quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: Boy George


A primeira vez que vi Boy George foi neste vídeo "Karma Chameleon", tinha eu os meus nove anos. Penso que foi no programa "Top Disco", apresentado por António Duarte, um jornalista que depois viria também a passar por Macau. Lembro-me de ter perguntado à minha tia que criatura era aquela, e a que género pertencia. A aparência era de uma mulher feia, mas a voz e os gestos eram remotamente masculinos. Disse-me que era de facto um homem, e que aquele tipo de aparência e conduta eram "normais" no Reino Unido, o supra-sumo civilizacional, em contraste com o nosso Portugalinho muito atrasadinho no que dizia respeito às mentalidades. Este foi o meu primeiro contacto com um travesti, e algo assim como o Boy George só seria possível encontrar naqueles clubes lisboetas de má fama, onde se realizavam "shows" de transformismo.


Os Culture Club com um Boy George vestido de homem - quase irreconhecível.

Boy George nasceu George Alan O'Dowd em Kent, corria o ano de 1961. Ainda muito jovem, começou a frequentar clubes nocturnos londrinos da moda nos finais dos anos 70 vestido de menina, e a sua aparência chamou a atenção dos pequenos empresários que procuravam um lugar ao sol (e dinheiro, claro), aproveitando-se para isso do movimento neo-romêntico, a moda que se seguiu ao punk. Boy George chegou a cantar com os Bow Wow Wow, um famoso grupo "underground" daquele tempo, sob o nome de Lieutenant Lush (?). A rivalidade com a vocalista original causou-lhe dissabores, e então resolveu formar a sua própria banda. Sendo ele filho de pais irlandeses, o baixista Mickey Craig negro, o guitarrista Roy Hay anglo-saxão e o baterista Jon Moss judeu, resolveu baptizá-los de Culture Club, uma referência à diversidade do grupo.


O primeiro disco da banda saíu em 1982, intitulado "Kissing to be Clever". O primeiro single foi este "Do You Really Want to Hurt Me", que foi um grande sucesso, e continua a ser um dos seus temas mais conhecidos. Outro single do álbum, "I'll Tumble for You", foi também bem recebido. Para estreia não estava mal, e a confirmação chegaria no ano seguinte com um novo trabalho de originais, "Colour by Numbers", que incluía o tal "Karma Chameleon". Com um som que bebia de influências tão distintas como o pop, a música electrónica, o "reggae" ou o calypso, este trabalho dos Culture Club catapultava-os em definitivo para o estrelato, e garantia-lhes um lugar na galeria de referências dos anos 80. Enquanto as vendas corriam às mil maravilhas e os convites para concertos se sucediam, Boy George e Jon Moss mantinham uma relação amorosa sem o conhecimento dos restantes elementos da banda.


Embalados pela fama, os Culture Club lançaram em 1984 "Waking up with the house of fire", o seu terceiro de originais em três anos. "War Song" é um tema que ficu nos ouvidos da geração de 80, mas o novo trabalho teve uma recepção menos calorosa por parte da crítica. O envolvimento de Boy George em drugas duras começou a intensificar-se por essa altura, quando já tinha terminado o relacionamento com Jon Moss. O quarto álbum, "From Luxury to Heartache" que viria a ser o último dos Culture Club, saíu em 1986, marcado pelos atrasos na gravação das partes vocais por parte de George. Um dos músicos que participou no disco, o teclista Michael Rudetsky, apareceu morto na casa do cantor com uma overdose, que por esse motivo foi processado pelos seus pais. Para terinar 1986 em beleza, Boy George foi detido na posse de heroína.


A carreira a solo de Boy George tem início logo no ano seguinte, em 1987, e aparece "lavado de fresco" com esta tema "Everything I Own", um original de 1972 dos Bread, que lhe valeU um nº 1 no Reino Unido. O álbum "Sold" vendeu menos bem, mas deu para provar que o extravagante Boy George estava aí para as curvas. Seguiram-se "Tense Nervous Headache" em 1988 e "Boyfriend" em 1989, que ficaram mais tarde remisturados e compilados na colectânea "High Hat". Os anos 80 terminavam assim para Boy George, cheios de altos e baixos, mas numa nota positiva. Houve quem atribuísse o novo fôlego do cantor à sua conversão ao Budismo e ao vegetarianismo, mas ficaria ele pela meditação e pela proteína se soja?


Boy George lançou em 1991 o seu novo trabalho, "The Martyr Mantras", onde o tema de apresentação, "Bow Down Mister", marcava uma viragem do budismo para...o hinduísmo. Foi um sinal da instabilidade que ainda estava para vir, e Boy George tem combinado o muito bom e o péssimo nos últimos 20 anos, desde o belíssimo single "Cryin' Game", uma versão de um tema dos anos 60 da autoria de Brenda Lee, e uma detenção em 2008 por ter sequestrado e escravizado um jovem noruguês que era seu amante (pelo menos durante os momentos em que o torturous, suponho). As drogas continuar a marcar o ritmo, e hoje Boy George está mais afastado dos discos, trabalhando como DJ, fotógrafo e designer de moda. Figura pouco consensual, é uma espécie de Paul Gascoigne da pop: tanto talento deitado fora...

1 comentário:

Alvorino Dias disse...

Considerando a data deste post, está bem desatualizado!
Boy George largou as drogas faz 6 anos, emagreceu, lançou um ótimo álbum ano passado e está prestes a lançar um novo com o Culture Club.