quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Madalena, a arrependida


Todos conhecemos a imagem da Madalena arrependida, inspirada em Maria Madalena, que segundo o evangelho de Lucas, no Novo Testamento, era uma mulher "de onde haviam saído os sete pecados mortais", e que depois regenerada, decide acompanhar Cristo, seguindo-o até ao fim dos seus dias (os de Cristo, portanto, não os dela). Apesar de não haver qualquer fundamento bíblico, ou outro, que suporte essa tese, diz-se que se tratava de uma prostituta. Cristos já não temos, mas o que não nos faltam por aí são Madalenas, umas sinceramente arrependidas, e outras que não interessam nem ao Menino Jesus - a versão "mini" de Cristo que supostamente se interessaria por tudo e por todos.

Das Madalenas sinceras desta vida, genuinamente arrependidas, que optaram pela contenção e fizeram do silêncio um bom conselheiro, há que lhes reconhecer a validade do seu arrependimento. Quanto às Madalenas de imitação, que choram lágrimas de crocodilo, não nos resta senão rir. Rir da audácia de quem toma os outros por tontinhos. Como espalha-brasas que é, agride, insulta, despreza e faz julgamentos de valor a respeito de quem conhece mal ou nem conhece sequer, deixando claro que "nesses não toca nem com uma vara comprida". Depois abraça-os, demonstrando que a sua compaixão é imensa, que auxilia os ceguinhos e os leprosos, que ninguém é demasiado baixo, reles ou vermiforme para ser merecedor das suas graças desgraçadas. Procura ser mais que a Madalena, quer ser o Cristo, mas não chega sequer a ser a crosta, tal é a fluidez com que escorre o seu pus. É uma santinha do pau oco.

Os que assistem ao seu fandanguinho chocho encolhem os ombros, não vá a borrasca de perdigotos lhes causar um resfriado, ou uma das mil e uma mãos com que gesticula para exacerbar a pequenez dos seus argumentos lhes vazar um olho. Aos que não têm estômago para o seu vedetismo de farsante fala de "rancores", a sua especialidade culinária, e apela aos "corações de pedra", para que não prolonguem a "corrente de ódios" que ela própria começou, e que é exclusivo seu, que evitem fazer "julgamentos dos actos dos outros", que foi o que fez, mesmo sem conhecer ou querer conhecê-los, e repete vezes sem conta as palavras "perdoar" e "orgulho" num texto com 270 palavras, prova do que nem sabe do que fala. Há pessoas "intelectualizadas" (como se isto fosse um insulto) que são "analfabetas por dentro", e depois há as que são simplesmente analfabetas, ponto.

A sua mania das grandezas leva-a a conspirar sozinha - tão mal como descaradamente - e depois diz que foi "o mundo" que conspirou contra aqueles que depois diz "odiarem o mundo". Lá está ela a confundir outra vez o seu mini-atol árido esquecido no meio do oceano com o "mundo", e "ódio" com mero desprezo e comiseração. Típico das Madalenas de primeira viagem enjoarem e deitarem os bofes pelo convés. Senta os pobrezinhos do seu projecto de "perdão" na mesma mesa onde espalhou "ácido corrosivo que aniquila e queima os sentimentos mais profundos da alma humana, matando sonhos e esperanças" (prosa poética de cordel que leu em alguma fotonovela esquecida num sanitário), e espera que eles simplesmente "esqueçam", porque a sua arrogância leva-a a pensar que os que humilhou, insultou e difamou sem a terem provocado têm a memória curta. Compra-os, e o que mais pode fazer? E nem é preciso muito: são só uns trocados. É tudo que tem, tanto de material, como de espiritual.

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