sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Não fui ao beija-mãos


Vejam só como deixaram essa mesa, seus javardos!

Não, não fui ontem ao beija-mãos do Ano Novo Lunar. Não fui porque não me apeteceu, e depois? Ai disse que ia quando fizeram passar aquela lista parva duas semanas antes para confirmar a presença? E depois? Em duas semanas nasce e more muita gente. Deram pela minha falta? Duvido. Se especularam sobre a verdadeira razão da minha ausência? Com toda a certeza, e sabem uma coisa? Têm razão. Seja qual for o motivo que apontarem, foi isso mesmo. Ia, ia, foi exactamente o que se passou. Pois, pois, estava numa orgia com prostitutas e montes de cocaína e fui detido pelas autoridades. Fui para casa chorar porque me trataram mal. Faltei para me armar em importante e falarem de mim. Tudo isto e mais aquilo que quiserem.

"Mas era o almoço de Ano Novo, Leocardo, respeita as tradições", dirão uns. "Tem consideração pelos teus colegas, pelo menos", dirão outros. Epá, bom proveito, e vejam lá se não se engasgam, ou se não bebem por acidente o cálice envenenado por algum lacaio, eunuco ou outro conspirador que ambiciona a cadeira ao lado do rei. Ou da rainha, neste caso. Era pior se fosse o contrário, pensem lá bem. Imaginem que dizia primeiro que não ia, preparavam tudo para um número exacto de pessoas, e depois resolvia aparecer. Ia ser o diabo, com tudo entrar em pânico, cotovelos a entrar nos olhos enquanto todos se espremiam para me tentar acomodar. Ia tudo passar fominha da grossa, uma vez que a minha porção de comida ia complicar a precisa equação destinada a cada um dos outros convivas. Assim não fui, comeram mais, estão a ver? Lembrem-se de mim quando arrerem as próximas duas ou três poias, que pode ser que esteja lá a minha contribuição.

Deselegante, faltar a uma reunião de co-palacianos nesta época onde tudo é suposto ser harmonia, união, prosperidade e o caralho, mas pensaram nisso antes de minarem completamente o campo? Agora queixam-se de que faço estrondo cada vez que piso numa mina. Ora, desculpem, mas acho que acabei de ficar sem a outra perna. Importam-se que gema de dor, nem que seja um "ui" pequenino? O que fui fazer em vez de me sentar à mesa com os restantes no banquete dos danados? Já nem me lembro. Acho que fui dormir, mas se me perguntarem digo que estive a dar uma queca. Posso até ornamentar a fábula: ia a caminho do restaurante cheio de vontade de disfrutar uma boa dose de harmonia e de prosperidade, quando apareceu à minha frente a Scarlett Johansson completamente nua a implorar-me que fizesse amor com ela a tarde toda, caso contrário morria, e ainda me pagava dez milhões de dólares pelo sacrifício. Perante estes argumentos, queriam que eu fizesse o quê?

Portanto espero que vos tenha escorregado na língua como uma enguia, o arrozinho, as massinhas, a canjinha, e toda essa merdinha. E já agora que a integridade dos ingrediantes usados esteja garantida, não vão depois derreterem-se em diarreia, ou Deus vos livre, apanhar gripe aviária. Já é o que é ter que ouvir certas galinhas a cacarejar, imaginem o que seria se ainda tivesse que as aturar constipadas? Atch-cócoró-im! Portanto aproveitem o Ano do Cavalo, para prosseguir com o vosso elaborado plano para conquistar o mundo daquelas 20 ou 30 pessoas que precisam de vos aturar todos os dias. Espero que tenham guardado algum veneno do ano da Serpente, que pode vir a fazer-vos falta. E por falar em Cavalo, um mangalho daqueles dava mesmo um jeito do caraças, não dava? Pois é, não fui ontem ao beija-mãos do Ano Novo Lunar. Escolhi antes a barca da salvação. San Nin Fai Lok, "fuckers"!.

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