quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: italo-disco


Falei no Domingo do fenómeno do Eurodisco, a resposta europeia à "disco music" americana durante os anos 80. Mas dentro desse Eurodisco, há um género que merece ser apreciado individualmente: o italo-disco. Tal como os "spaghetti westerns" dos anos 70, era de Itália que chegava o que de mais e melhor se tocava nas pistas de dança pela Europa e não só. Os artistas eram 100% italianos, ou pelo menos completamente radicados em Itália, mas optavam por cantar em inglês, procurando outros mercados para além dos Alpes. O "padrinho" desta moda, sem segundas leituras que possam ofender os meus amigos italianos, foi Giorgio Moroder, uma espécie de génio da música electrónica que teve grande popularidade além-fronteiras nos anos 80, e que lhe valeram dois óscares da Academia para melhor canção original - um deles com este "Together in Electric Dreams", onde "empresta" a voz Phil Oakey, dos Spandau Ballet. Alguns dos artistas que escolhi para este capítulo da rubrica dedicada à década mais louca da música são bem conhecidos, e outros podem aparecer como uma surpresa para o leitor menos atento: "afinal este gajo era italiano???".


Por exemplo, recordam-se deste "I Love Chopin", de um tal Gazebo. Isso mesmo, o artista conhecido por "Gazebo" é um tal Paul Mazzolini, italiano nascido no Líbano, e o autor de "I Like Chopin" é Pierluigi Giomboni. O single de 1983 foi nº 1 nos tops da Suíça, Espanha, Áustria e Alemanha, e nº 2 na Itália (curiosamente) e França, e deu origem a várias versões, incluíndo esta de Alan Tam, de 1992, e que voltaria a ser gravada por Faye Wong, em 1999.


Ken Laszlo, um nome que soa a húngaro de origem ou pelo menos de ascendência, não era mais que o nome artístico de Gianni Coraini, um italiano de Florença que aproveitou a "onda" de Giorgio Moroder no início dos anos 80. O seu single mais conhecido será "Don't Cry", mas foi com este "Hey Hey Guy" que pôs as pistas de dança europeias a dançar. Actualmente Coraini continua a trabalhar como DJ em Itália, e já não coloca êxitos da italo-disco nos pratos, naturalmente, mas continua a gravar ocasionalmente, e "só para conhecedores".


Os Scotch eram um trio composto por Manlio Cangelli, Vince Lancini e Fabio Margutti, que saltaram para a atenção dos fãs da disco com o seu single "Disco Band", de 1984. O seu longa-duração "Evolution", no ano seguinte, teve uma boa recepção, e tanto "Disco Band" como outro single "Take Me Up", chegaram ao top-20 português, chegando a nº 4 e nº 11, respectivamente. Contudo considero este "Mirage", que foi nº 2 na Suécia, a sua melhor canção. Curiosamente é nesta que grande parte da letra é cantada em italiano.


E por falar em tops, lembram-se deste? Isso mesmo, "Tarzan Boy", que fez o seu grito ecoar pela lista de discos mais vendidos em Portugal no Verão de 1985, em competição directa com esse "monstro" que foi "We Are the World". Os autores do feito eram os Baltimora, um grupo italiano com um vocalist irlandês, Jimmy McShane, que viria a morrer vítima de SIDA em 1995, aos 37 anos. Além de Portugal, "Tarzan Boy" chegou a nº 1 em Espanha, França, Bélgica e Holanda, e coisa rara para um êxito da italo-disco, foi nº 3 do exigente top do Reino Unido. E mais: no top-100 da Billboard "trepou" até ao nº 13. E digam lá se não era irresistível? Oh oh oh oh oh oh oh oh...oh oh oh oh oh oh oh oh oh...


E claro que deixei o melhor para fim. O melhor, dependendo dos gostos, claro. Sabrina Salerno, ou apenas Sabrina, tomou de assalto a Europa no Verão de 1987 com o tema "Boys", que foi o seu primeiro êxito em inglês. O vídeo que acompanha o single é memorável, e nele vemos a estrábica Sabrina a cantar numa piscina, enquanto parecia ter algumas dificuldades com o guarda-roupa, nomeadamente a parte superior do bikini, que não conseguia conter os seus enormes...ahem, talentos. Uma versão "soft" do deboche italiano dos anos 80, que tinha a sua expressão máxima na actriz porno e deputada Cicciolina.


A moda da italo-disco durou praticamente durante toda a década de 80, e viria a perder o seu gás com a italo-house (estes italianos parecem ser muito senhores do seu nariz). É claro que não é possível falar de todos que contribuiram para este fenómeno, mas já agora ficam menções honrosas para Silver Pozzoli e o seu êxito "Around my dream", Spagna, conhecida pelo tema "Call Me" ou ainda os artistas italianos que cantavam na sua língua original sucessos que passaram nas pistas de dança, como Eros Ramazotti ou Gianna Nannini - sim, irmã do ex-pilot de F1 Alessandro Nannini. Os anos teimam em passar, mas a memória fica...

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