terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: The Cure


Os Cure no início, quando eram apenas "três rapazes imaginários".

Os The Cure, que daqui adiante passarei a referir apenas por "Cure", são uma banda que começou por ser um projecto de música alternativa, mas que se viria a tornar num dos maiores fenómenos da "pop" dos anos 80, permanecendo ainda hoje em actividade. Os Cure confundem-se com o seu vocalista e líder Robert Smith, que é o único elemento que se mantém na formação da banda desde as suas origens. Originários de Crawley, West Sussex, na Inglaterra, a primeira forma dos Cure foi uma banda chamada Obelisk, formada então pelo jovem estudante Smith, apenas com 14 anos, e os seus amigos Michael Dempsey e Lol Tolhurst, que viriam a ser dois dos seus mais regulares companheiros nesta longa aventura. Os três foram convidados para uma banda chamada Malice, que viria a ser rebaptizada em Novembro de 1977 de Easy Cure, e mais tarde simplificada para simplesmente "The Cure". Em Dezembro de 1978 gravam o seu primeiro single, "Killing an Arab", um título inspirado no romance "The Stranger", do escritor absurdista francês Albert Camus, e que foi conotado com uma posição racista da parte do grupo - se "Killing an Arab", ou "matando um árabe" foi controverso em 1978, o que seria hoje. Apesar da polémica , o single foi bem recebido pela crítica e pelo público: nasciam os Cure.


Em Maio de 1979 saía o primeiro álbum, "Three Imaginary Boys", e no mês seguinte o 2º single, "Boys don't Cry", que seria um dos temas mais emblemáticos do início de carreira do grupo. Gravado originalmente para o primeiro disco, foi reeditado numa nova versão em 1986 para a colectânea "Standing at the Beach - the singles", e acompanhado deste vídeo, onde aparecem crianças a fazer mímica da canção, com as sombras de Smith e Dempsey na rectaguarda. Os Cure entravam na década de 80 com o rótulo de banda de "rock gótico", de que foram um dos pioneiros e um dos seus maiores representantes, ao lado dos Siouxsie and the Banshees, de que chegaram a fazer a primeira parte dos concertos. Se o primeiro registo variava entre os temas mais ligeiros, alguns com influência do "punk", a partir daí os Cure optaram por um som mais sombrio, mais taciturno, mais "gótico".


Assim em Abril de 1980 sai "Seventeen Seconds", onde se inclui este "Play for Today", que por incrível que pareça, e o tema mais ligeiro do álbum. "Seventeen Seconds" seria o primeiro da trilogia gótica, que continuou no ano seguinte com "Faith", e ficaria concluída em 1982 com "Pornography", que viria a adquirir estatuto de culto para os fãs. As canções eram lentas, deprimentes, que falavam de depressão, assombrações, claustrofobia, afogamentos, funerais e outros motivos tétricos. Ideal para se escutar num dia cinzento, fechado no quarto e a olhar para o tecto, e nada recomendável para quem tem tendências suicidas. Os Cure ganhavam uma legião de fãs que "curtiam" ficar deprimidos, e que se vestiam de preto, ostentando uma indumentária, penteado e maquilhagem (?) idênticas à do seu ídolo, Robert Smith.


Os Cure estavam satisfeitos com o título de mestres do gótico, mas queriam mais, e em 1983 lançaram uma colectânea de singles gravados entre Novembro de 82 e Novembro desse ano. Um disco muito mais acessível ao grande público, mas com uma recepção pouco calorosa da parte deste, e ainda mais fria da parte dos fãs, que consideram-no uma "traição". Mesmo assim a banda conseguiu alguma visibilidade com o single "Let's Go to Bed", um comentário sarcástico ao sexo na cena "rock", e que chegou ao top-20 do Reino Unido. Em 1984 regressam com "The Top", o seu quinto trabalho de originais. Mais do mesmo, com os Cure a não conseguirem atinar com um som que fosse do agrado dos fãs mas mais comercial. O single "The Caterpillar", que chegou ao nº 14 do top britânico. Em Novembro desse ano sai o primeiro disco ao vivo, "Concert - The Cure Live", que incluía o tema "Charlotte Sometimes", um single que ficou excluído de "Faith", em 1981.


Em 1985 sai "The Head on the Door", o sexto trabalho de originais e o primeiro grande sucesso comercial do grupo. Os Cure conseguiam finalmente encontrar a fórmula que combinasse ao mesmo tempo a estética gótica e um som que todos pudessem escutar sem pensar que a casa estava assombrada por almas do além. "Close to Me", um tema sobre claustrofobia, que apesar da temática veio acompanhada de um vídeo bem produzido e interessante, que despertava pelo menos a curiosidade dos grandes consumidores da pop que não os conheciam. Outro singles do disco, que chegou ao nº 7 da tabela de albums do Reino Unido, foi "In Between Days", e destaca-se ainda o lindíssimo "Kyoto Song", uma das melhores canções da banda (na minha opinião). Em 1986 sai a compilação "Standing on a Beach", com dez dos sigles mais conhecidos dos Cure. Quem ainda não os conhecia, ficava a saber o que tinham feito de melhor até agora.


Se os Cure já tinham atingido o estatuto de grande banda, esse ficaria consolidado com "Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me", o seu sétimo disco de originais, de 1987. Um duplo LP, um projecto muito ambicioso, que indicava que Smith "y sus muchachos" andavam muito ocupados a escrever e a compôr - isto apesar dos rumores de que nesta fase o líder da banda tinha problemas com o consumo de heroína, o que viria a admitir anos mais tarde. De "Kiss Me...", que foi o primeiro LP da banda a entrar no top-40 da Billboard, nos Estados Unidos, sairam três sigles: os agitados "Why can't I be you?" e "Hot! Hot! Hot!", e a balada "Just Like Heaven", outro dos temas que se tornou num dos cartões de visita da banda. No vídeo que suporta o single aparece Mary Poole, companheira de Smith, que a título de curiosidade refira-se que é o único relacionamento conhecido do cantor. Conheceu-a quando tinham 14 anos e estão juntos desde então; casaram, decidiram não ter filhos mas têm 25 sobrinhos e sobrinhas.


Os Cure achavam que depois de todo o sucesso comercial, deviam qualquer coisa aos fãs, e decidiram voltar aos sons mais intimistas do gótico, que tinham suspendido depois de "Pornography". Assim em 1989 sai "Disintegration", e pelo single de apresentação, este aterrorizador "Lullaby", mostravam que estavam a falar a sério quando diziam que o novo disco ia ter um som mais "dark". "Disintegration" tornou-se num favorito dos fãs (é aquele que eu mais gusto, por sinal) e foi nº 3 no Reino Unido e nº 12 na Billboard. O álbum produziu quatro singles, e surpreendentemente um deles, o mais descontraído "Love Song", foi nº 2 na tabela de singles da Billboard. Os Cure tinham acabado os anos 80 em grande.


Um Robert Smith já "cinquentão", com os Cure em Orange, 2012.

O primeiro registo de originais dos anos 90 seria "Wish", em 1992, onde se podia encontrar "Friday I'm In Love", outra das canções mais conhecidas dos Cure. Antes disso tinha saído a colectânea de temas misturados "Mixed Up", que continha o original "Never Enough". Seguiram-se "Entreat" e "Paris", discos ao vivo, e em 1995 outro de originais, "Wild Mood Swings". Os singles entre 1987 e 1997 ficaram compilados em "Galore", nesse ano, e em 2000 saía "Bloodflowers", uma tentativa de reavivar o sucesso obtido com "Disintegration", mas longe de obter o mesmo sucesso. Actualmente os Cure gravam de 4 em 4 anos, em média, e o último de originais foi "4:13 Dream", de 2008. Para sempre fica o estilo inconfundível de Robert Smith, os seus cabelos espetados, a sombre nos olhos e o baton, como quem nos desafia a fazer igual. Uma referência dos anos 80, quer se goste ou não dele e dos seus The Cure.

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