O termo "heavy-metal" aplicado ao género musical é de origem desconhecida. Vem ser usado na Alquimia e mais tarde na Química durante séculos, referindo-se aos "metais pesados", mas a primeira referência noutro contexto de que há registo é na obra do ensaísta William S. Burroughs, "The Soft Machine". Passados dois anos o mesmo autor usa o termo para se referir a drogas pesadas no seu livro "Nova Express". O produtor e empresário de "rock" Sandy Pearlman usou-o para se referir a um álbum dos The Byrds, e a primeira vez que as palavras "heavy metal" aparecem juntas numa canção foi em "Born to be Wild", dos Steppenwolf, tema que se celebrizou no filme "Easy Rider". O conceito de música "pesada", do rock mais "duro e puro", já data dos anos 50, dos primórdios do rock'n'roll. Os primeiros fãs distinguiam o tipo de rock mais melódico de outro mais rápido e agressivo, apelidando-o de "heavy", e posteriormente de "heavy rock". Os percursores do que mais tarde evoluiria para o "heavy-metal" como o viemos a conhecer nos anos 80 são grupos bastante conhecidos que apareceram duas décadas antes ou na década seguinte, os anos 70. Entre os primeiros estão nomes como os Rolling Stones, Jimmy Hendrix ou os The Who, considerados influenciais no futuro deste género, ou os Led Zeppelin, Black Sabbath ou Deep Purple, num estilo mais clássico. Nos anos 70 apareceram grupos com sonoridades muito semelhantes ao "heavy-metal" dos anos 80 e todos os seus sub-géneros, como os AC/DC, Kiss, Alice Cooper, Aerosmith ou Thin Lizzy.
O aparecimento do "punk" en Inglaterra, em meados dos anos 70, vieram lançar a confusão naquilo que era a definição de "heavy-metal". Os Motörhead, fundados em 1975, foram os primeiros a separar as águas. Com o fim do "punk", em finais desta década, a tarefa de expressar o incorformismo e a contra-cultura através da musica passou para os "metaleiros". A saída de cena do "punk", já por ele próprio pesado, deu lugar a um movimento que se viria a chamar "Nova Vaga do Heavy-Metal Britânico", de onde sairam grupos como os Def Leppard, os Saxon ou os Iron Maiden. Estes últimos, formados pelo guitarrista Steve Harris em 1975, permaneceriam na sombra do "punk" até à gravação do primeiro disco em 1980, intitulado "Iron Maiden", com Paul Di'Anno a assumir as funções de vocalista, o que se repetiria no trabalho seguinte, "Killers". Não seria até à chegada de um novo vocalista, Bruce Dickinson, corria o ano de 1982, que os Iron Maiden atingiam o mega-estrelato. O disco "Number of the Beast" foi um sucesso comercial, e incluía temas fortes que hoje são clássicos do grupo, como "Run to the Hills" e este "Number of the Beast". Dickinson era a personificação do "heavy-metal" como estilo musical e fenómeno social, que influenciava desde os comportamentos até ao vestuário. De um dia para o outro, as mães e pais de família passaram a ver os seus anjinhos a deixar crescer os cabelos, usar roupa preta, calças de ganga apertadas e adereços "esquisitos", e fechados dentro do quarto.
Se no Reino Unido os Iron Maiden lideravam a cena "heavy-metal", do outro lado do mundo, da Austrália, os AC/DC davam o brado. A banda dos irmãos Young, os guitarristas Angus e Malcolm, tinha acabado os anos 70 com um sabor agridoce: por um lado o álbum "Highway to Hell" tinha sido um êxito e entrara na galeria das grandes referências do rock, por outro lado o vocalista Bon Scott perdia a vida aos 33 anos, vítima de hipotermia depois de uma noite a beber num bar em Londres. Os AC/DC tinham em linha um novo registo, e foram buscar outro vocalista, Brian Johnson, ex-Geordie. A nova voz imprimiu um ritmo mais pesado às composições dos AC/DC, e em 1980 saía "Back in Black", do qual Scott já tinha gravado três temas, um deles este que dá o nome ao álbum. A banda cimentou o seu estatuto de "monstros sagrados" do rock pesado, e continuam ainda hoje no activo, com uma carreira de 40 anos. Angus Young continua a ser o "maestro", um autêntico "one-man show", um "bad boy" do rock. O uniforme escolar, completo com gravata, as convulsões em palco e a língua de fora, a cabeça que sacudia para cima e para baixo ao ritmo da guitarra que tocava com mestria, como se fosse uma extensão dele próprio, era (e é) o seu estilo inconfundível; era como se estivesse possuído pelo Demónio.
E por falar em demónios, se Satanás existe, o "heavy-metal" é a sua música de eleição. Alguns grupos não se inibem de exibir o seu lado oculto, ora através dos temas, de adereços e símbolos, ou até do próprio nome da banda. Isto, é claro, foi alvo da reprovação e censura dos mais conservadores, quer dos educadores, quer da Igreja. Os "cavaleiros de Satã" agradeciam a publicidade gratuita e faziam ainda pior, e os jovens fãs correspondiam, aprovando esta forma de demonstrar a sua rebeldia. Mas que brinca com o fogo pode sair queimado, e a "brincadeira" saíu por vezes cara. A banda Judas Priest, fundada no início dos anos 70, foi acusada e julgada por ter alegadamente incluído mensagens subliminares no tema "Better By You, Better Than Me", que levaram ao suicídio de dois jovens de 20 e 18 anos, em 1985. Ozzy Osbourne, vindo dos Black Sabbath para uma carreira a solo, foi igualmente acusado de levar um jovem ao suicídio com o tema "Suicide Solution", mas para este "padrinho do heavy-metal" não seria tudo; o controverso Ozzy arrancou a cabeça de um morcego à dentada, imitou a marcha Nazi num estúdio da CBS da Alemanha, e foi multado por urinar no Alamo, no Texas. Personificou todo o lado malévolo do "heavy".
Outro dos grupos de maior impacto nos anos 80 que permanence junto até hoje são os Metallica, formados em 1981, e considerados um dos quatro grandes do "thrash metal", juntamente com os Slayer, Megadeth e Anthrax. O primeiro disco apareceu em 1983, intitulado "Kill'em All", seguido de "Ride the Lightning" (1984), "Master of Puppets" (1986) e "...And Justice for All" (1988). Da formação da banda registaram-se a saída do guitarrista Dave Mustaine, que viria a fundar os Megadeth, e a morte do baixista Cliff Burton, que não sobreviveu a um acidente de autocarro que a banda sofreu no sul da Suécia em 1986, enquanto promovia o álbum "Master of Puppets". Foi com a formação James Hetfield/Kirk Hammet/Jason Newsted/Lars Ulrich que os Metallica atingiram um novo patamar, já nos anos 90, com o álbum homónimo também conhecido por "Black Album", que com os temas "Nothing Else Matters", "Enter Sandman" ou "The Unforgiven" chegaram a um novo público, com um som mais comercial. Seguiram-se os álbums "Load" e "Reload", onde - sacrilégio - os elementos do grupo aparecem de cabelo cortado, e no final da década de 90 uma batalha contra os websites de partilha de ficheiros, nomeadamente o Napster. Os cabelos continuaram cortados, Jason Newsted saíu par dar lugar a Danny Trujillo, e os Metallica arrumaram o "heavy-metal" na gaveta, sendo hoje o que pode considerar uma banda de "hard-rock", com um som mais generalista. Dos velhos tempos recordemos este "Fade to Black", do LP "Master of Puppets".
Existem inúmeros subgéneros de "heavy-metal", e dentro do "extreme-metal", além do já referido "thrash-metal" temos o "speed-metal", "death-metal", "doom-metal" e "black-metal", e dentro destes há ainda outros. Outros incluem o "glam-metal", de que foram pioneiros os Kiss e onde se destacavam os Poison, que vemos aqui em "Unskinny Bop", o "gothic-metal", "power-metal", "industrial-metal" e alguns com nomes curiosos, com o o "Viking-metal" ou "rap-metal". Tudo varia conforme a velocidade ou a intensidade das guitarras e das batidas. O "heavy-metal" requer um ouvido bem treinado para que possa "entrar", e para muita gente trata-se apenas de poluição sonora. E para dizer a verdade, 80 ou 90% das centenas de bandas dentro das dezenas de géneros e subgéneros faziam um favor à humanidade se ficassem antes quietinhos...
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