O rock em Portugal já existia antes de Rui Veloso e o seu "Ar de Rock", o disco do 1980 que popularizou o "Chico Fininho" e deu origem ao aparecimento de um número sem fim de bandas compostas de indivíduos que arranhavam guitarras ou malhavam na bateria. Nos anos 60 tinhamos os Green Windows e o Quarteto 1111, nos anos 70 surgiram os Tantra ou Jorge Palma, vindo da música de intervenção, mas à qual introduziu uma rebeldia inédita em Portugal, bem patente no álbum "'Té Já", de 1977, e "Qualquer coisa para a música", no ano seguinte. Antes da abertura assumida do rock nacional trazida pelo trabalho de Rui Veloso, o ouvido musical português era escravo da música-ligeira, vulgo "nacional-cançonetismo", que tinha o seu expoente máximo no Festival da Canção, do fado, ou para baralhar ainda mais as coisas, dos baladeiros da revolução de Abril, que aliavam a raíz popular ao canto de intervença. O tal Chico Fininho, um "freak" da Cantareira que curtia "trips" de heroína e tinha a "merda" na algibeira, sempre "cheio de speed" enquanto
"gingava ao som do Lou Reed", veio trazer um mundo completamente novo à músoca portuguesa.
Os Xutos & Pontapés serão ao lado dos GNR o grupo de maior sucesso desta nova geração de músicos que despontaram nos anos 80. Os Xutos já existiam desde 1978, na altura um grupo "punk" que começou por se chamar "Beijinhos e Parabéns". Depois de assistir a um dos seus concertos, o também músico Gimba (mais tarde nos Afonsinhos do Condado e nos Irmãos Catita), sugeriu para que mudassem o nome para aquele que têm actualmente. Zé Leonel, mais tarde fundador dos Ex-Votos e falecido há dois anos, foi o primeiro vocalist da banda, sendo posteriormente substituído pelo baixista Tim devido a um problema com o consumo de drogas. O primeiro single dos Xutos foi "Sémen", escrito por Leonel, ao que se seguiram outros singles que viriam a ser mais tardes compilados no primeiro LP da banda "78-82". Temas controversos como "Mãe", no vídeo acima, que aborda o tema do incest, ou "Avé Maria", uma verso cantada da oração à mãe de Jesus, estavam incluídos no disco.
Rivalizando com os Xutos na banda rock mais popular das últimas três décadas estão s GNR, um grupo do Porto que é actualmente liderado pelo carismático Rui Reininho. Mas nem sempre foi assim, e nos primórdios do rock português dos anos 80, era Vítor Rua que se ouvia nas radios com este "Portugal na CEE", uma canção que por muito datada que seja, não deixa de ser recordada por muitos como um dos grandes temas da música rock portuguesa. Os anos 80 seriam muito produtivos para os GNR, se bem que demoraram até à década de 90 para se tornararem numa mega-banda, chegando a encher o Estádio de Alvalde com 40 mil pessoas no Verão de 1992, após o lançamento do seu LP mais popular, "Rock in Rio Douro".
Além dos Xutos e dos GNR, outro dos sobreviventes desta vaga do rock dos anos 80 foram os UHF, um grupo de Almada liderado por António Manuel Ribeiro, a quem chegaram a chamar de "o Jim Morrison português". Já contando com as devidas distâncias dessa grossa comparação, os UHF serão os menos bem sucedidos destes três, e depois do êxito inicial deste "Cavalo de Corrida" e de outro tema forte, "Rua do Carmo", os UHF nunca chegaram realmente a confirmar o seu estatuto de banda de massas. Apesar das críticas, a banda nunca baixou os braços, e a título de curiosidade, António Manuel Ribeiro chegou a ser vítimo do assédio de uma fã, de quem chegou a fazer queixa e obter uma ordem judicial de impedimento, apesar do cantor não ser (ou nunca ter sido) um Adonis que dê gosto pôr as vistas em cima.
Além destes, surgiram outros grupos de "carolas" do rock, que em alguns casos desapareceram quase tão rapidamente como apareceram. Destes "one hit wonders" à portuguesa, ficaram no ouvido o Grupo de Baile com o single "Patchouly", cuja censura da palavra "pintelho" lembrou muita gente de que afinal ainda estávamos em Portugal. Outros ares de rock passageiros incluíram os Roquivários com "Cristina", os Salada de Fruta, de onde viria a sair Lena D'Água, ou estes que vos deixo com o seu clip mais famoso (o único?), os Iodo, com "Malta à porta".
Entre os que chegaram e partiram num ápice, houve outros que deixaram a sua marca até hoje, como são os casos dos Heróis do Mar e os Táxi, que se imortalizaram com temas como "Chiclete", bem ilustradora de alguns actos do rock português de então: "mastiga-se e deita-se fora". Mesmo assim pode-se dizer que estes pioneiros do rock em Portugal abriram as portas do castelo do marasmo do conservadorismo vigente na altura no nosso país, e ainda servem de inspiração para muitos artistas actuais, muitos deles que ainda nem eram nascidos no tempo do "Chico Fininho".
Sem comentários:
Enviar um comentário