sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Run Run Shaw, o sr. televisão


Faleceu na última terça-feira Run Run Shaw, conhecido em Hong Kong pelo "Sr. televisão". Produtor e realizador de cinema e de televisão, empresário, agente e filantropo, foi um dos fundadores do canal TVB, e seu director-executivo entre 1980 e 2010. Uma vida cheia, que viria a terminar esta semana com a bonita idade de 106 (cento e seis) anos. Nascido em Ningbo, província de Zhejiang sob o nome de Shao Renleng, mudaria depois para Shao Yifu, devido à dificuldade da maioria dos chineses em pronunciar o nome "leng". Aos 19 anos mudou-se para Singapura para assistir o irmão mais velho no negócio da distribuição de filmes - estávamos em 1927, uma época onde os filmes não tinham ainda som. A família Shaw tinha já iniciado um negócio de produção cinematográfica em Xangai alguns anos antes, e em 1931 Run Run e os irmãos produziram aquele que é considerado o primeiro filme sonoro chinês. No ano seguinte juntaram ao feito outra iniciativa pioneira, com a realização do primeiro filme falado no dialecto cantonense. Já com estúdios em Singapura, Xangai e Hong Kong, os irmãos viriam o seu trabalho dificultado pelas invasões japonesas, mas apesar dos problemas eram proprietários de 139 salas de cinema na região, incluíndo a primeira com sistema de ar-condicionado em Beach Road, Singapura.

Os irmãos Shaw foram passando privações durante os anos 40 e 50, primeiro com a Guerra e depois com os comunistas, que consideravam os artistas "decadents", e viriam a instalar-se definitivamente em Hong Kong no ano de 1957, com o propósito de produzir cinema local. Nos anos 60 a Shaw Brothers (Hong Kong) foi responsável pela produção de muitos clássicos do cinema local, com destaque para os filmes de "kung-fu", que começavam a ter adeptos também no Ocidente. Quando Run Run fundou a TVB, em 1967, a sua empresa familiar era apelidada de "os reis do cinema asiático". Apesar de ter 60 anos quando finalmente se afirmou como empresário na indústria do entretenimento, Run Run Shaw teve uma longa carreira depois disso, e foi responsável pelo aparecimento de artistas ainda hoje de renome, como são os casos de actores como Raymond Chao, Chow Yun-fat ou Maggie Cheung, ou cantores como Leslie Cheung e Anita Mui. Teve um asteróide baptizado com o seu nome, foi laureaado com a medalha de Grande Ordem do Império Britânico em 1974, e feito cavaleiro pela própria rainha Isabel II três anos depois, além de inúmeros outros prémios e menções. Como filantropo, contribuíu com milhões de dólares para a construção de escolas, hospitais, bibliotecas, salas de cinema e outros projectos de interesse cultural em Hong Kong e na China continental. Abandonou a liderança da TVB aos 104 anos, e no dia 7 a morte recordou-o que afinal também não era um imortal. Mas por uns instantes, parece que a enganou.

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