miller e Robert de Niro, que para mim foi o seu melhor papel dramático, e "Mrs. Doubtfire", que foi o único em que me fez rir a valer. Quando não lhe era tanto protagonismo, conseguia ser genial, como aconteceu em "Good Will Hunting", com a benção do Oscar, e "Birdcage", onde no departamento humorístico esteve brilhante a fazer "assistências para golo" a Nathan Lane, que foi comicamente brilhante. Gostei assim-assim de "Jack", onde sob a realização de Francis Ford Coppola fez o papel de criança que sofria de uma síndroma raro (tão raro que não existe) que o fazia envelhecer precocemente, e em "Deconstructing Harry", de Woody Allen, onde tem uma simpática e curta aparição como um desenhista que começa a sentir-se "apagado" - literalmente.
Mas ficava difícil levá-lo a sério, pois quando era deixado à solta, Robin Williams era um desastre, e deixava transperecer os seus problemas com o abuso de substâncias - sim, isso explica muita coisa. Vi esta tarde comentários no Facebook a recordá-lo com carinho no filme "Jumanji", onde tal como em outros, como "Flubber" ou "Shakes the Clown", para citar dois exemplos, dá a sensação de que tem um ramalhete de fogos de artifício espetados no rabo e prestes a rebentar. O segundo filme que vi dele foi "Popeye", que detestei, e nem consigo entender como foi elogiado pelo seu papel em "Patch Adams", onde encarna o paradoxo de psiquiatra louco (?!). Mas o pior de todos é "Good Morning, Vietnam"; um filme que podia ter sido brilhante, inspirado na história verídica do radialista Adrian Cronauer, é completamente arruinado por Williams, que a certo ponto está tão hiperactivo e descontrolado que merecia dois tabefes, para ver se voltava a um estado normal. Juro que vou ter um esgotamento se a TDM se atrever a passar este filme pela 17ª vez. Os seus últimos papéis em "Night at the Museum" são puramente estratégicos no departamento do "casting", de quem procura um toque de extravagância, e a sua personificação do presidente Dwight Eisenhower em "The Butler" deve-se sobretudo ao pouco tempo que lhe é reservado no grande ecrã - Robin Williams funcionava muito melhor com trela curta. Mas como já disse, sinto pelo desaparecimento do homem. Paz à sua alma e condolências à família.
Sem comentários:
Enviar um comentário