quarta-feira, 19 de março de 2014

Pai(xão)


Hoje comemora-se em alguns países do Ocidente Cristão o Dia do Pai, dedicado a S. José, marido da Virgem Maria, e pai "adoptivo" de Jesus Cristo. "Comemora-se" é como quem diz, pois ao contrário de outras efemérides como o Dia da Mulher, o Dia da Mãe ou o Dia da Criança, ninguém liga muito a isso do dia do Pai. As floristas não inflacionam os preços porque os pais não recebem flores (se calhar até gostariam de receber, mas fica "esquisito"), não são publicados relatórios da ONU sobre os abusos cometidos aos pais durante o ano civil anterior, nem se recorda qualquer Declaração Universal dos Direitos do Pai - porque não existe tal coisa. Os pais que têm filhos ainda no ensino primário ainda se dão ao luxo de receber um cartão de rolo de papel higiénico pintado e decorado com fios de lã a fazer de cabelo onde se lê em letras tortas "amo-te, pai". O espírito do Dia do Pai de antigamente foi arruinado pelos higienistas do anti-tabagismo, que determinaram que era errado oferecer cachimbos aos pais, que depois od fumavam enquanto liam o jornal em frente à lareira com o cão aos pés, os chinelos calçados e os óculos na ponta do nariz.

Tive pai e fui pai, cumprindo assim o caracol em forma de provérbio: "filho és, pai serás, assim como fizeres, assim acharás". Não tenho mais pai, infelizmente, mas sou já pai, e espero que um dia - de preferência daqui a muitos e muitos anos - o meu filho possa dizer o mesmo. "Morrer por morrer que morra o meu pai, que é mais velho", já que estamos numa de provérbios, e por um lado ainda bem que não sou rico, senão lá dizia ele: "Nem o pai more, nem a gente almoça". Uma das vantagens dos pobres vivos sobre os ricos mortos é estar vivo, e só isso já vale tudo. Os filhos, pais do futuro, procuram sempre não repetir os mesmos erros dos seus pais, e para tal cometem erros novos. Não existe o pai perfeito, e mesmo os que o são (ou aparentam ser), levam dos filhos em jeito de epitáfio: "o meu pai era demasiado perfeito". Não há pai que seja digno desse nome sem pelo menos um defeito, ou algo que nos leve a sentir dele algum ressentimento; o segredo é não fazer um asneira tão grossa que leve um filho, tendo o seu pai ainda vivo, berrar aos soluços: "eu...na-não tenho pai!!!".

Pai tirano ou pai herói, um pai é sempre um pai, e quando alguém usa aquela expressão to curiosa, "não há pai", estará certamente a exagerar. Há sempre um pai para todos, nem que seja um indivíduo sisudo, beberrão, a quem foi posta uma providência cautelar para impedir que se descalçe em locais públicos. Para os rapazes o pai é o seu primeiro amigo, para as meninas o primeiro homem das suas vidas, para os dois o primeiro professor. Apesar de não se ter empenhado tanto quanto a mãe na fabricação da nossa pessoa, o pai é assim como o capataz da gestação, que trabalhou "um bocadinho", mas foi essencial na conclusão da obra. No fundo foi como Deus fez com S. José, mas no expoente máximo: mandou um tal Espírito Santo para fazer o trabalho por ele. Pudera, que estes tipos dos bancos têm tanta massa que uma virgem para eles é café da manhã. O pai carrega o código genético, põe a massa nesse forno que é a mãe, e dali sai o produto de cinco ou dez minutos de queca e mais de meio ano de sofrimento, culminando com dores das mais horríveis de todas. Foi golo da mãe, está bem, mas o passe foi do pai, e que grande passé! Ninguém diz que foi a mãe que marcou um grande golo; foi o pai que decidiu o jogo.

Gosto de ser chamado "pai", que era o que eu chamava ao meu pai. Não papá, paizinho ou senhor pai - pai, somente. "Pai" é uma das sílabas mais sólidas, mais firmes, mais masculinas. Com três letrinhas apenas, se escreve a palavra pai, que é das palavras pequenas, aquela que...melhor vai...com pai? Ah fiz porcaria. Os pais não ligam muito a isso da poesia. Os pais têm barba, e a poesia não tem barba. Lembro-me de beijar o meu pai na face neste dia, e a sua barba, mesmo que apenas de um dia, "picava". Era a barba de pai, que no meu caso tinha um "musk" de cigarro. Era a alternativa mais natural ao "tabac". Hoje e sempre, para todos os pais do mundo, um feliz dia. E já agora não exagerem, que isso de ter filhos não são tudo rosas, e nem ter o prazer de lghes dizer "filho és, pai serás" chega para pagar as contas. E os pais que levam a sério a tradição, o que ganharam hoje? Um cachimbo, uns chinelos, ou um cão?

1 comentário:

choi disse...

É isso mesmo que deves aplicar a ti "filho és, pai serás". És tu que o dizes não sou eu. Portanto, nada de hipocrisias.
Chui