sábado, 30 de setembro de 2017

Bipolares


Para terminar a semana (e o mês) em beleza, nada como o artigo desta semana do Hoje Macau. Uma boa semana dourada para todos.

Esta semana tomei a liberdade de “roubar” ao meu amigo Manuel Cruz um desabafo seu nas redes sociais, que aqui passou a reproduzir, com a devida vénia.

Permitam-me um desabafo: tenho amigos de direita. Mas nem um – nem um! – diz o que leio de certa gente que comenta aqui no facebook. Trump é um génio. Costa, um monhé horroroso e usurpador e ladrão. Pretos e ciganos, nem vê-los. Árabes, essa raça maldita. Os gays, trans, lésbicas e quejandos deviam ser exterminados. Comunistas, uns facínoras sanguinários. No tempo de Salazar é que era bom.

Fico com o coração apertadinho, com um nó na garganta. Não consigo entender tanto ódio a quem nunca nos fez mal, a quem é diferente de nós e que, por isso mesmo, nos completa. Não consigo entender tanta paixão por abjecções como o patrão da Casa Branca. Não consigo, por mais que tente, sentir que esta gente é gente.

Eles sim, estão cá a mais. Que belo país não se faria com os ultras de todo o mundo. Eles estariam no paraíso. E, nós, mais arejados.

Como o entendo tão bem, meu caro, e partilho da sua angústia. Como se sabe, vamos ter eleições autárquicas em Portugal no próximo domingo, e apesar de se tratar apenas do exercício da democracia na sua variante do poder local, os resultados deste sufrágio vão servir também de barómetro à satisfação do eleitorado pelo actual executivo governamental. Assim dizem. Num país cada vez mais bipolarizado entre direita e esquerda, e com a retórica a subir cada vez mais de tom, prevê-se uma derrota pesada da direita, e por culpa própria. É que esta direita que anda por aí à solta não é a direita liberal e progressista da via da social-democracia em que tanto eu como muitos – possivelmente também confusos por esta altura – se revê.

Esta direita espalha brasas é a direita anti-democrática, a extrema-direita clássica, e não só – houve parte da “velha guarda” que resolveu sair da toca e dar sinais de vida. Esta direita “ultra” ainda faz pouco eco em Portugal, mas tem sido responsável pelos maiores equívocos a que temos assistido ultimamente na Europa e no mundo. Não me surpreendeu tanto o ressurgimento da extrema-direita nas últimas eleições da Alemanha, que ficou expresso em “apenas” 13% dos votos. E porquê apenas? Com as tácticas de medo, a propaganda chinfrim e o maniqueísmo que vêm vindo a ser aplicadas na Europa de há três ou quatro anos para cá, podiam ter chegado a uns 20%, limpinhos.

Afinal esta direita, a gémea má da direita como deve ser, conseguiu convencer os rústicos da Provença que nunca viram um árabe na vida de que estes “vinham aí” para o “roubar”, “matar” e “violar as suas filhas”, ou para “destruir a sua cultura e modo de vida”. Foram estes que recrutaram uma legião de aposentados britânicos para votar na saída da União Europeia, com a (falsa) promessa de injectar o dinheiro de Bruxelas no seu próprio plano nacional de saúde. Guardando o melhor para o fim, foram estes meninos que sentaram na Casa Branca a pessoa mais inepta que se podia recear, e sob o pretexto de que ia “vazar o pântano” da política em Washington. Não apenas se absteve de vazar aquele, como tem aberto uns outros quantos em seu nome.

Em Portugal estamos mais ou menos descansados – ainda. Esta direita “mutante” faz sobretudo alarido nas redes sociais, onde é mestre “confusionista”; adultera factos, difunde o ódio, urde teorias da conspiração delirantes, e vai contra aquilo que chama “multiculurismo”, que protesta – depois mete-se no Mazda e vai comer um “kebab”, e chama de “marxistas” a todos que não concordem com ele em género e grau. Sobre o isso do multicularismo, para mim é como tudo: tem virtudes e tem defeitos. A eliminação pelo defeito já foi tentada antes, e com os resultados desastroso que se conhecem. A direita convencional não se deixa levar pelo conceito, mas às vezes deixa-se contagiar; ora pede mais mortos nos incêndios, ora apoia um candidato às autárquicas que promove abertamente a segregação de uma minoria, uma sucessão de momentos infelizes. Tudo isto prolifera e reproduz-se a cobro de uma nova interpretação do conceito de “politicamente correcto”, que passou a ser uma coisa “má”. Em suma, o tal “desprezo pelo politicamente correcto” passou a servir de pretexto e cobertura para que se balbuciem ou se escrevinhem todos os tipos de disparate.

Esta bipolarização é péssima, e leva a uma espécie de obsessão que se extende muito para lá dos limites do debate (?) político. O fanatismo tem aparecido em força na clubite futebolística, na religião, nos direitos dos animais, nos defensores do Tony Carreira, nos anti-Ronaldo, enfim, há de tudo, como na farmácia. Hoje ter uma convicção é mais ou menos como ter uma doença crónica: está lá, chateia um bocado, e o único tratamento é dar sempre razão ao paciente. Assim no domingo que vem muito provavelmente o sortido de esquerdas terá mais uma razão para festejar, a direita radical fica a resmungar, e nós, bem, ficamos a suspirar por um dia destes, quando todo este catarro democrático passar e deixemos de ser tão bipolares.



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Madonna disse "Lisboa"!


"Falou de Lisboa"...quer dizer, mencionou de passagem que está lá a viver. Nisto nunca mudamos; o tuga patrioteiro fica arrepiado com uma esmolinha, e faz disso notícia. Imagino quantos desataram a entoar o hino nacional, enquanto choravam baba e ranho.

Podem ver aqui o vídeo da SIC.


Les jardins du Monaco



"Sem espinhas", é o mínimo que se pode dizer da vitória do FC Porto ontem no Stade Louis II, no Mónaco, a contar para a segunda jornada do Grupo G da Liga dos Campeões. Os dragões foram vencer no reduto dos actuais campeões franceses por três golos sem resposta, e Sérgio Conceição deu uma lição de como jogar em contra-ataque ao seu compatriota Leonardo Jardim. A dupla africana do Porto, Aboubakar/Marega, esteve imparável, e o camaronês assinou dois golos, aos 31 e 69 minutos, em momentos cruciais do jogo. O Mónaco ainda foi tentando correr atrás do prejuízo, mas o Porto controlou sempre os acontecimentos, e ainda acrescenteu um terceiro golo ao placard, pelo mexicano Layún a um minuto do fim. Com a vitória do Besiktas sobre o RB Leipzig no outro encontro do grupo, o Porto sobe ao 2º lugar a três pontos dos turcos, e mais dois que monegascos e alemães.


terça-feira, 26 de setembro de 2017

HK aposta (forte e feio)


Estive no último Sábado de manhã em Hong Kong. Coisa fina, como sempre, mas foi uma visita rápida, desta vez. Acontece que precisámos de adquirir uma impressora e um ferro de passar, que são itens que se podem adquirir também em Macau, mas segundo a minha esposa "o tufão Hato molhou os electrodomésticos" que "depois de secar", regressaram às prateleiras. Teoria da conspiração muito interessante, esta, mas uma ida aqui ao lado nunca é nada de se deitar fora; come-se bem, fazem-se umas compras no M&S e no City Super, óptimo. A ida foi aqui a Sham Shui Po, um "bairro operário" de Hong Kong, onde fica um centro comercial onde se vende material informático, e helas, impressoras. O negócio propriamente dito é a tinta, que acaba por sair mais cara que a própria impressora, que neste caso não passa de um mero aplicador. Adiante. Já com as compras feitas, ainda passámos...


...por aqui. E o que é isto? - pergunta o leitor. Uma fila para pagar a conta da electricidade, ou do telemóvel? Um balcão de uma dependência bancária? Não vivo em Hong Kong e os bancos não abrem ao Sábado, portanto não e não. Isto é uma fila para comprar bilhetes de "mark-six", a versão local do Totoloto/Euromilhões. Isso mesmo, e como estamos a entrar na semana dourada e no festival do Outono, "há um bónus". De maneira que fomos lá buscar um "lucky ticket" a pedido da minha sogra, coitada. Mas será a sorte o único factor a considerar quando se aposta neste tal "mark-six"?


Bem, sim, na minha humilde opinião tudo depende de um conjunto de bolas que saem de uma tômbola de forma completamente aleatória, para há quem junte a "ciência" à coisa. Analisam-se probabilidades, estudam-se as sequências, fazem-se estatísticas das bolas mais saídas, etc. É um passatempo como qualquer outro, mas entre os que pegam num bilhete qualquer para ver se a sorte lhe bate à porta, outros insistem em escolher os números, preencher os bilhetes, e possivelmente dá-lhes uma coisa feia se por algum motivo não conseguem registar a aposta à horas. Os chineses em geral gostam de jogar, de apostar, de arriscar, e não é só com os números.


É com os cavalos, com o futebol, ténis, NBA, fórmula 1, a cor da camisola da próxima pessoa e entrar pela porta...tudo. Neste Sábado de manhã a azáfama era evidente, pois quando passei por aquela agência estavam prestes a ter início corridas de cavalos. Fantástico. E isto foi em Hong Kong, numa simples casa de apostas de Sham Shui Po. Imaginem que existiam casinos aqui na região vizinha? Aí é que estávamos feitos aos bife, pá.


Um Conceição à parte


Admiro e respeito bastante o actual treinador da equipa de futebol do meu clube, o FC Porto. Sigo a carreira de Sérgio Conceição desde o tempo em que era júnior, vindo da Académica, e para quem não sabe, aos 17 anos já tinha perdido o pai e a mãe, fazendo do Dragão uma segunda casa. Como sénior teve passagens por Penafiel, Leça e Felgueiras por empréstimo, antes de se assumir como titularíssimo na equipa do FC Porto que foi tri e tetra-campeã com António Oliveira, ocupando normalmente a posição de extremo-direito. Voos mais altos se sguiram, na Série A italiana, onde jogou pela Lazio, ganhando com os romanos a última edição da Taça das Taças, depois em Parma e finalmente no Inter. Pelo meio ficou o memorável "hat-trick" contra a Alemanha durante o Euro 2000, e um menos conseguido mundial de 2002. Sérgio Conceição foi 56 vezes internacional "A", apontando 12 golos com a camisola das quinas. Já na fase descendente da carreira, teve uma passagem curta e discreta pelo Porto de Mourinho, antes de passar ainda pelo futebol belga e grego, tendo depois "pendurado as chuteiras". Como treinador orientou em Portugal o Olhanense, a Académica e os dois grandes do Minho, antes de se notabilizar na liga francesa pelo Nantes, de onde o Porto acabaria por voltar a ir buscá-lo, desta vez para ocupar o trono de treinador da equipa principal. Sem dúvida a pessoa com o carisma para treinar o clube português internacionalmente mais titulado. Curiosamente...


Um dos seus (quatro) filhos joga no Benfica. Exacto, Rodrigo Fernandes Conceição, de 17 anos, é uma das mais brilhantes promessas da formação encarnada, é filho do actual treinador do FC Porto. O jovem começou nas camadas jovens do Belenenses, e depois de uma passagem pelo Algarve, enquanto acompanhou no pai no Olhanense, foi "pescado" pelo Benfica aos iniciados do Boavista há três anos. Igualmente um extremo-direito, apontou 5 golos em 27 jogos pelos juvenis da águia na época passada, e este ano, o seu primeiro como júnior, já leva quatro golos em outros tantos encontros no campeonato de sub-19. Uma grande promessa, sem dúvida, o que num futuro próximo poderá ser uma curiosidade interessante - caso o filho chegue à primeira equipa do Benfica, e o pai permaneça como treinador do FC Porto, o seu maior rival. Pode ser que entretanto o filho dê ouvidos aos bons conselhos do pai, e se mude para terras do Dragão. Um desenvolvimento a seguir, e mais uma vez um Conceição.


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Regalos: torta txantxigorri


Uma especialidade de Olite, Navarra. É uma torta feita nos matadouros de porcos navarreses, que consiste de banha e massa de pão, polvilhada com açúcar e canela. Uma delícia!


Regalos: Regaliz Zara



Lukaku, o cântico



Este é cântico que meteu os adeptos do Manchester United num sarilho, e as contas com acusações de...abram o guarda-chuva...racismo! Aí está o expectro axadrezado do racismo (para evitar usar as palavras "branco" e "preto", ou "negro", mais PC que isto é impossível) a fazer-nos levar de novo as mãos à cabeça.

Passando à parte "musical" propriamente dita, o cântico em questão é sobre Romelu Lukaku, avançado-centro belga de origem zambiana, que este ano já apontou 6 golos em outros tantos jogos para o Manchester United, prosseguindo uma senda que trouxe do Everton, de onde se transferiu, e onde era uma máquina de marcar golos. Traduzindo directamente da "lingu bife", o que os rapazes dizem no cântico é "Lukaku, o nosso génio goleador/com o seu pénis de 24 polegadas/a marcar todos os nossos golos". Isto, assim mesmo.

Ora bem, o que eu pensei quando vi este vídeo foi "isto é um bocado estúpido". Portanto, a ideia ali era fazer rimar "génio" ("genius") com "penis", e aí resultou, mais ou menos. Agora, aquela medida dos "24 inches" são 61 centímetros. E um pénis de 61 centímetros ficaria parcialmente pendurado de fora dos calções, ou acomodado de forma visível dentro dos mesmos. E finalmente, é com esse referido pénis que ele vai marcando os golos todos?! Quer dizer, uma coisa foi Maradona e "mão de Deus", mas isto? Isto é a perspectiva merante interpretativa da coisa, porque aos treinados olhos do racismo, isto é...pois, racismo!

Na perspectiva do racismo, o tamanho do pénis do avançado deve-se à sua origem zambiana, que o adaptou ainda de uma tez mais bronzeada e um físico robusto, e por isso "perpetua o estereótipo de que os zambianos (neste caso) têm um membro descomunal, por serem civilizacionalmente inferiores". Vou-me abster de comentar as insinuações que comparam alguns elementos da espécie humana com outros mamíferos humanídeos. Lamento, mas isto não faz nenhum sentido, e as mulheres aqui também têm a culpa deste tipo de estereótipos - é o único adereço que procuram em tamanho "de preferência L, ou melhor ainda, XL".

E assim se estragou uma canção que até dava um bocado de pena, de tão idiota que era, com um argumento ainda mais ridículo, e tudo por causa daquilo que uns bêbados nórdicos berraram num estádio de futebol. Ah, e caso não tenha ficado claro, os adeptos do Man. United estavam a elogiar o tal avançado, gostam muito dele, e estão-lhe agradecidos.


domingo, 24 de setembro de 2017

Volta à Europa em futebol



O FC Porto isolou-se na liderança da Liga Portuguesa ao golear na sexta-feira o Portimonense por 5-2, e beneficiou ainda do empate do Sporting na visita ao Moreirense. Jorge Jesus deixou o camaronês Doumbia no banco, dando a titularidade a Bas Dost, uma estratégia que pareceu não dar certo contra a equipa de Manuel Machado, que foi um osso duro de roer. Os locais chegaram mesmo ao intervalo em vantagem, graças a um belo golo do brasileiro Rafael Costa. O melhor que o Sporting conseguiu foi chegar ao empate, num lance infeliz do marroquino Mohamed Aberhoune, que introduziu a bola na sua própria baliza, durante uma acção ofensiva da equipa leonina. Já depois do jogo de Moreira de Cónegos o Benfica recebeu na Luz o P. Ferreira e regressou às vitórias, com dois golos de Cervi e Jonas. Os tetra-campeões nacionais sobem ao 3º lugar à condição (o Marítimo joga esta noite em Guimarães, a cinco pontos dos líderes, e a três dos seus rivais de Lisboa.



Na Inglaterra as duas equipas de Manchester continuam a repartir a liderança na Premier League. O City segue de goleada em goleada, e desta vez a "vítima" foi  o lanterna-vermelha Crystal Palace, que saíu do Estádio Ettihad vergado a uma pesada derrota por 5-0. Já o United de José Mourinho teve uma viagem complicada ao sul, para defrontar o Southampton, e levou os três pontos graças a um único golo apontado aos 20 minutos pelo artilheiro da equipa, o belga Romelu Lukaku. O Chelsea isolou-se no terceiro lugar a três pontos do duo de Manchester, graças a uma goleada de 4-0 na visita ao Stoke City. O avançado espanhol Álvaro Morata, ex-Real Madrid, voltou a estar em destaque, ao assinar um "hat-trick".



Ainda na Inglaterra, mas um degrau abaixo, no Championship. Os "portugueses" do Wolverhampton Wonderers mantiveram a liderança a par de Leeds United e Cardiff City, ao vencer em casa o Barnsley por 2-1, num encontro dramático. O resultado chegou aos 80 minutos em branco, quando o substituto Enobakhare adiantou os Wolves no maracador, resultado que se foi mantendo até em aos descontos. Aí os visitantes empataram após o primeiro minuto de compensações, pelo central Adam Jackson, e quando já se previa a divisão dos pontos, o senegalês Alfred N'Diye acabou por dar a vitória ao treinador Nuno Espírito Santo, que se deslumbrar por aí além, vai mantendo o Wolverhampton no lote das equipas que podem assegurar a subida à Premier League.



Finalmente em Espanha, onde o Real Madrid deu um pontapé na crise, e mostrou que está mais confortável a jogar fora de casa do que Bernabéu. Os "merengues" foram a Vitória-Gasteiz derrotar o Alavés por 2-1, com dois golos do médio ofensivo Dani Ceballos, contratado no defeso ao Bétis. A vitória leva o Real ao terceiro posto, à condição, mas mantém a equipa de Zidane a sete pontos do Barcelona, que venceu em Girona por 3-0, no primeiro "derby" catalão do género.


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Baralhar e voltar a dar


E para terminar a semana em beleza, nada melhor que o artigo de ontem do Hoje Macau. Tenho muito mais para dizer, mas ontem fiquei sem "modem", e hoje à hora de almoço fui trocá-lo na CTM, e pasme-se, foi um serviço rápido e profissional! Achei que devia partilhar esta experiência. Bom fim-de-semana para todos os leitores, e continuem atentos. Um abraço.

Realizaram-se no passado domingo as eleições para a Assembleia Legislativa da RAEM, e pela quinta vez desde a transferência de soberania, a população foi chamada a escolher parte dos deputados que vão compor o hemiciclo na próxima legislatura. Das análises que foram feitas nestes últimos dias, concordo basicamente com o essencial: todos ficaram a ganhar. Os sectores tradicionais mantiveram ou reforçaram a sua presença, bem como o sector tido como “anti-establishment”. Foi um progresso significativo em relação ao sufrágio de há quatro anos, onde o eleitorado preferiu votar em massa nos sectores que representam mais os interesses económicos e associativos.

Se há algo com que não concordo é com a possível influência do tufão Hato nos resultados eleitorais, que assim serviriam para mostrar um “cartão amarelo” ao Governo. Pode ser que os danos provocados pela tempestade, e a resposta pouco adequada que foi dada à mesma estivesse na mente de uma pequena parte do eleitorado, mas não era o poder Executivo que ia aqui a votos, mas sim o Legislativo. Uma das funções deste é a de “fiscalizar a actuação do poder Executivo”, e nesse particular os resultados forma positivos. Existe pelo menos alguma esperança em relação a 2013, no que toca a esse particular.

Portanto, estabelecido de que aqui não se pode falar de quem “ganhou” ou “perdeu”, falemos de quem teve mais votos, que foi a Associação do Novo Macau (NM), que no somatório das três listas com que se apresentou ao sufrágio, obteve mais de 30 mil votos. Dizer que a lista única da União-Macau Guangdong foi a grande vencedora porque obteve mais votos que as 23 restantes é fazer “contas de merceeiro”. Aqui não se trata de uma maratona, ou de uma corrida de fórmula 1, onde ganha quem atravessa a meta em primeiro lugar – por essa lógica o PSD seria Governo em Portugal, nesta altura.

Nem se pode falar de um grande sucesso da parte das democratas nestas eleições, mas antes de um regresso à normalidade. Era a força que vinha obtendo mais votos desde 2001, e há quatro anos sofreram um revés, quando optaram por se dividir em três listas, perdendo eleitores, bem como um lugar na AL. A receita agora foi a mesma, mas com outro ingrediente. Em 2013 a terceira lista foi encabeçada por Jason Chao, que vinha sofrendo de um exposição negativa da sua imagem e era tido como um “radical”, e este optaram por Sulu Sou, uma figura mais carismática, com um discurso mais próximo do eleitorado de base da ANM. Sou conseguiu triplicar o número de votos do seu camarada e ser eleito, provando ter sido uma aposta sensata.

A grande surpresa da noite eleitoral foi a eleição de Agnes Lam, que concorreu pela terceira vez à frente do Observatório Cívico, duplicando o número de votos de há quatro anos. Atendendo ao facto de que o seu eleitorado não veio do sector democrata, nem de Pereira Coutinho, que reforçou a sua votação, apesar de ter perdido o seu companheiro de bancada, pode-se dizer que Agnes Lam foi a mais beneficiada com os novos 20 mil eleitores que participaram deste sufrágio. O papel que desempenhará na AL é ainda um mistério, mas pelo menos servirá para elevar o debate em termos de retórica. E sabemos como isso é necessário.

Em última análise, pode-se considerar que existem dois grandes blocos do eleitorado. Uma maioria com ligação aos sectores tradicionais e às associações, que desta forma garantem praticamente a sua representatividade com os votos vindos da sua base eleitoral, e cerca de 50 e poucos mil votos ditos “independentes” (podiam ser mais caso a participação fosse maior), e que desta vez foram bem distribuídos.



A era do Real, ou o Real já era?



Realizou-se a meio desta semana a quinta jornada da liga espanhola, com jogos distribuídos entre a terça e a quinta-feira. O Real Madrid, grande favorito à renovação do título no início da temporada, demonstrou estar em crise, e depois de dois empates nos primeiros dois jogos em casa, perdeu esta quarta-feira no Santiago Bernabéu frente ao Real Bétis. Nem o regresso de Cristiano Ronaldo à equipa, após quatro jogos de suspensão, valeu aos comandados de Zinedine Zidane, que tem sido bastante criticado pelas suas opções tácticas, e o sub-rendimento de jogadores como Benzema (actualmente lesionado), e Bale, têm levantado sérias dúvidas quanto à saída de Morata para o Chelsea, e do empréstimo de James Rodríguez ao Bayern. Quanto ao Bétis, fez o que lhe competia, defendeu bem, com bola, e foi premiado no quarto minuto de descontos com um golo do paraguaio Pablo Sanabria, e levou os três pontos de Madrid. Isto significa que o Real cai para o oitavo lugar, já a sete pontos do líder Barcelona, que se mantém 100% vitorioso, a cinco do Sevilha a três do Atlético de Madrid. Para quem vaticinou que as vitórias no último campeonato e Liga dos Campeões, mais a vitória (fácil) na Supertaça frente ao Barcelona eram o início de uma "era do Real Madrid", essa previsão "já era". A não ser que tudo mude drasticamente, claro, e ainda há muito campeonato para jogar.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Deixem a Madonna viver! (em Portugal)


Ainda sou do tempo em que Portugal andava atrás no departamento das novidades. Os filmes e os discos chegavam meses depois de Hollywood e de Inglaterra, as séries de televisão norte-americanas passavam com anos de atraso, e o nosso país não eram propriamente parte da agenda dos mega-grupos internacionais - os Queen nunca deram um concerto em Portugal, por exemplo. Mas pronto, tudo mudou, e passámos a fazer parte do mapa, e já não nos comove tanto assim quando ouvimos uma estrela internacional falar do nosso país como não fazendo "parte de Espanha". Até choramos menos e batemos menos palmas como uma foca a quem acabaram de dar um carapau quando um actor ou músico tenta pronunciar "bom dia" ou "obrigado". Para um mercado mais ou menos minúsculo, de dez milhões de consumidores, evoluímos um bocadinho, vá lá.

Ou talvez não. A nossa evolução, em conjunto com a nossa história, património, gastronomia e etcetera chegou ao ponto de ser mais procurados pelos turistas, e achamos isso "mau". Aqui evoluímos também, da lamúria de que "ninguém nos liga nenhuma", à lamúria de que "há turistas a mais". É lamúria na mesma. E agora, pasme-se, a Madonna quer viver entre nós! Já sabemos que a cantora que se celebrizou com "Like a Virgin" e daí partiu para uma carreira que dispensa apresentações tem uma certa "pancada" - já teve a mania que era latino-americana, que era a reencarnação de Marilyn Monroe, estudou a cabala e dizia-se judia, já foi judia, inglesa, etc. Mas quem sabe se agora que está prestes a completar 60 anos, devemos levá-la a sério quando diz que quer viver em Portugal, e que ali encontrou a sua "paz espiritual". Epá, isso não é bom? É negativo? Ela até inscreveu o filho adoptivo nas escolas do Benfica, e tirou uma fotografia no Estádio da Luz e tudo! Não acreditam???


Aí está, e com isto já consegui convencer seis milhões de alminhas - ou não. A opção de Madonna vir viver para Portugal tem sido recebida com um provincianismo atroz. Ora são as piadolas (a mais bem conseguida ainda foi esta), ora é a marcação cerrada que a imprensa faz à cantora, noticiando cada peido que dá desde que chegou, ora é ainda uma arrogância inexplicável, de pessoas que, pasme-se, acham que a Madonna não está em Portugal "a fazer nada". A própria Madonna tem encontrado dificuldades nesta sua nova opção de vida, quer no que diz respeito à procura de casa (está actualmente a viver num hotel em Alcântara), quer no que toca à correspondência que lhe é dirigida. Aqui o maior problema tem sido "provar que é realmente ela". Que diabo, então não sabem que a moda dos imitadores de Madonna foi há mais de 30 anos???

Por isso deixo aqui o apelo: deixem a cidade Madonna Louise Ciccone viver em Portugal, e deixem-na em paz! E que tal trocar esta bizarra animosidade por um simpatia à portuguesa? Quando a encontrarem, tratem-na como fazem quando vêem a Maria Vieira, e digam que "gostam muito de a ver trabalhar", deixando outros julgamentos de valor para segundo plano. Sejam chiques, e desvalorizem o facto da cantora mais popular e bem sucedida das últimas quatro décadas viver entre nós. É mais que natural, "hombres". Ela é a maior, e vive entre os maiores. Que tal? Não sejam tão básicos, porra, a mulher não "emigrou", nem vai viver do RSI. E vai mais uma rodada de moscatel para essa mesa, ó Madonna?


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Ai o que tu foste fazer, António Antunes...


Se eu vos fosse dizer que um tal de António Manuel Mateus Antunes, de Pampilhosa da Serra, estava a ser acusado de 11 crimes? Aposto que muita gente dizia "enforquem-no!", "jaula com ele", ou "era já encostado a um paredão e fuzilado!". Agora, e se eu vos disser que Tony Carreira está acusado de 11 crimes de contrafação? - "Alto lá, não é bem assim". Pois não, coração. Antes de mais nada, sim, o nome de baptismo deste "fenómeno" é mesmo António Antunes, e foi com esse nome que Tony Carreira concorreu ao Festival da Canção (então chamado de "Prémio Nacional de Música", ou lá o que é) em 1988. Ora vejam:


Aquele jovem de 23 anos, um misto de modelo da Maconde com "barman" de hotel de luxo, é o casulo que viria a ser Tony Carreira, cantor romântico, um ladrão de corações - e de canções dos outros. O António Antunes voltou ao Festival em 1992 já com o nome que o viria a tornar mundialmente (!) conhecido, e em nenhum das vezes ganhou. O sucesso só viria dez anos mais tarde, depois da parceria com Ricardo Landum - uma espécie de importador e escultor de material discográfico alheio. A questão de que se existe ou não plágio, bem, isso já não é de agora:


Este vídeo já tem quase dez anos, e já na altura tinham recaído sobre o cantor estas acusações. É claro que qualquer pessoa com um par de ouvidos (ou mesmo um ouvido apenas, e meio mouco) percebe que as canções são muito mais do que apenas "parecidas" - vá lá, vamos ser honestos: chamar-lhes uma "tradução" é ser muito simpático. Eu não tenho nada contra o artista, sei mudar de canal quando passa algo de que não gosto, e ainda menos tenho a favor. Isto de enriquecer e ganhar prestígio à conta de gamar aos outros é algo "que não me assiste", estão a ver? Houve no entanto quem questionasse o "timing" desta nova acusação, e a relacionasse com a nomeação de Tony Carreira como mandatário da campanha de Fernando Medina para a CM Lisboa. Isto é politizar as coisas demasiado, e não me parece que "o mandatário da campanha" vá ser um elemento decisivo do resultado eleitoral na capital. Entretanto o cantor deu uma entrevista à Impala, onde se diz "perseguido" por uma pessoa, "a mesma que lhe meteu o primeiro processo há dez anos". Ó Tony, diz lá, é um dos gajos a quem gamaste as músicas, não foi? No entanto, há quem tenha uma opinião muito particular sobre este assunto: os fãs de Tony Carreira:


Ora deveria dizer antes, as fãs. Pronto, para evitar discussões parvas, digamos "o segmento de mercado do Tony Carreira". Este "segmento", portanto, perdoa tudo e mais alguma coisa ao seu ídolo, e a mais ninguém. Entre alegações de "inveja pelo sucesso" do cantor a teorias da conspiração, há de tudo um pouco, e reparem naquela última entrada, ali em baixo: "Há coisas piores e só se metem com quem está sossegado". Pois, ó minha senhora, eu também acho que era mais importante apanhar os assassinos e os violadores todos. E pode ser que um dia isso aconteça, se começarem todos a infringir as leis que protegem os direitos de autor, quem sabe? Ah, e há ainda isto:


"O gajo só pode ser gay", o "anormal", referindo-se à pessoa que o Tony Carreira acusa de o estar a perseguir. Isto não faz lá muito sentido, seja de onde for que se observe a frase. Mas isso não interessa. Espero que seja feita justiça, e o Tony pague lá o que tem de pagar - se for esse o caso - e que seja menos chico-esperto da próxima vez, e deixe de tratar as pessoas como se fossem os seus fãs. Outra vez: sem ofensa!


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Eleições legislativas - e agora, de cabeça fria


Acabei de ver no Telejornal o comentário de José Rocha Dinis aos resultados eleitorais de ontem, e há coisas em que não podia estar menos de acordo com o director do Jornal Tribuna de Macau. Em primeiro lugar, quem venceu as eleições de ontem foi a Associação Novo Macau (NM) que obteve mais de 30 mil dos votos expressos, em segundo lugar ficou a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (ACUM) com cerca de vinte e cinco mil votos, e nos lugares seguintes, aí sim, a União Macau-Guangdong de Mak Soi Kun, a associação dos operários, e a Nova Esperança de Pereira Coutinho, por esta ordem - e isto se não contarmos com os "kai-fong", que este ano concorreram pela primeira vez separados da Associação das Mulheres, obtendo ambos mais de vinte mil votos no total. Quer se goste ou não dos democratas, tecnicamente foi assim mesmo, e não foi nada do outro mundo. É verdade que obtiveram o maior número de votos da sua história, mas em termos percentuais ainda ficaram dois pontos abaixo dos resultados de 2009. Falar numa "vitória de Mak Soi Kun", é analisar "a quente", e 24 horas desde a divulgação dos resultados é tempo mais que suficiente para arrefecer, e pensar de cabeça fria. Adiante, passemos àquilo que eu penso em relação aos resultados de ontem, depois de feito o rescaldo e analisadas as reacções.

O que aconteceu com o NM foi simples; a mesma estratégia de há quatro anos surtiu resultados desta feita, com Sulu Sou quase a triplicar o número de votos de Jason Chao em 2013. Não foi propriamente uma surpresa ou um sucesso estrondoso, pois os democratas ainda estão longe da ideia que os levou inicialmente a concorrer com três listas separadas: eleger quatro deputados. Não foi mau, mesmo assim, e a única "surpresa", por assim dizer, foi a lista de Au Kam San ter obtido mais votos que o histórico Ng Kwok Cheong, que anunciou recentemente que este mandato seria o seu último. Foi de facto negativo para a imagem de Au ter saído a criticar a intervenção do Exército da R.P. China durante a crise do tufão Hato - eu não gostei de ouvir, bem como muita gente. Mas é ingenuidade pensar-se que este tipo de discurso não tem eco em Macau, ou que os eleitores habituais de Au Kam San o fossem castigar apenas e só por ter dito aquilo. Se fosse comprovodamente mentiroso, ou suspeitamente corrupto, aí sim, acredito nessa possibilidade.

Menos sorte com a distribuição dos votos teve a ACUM, que depois de conquistar três assentos com uma única ista encabeçada por Chan Meng Kam há quatro anos, dividiu-se em duas, e só conseguiu eleger dois deputados. O que faltou à associação ligada aos cidadãos de origem fukinenses? Chan Meng Kam, lógico. Si Ka Lon teve alguma visibilidade durante o seu último mandato no hemiciclo, e pode-se mesmo dizer que se deu conhecer, e cimentou a sua presença, mas não é um Chan Meng Kam. De Song Pek Kei pode-se dizer que não chega a um Si Ka Lon, e chegou mesmo a ter a sua eleição em risco durante o apuramento dos resultados, vindo a confirmar a sua reeleição a jogar "em casa", na zona norte da cidade. Chan Meng Kam "apadrinhou" as duas listas, marcou presença, mas isso não foi suficiente para igualar ou até ultrapassar os resultados de há 4 anos. Este é um homem que vale muitos votos, minha gente.

Quanto a Mak Soi Kun, que encabeçou a lista mais votada, não teve um desempenho propriamente espectacular, especialmente em termos de crescimento. Apesar de ter obtido 17 207 votos, quase mais mil do que há quatro anos, isto em termos de percentagem é uma descida de 1,12%. Quanto aos operários  e aos "kuai fong", os chamados "sectores tradicionais", obtiveram aquilo que queriam, provavelmente, e no caso dos primeiros foram eleitos dois deputados pela via directa, e outros dois pela via indirecta. São grupos normalmente homogéneos, onde não se tem em conta tanto o seu peso político, mas em vez disso trata-se de uma questão de "representatividade". Não estando eu ligado nem a um nem a outro dos grupos, nem ninguém da minha família (pelo menos directamente), não terei um interesse por aí além naquilo que os operários e moradores têm para me oferecer, e por isso não faz para mim qualquer sentido votar neles. E eles sabem disso, e até se abstêm de me abordar ou oferecer propraganda eleitoral durante as campanhas. Sou invisível, para eles.

Falando agora de Pereira Coutinho, pode-se dizer que perdeu o seu companheiro de bancada, Leong Veng Chai, mas viu a sua própria posição reforçada. Encabeçou a quarta lista mais votada e conseguiu mais 1200 votos que em 2013, mesmo que isto se tenha traduzido numa queda percentual ligeira de 0,63% do total de votos válidos. O resultado foi festejado na ATFPM, pois estranhamente Coutinho vinha anunciando uma espécie de "cataclismo eleitoral", apelando efusivamente à participação em massa do seu eleitorado. Estranho. E mais estranho ainda é o resultado de Agnes Lam, que quase duplicou a sua votação em relação às últimas eleições, e acampanhou bem o aumento da adesão, registando uma subida de dois pontos percentuais no universo total do eleitorado. E digo "estranho", pois não me parece ter sido aos democratas ou a Pereira Coutinho que ela foi buscar este novo eleitorado. Eu suspeito que desta feita a professora de Comunicação da UMAC conseguiu convencer alguns eleitores a irem votar nela, em vez de ficarem no sofá, ou ir dar um passeio domingueiro como alternativa a ir cumprir o dever cívico.

Finalmente falando dos "casineiros", provavelmente os grandes derrotados da noite. Angela Leong perdeu 2500 votos e caíu quase três pontos percentuais, e a isto não é despeciendo o aparecimento da lista 25, apoiada numa associação independente de trabalhadores do sector do jogo, e que só nesta estreia conseguiu 3200 votos. Mesmo assim a empresária da SJM conseguiu aquilo que normalmente é o seu objectivo, que é ser eleita. Já Melinda Chan não teve a mesma felicidade, e perdeu o lugar que se vinha definhando desde que era ocupado até 2005 pelo seu marido, o também empresário David Chow. A lista MUDAR nem teve um "crash" muito grande, perdendo apenas cerca de 600 votos em relação ao último sufrágio, o que desta vez não lhe garantiu o número suficiente para ser eleita. A candidata diz que não sabe o que se passou, e se a derrota terá tido alguma coisa a ver com algo que ela disse ou fez. Bem, eu diria que não, que não fez nem disse nada de especial. E o problema se calhar foi mesmo esse.

As eleições decorreram dentro da normalidade, sem incidentes graves, apesar de se terem registado alguns episódios curiosos. Para saber mais, basta ter lido os títulos da imprensa em língua portuguesa de hoje (e chinesa também, suponho, mas eu não li). Mais uma vez lamenta-se que a participação tenha ficado ainda abaixo dos 60%, apesar de ter ido mais gente às urnas, e isso foi notório. Se os eleitores das listas ligadas aos interesses associativos e empresariais vão normalmente votar compulsivamente, seria interessante observar no que se traduziriam os resultados caso mais eleitores independentes se dessem ao trabalho de expressar o seu voto. É errado dizer-se que para alguns isto "não tem interesse". É o nosso futuro, e o dia de amanhã interessa-nos sempre.


domingo, 17 de setembro de 2017

Tivemos eleições, a AL rejuvenesce


Será a esta parte da composição para a próxima legislatura, depois de apurados os votos pela via directa e indirecta, que determinou 26 dos 33 assentos no hemiciclo. Faltam os 7 que o Chefe do Executivo vai nomear, mas a Assembleia Legislativa já promete ter muito sangue novo nos próximos quatro anos. Vamos à análise dos resultados eleitorais da noite, quanto ao sufrágio directo, do qual participaram 168 742 eleitores inscritos.

                                                                  OS VENCEDORES


Mak Soi Kun, claro, que beneficiando da dispersão de votos da lista vencedora de há quatro anos, ligada a Chan Meng Kam (que não participou), acabou por ser o mais votado, e manteve ainda o seu nº 2, Zheng Anting. O deputado apoiado pelo sector da construção e da comunidade de Jiangmen tomou a opção sensata de manter a mesma estratégia de há quatro anos, concorrendo com apenas uma lista, e ainda aumentou ligeiramentre o número de votos, de16248 para 16841.


Era uma incógnita o que seria o desempenho da União para a Promoção do Progresso (UPP, vulgo "operários"), que concorria pela primeira vez sem a sua líder histórica, Kwan Tsui Hang, que se retirou da vida política. Ella Lei (em cima), que cumpriu o último mandato eleita pela via indirecta, tomou as rédeas da associação, e não só se conseguiu eleger a ela própria, como ainda leva consigo o seu nº 2, Leong Sun Iok, que é uma estreia na Assembleia Legislativa.


É um facto que José Pereira Coutinho perdeu o seu nº 2, Leong Veng Chai, mas perante todas as contrariedades que encontrou, o cabeça de lista da Nova Esperança conseguiu aumentar o número de votos, aumentando a barreira dos 14 mil. O único deputado de língua oficial portuguesa obteve um fantástico quarto lugar, e pode-se dizer que reforçou a sua própria posição no hemiciclo da Praia Grande.


Depois da estratégia das três listas ter fracassado há 4 anos, os democratas voltam a estar representados com três deputados na AL. Surpreendentemente a lista de Au Kam San foi a mais votada, seguida da lista do histórico Ng Kuok Cheong, e finalmente a lista 7, encabeçada por Sulu Sou Ka Hong (na imagem) completou a equipa dos democratas. Sulu Sou, uma novidade refrescante, torna-se assim no deputado mais jovem de sempre no hemiciclo, com apenas 26 anos de idade.


Naquela que foi talvez a maior surpresa da noite - ou talvez não - Agnes Lam Iok Fong ganhou finalmente um lugar na AL, à terceira tentativa. Desta vez o seu Observatório Cívico teve um desempenho positivo na zona norte da cidade, um palco decisivo nestas eleições, e conseguiu quase o dobro dos votos de 2013. Aos 45 anos, a ex-jornalista da TDM e actual reitora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Macau vai-se sentar no hemiciclo da Praia Grande nos próximos 4 anos.

                                                                   OS DERROTADOS


Esta é uma imagem que não se vai repetir nesta próxima legislatura. Melinda Chan Mei Yi foi a grande derrotada da noite, perdendo mais de mil votos, e o lugar que ocupava na AL com a sua plataforma MUDAR. Um resultado surpreendente pela negativa.


Existe uma forte possibilidade de Chan Meng Kam vir a ser nomeado pelo CE como deputado, mas nas urnas a estratégia da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (ACUM) de se dividir em duas listas não produziu os resultados desejados, e a plataforma da comunidade de Fujian perdeu um deputado. Si Ka Lon foi eleito, ma não conseguiu levar consigo Kyan Su Lone, enquanto Song Pek Kei garantiu a reeleição de forma mais ou menos confortável.

De resto, Angela Leong On Kei mantém o seu lugar na AL, bem como Ho Ion San, da Associação dos Moradores, a quem se junta ainda Wong Kit Cheng, candidata apoiada pela Associação das Mulheres de Macau. 


Recordando o C.D. Montijo


A moldura do C.D. Montijo pendurada na sala de jantar da casa dos sogros do meu pai.

Aproveitei mais este "miminho" enviado pela minha irmã para recorda o Clube Desportivo do Montijo, um clube que beneficiou da proliferação das equipas da margem sul do Tejo durante os anos 60, 70 e 80 do século. Foram vários os clubes do distriro de Setúbal que pontificaram na I Divisão do futebol português durante essa altura, com mais destaque para o V. Setúbal, a CUF e o Barreirense, que chegaram mesmo a participar nas competições europeias, e com menos destaque o Seixal (anos 60), o Montijo (anos 70) e o Amora (anos 80) - os primeiros marcaram presença por duas vezes entre os grandes, os segundos e terceiros três vezes cada.


A equipa do C.D. Montijo que participou no campeonato da II Divisão da época de 1963/64, com o seu equipamento original, em xadrez amarelo e verde.

O C.D. Montijo resultou da fusão do CD Aldegalense (quatro presenças na II Divisão) e outro clube local, e participou por 21 vezes na II Divisão e uma vez na III (de que foi campeão, na época de 1965/66), antes de se estrear na I Divisão na temporada de 1972/73, onde se conseguiu manter através da "liguilha". Na época seguinte a equipa contou com nomes como João Alves (o "luvas pretas"), Álvaro Carolino, João Cardoso, José Rachão ou Francisco Mário, mas não conseguiu evitar o último lugar na competição com 20 pontos - menos um do que 5 equipas. Depois de duas épocas no escalão secundário, o Montijo logrou uma terceira participação na época 1976/77, mas voltaria a falhar a manutenção, e a partir daí nunca mais voltou a estar entre os grandes.


Ricardo, guardião ternacional por 79 vezes, um dos produtos das escolas do C.D. Montijo.

Os anos 80 viram o Montijo cair na III Divisão pela segunda vez na sua história. Depois disso, e de alguns anos na II Divisão, onde conseguiu algumas classificações honrosas, viria a cair novamente na III Divisão na época de 1988/89, conquistando o segundo título de campeão da mesma na época seguinte, vencendo o Lousada na final por 1-0. Depois de alguns anos na recém-criada II Divisão "B", o Montijo cairia em 1995/96 para o quarto escalão, e dois depois participaria pela primeira vez nos campeonatos distritais, regressando aos nacionais duas épocas mais tarde, e onde ficaria durante seis épocas até 2007, altura em que o clube encerrou as portas, por culpa de uma dívida que ascendia a mais de um milhão de euros. Pelo meio a história do clube ficou marcada pela demolição do antigo campo Luís Almeida Fidalgo, na Rua da Aldeia Velha, cujo espaço é actualmente ocupado por um supermercado da cadeia Lidl.


O Clube Olímpico do Montijo, nascido das cinzas do C.D. Montijo.

O Clube Olímpico do Montijo, fundado após o fim do C.D. Montijo, participou na II Divisão distrital da AF Setúbal na época 2007/2008, e com excepção da época de 2011/2012, onde marcou presença na já extinta III Divisão, participou sempre nos campeonatos distritais na sua primeira década de história. Depois de se ter sagrado pela segunda vez campeão distrital, o Olímpico participa este ano no Campeonato de Portugal, antiga II divisão "B".




Benfiquistas e "benfiqueiros"


O meu pai era benfiquista, assim como era o pai dele. Tínhamos uma relação que posso chamar de "mista", mas isso nada tinha a ver com o futebol. Como eu próprio sou adepto do FC Porto, e sempre que havia "derby" lá em casa, era uma grande animação, com "bocas" de parte a parte, mas no dia seguinte e nos dias restantes estava tudo bem. Era um jogo, e nada mais do que isso, e a vida continuava. O meu pai era um benfiquista, um "gentleman", um bom desportista. Não era um "benfiqueiro". E o que é um "benfiqueiro"?


É alguém como o Miguel Andrade, e com muita pena minha. Eu respeito o Miguel, uma pessoa que passou pelo território nos anos 80, onde trabalhou na Rádio Macau, e que apesar que ter regressado a Portugal antes de eu ter chegado em 1993, partilhamos imensas coisas em comum, incluíndo 131 amigos no Facebook. Ontem, e a propósito desta notícia, partilhada no mural do João Severino, o Miguel decidiu desamigar-me, acusando-me mais uma vez de "anti-benfiquismo" - seja lá o que isso for. Não foi a primeira vez que me acusa de tal coisa, e o "isto tem solução" a que ele se refere foi isso mesmo, desamigar-me. Típico de um benfiqueiro, não de um benfiquista. A coisa não me incomoda por aí além, mas deixa-me insultado. E quem me conhece sabe que não me fico por aí. Não levo desaforo para casa. 

A conversa descambou para a relação que o Benfica tem, ou teve, com algumas das suas glórias passadas. É verdade que o Benfica ostracizou Eusébio antes de o reabilitar, e de o tornar numa espécie de símbolo, é verdade que a direcção de Vale e Azevedo demitiu José Águas da posição de olheiro do clube, para depois a direcção de Manuel Vilarinho voltar a contratá-lo, e é verdade que José Torres, já padecendo da doença que o viria a vitimar, foi mal recebido no novo Estádio da Luz. Tudo isto é verdade, mas não faz do Benfica um clube de "más pessoas", mas antes de pessoas como outras quaisquer, que acertam e erram. Não é diferente das pessoas do FC Porto ou do Sporting. Para o Miguel, que é ateu e socialista, o Benfica é uma espécie de "Deus", infalível e incriticável.

O Benfica não é o meu "inimigo" - é o adversário. Tenho amigos benfiquistas que são óptimas pessoas (as minhas duas irmãs são benfiquistas), e nunca em circunstância alguma me aborreci com ninguém por motivo de tricas clubísticas. E claro que a nível interno, em competição directa, fico feliz quando o adversário perde. Os campeonatos não se decidem apenas pelos jogos entre os candidatos ao título, são uma prova onde conta a regularidade, e no fim ganha quem fizer mais pontos, e pouca interessa contra quem. Gosto quando o Benfica perde pontos contra outras equipas, da mesma forma como os adeptos do Sporting e o Benfica ficam contentes quando o FC Porto perde pontos. O contrário seria de admirar. Ninguém me viu aí a festejar a derrota do Benfica na terça-feira contra os russos do CSKA de Moscovo, e quem alegar que sim, exijo que apresente provas. Isso vai ser impossível, porque não as tem.

O Miguel Andrade é o benfiqueiro típico. Quando ganha "é desporto", e quando perde, o melhor é não lhe dirigir a palavra. Para ele o normal é o Benfica ganhar, o Benfica é o maior, e os outros "são uns invejosos", ou melhor dizendo, são "anti". Compreendo que ultimamente ande com uma grande cachola, mas é assim a vida. Se acha que os adversários do Benfica deviam fazer-lhe reverência, ou estenderem-lhe a passadeira, está muito desfasado da realidade. Ontem teve mais uma adenda à sua azia. Se com Rennie já não vai lá, tome um Kompensan que isso passa. Quanto à sua atitude, fez o que entendeu, e não lhe estou a pedir que reconsidere. Aliás, peço-lhe até que não o faça. Tenho pouca ou nenhuma paciência para fanáticos, e recentemente nesse particular tive uma experiência desagradável. Só lhe desejo que a sua amargura de benfiqueiro não se transmita para a sua vida pessoal, para bem de si e dos seus. Passe bem, ou pelo menos tente.


Volta à Europa em futebol



O Benfica somou ontem a sua primeira derrota na Liga portuguesa, ao perder por 1-2 no Estádio do Bessa frente ao Boavista. Os axadrezados trocaram de treinador a meio da semana, e Jorge Simão não podia ter pedido uma estreia melhor, somando 3 pontos frentes aos tetracampeões nacionais. O Benfica até começou melhor, e marcou por Jonas logo aos 7 minutos. No entanto, a noite estava longe de ser tranquila, e depois de uma primeira parte mais ou menos dividida, o Boavista apareceu em grande no segundo tempo, muito graças à entrada de David Simão, e a exibições de encher o olho da parte de Renato Santos e do guardião Wagner. O primeiro empatou para a equipa da casa aos 56 minutos, e do outro lado o Benfica mostrou estar menos bem servido na baliza, quando aos 74 minutos um livre de Fábio Espinho resulta num frango enorme de Bruno Varela, que praticamente colocou a bola no fundo das redes. Sabendo de antemão da derrota do seu rival directo, o Sporting recebeu e venceu em Alvalade o Tondela por 2-0, e ficou no primeiro lugar com mais cinco pontos que o Benfica, que caíu para o quarto lugar, atrás do Marítimo.



Ao lado, em Espanha, o Barcelona somou a quarta vitória em outros tantos jogos, ao vencer nos arredores do Madrid o recém-promovido Getafe por duas bolas a uma. Os catalães chegaram a estar mesmo em desvantagem, graças a um golo do japonês Shibasaki aos 39 minutos, e só na segunda parte a equipa de Valverde deu a volta aos acontecimentos, com golos de Dénis Suarez, e do substituto Paulinho, este a seis minutos dos noventa. O Barcelona lidera à condição com mais 3 pontos que a Real Sociedad, e mais sete (!) que o Real Madrid. As duas equipas encontram-se hoje em Donostia, numa partida onde qualquer  resultado serve aos catalães.



Na Inglaterra, destaque para a goleada do Manchester City no terreno do Watford, por seis bolas a zero. O contingente sul-americano ao serviço de Pep Guardiola esteve em destaque, nomeadamente o argentino Kun Aguero, que assinou um "hat-trick". Do outro lado estava a equipa de Marco Silva, que ainda não tinha perdido esta época, mas que foi cair com estrondo perante um adversário com um plantel e orçamento muito superiores. O City lidera com 13 pontos, e fica à espera do resultado de hoje do jogo entre o Manchester United e o Everton para saber se vão ter a companhia do rival da mesma cidade da liderança. Também hoje se realiza o derby de Londres entre o Chelsea e o Arsenal.



No Championship, o segundo escalão do futebol inglês, a vida corre bem para o Wolverhampton, a equipa de Nuno Espírito Santo, que conta com vários jogadores portugueses agenciados pelo empresário Jorge Mendes. Os Wolves foram vencer fora o Nottingham Forest por 2-1, com dois golos do ex-portista Diogo Jota, emprestado pelo Atlético Madrid ao clube inglês. A equipa mais portuguesa de Inglaterra partilha agora a liderança com  Leeds United e Cardiff City, todos com 17 pontos em 8 jogos.


sábado, 16 de setembro de 2017

Maria Vieira abre o livro


Maria Vieira lançou no mês passado o livro "Maria no país do Facebook", uma edição de autor com a chancela da Ideia-Fixa, a editora que tem por trás nem mais que Zita Seabra. A antiga afilhada de Álvaro Cunhal e comunista arrependida tornada devota do culto mariano tem aparecido ao lado de Maria Vieira na promoção. Eu não alinho nesse tipo de teorias da conspiração, e não sei nem me interessa se aqui se trata de algum tipo de manipulação política feita à actriz por uma certa direita que é tudo menos democrática, mas que isto leva água no bico, isso leva. O livro propriamente dito é um engodo; não estão lá os textos que catapultaram a figura de Maria Vieira, uma actriz que fez uma carreira modesta, onde é sobretudo conhecida pela sua simplicidade e simpatia, para as parangonas da imprensa cor-de-rosa e não só. Não estão ali os conteúdos polémicos que poderiam levantar algum interesse em relação ao livro. Em suma, o livro aparece como um veículo promocional não daquilo que a Maria Vieira escreve ou pensa, mas do ideário pérfido de alguém que não ela. Mas já lá vamos.


Maria Vieira apareceu no programa Você na TV no último dia 30 de Agosto, a falar do livro, das polémicas e tudo mais. Recorde-se que a actriz se tem abstido de comentar os assuntos que lhe têm valido um rol de críticas, e algum apoio - menos do que as críticas - remetendo todos os esclarecimentos "para o Facebook". A entrevista conduzida por Cristina Ferreira, que pode ver aqui na íntegra, foi possivelmente o pior papel que Maria Vieira representou. Gagueja, engasga-se, chega a chorar, e apesar de lhe ter sido dado um texto que decorou, como sempre muito bem faz, era nítido que não tinha noção alguns dos conceitos que diz defender, e até dos "autores marginais" que diz serem "os seus favoritos". Vamos por partes.


Por exemplo, ao minuto 2:30 da entrevista, enquanto Maria Vieira tenta justificar ter chamado de "idiota encartado" a Salvador Sobral, mete completamente os pés pelas mãos. Diz que "as pessoas que a perseguem criam perfis falsos para entrar nas páginas de amigos seus", onde fez o referido comentário, páginas essas que "estão reservadas apenas a amigos". Mentira. Este é um truque de manga que não engana uma criança de 4 anos. Quem seguir a Maria Vieira no Facebook, tem acesso aos seus posts e aos comentários (bem como aos "likes") que faz em posts de outrém desde que estes últimos sejam públicos. Isto e apenas isto. Eu estou bloqueado naquela página, mas há outras pessoas aqui em casa que também têm conta de Facebook. Mas então cabe na cabeça de alguém que os amigos da Maria Vieira aceitem a amizade de "perfis falsos"? Essa agora. O problema aqui é que Maria Vieira está aqui a tentar branquear não aquilo que ela escreve, mas o que alguém escreve em nome dela, como vamos ver a seguir.


É ao minuto 4:53 que a boca de Maria Vieira foge para a verdade. Quando Cristina Ferreira a confronta com mais uma polémica, a actriz responde "mas achas que sou eu que escrevo?". Atrapalhada, tenta emendar a mão, evidenciando um nervosismo estranho. Seguem-se considerações sobre o islamismo, o terrorismo, etc., coisas de que a Maria Vieira obviamente pouco percebe. É mais que público, pois foi admitido em tempos pela própria, e recentemente por amigos próximos, que é o marido de Maria Vieira que escreve na sua página do Facebook, e explana aquelas ideias atrozes "anti-globalização". Mete pena ver a actriz amparar os delírios do homem com quem partilha a vida há mais de 30 anos. E posto isto...


É aos 6:30 que Maria Vieira quebra, e começa a chorar quando Cristina refere que "há pessoas que dizem que Maria Vieira está a ser manipulada pelo marido", e que "é ele que escreve na sua página do Facebook". Aqui não me cabe comentar nada. É óbvio que se passa qualquer coisa de bastante grave na casa deste casal. Isto é um assunto para as autoridades tratarem, e só espero muito sinceramente que não seja quando for tarde demais. Até porque...


Aos 13:15, Cristina Ferreira lê o prefácio, assumidamente da autoria do marido de Maria Vieira. Fernando Duarte Rocha, que foi também autor na íntegra (nesse tempo mais ou menos assumidamente) dos quatro livros de viagens da "Parrachita", nom de guerre de Maria Vieira. Fernando Duarte Rocha chama de "filhos da puta" e "coirões" às pessoas que diz "perseguirem-no, mais à mulher". Isto num livro onde supostamente a polémica tenta ser a mínima possível, e a pessoa que leva com a autora do mesmo anda neste momento pelo país a distribuir autógrafos às (poucas) pessoas que ocorrem à promoção dos livros, e ainda chama "queridos" e "meus amores" a toda a gente. Maria Vieira defende-se dizendo que "o marido é ainda mais frontal que ela". Ora, "frontal" aqui é um eufemismo para "ordinário", que é algo que a actriz não consegue ser, porque não fez nem faz parte do seu carácter, pronto. E já agora, sendo o sr. Fernando Duarte Rocha um "escritor" - pelo menos esta é a profissão que ele alega ter - porque não tem ele uma conta de Facebook? Parece-me muito estranho. Tem pois, mas é em nome da mulher que o tem sustentado nos últimos 30 anos, e com quem só casou em 2011 para poder obter facilidades no visto para o Brasil, onde Maria Vieira trabalhou em três ocasiões entre 2009 e o ano passado. Outra polémica: 


Por volta dos 19 minutos, Maria Vieira tenta explicar o facto de ter considerado o presidente Marcelo Rebelo de Sousa como "o pior presidente que Portugal conheceu" - mais um devaneio do seu marido, como é lógico. Maria Vieira defendeu-se dizendo que "aprecia Marcelo Rebelo de Sousa", que "considera o presidente dos afectos", mas que "é preciso ser mais interventivo". Ó minha cara, isso fica muito longe daquilo que o seu marido faz na sua página, onde chama o presidente e o primeiro-ministro António Costa de "Sr. Feliz e Sr. Contente", sugerindo que se trata de dois patetas, que "levam o país para o abismo". Nem me vou dar ao trabalho de repetir aquilo que tenho dito neste blogue a este respeito, e sempre suportado por provas. É só procurarem. E querem mais uma?


Aqui está. Dez dias depois da entrevista a Cristina Ferreira, mais um delírio que prova que Maria Vieira não tem controlo sobre a sua página do Facebook, do seu marido, de nada. Insinua-se que a RTP (que tem sido um dos alvos preferenciais de "Maria Vieira") passa filmes indianos "para agradar a António Costa", e que a televisão pública não deve transmitir programação que seja do agrado "de imigrantes e de muçulmanos". Quem tiver uma interpretação diversa, é mais que bem vindo a expô-la nos comentários. Isto tem sido assim há mais três anos, e vem subindo de intensidade. 

Eu não tenho "problema" nenhum com a Maria Vieira, ou com aquilo que aparece escrito na sua página, mas é mais que evidente que não bate a bota com a perdigota. Admirei a coragem de Cristina Ferreira naquela entrevista, onde tocou nos pontos essenciais, e onde foi possível ver que Maria Vieira está longe de conseguir controlar a situação. Quem apoia uma coisa destas só pode ser uma pessoa mal formada e desonesta. Quem encoraja arrisca-se a ser cúmplice de uma possível tragédia.