segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: U2


A longa e lucrativa saga dos U2 teve início em Setembro de 1976, quando Larry Mullen Jr., um jovem de apenas 14 anos, publica no mural da sua escola em Clontarf, Dublin, um anúncio onde apela a outros colegas músicos que se juntem à banda que quer formar. Respondem ao apelo um tal Paul Hewson, que dizia saber cantar, um outro David Evans, que dava uns toques na guitarra, mais o seu irmão Dik Evans, e Adam Clayton, que sabia dedilhar o baixo. Com influências do "punk-rock", a moda daquele tempo, nasce a "Larry Mullen Band", que rapidamente mudou de nome para "Feedback", e no ano seguinte para "The Hype". Como não atinavam com um nome definitivo para o projecto, pediram ajuda a Steve Averill, músico da banda "The Radiators", que lhes sugeriu sugeriu seis nomes, de onde podiam escolher um. Os elementos dos então The Hype optaram por U2, porque era "o menos mau". A grande oportunidade surgiu no dia de St. Patrick's de 1978, num show de talentos em Limerick, e onde o primeiro prémio eram 500 libras e a gravação de uma "demo" pela CBS Irlanda, que depois passaria na rádio. Os U2 ganharam o concurso e impressionaram os caçadores de talentos, ao ponto de em 1979 gravarem o seu primeiro EP, "Three", posto à venda apenas na Irlanda, onde teve um bom comportamento nos tops de vendas. Os U2 entravam nos anos 80 como uma promessa da música moderna, que se viria a confirmer, e em grande.
Quatro rapazes de um liceu de Dublin...


Em 1980 sai o primeiro album dos U2, "Boy", com produção do já conceituado Steve Lillywhite. Onze temas originais, todos escritos por Hewson, que na altura tinha adoptado o nome artístico de Bono Vox, do latim "bona vox", ou "boa voz" - mais tarde isto seria simplificado para o Bono que hoje todos conhecemos. Bono era um rapaz cuja infância foi marcada pela tragédia. Em 1974, quando tinha apenas 14 anos, a mãe morreu de aneurisma cerebral...durante o funeral do pai. Confrontado com a perda de ambos os pais em tão pouco tempo, o jovem Hewson fez pela vida, foi aprender música, e aperfeiçoou aquela voz áspera e sentida com que dava alma aos temas que ele próprio escrevia. "Boy" é uma espécie de grito de revolta de Bono, e ao mesmo tempo a sua afirmação. Dos temas inclinados para os dramas da juventude, algo com que o público mais jovem se identificou, como é lógico, saíram os singles "A Day Without Me" e "I Will Follow".


Depois de "Boy", os U2 foram numa pequena digressão pelo Reino Unido e arredores, com uma passagem por Portugal, onde tocaram no festival de Vilar de Mouros. Em Fevereiro de 1981 voltam ao studio para gravar material original, que se tornaria o seu segundo registo, "October" - que apesar do título, foi lançado em Fevereiro. Se a crítica já tinha gostado da estreia, gostou ainda mais deste sucessor, que chegou ao nº 11 do top do Reino Unido e atravessou o Atlântico pela primeira vez, mas ainda sem grande impacto. Deste "October" sairiam os singles "Fire" e este "Gloria", uma canção com uma temática religiosa.


Em 1983 sai "War", aquele que foi o primeiro grande sucesso comercial dos U2. Com um som mais pesado e uma temática mais política, "War" contém o inconfundível "Sunday Bloody Sunday", uma canção que aborda a problemática do confronto entre católicos repulicanos e protestantes lealistas do Ulster, com um título inspirado no "Bloody Sunday", o incidente de 1972 em Derry que causou 14 fatalidades. Outro tema forte foi"New Year's Day", que com um som mais acessível valeu aos U2 alargar o seu leque de fãs. "War" chegou a nº 1 do top do Reino Unido, destronando "Thriller", de Michael Jackson, e seria acompanhado meses depois pelo mini-LP ao vivo "Under a Blood Red Sky". O ano de 1983 tinha sido "gordo" para Bono e companhia, que se tinham tornado grandes estrelas.


Em 1984 sai "Unforgettable Fire", um disco mais ligeiro que "War", mas que mesmo assim contém "Pride (in the name of love)" e "Bad", um tema sobre o vício da heroína, dois dos temas mais conhecidos dos U2. A popularidade do grupo valeu a Bono um convite para participar do single "Do They Know It's Christmas", no Natal de 1985, mas o grande assalto ao grande público e aos mega-concertos ainda estava para vir. Em 1987 sai "The Joshua Tree" que contém temas como "With or Without You", "I Still Haven't Found What I'm Looking For", ou "Where the Streets Have No Name", chega a nº 1 de ambos os lados do Atlântico, vende 25 milhões de cópias e ganha o Grammy para álbum do ano para um duo ou grupo musical. Para consolidar a fama adquirida com "The Joshua Tree", os U2 regressam logo no ano seguinte com um novo disco e...um filme. O "rockumentário" e o novo disco chamavam-se "Rattle & Hum", e pode-se dizer sem exagero que foram para os U2 o que "A Hard Day's Night" foi para os Beatles. "Desire" foi o single nº 1 do disco.


Os anos 80 terminam em grande para os U2, e caso existisse um prémio para "grupo da década", seriam certamente um dos cinco nomeados. Depois de uma pausa sabática para recarregar baterias, regressan em 1991 com um novo trabalho de originais, o muito aguardado "Achtung Baby". A sonoridade é outra, mais electronica, com um som mais industrial, notável em faixas "Zoo Station", que abre o disco, "The Fly", o primeiro single, ou "Even Better than the Real Thing", mas os "velhinhos" U2, os dos anos 80, estavam lá, em temas como "Who's Gonna Ride Your Wild Horses" e "One", na minha humilde opinião a melhor canção do grupo - e de longe."Achtung Baby" chega a nº 1 em toda a parte e vende 18 milhões de cópias. Em 1993 regressam com "Zooropa", que marca um divórcio definitivo do som original dos U2. Bono, The Edge e companhia não queriam ficar datados, e apontavam à geração dos filhos dos que lhes tinham comprado "War". Nos anos 90 a banda enche estádios, vende milhões de discos e torna-se uma autêntica máquina de fazer dinheiro.


...e os avôs deles.

O circo mediático em que se tornaram os U2 valeu-lhes uma conta bancária bem recheada, e quanto a isso não há dúvidas, mas os fãs dos tempos de "Boy", "October" e "War" sentem-se um pouco traídos com a orientação que a banda levou. Duvido que alguém consiga nomear uma canção memorável de entre os seus dois últimos álbums de originais, "How to Dismantle an Atomic Bomb" e "No Line in the Horizon". Bono tem sido especialmente interventivo em várias causas filantrópicas, e depois de ter ganho um Grammy e um Globo de Ouro, só lhe falta um Prémio Nobel da Paz, e ele bem tem tentado. Só parece é estar a esquecer-se do essencial: a música. No entanto nada isto parece incomodar qualquer um dos seus elementos, pois os U2 continuam hoje, 40 anos depois, a ser os mesmos rapazes de Dublin que responderam ao anúncio de Larry Mullen para formar uma banda de liceu.





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