Como não podia deixar de ser, o FireHead respondeu
ao meu artigo de terça-feira no blogue, com
este artigo publicado no seu "Blogue do Firehead" logo no dia seguinte. Confesso que estive tentado a responder-lhe ontem, mas aguardei pelos comentários, e não me arrependi. Valeu mesmo a pena a espera. E porquê? Porque o que me parece é que há aqui muita leitura vertical e pouca paciência em olhar um pouco além do que está preto no branco (ou branco no preto, no caso do blogue dele), o que leva a um sem-número de mal-entendidos desnecessários. Confesso que fiquei um pouco alterado com a soberba demonstrada pelo autor daquele blogue pelo seu comentário à minha coluna de opinião do Hoje Macau da última terça-feira, mas passo a explicar porquê. E como ele me trata pelo meu nome de registo (recordo mais uma vez que não sou baptizado), que é Luís Crespo, eu trato-o pelo seu, que é Hugo Gaspar.
O que o Hugo Gaspar parece não entender é que como cidadão de Macau de pleno direito, estou-me nas tintas para quem exerce a soberania sobre o território, se são os portugueses, os chineses, os ingleses ou os tobaguenhos. Cheguei a Macau em Agosto de 1993 e tirei o BIR pela primeira vez em Junho de 1994, e desde a minha chegada que aqui vivo ininterruptamente, e nunca fiquei durante mais de 31 dias fora de Macau. Na mesma situação que eu estão outros portugueses, macaenses, chineses, Filipinos, indonésios, russos, franceses e muitos outros originários de outros pontos do globo, e seus descendentes, quer tenham nascido ou não em Macau. O critério que atribui a residência não tem a ver com a nacionalidade ou com a origem. E posto isto, o que me interessa é Macau, e a forma como temos sido administrados nos últimos tempos tem tido efeitos nefastos na qualidade de vida da população e na economia das famílias, nomeadamente em termos do acesso à habitação ou da descaracterização da matriz da cidade, pontos em que o Hugo Gaspar diz também concordar. Onde ele está equivocado é na minha intenção em chamar a atenção para estes problemas. Não penso que com mais de 60 artigos semanais publicados num jornal local de referência em língua portuguesa e um blogue que mantenho há mais de seis anos (oito anos de blogosfera no total em Março deste ano), tenha assim tanta necessidade de "aparecer", como o Hugo Gaspar refere. Lê quem quiser, e para quem quiser comentar, terei todo o prazer em responder, ou trocar pontos de vista.
A Macau que eu quero para mim próprio é a Macau onde todos tenham um nível de qualidade de vida decente, paguem o que é justo pela habitação, bens de primeira necessidade e transportes, e que se dote o território de meios para que seja possível receber os milhões de visitantes que aqui chegam todos os anos sem prejuízo para o bem-estar dos residentes. E uma das medidas que as cabecinhas pensadoras podiam tomar era melhorar a qualidade de alguns serviços públicos, que poluem, fazem barulho e atrapalham a vida de quem tem que se deslocar de carro ou a pé dentro da cidade, e os problemas estão perfeitamente identificados: é o trânsito, é a poluição, são as obras feitas em qualquer lugar e a qualquer hora, à revelia do sossego dos moradores das áreas onde se realizam. O Hugo Gaspar que perdoe se me fiz entender mal, mas não lhe quis confrontar da forma como ele alega que eu fiz. Tem todo o direito à sua opinião e não me sinto mais habilitado que ele a esse respeito. O que eu penso, e insisto nesse ponto, é que ele fez uma leitura vertical do artigo de terça-feira do Hoje Macau.
Quanto aos argumentos que expõe neste seu último "post" sobre a nossa troca de galhardetes, não posso deixar de fazer alguns reparos. Sim, escrevi "a cobro do anonimato" de Março de 2006 até meados de 2012, altura em que me revelei "publicamente através do semanário católico (ou seja, da Igreja Católica, coisa que ele não gosta) O Clarim". Sim, aceitei a proposta d'O Clarim em dar uma entrevista onde falei do blogue, do anonimato e tudo mais. Não vou explicar agora pela enésima vez a questão do anonimato pelo qual optei no início, mas gostava de deixar claro que não tenho nada contra a Igreja Católica em particular, nem contra qualquer outra religião em particular. Como em todo o resto, valorizo tudo o que é positivo e condeno o que considero negativo, e sempre fiz questão de deixar claro que essa é apenas a minha opinião, e quem quiser pode discordar. Não fique à espera é que eu não produza uma contra-resposta, e o tom desta depende do tom da resposta.
Continuando na onda das ideologias e da religião, o Hugo Gaspar lança a confusão quando escreve:
"A ignorância é uma coisa que assiste a muita gente. Só assim é que nós podemos entender, ainda que por vezes com muito custo, que há gente que não sabe que ser de Direita, e ainda por cima de extrema, não tem necessariamente que estar contra os judeus ou Israel. Muito pelo contrário, como já foi várias vezes dito também aqui no blogue, quem está verdadeiramente contra os judeus e Israel são os da extrema oposta. Próprio Hitler dizia que eles, os nazis, eram socialistas. Portanto, ou o socialismo afinal é de Direita, ou então andamos todos confusos (só assim se pode misturar os nomes Adolfo e Benito)".
Portanto o Partido Nacional Socialista, vulgo "Nazi", é de esquerda, porque contém a palavra "socialista". E já agora o PSD é de esquerda também, porque é a sigla para Partido SOCIAL Democrata. E que grande esquerdalhada vai ali para o CDS/PP: Centro Democrático SOCIAL/Partido POPULAR. Popular? Como em República POPULAR da China? Ui, que perigo vermelho, como quando estamos no bem-bom com uma moça e quando nos preparamos para dar o "golpe" ela diz-nos que está com as regras. Já que brincamos com as palavras, porque não dizer que a República DEMOCRÁTICA Popular da Coreia (vulgo Coreia do Norte) é democrática? Afinal é a mesma lógica que suporta a afirmação dos Nazis e de Hitler serem "de esquerda".
Mas agora vamos à secção de comentários deste "post" do Hugo Gaspar, que se diz um indivíduo recto, defensor dos valores da coerência e que condena a hipócrisia. Atentemos a esta magnífica sequência:
Anónimo disse...
Já até te chamam nazi lá no blog dele. Hahahaha.
8 de Janeiro de 2014 às 14:46
FireHead disse...
A ignorância é mesmo terrível!! :)
Pelos vistos os anónimos decidiram comentar nessa posta dele. Eu devo ser mesmo muito importante, lol.
E quem diz que eu sou nazi é tão burro ou cego que não vê o que está na coluna da direita aqui do blogue.
8 de Janeiro de 2014 às 14:58
Anónimo disse...
ena pa, coitado do homem que agora vai ficar sem argumentos.
mas de facto, um dos motivos que venho diariamente ver os teus posts é por causa da tua coerência em todos os assuntos que comentas, e à pala disso eu tambem aos poucos vou construindo a minha visao global sobre os assuntos tambem.
8 de Janeiro de 2014 às 16:14
Reparem como destaco a negrito as palavras "anónimo" e "anónimos. Portanto , o anónimo comenta, o Hugo Gaspar responde mencionando que os "anónimos" resolveram comentar naquela "posta", e de novo o anónimo comenta e ainda fala de "coerência" na parte em que diz que não pensa pela própria cabeça, e que vem diariamente ler os posts do Hugo Gaspar, para "à pala" deles "construír a a sua visão global sobre os assuntos, também". Tiro o chapéu ao Hugo Gaspar pelo valoroso trabalho que realiza junto dos que sofrem de atraso mental profundo. O mais curioso é que o tal anónimo diz que "o homem (eu) vai ficar sem argumentos", e depois municia-me com um argumentos a dar com um pau.
Mais em baixo leio outro comentário de um tal Lura do Grilo, onde se lê o seguinte:
Fui visitar o site deste perigoso Leocádio. Queixa-se das suásticas na porta das mesquitas. Ora não se percebe a razão: primeiro são adeptos da causa e depois as suásticas são tão estilizadas que é fácil adivinhar quem as fez.
Este (ou esta) deve ser outro objecto da caridade voluntária que o Hugo Gaspar faz junto dos menos dotados de inteligência, pois além de não conseguir atinar com o meu pseudónimo, que consiste apenas de uma palavra, tem sérios problemas na interpretação daquilo que lê. No artigo sobre as suásticas a que se refere,
este, não me queixo uma única vez das suásticas à porta das mesquitas. Aconteceu na Suécia, portanto os suecos que se preocupem com o problema. O que achei estranho foi terem desenhado suásticas, um símbolo associado aos Nazis, que o Hugo Gaspar defende serem "de esquerda", à porta de uma mesquita, quando os Nazis são responsáveis directos pelo Holocausto de nove milhões de judeus, que o Hugo Gaspar tanto preza. Agora boa sorte a explicar isso ao Lura do Grilo, que parece ter uma teoria da conspiração muito ptópria sobre o assunto. Que brinque muito com ela.
O Hugo Gaspar devia ter mais leitores e comentadores como o Martini Bianco, que me recordo de comentar também no Bairro do Oriente em tempos, que a certo ponto desta discussão diz o seguinte:
A tua relação com Macau não deixa de ser isso mesmo. Para te considerares Português, pegas no nacionalismo bacoco do Salazar mas depois já chamas aos portugueses que foram para Macau de "paraquedistas". Não foi o teu pai um "paraquedista" desses para que tu hoje possas dizer à boca cheia que és macaense, com direitos muito maiores que qq Portugues que tenha nascido em portugal (mainland) antes de 1999 e nao tem os tais direitos em Macau como tu tens (mas qdo é com os africanos, se nasceram antes de 1974 em Africa já têm direitos cá, ne?)
isso não é uma enorme incoerência?
Sim, é uma incoerência. É verdade que o acusei de ter voltado as costas a Macau, e fiz referência ao medo dos "comunistas papões" e tudo mais, mas o Hugo Gaspar explicou que "tinha 17 anos" em 1999, e que "ia para a Universidade", e portanto foi prosseguir os estudos em Portugal. Acrescenta depois que resolveu voltar há poucos meses a Macau "que é a sua terra", para "dar um jeito à sua vida". Leia o que você próprio escreveu, meu caro. Se Macau é "a sua terra", o que o impediu de voltar antes? Demorou 14 anos a acabar o curso, foi? Mas pronto, diz que "nunca voltou as costas à sua terra"...a não ser pela quase década e meia que passou de costas voltadas. Mas não me leve a mal, que conheço outros piores que você. Há uns tais que diziam cobras e lagartos da transição e relembravam a toda a hora a "ameaça chinesa" enquanto anunciavam "o fim de Macau", e depois mudaram de pele como as serpentes para agradar aos novos senhorios, depois de falharem as tentativas de se "encostarem" a um tachinho lá na Tuga.
Agora o melhor, que guardei para para o fim. O Hugo Gaspar diz que tentei "dar-me a conhecer", e faz referência ao artigo onde deixei expresso na secção de comentários que gostaria de me encontrar com ele. Agora quem fizer o obséquio de ir a esse
link, vai reparar que fiz essa proposta a 16 de Maio, e ele apenas me respondeu a 9 de Junho. Como não era uma encomenda postal que eu estava à espera, desisti de esperar pela resposta passados poucos dias. Mas o convite continua em aberto, meu caro Hugo Gaspar. Continuou a segui-lo, e continuo a ser seu amigo, como aliás você se refere à minha pessoa nesse seu comentário. Não desprezo ninguém apenas por ter (alguns) pontos de vista diferentes dos meus, e em comum temos algo que parece mais que evidente: o amor a Macau. Agora tenha em consideração que as habilitações literárias e o currículo pouco ou nada me dizem, e quem quiser partir para o debate mostrando as credenciais, pode ficar a falar sozinho, que eu não estou interessado. Refiro-me, é claro, à parte do seu "post" onde diz: "Não sei que grau de escolaridade tem o camarada Luís. Não sei nem me interessa saber, na verdade". Mas eu digo-lhe, tenho uma licenciatura, tal como o Hugo Gaspar, e isto assumindo que não fez um mestrado, ou até mesmo um doutoramento - o que duvido, não porque não acredite nas suas capacidades, mas porque assim já teria ouvido falar de si, pelo menos aqui em Macau. Falo tanto com um doutor como com um trolha, desde que tenhamos pontos em comum para discutir. Prefiro falar com um homem do talho do que com um físico nuclear, porque gosto de carne e estou-me nas tintas para a Física Nuclear.
Cumprimentos!
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