quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: Paul McCartney


O Grammy para melhor canção "rock" do ano, entregue no passado Domingo, foi para "Cut me some slack", de Dave Grohl, Paul McCartney, Krist Novoselic e Pat Smear. Uma banda de peso. Mas esperem lá, como explicar quem são estes tipos e que significado tem o seu "ensemble"? Como explicar isto aos leitores com menos de 20 anos de idade. Esqueçam o Pat Smear, que é guitarrista dos Foo Fighters, um grupo que Dave Grohl fundou após os Nirvana, onde esteve com o baterista Krist Novoselic. Os Nirvana foram um grupo que fez um enorme sucesso durante meia dúzia de anos algures entre finais dos anos 80 e meados dos 90, e terminaram quando o seu vocalista e "guru" Kurt Cobain deu um tiro nos miolos. Não vale a pena falar aqui dos Nirvana, numa rubrica dedicada aos anos 80. Já quanto a Paul McCartney, aqui está um nome que se encaixa em qualquer das seis décadas a partir dos anos 60. Fazendo agora de "maquista chapado" da última geração, faço a pergunta a que eu próprio me proponho responder: "quim sân estoutro, Paul McCartney?"


John Lennon e Paul McCartney, no tempo em que eram a maior dupla de sucesso do "rock'n'roll".

Paul McCartney, tem, imaginem, 71 anos de idade, e nos anos 60 fez parte de um quarteto muito famoso que os vossos avós adoravam, os "Beatles". Quando os Beatles terminaram em 1970, por razões que pouco tiveram a ver com música, McCartney e o seu parceiro de escrita John Lennon partiram para bem sucedidas carreiras a solo: McCartney acumulava com a participação no grupo Wings, que formou com a sua primeira mulher Linda, e Lennon cantava ao lado de um gato siamês chamado Yoko Ono. Por alguma razão que me ultrapassa, Lennon tinha mais sucesso que McCartney - talvez por ser uma espécie de ídolo "hippie", enquanto o ex-companheiro dava uma imagem limpinha, e os Wings de "boys band". Lennon aproveitava para mandar farpas a McCartney sobre quem detinha o controlo criativo nos Beatles, e os dois andaram de costas voltadas durante quase toda a década de 70. A discussão acabou em Dezembro de 1980, quando Lennon foi assassinado à porta de casa; não por McCartney, como alguns poderiam imaginar, mas por um tal Mark David Champan. Quis o destino que McCartney ficasse isolado para a baliza no desafio dos anos 80, até porque o restantes Beatles tinham carreiras discretas; George Harrison tinha os seus problemas, e Ringo Starr fazia ainda menos do que fazia nos Beatles: tocar bateria.


O primeiro registo a solo de McCartney depois da morte de Lennon não ficou intitulado "Thank you, Mark David Chapman", ou "Burn in hell, Lennon", mas sim "Tug of War", o seu segundo trabalho a solo desde que decidiu terminar com os Wings. Neste disco está incluído este "Ebony and Ivory", um dueto com Stevie Wonder que é um "apelo à tolerância e amizade entre as raças". Hmm. "Ebony", que significa "ébano", é o preto, e "ivory", ou "marfim", é o branco, que quando combinados nas teclas brancas e pretas do piano, formam uma harmonia, assim como os homens, pretos e brancos, se procurassem combinar eles próprios...esperem. Não aguento. Acho que vou vomitar.


Em 1983 McCartney regressa com "Pipes of Peace", e o single com o mesmo nome, que vemos aqui em cima. Esta foi a primeira canção que ouvi de Paul McCartney, e os meus tenros tímpanos de criança com nove anos de idade perceberam que se tratava de alguém bonzinho, do tipo do Avô Cantigas. o vídeoi deste tema, por exemplo, é muito bem pensado. Recria a famosa trégua de Natal de 1914, durante a primeira Guerra, quando soldados das tropas aliadas, compostas por franceses e britânicos, interromped o combate com as tropas alemãs, e todos trocam prendas e jogam futebol. Esperem...aqui está outra vez o jantar a subir-me pelo esófago acima...tenho que parar.


O primeiro single de "Pipes of Peace" foi este "Say, say, say", que conta com a participação de um jovem e vivo (bem vivo) Michael Jackson. McCartney gostou da experiência com Stevie Wonder, e desta feita optou por um músico negro da moda que visse onde punha os pés, e que o fizesse melhor que ninguém. O ex-beatle devolvia o frete a Jackson no álbum seguinte deste áltimo, que foi "apenas" um tal "Thriller", que o viria a tornar uma mega-estrela. "The Girl is Mine" foi o título da colaboração de ambos para o disco de Jackson.


Tal como fazia com os Beatles, McCartney fazia de quando em vez uma "perninha" no cinema, e em 1984 participou ao lado de Linda McCartney e Ringo Starr no filme "Give my regards to Broad Street". A crítica reduziu o filme a cacos e o público teve uma recepção desapaixonada, mas o cantor McCartney obteve mais um sucesso com o single "No More Lonely Nights", que fazia parte da banda sonora. Por esta altura tinha eu 10 anos, e fiquei cada mais convencido que este Paul McCartney era um tipo mesmo bonzinho.


E para que todas as dúvidas ficassem dissipadas, surge no Natal desse ano este "We all stand together", que serviu de tema ao filme de animação "Rupert and the frog song". Desse filme sei muito pouco, mas da canção e do vídeo recordo-me com carinho. McCartney é coadjuvado pelo "choir frog" (coro de sapos) e retira do baú o que aparenta ser uma memória de infância, o que torna o tema ainda mais enternecedor. Agora passem-me os Kleenex que estou a chorar mais lágrima do que água jorra nas cataratas do Niagara.


O seu trabalho de originais seguinte foi "Press to Play", de 1986. Um tanto ou quanto mais intimista, sem o sucesso dos três discos anteriores, fica na memória fica este single "Press". No ano seguinte lança a colectânea "All the Best!", com temas da sua carreira a solo nos anos 70 e 80, e no mesmo ano toca na ainda União Soviética, feito que fica registado no trabalho ao vivo "Choba B CCCP", literalmente "O álbum soviete". Os anos 80 terminariam com o LP de originais "Flowers in the Dirt", que continha os singles "My Brave Face, "Put it There" e "Figure of Eight". Este registo serviria de pretexto para uma tournée mundial, que culmina num disco triplo ao vivo: "Tripping the Live Fantastic". Este "essencial" de McCartney ao solo inclui temas seus a solo, com os Wings, e até com os Beatles - e nem foi preciso pedir autorização a John Lennon.


"Ai acham que estou velho? Já olharam para o Lennon?"

"Sir" Paul McCartney, como é hoje conhecido depois da rainha Isabel II o ter feito cavaleiro, continuou a gravar, a vender discos, a somar sucessos e a ganhar prémios desde os finais da década de 80 até hoje. É também uma figura pública, pois além de ser um dos dois Beatles sobreviventes (Harrison morreu em 2001), é pai da conceituada estilista Stella McCartney e fundou com a mulher Linda uma linha de produtos vegetarianos. Linda morreu de cancro da mama em 1998 (o que deve ter sido má publicidade para a sua linha de produtos vegetarianos e supostamente "saudáveis") e McCartney voltaria a casar em 2002 com a ex-modelo Heather Mills, que só tinha uma perna. Tiveram um filho em conjunto, mas o casamento provou ser um desastre, terminando com separação em 2006 e divórcio em 2008. Para não morrer sozinho, o "sir" casaria uma terceira vez em 2011 com a norte-americana Nancy Shevell. Mas quer isto dizer que o velhinho ali na imagem de cima está acabado? Nada disso, é que além de ser uma respeitável figura da música moderna dos últimos cinquenta e ter provas dadas como compositor clássico e tudo, este Paul McCartney acaba de ganhar, com os Nirvana, o "grammy" para melhor canção "rock" do ano. Embrulha esta e mete-a no cachimbo, ó John Lennon.


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