sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os amigos orientais de Baco

Porca de Murça, um nome bestial para um vinho.

O vinho português tem tido um enorme sucesso na China, e em Macau também, por tabela. Aí está uma mina de ouro: os chineses tornaram-se refinados, ouviram dizer que beber vinho é “chique”, que é “bom gosto”, que “faz bem”. Ora, eu até bebo, mas para mim é tudo igual. Não sei se o vinho português é melhor que o francês (pelo menos é mais barato), e praticamente todo o vinho que bebo é no Verão em forma de 1) vinho verde geladinho e 2) sangria. Quando janto fora e um simpático turista de Hong Kong me pergunta “que vinho tinto português lhe recomendo”, respondo sempre: “o segundo mais barato”. Assim o amigo não passa por pindérico e não paga mais por praticamente a mesma pomada. Em todo o caso se fosse um “conaisseur” não me perguntava nada, então para quê gastar mais e usufruir exactamente da mesma experiência? (A bebedeira?).

Tenho uma relação estranha com o álcool; gosto do sabor, gosto do “kick”, mas sou mais uma pessoa de long-drinks, tipo Campari ou Vodka com qualquer coisita. A primeira vez que apanei uma piela tinha quinze anos, e considero que aguento bem a minha bebida. Mas isso do vinho tinto pesa-me imenso no estômago, e se beber demais arrisco-me a fazer uma feijoada, se é que me entendem. Existe mesmo uma profissão de “enólogo” (e é uma cadeira do curso de hotelaria e turismo no IFT), que é suposto ser um tipo que é pago (!) para degustar a vinhaça: cheira, põe na boca, bochecha e depois cospe! Haja dó! Aquilo é só em part-time não é? Ninguém vive de fazer só aquilo pois não? Existem mesmo confrarias do vinho. Uma óptima desculpa para se meter nos copos.

A verdade é que nos últimos dois anos ou isso aquelas herdades e adegas com nomes giríssimos têm tido encomendas…da China! Mesmo em Macau tem sido um arrepio de novos empresários em part-time que se dedicam a vender vinho português. Ainda um dia destes vi um advogado português, figura bem conhecida da nossa praça, a levar pelas próprias mãos um carrinho com caixas de um tinto qualquer “para vender aos chineses, que andam cheios de sede, porra!”. Ajuda se conhecermos o proprietário de alguma Quinta do Merdil, Herdade do Pirolito ou Adega da Zarolha, que nos mande assim umas garrafitas da última colheita, “por um preço simpático”.

Em todo o caso que as vendas lhes corram bem, apesar dos consumidores não saberem sequer o que estão a comprar. Lembro-me aqui há uns anos a moda do Cognac, o VSOP da Rèmy-Martin (ulala) que era consumido às refeições, de copo cheio. Já vi clientes a mandar para trás garrafas de vinho tinto “porque não estavam frias”. Mas quem quer saber? Mandem para cá mais garrafitas de tintol e quejandos, que negócio é negócio. Mas para mim é igual ao litro de tinto que custa 55 paus e uso para fazer sangria. E não se esqueçam de mandar mais daquela excelente marca, “Irmãos Unidos”, na sua versão branca e tinta, que pela módica quantia de 20 patacas por garrafa, tempera as caldeiradas e os bifes. Agradecido.

Vídeo da semana

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A teoria do caos (revisitada)


O deputado e presidente da ATFPM, José Pereira Coutinho, está numa peleja pela manutenção dos subsídios de férias e de Natal dos pensionistas da RAEM, que recebem o seu dinheirinho através do estado Português. Como se sabe as coisas não estão nada bem lá na Tuga, e prevê-se que hajam mais cortes no orçamento em Novembro, mais impostos, e todos esses horrores a que os nossos compatriotas estão sujeitos lá na "sede". Portanto tudo indica que vão haver cortes para os pensionistas, apesar da esforçada tentativa de Pereira Coutinho e um ano das próximas eleições (isso é só coincidência, claro).

Ora bem, eu penso que deverão haver mesmo cortes, e porque teriam de ficar estes "portugueses" também excluídos? Não existem portugueses de primeira, nem de segunda. É certo que isto são "idosos na sua esmagadora maioria de etnia chinesa", mas são portugueses també, e isso deve ser tanto para o bem como para o mal. De recordar que o Estado português comprometeu-se a pagar estas pensões depois de 1999, uma vez que os beneficiários descontaram durante o seu serviço - ou o dos seus familiares - durante a adminisração portuguesa. É pena que tenha corrido para o torto, mas é assim mesmo a vida com altos e baixos. Apenas "altos" em termos de pilim, só mesmo em Macau.

Esta situação fez-me recordar a saudosa "teoria do caos" que tanto estava na voga durante o período pré-administração portuguesa, e que consistia basicamente num cenário aterrador: iam acabar as liberdades, os chineses "iam-se vingar" e os estrangeiros que cá ficassem eram loucos. Isto levou a uma debandada geral para Portugal, onde o Governo generosamente abriu os braços a funcionários públicos que só tinham seis meses de Macau, em alguns casos. Para isto também não ajudou nada o último governo, que aconselhava a retorno. Trauma da última descolonização, que como se sabe foi uma grande trampa. O último Governador deixou um conselho aos que ficavam: "aprendam Mandarim. Pois é, iamos ficar aqui todos a falar com os mandarins, como faziam V.Exas.

Não quero que o leitor pense que fui muito inteligente em ter ficado por cá, apesar de poder ter optado, mas a verdade crua e nua é que tive medo de voltar para lá. A sério. Ou medo ou preguiça. Nasci lá e fiquei o tempo suficiente para saber que sejam quais for os intérpretes, laranjas, rosas, pretos ou azuis, o problema é "estrutural", para ser simpático. Por isso preferi ficar aqui com os pangiaos. Cheguei a estranhar que muitos dos que saíram fossem macaenses nascidos em Macau. Então eu que sou mesmo de lá não quero ir e vocês querem? A resposta saía sempre na forma da tal teoria do caos: os chineses iam pisar-nos em cima, apesar de terem garantido que não, e pronto, era isso que ia acontecer.

Mas não foi assim, nem será. Para quê, chatearem-se connsoco, que até somos uns gajos que trabalham e não fazem muitas ondas? Muitos voltaram e outros querem voltar, e fazem bem. Ninguém precisa de ficar a pagar pelos erros para o resto da vida. Agora quanto aos pensionistas...bem, coitados, mas não estÃo assim tão mal quanto isso. Citando Pereira Coutinho, recebem "entre 550 e 11000 patacas mensais". Entre 550 e 1100 euros, portanto. Não estão assim tão mal, comparando com a esmagadora maioria dos pensionistas em Portugal. Estão mesmo melhor que uma grande parte dos que ainda se esfolam a trabalhar. Pode ser que o Governo da RAEM lhes dê uma mãozinha.

For a few patacas more


O divertido deputado Fong Chi Keong volta a estar nas bocas do mundo. O empresário a construção (sobretudo isso) defendeu-se das acusações de preferencialismo por parte do Governo na realização de obras no palácio da Praia Grande por parte da sua empresa, a "Man Kan" (assim baptizada com o nome do pai de Fong, que também já era rico). Fong diz que o Governo "tem confiança nele!" (ena!), e como as obras são no palácio, sabe-se lá se outros gajos que não se conhece de lado nenhum deitem as mãos às pratas? E assim é adjudicada à Man Kan mais uma obra a realizar em duas secretarias do palácio, com um custo de 44 milhões de patacas em dois anos. Náo admira que o senhor empresário nunca se queixe de nada, basta bater a pala lá no hemiciclo e pimba! mais umas obrinhas de milhões. Depois ainda se diverte a dar conselhos parvos a quem anda mais à rasca, e opiniões ridículas sobre os vários problemas que se debatem na AL. Coisas do tipo "comam e calem-se, e toca a trabalhar". O anedotário deste senhor já dava para escrever um livro, e perto dele outros cromos como Shuen Ka Heung parecem génios. Teve imensa piada quando ele descreve os problemas do palácio...precisa de renovação, tem infiltrações, e tal. Isto vindo de um indivíduo que nunca pegou numa picareta na vida. Numa picareta propriamente dita, pois a "picareta" do disparate sabe ele manuseá-la como ninguém. Ele diz assim com um ar muito natural que "o Governo encomenda as obras e eu só mando lá ir fazê-las". O senhor manda. E assim vai Macau...temos na AL os gajos das obras, o dono dos restaurantes e mais um grupo de gente que tem qualquer coisinha para vender. E o Governo tudo compra...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Afinal pode-se ou não?


Esta imagem foi recolhida num portão aqui perto de casa, e a mensagem é confusa: "Propriedade privada, não trespassar! A entrada não-autorizada é permitida". Que diabo, afinal pode-se entrar ou não? Será uma armadilha? Estará lá algum maluco que nos convida a entrar e depois dá-nos com a moca na cabeça e depois diz: "Eu avisei!", rindo-se tresloucadamente? Mistério. Ah sim, já me esquecia..."porque Macau sã assi, mas também sã assado". Com a devida vénia....

Liberdade para as Pussy Riot!



Ainda não tive oportunidade de comentar um dos temas do momento, as Pussy Riot (eheh, o nme dá mesmo vontade de rir), o grupo russo que tem 3 elementos detidos por "sacrilégio". Ora eu acho muito bem que tenham invadido aquela igrejola ortodoxa russa como forma de protesto pelo conluio entre aquela e o sinistro presidente Vladimir Putin. É uma forma de protesto como qualquer outra. Se Deus tivesse ficado mesmo zangado, tinha-lhes mandado um raio em cima. A cumplicidade entre Igreja e Estados-assim-não-muito-democráticos foi sempre perigosa; basta lembrar a forma leviana com que o Vaticano pactuou com o nazismo, por exemplo. As Pussy Riot são vítimas da censura e de Putin, que qual czar, quer restabelecer o Clero no país dos oligarcas. Já agora vejam o vídeo até ao fim, são menos de dois minutos e vale mesmo a pena.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Oito ou oitenta

Vão viver com os pandas, meus amigos "económicos"...

“Oito ou oitenta”…eis uma expressão que gosto de usar, e que cada vez mais se aplica a certas coisas que se passam em Macau. Serve para descrever um pouco do que se passa na nossa Administração e não só, onde o desleixo em relação a certos problemas e o cuidado exagerado com outros, que muitas vezes não se justificam. Quando acontecem as falhas (e há muitas), muda-se completamente de orientação, tomando-se posições rígidas, sem qualquer tipo de flexibilidade. É o oito ou oitenta, portanto. O que faz falta em Macau é o 44.

E de quem é a culpa de tudo isto? Dos nossos dirigentes, quadros superiores e chefias, que ainda se escudam na desculpa da “falta de experiência”? Da “juventude” da RAEM? Porque não olhar aqui para o lado para a vizinha RAEHK, apenas dois anos mais velha, e onde a “máquina” é muito mais bem oleada. De que serviram as acções de formação em Singapura e quejandos nos primórdios da criação da RAE? Não quero acreditar que seja apenas incompetência ou má vontade; existem dirigientes inteligentes, trabalhadores e competentes. O que existe por vezes é um certo autismo, uma certa falta de humildade e uma enorme falta de comunicação de cima para baixo. Que se procure melhorar o mais rapidamente possível, pois sinceramente a imagem que se tem de Macau é que não existiria se não fosse pelo “combustível” dos casinos.

Desculpem lá o desabafo inicial, mas o que eu queria mesmo falar era das tais habitações económicas que o Governo disponibilizou em Seac Pai Van e agora (quase) ninguém quer. Muito se tem dito sobre este tema, as opiniões divergem, mas para mim o essencial é o seguinte: não querem porque é em Coloane! Isto não se faz, mandar pessoas que nasceram e sempre viveram na península de Macau para Coloane, lá para o pé dos pandas. É como os mandar para “os pandas que os pariram”. É preciso não esquecer que estas casas “económicas” não são propriamente dadas; custam à volta de um milhão de patacas, que não é dinheiro que se tem na fruteira lá de casa. Se as pessoas gastam este dinheiro e exigem continuar a viver em Macau, estão no seu pleno direito. Se concorreram à habitação económica é porque necessitam dela, certo, mas não são obrigadas a ir viver…em Coloane!

Quer dizer, se isto são pessoas sem posses (!?) não acredito que tenham um Mercedes para se deslocarem todos os dias a Macau para trabalhar. E isto são cerca 300 pessoas de que estamos aqui a falar, mais de 60 famílias. E quantos autocarros passam em Seac Pai Van, e com que frequência? Existe um mercado municipal ali perto? Olha…vão comer ao Fernando! Áreas de lazer? Vão à praia! E que escolas `volta do tal edifício Ip Heng? Vão aprender com o Hoi Hoi e a Sam Sam! Dá para ir a pé dali para algum lado? É quase como viver no deserto. Não é por acaso que o Estabelecimento Prisional de Macau fica em Coloane: é para ficar longe de tudo o que interessa. E em Macau propriamente dito? Não existem lcais para construír habitação económica? É oito ou oitenta…

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O idiota da semana


Todd Akin, congressista americano e membro do Comité de Ciência está nas bocas do mundo. Akin, que é também candidato pelo estado do Missouri às eleições de 6 de Novembro para o Senado norte-americano, afirmou basicamente que as mulheres violadas "nunca engravidam". De acordo com este senhor, que se assume contra ainterrupção voluntária da gravidez, o organismo feminino tem "meios para resolver o problema", isto se "a violação for legítima". Ou seja, o óvulo sabe muito bem se o esperma foi ou não convidado a lá entrar, e como que "repele-o" se se tratar de uma violação.

Isto é novidade para muita gente, e equivale por dizer que se uma mulher for violada e tiver engravidado, é na verdade uma badalhoca sem vergonha. Se calhar até estava a ser violada no início, mas depois gostou, a porca. Isto pode ser levado mais longe, e usado como prova em tribunal: se a magana engravidou, então nãO foi violada. É como o tal teste do algodão, que nunca se engana. Akin defende contudo que "caso alguma coisa falhe", e a mulher engravide após uma violação, quem deve ser castigado é o violador, e "nunca a criança".

Quem segue este blogue há algum tempo sabe que eu próprio so contra o aborto não-terapêutico, mas por razões completamente diferentes destas que se prendem com o conceito de que um embrião ou um feto é uma "criança", ou um ser vivo. Só que com gente desta do meu lado, ora motivada pela religião, o álcool ou a estupidez, fica difícil. Estou a pensar em mudar de partido.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Diaoyu e concurso


1) A questão das ilhas Daoyu é deveras preocupante para nós, que vivemos mesmo aqui no perímetro do problema. As ilhas cuja soberania é exercida pelo Japão e são disputadas pela China e por Taiwan foram "esquecidas de devolver" depois da derrota do Japão imperialista na segunda guerra, e agora tanto a República Popular como a ilha nacionalista as querem de volta, estes últimos com o argumento de que pertenciam à China nacionalista antes da ocupação nipónica, e ainda antes da fundação da República Popular, lá está. É claro que estas ilhas são ricas em recursos naturais, senão ninguém queria saber delas para nada, até porque nem sequer são habitadas. A detenção dos catorze activistas na semana passada terá sido um acender de um rastilho de um imenso barril de pólvora. A animosidade ficou ao rubro - principalmente do lado da China - que considera isto um "insulto". Apenas um pequeno aparte: os manifestantes foram detidos pela polícia japonesa, algemados, é certo, e depois repatriados com uma enorme rapidez. Não há notícias de terem sido maltratados, humilhados ou abusados mesmo que verbalmente por alguém. Gostava de saber o que teria acontecido numa situação homóloga. E se fosse a China a exercer a soberania das ilhas e estas fossem invadidas por manifestantes japoneses? Mas adiante. As manifestações de nacionalismo exacerbado sucederam-se um pouco por toda a China, com uma forte compnente anti-nipónica. Em Shenzhen uma fábrica de automóveis japonesa foi atacada, a até uma viatura da polícia foi virada ao contrário simplesmente por ser da marca Toyota. Foram vários os jovens entrevistados (mesmo em Macau!) a dizerem que "detestam o Japão" - apesar de muitos deles adorarem sushi e comprarem produtos japoneses. Isto não é patriotismo, daquele que se vê nos jogos de voleibol feminino ou de pingue-pongue entre os dois gigantes asiáticos. Isto é nacionalismo da pior espécie, que não augura nada de bom. Recordo-me de ver uma gorda em Pequim nas notícias na última quinta-feira a "exigir que a China declare guerra ao Japão". Isto é gente que não faz a mínima ideia do que é uma guerra, e que consequências uma guerra entre estas duas potências militares significaria. Não acredito num conflito armado entre a China e o Japão por causa das ilhass Diaoyu, mas este é um assunto que tem que ser deixado nas mãos da diplomacia. Nunca nas mãos destes meninos.

2) Terminou hoje o prazo de entrega de inscrições para o concurso centralizado para a ocupação de vagas de técnico-adjunto na Administração Pública de Macau. Desde o último dia 2 que cerca de 20 mil (!) aspirantes concorrem a cento e poucas vagas, e entregam as suas candidaturas no Edif. Administração Pública, na Rua do Campo. Como hoje era o último dia, foi uma grande azáfama naquele edifício onde, como muitos leitores sabem, este vosso servo trabalha. É interessante como apesar do maná de empregos que são os casinos, os jovens da RAEM ainda preferem um lugar à sombra da grande Lótus. Sem dúvida, porque como diz uma expressão aqui da terra "não é preciso falar mentira". Os empregos na Administração são isso mesmo: empregos. O resto é simplesmente "trabalho". Na Administração não há turnos, não se trabalha aos Sábados e Domingos, gozam-se todos os feriados na sua plenitude, ganha-se bem sem precisar de ficar muito tempo de pé, e mais importante que isso, não é preciso aturar (muita) gente parva. O "governo" não é um patrão parvo de quem depende um emprego, e além disso não se fica sujeito às oscilações da economia. Pois é, e assim foi nos últimos 19 dias: milhares de jovens a fazer fila para arranjar um emprego onde "não é preciso trabalhar". Ai mei ah?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Brasileiros invadem Ponto Final!!!


Os brasileiros tomaram conta do Ponto Final, um dos diários em língua portuguesa do território! Eis a prova irrefutável do fato...perdão, do facto, na edição de ontem. É contagioso, mermão! Porra, mermão não...ahhhh!!!!!!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Preparado para o Kai-Tak


Está aí mais uma tempestade tropical, desta vez baptizada de Kai-Tak, vinda direitinha das Filipinas, onde fez sete vítimas mortais. O Kai-Tak dirige-se paulatinamente para o território, tendo sido içado o sinal nº 3 esta tarde, e prevendo-se que se mude para o sinal nº 8 nas próximas horas. Eu cá estou preparado para o tufão. Não comprei uma saca de dez quilos de arroz nem dois garrafões de cinco litros de água - se tiver fome e sede basta-me ir ao 7-11 aqui perto de casa. Mas abasteci-me com uma garrafa de litro de Stolichnaya e uns quantos Red Bull para me entreter enquanto o vento sopra leve, levemente. Não tenho que me preocupar mesmo com nada, pois a minha humilde casinha fica num terceiro andar e não corro o risco de ter a água a entrar-me pela porta. Mão tenho janelas daquelas grandes e modernaças, portanto não vou ter os cacos todos espalhados por cima da cama, nem há uma grua inclinada nas vizinhanças, pelo que não vou ter a bófia aqui à porta a dizer-me para sair. Às vezes é bom ser-se pobrezinho ou apenas remediado. Dizem que este tufão "não vai ser tão forte como o Vincent", que nos visitou há mais ou menos um mês, epá, e não me levem a mal, mas espero que seja tão ou mais forte. Um grande abraço a todos e esperem que fiquem em casa amanhã, no choquinho.

Portugal bate Panamá


Portugal derrotou ontem o Panamá por duas bolas a zero, num amigável destinado a preparar os compromisssos com vista à qualificação para o mundial de 2014, no Brasil. Um jogo morno que ficou marcado pelo festival de oportunidades de golos perdidas pelos avançados portugueses, espcialmente Hugo Almeida, que esteve muito mal. Valeu a pontaria de Nélson Oliveira na primeira parte, e de Cristiano Ronaldo na segunda. Portugal defronta o Luxemburgo no dia 7 de Setembro, e o Azerbeijão no dia 11.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Astronautas, atletas e outra fauna


1) Os astronautas chineses, tripulantes da Shenzhou-9, passaram por Macau nos últimos três dias. Milhares de residentes da RAEM atropelaram-se para ver os seus "heróis", num clima de grande exultação nacionalista. Sinceramente não tenho nada contra os tais taikonautas, que parecem gente simpática, inteligente, e que para variar até vieram aqui dizer qualquer coisa de jeito. O que não se aceita é a histeria e a idolização por absolutamente nada. E curioso que a China insista num programa espacial, quando as outras duas potências da conquista do espaço - os Estados Unidos e a Rússia - desinvestem a olhos vistos. E de seguida vêm aí os atletas olímpicos medalhados nas últimos jogos em Londres, e espera-se mais uma forte adesão dos patrioteiros locais, de bandeirinha em riste e gritinhos de bajulação, numa cerimónia perfeitamente coreografada, escrutinhada, selecionada. Uma falta de espontaneidade impressionante, tudo em nome do tal "amor à Pátria", quando se sabe muito bem que tanto astronautas como atletas olímpicos, esses "he'róis", vêm cá receber "o deles". Vocês sabem muito bem do que estou a falar, parafraseando o Octávio Machado. Para quê implementar a tal educação patriótica, de que os vizinhos de Hong Kong se queixam agora, em Macau? Ela já existe, é servida em colherzinhas de chá um pouco todos os dias, e os oumunian são mesmo bons alunos. Claro que durante estas visitas só os bons meninos se aproximam dos "heróis", e as perguntas incómodas ficam de fora. Eu por acaso só gostava de perguntar uma coisa aos tais taikonautas: o que sentem quando aquilo começa a subir? Eu cá borrava-me todo...

2) Tenho notado um aumento no número de visitantes de Portugal na RAEM, o que é bom, sem dúvida. O problema é que alguns dos nossos compatriotas, provavelmente acabadinhos de sair da Aldeia da Roupa Branca pela primeira vez na vida, comportam-se como autênticos saloios nas ruas de Macau. Grunhos da pior espécie. Existe aqui perto de casa uma alfaiataria chamada "Victor Emanuel", que diz na porta, ora, "Alfaiataria Victor Emanuel". Há duas semanas deparei com dois casais da tuga a fotografar aquilo, completamente embasbacados, e a dizer "olha...está escrito em português, 'tás a ver?", com o arzinho mais idiota do mundo, um orgulho besta sabe-se lá do quê. Esta manhã ia eu a passar pela Rua da Palha e em frente de uma vendedora ambulante de chu chong fan estava uma outra turista portuguesa a dizer ao marido: "Olha o que é aquilo? Parece lulas...". Lulas? Por amor de Deus. Depois há aqueles que pensam que são muito engraçados e fazem comentários idiotas e por vezes insultuosos aos chineses (qualquer dia têm uma surpresa). Faz-me lembrar um episódio durante a noite da transferência de soberania, que assisti em directo do Largo do Senado, e onde alguns visitantes portugueses riam dos nomes dos dirigentes chineses. Quer dizer, venham cá que a gente gosta, mas respeitem um pouco a cultura dos outros. O que iam achar se um turista chinês fosse a Fátima e risse dos fiéis que atravessam o santuário de joelhos? E olhem que isso dá mesmo vontade de rir....

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Olimpíada em revista


Terminou no Domingo XXX (30ª, para quem não conhece a numeração romana) olimpíada da era modena, disputada desta vez em Londres. O que tenho eu a dizer disto, que disse tão pouco? Ora, que quem ficou a ganhar com tudo isto foi a própria cidade de Londres, que voltou a parecer aos olhos do mundo como uma das mais modernas, cosmopolitas e desenvvolvidas. Foi a terceira vez que a capital britânica organizou os jogos, e apesar da sombra do terrorismo, esse flagelo do século que atravessamos, os jogos foram disputados na paz do senhor, sem quaisquer apontaementos relevantes quanto à segurança. Desconfio que nenhum senhor de barba ou turbante suspeitos ter'sido identificado ou revistado. Nem os atletas da equipa masculina de hóquei em campo do Paquistão.

Os fait-divers que envolvem os jogos são sempre mais interessantes que os jogos em si. Começámos com o caso da errónea bandeira coreana disposta numa partida de futebol feminino, passando por alguns casos de doping, das atletas holandesas lésbicas de hóquei em campo que dormiram em quartos separados "para bem da coesão da equipa" (e que deu resultado, a Holanda ganhou a medalha de ouro), e terminando no political statement do futebolista sul-coreano que reclamou as ilhas Dokdu como suas. A polémica que mais relevo merece, a meu ver, é a da equipa de badminton da China, que "atirou" de propósito um jogo para combinar uma eventual final com uma dupla sua compatriota. Um exemplo de mau olimpismo e de falseamento da verdade que merece toda a censura. Vergonhoso, e que só prova que a China ainda tem muito que aprender no capítulo do desportivismo.

Quanto ao que conseguimos ver aqui em Macau dos jogos, e com muita pena minha, reduziu-se às disciplinas em que existiam fortes possibilidades da China ganhar medalhas. Assim fomos massacrados com o pingue-pongue, o badminton, os saltos para a água, a ginástica. Tudo uma enorme chatice, e só compreendo que tudo isto tenha uma grande audiência porque no fim a China ganha (e nem sempre...). É o nacionalismo baccoco em todo o seu esplendor. Do resto só tenho a destacar Usain Bolt, duas vezes tri-campão das maiores disciplinas da velocidade nos jogos. Umm verdadeiro herói do olimpismo. O homem mais rápido do mundo, a quem só tem que ser reconhecido todo o mérito. Depois há Michael Phelps, o tal que ganhou (quase) tantas mdlahs como Portugal, sendo a maioria ouro. Com a quantidade de disciplinas que existem nas piscinas dos Jogos, certamente outros Michael Phelps existirão no futuro.

Uma nota final para a participação portuguesa. Mais uma vez, montes de cautelas e caldos de galinha. Mais uma vez? lembro-me de um senhor prometer muitas medalhas há quatro anos em Pequim, e agora vir com uita humildade dizer que "não se epseram medalhas nenhumas". A canoagem salvou a participação lusa e fez Vicente Moura parecer um santinho, quando vem agora dizer que "em Portugal não se aposta no desporto". Este senhor já se devia ter demitido há muito tempo. É daquelas pessoas que não faz falta nenhuma ao desporto em Portugal. Se somos pequenos e não podemos aspirar a medalhas, o melhor mesmo é afirmá-lo de início e não criar expectativas. O melhor mesmo é ter algum sangue novo no COP nos próximos jogos do Brasil, e deixarmos o sr. Moura descansar.

domingo, 12 de agosto de 2012

Go to beach please - um dia em Coloane


Os aficionados do Verão na praia ou no campo têm em Macau apenas uma opção: a ilha de Coloane. Claro que alguns leitores estão já a pensar "é mentira; existem as piscinas do Estoril em Macau, e do Carmo na Taipa". Ora, isso são peanuts. Para quem quer mesmo fugir do trânsito e da selva de concreto sem sair do território, Coloane é mesmo única opção. E foi isso que fiz hoje, apesar de não ser um dos aficinados que referi acima. Foi a manhã e parte da tarde na piscina de Cheoc-Van, e um poquenique ao fim da tarde no Parque de Hac-Sá. Foi agradável, apesar de o tempo meio chuvoso - uma vergonha para o mês de Agosto.

O que me chamou mesmo a atenção foi esta simpática placa colocada mesmo no meio da Colónia (?) Balnear de Hac-Sá: "Go to beach please". Curioso. Não sei o que está escrito em chinês, e mesmo o significado em inglês é ambíguo. Será que nos estão a dizer que a praia é mesmo boa e devemos lá ir? Será que estão a implorar? Será que isto é algum aviso para que não se faça ali qualquer porcaria que se pode antes fazer na praia? Um mistério. Em todo o caso respondo "no, thanks". Ir aqui a banhos na praia, e falando em "porcaria" é quase como ir à Índia. É preciso ter o boletim das vacinas em dia. Quando passei pela praia de Cheoc-Van esta manhã fiquei surpreendido com a quantidade de banhistas que nadavam, indiferentes às toneladas de lixo visíveis à beira-mar.

A zona de piqueniques, ou na sua versão inglesa "BBQ" (barbecue), é bastante aprazível. Exitem um pouco por todo o lado em Coloane, quer em Cheoc-Van ou em Hac-Sá, como ainda em Ka-Hó. Estão lá disponíveis fogareiros completamente gratuitos, e durante a época "alta" é aconselhável chegar cedo e marcar o lugar. Depois é só levar as carnes, os garfos, o carvão, os pratos e os talheres de plástico, mais as jolas e os sumos, e depois deixar o lugar todo cagado de lixo no fim do dia. Pelo menos com as latas podemos ficar de consciência tranquila, pois o que não faltam são aqueles cidadãos desocupados que as colecionam para depois as vender ao quilo no ferro-velho. São os habituais agentes da reciclagem em Macau, que "trabalham" enquanto os outros se divertem.

Depois foi o regresso a Macau, já a cheirar a fumo, frango e peixe grelhado - nada que um bom banho não resolva. Regressei no autocarro nº 26-A, e entreti-me a escutar o roteiro à medida que as paragens se sucediam, debitado pela voz gravada daquela adolescente. É engraçado que nos avisem da "próxima paragem" em quatro línguas: cantonense, português, mandarim e inglês, por esta ordem. Só que não compreendo a necessidade do inglês. Next stop; Baía da Nossa Senhora da Esperança, Istmo? What the dickens? Pelo menos não caímos no ridículo de ter um Bay of Our Lady of Hope, isthmus. Mas yes, pá, é um serviço mesmo spectacular. De partir o coco a rir.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O lixo é lixado


As duas profissões que eu jurei nunca vir a ter na vida são as de cozinheiro de comida de cão, e homem do lixo. Deixemos o primeiro, que é só parvoíce minha, e concentremo-nos no segundo. Não que eu desrespeite os homens do lixo, mas não conheço nenhum outro ofício onde toda a gente faz cara feia por onde quer que se passe. Nem o coveiro é tão desagradável. Não deve ser nada agradável ver toda a gente enjoada a tapar o nariz e a boca ou a cobrir a cara com a camisola quando passam os homenzinhos que recolhem o entulho das latas do lixo. Depois de um dia de serviço daqueles, nem dez banhos com Dettol do mais concentrado tiram o cheiro a raposa fétida.

Se há países ou territórios onde os homens do lixo são discretos - e sei que os há - esse não é o caso de Macau. No território a recolha é feita a horas bastante aleatórias, e vastas vezes nos deparamos na rua com o camião do lixo a fazer a sua tão necessária recolha horas tão díspares como as dez da manhã, as três da tarde ou as onze e meia da noite - curiosamente a hora a que escrevo isto e oiço o camião mesmo aqui à porta a fazer aquele barulho desagradável, pior do que o de uma empilhadora, ou de um disco dos Black Eyed Peas. Será culpa do IACM? Será que a recolha do lixo devia ser limitada a altas horas da noite ou de manhã cedo. Je ne sais pa, pá. A verdade é que o cheiro a lixo em Macau é desagradáavel, e o próprio lixo em si é, infelizmente, parte do cartão postal da cidade.

Não é raro encontrar imagens como esta que a foto documenta: lixo espalhado pelo chão, pelos passeios, e lixo daquele muito feio e mal-cheiroso. Do mais asqueroso que há. A julgar pela falta de pontaria dos cidaãos, pois muitos não parecem conseguir acertar naquele metreo quadrado em que consiste o latão do lixo, o cheiro deve ser mesmo muito ruim. Tão mau que dá lugar a uma nova espécie de modalidade olímpica: o lançamento do saco de lixo. Com resultados abaixo dos mínimos, é claro. Isto para não falar de uma certa classe que revolve os caixotes do lixo, "à procutra de qualquer coisa de valor", gente que nem precisa de fazer isso, mas que o faz na mesma, e que para isso mete-se com os dois pés dentro das latas do lixo. Desta gente é mehlor não falar. São o extracto mais baixo da humanidade.

Como qualquer outro cidadão civilizado e consumidor, produzo uns dois ou três quilos de lixo por dia. Tendo em conta que em Macau existe outro meio milhão de "civilizados" como eu, isto significa toneladas de lixo por dia para recolher por aqueles tais camiões com mau hálito. No Inverno a coisa ainda passa mais ou menos despercebida, pois o frio "congela" os maus odores - como nos cadáveres. No Verão, com o calor e a humidade mais a merda dos insectos, o problema torna-se maior. O pior é que esta gentinha ainda desconhece algumas regras básicas, como, sei lá? Os molhos e os caldos devem ser fechados em sacos de plásticos? E aqueles couves pútridas? E as fraldas cagadas dos bebés? Em todo o caso que nem se fale de reciclagem por estes lados. Todo o lixo, seja ele de que natureza for, acaba em cinzas n incineradora de Coloane. E olha, aí está outro sítio onde eu não gostava mesmo nada de trabalhar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Cona! Perdão...Canoa!


Milagre! Aleluia! Osamas nas alturas! Portugal ganhou uma medalha nos Jogos Olímpicos de Londres! Quem diria? E tinha que ser na canoagem ou qualquer coisa assim. Canoagem, remo, vela, naufrágio em jangada, qualquer coisa que seja sinónimo de fuga para a frente. Foge, foge, que deu m...! E de barquinho, de preferência.

Mas agora a sério, a dupla Fernando Pimenta e Emanuel Silva está de parabéns, pois conquistou um brilhante 2º lugar para Portugal na corrida dos 1000 metros da classe K2 em canoagem, atrás de uns gajos húngaros. E o ouro esteve perto! E pronto, com isto fica salva a honra do convento, a participação é mais uma vez "positiva" e colorida com medalhas, e lá vai Vicente Moura ficar no COP até aos 120 anos, senão morrer antes. Parabéns aos nossos rapazes que ninguém conhecia até hoje.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Liu Liu, quem te viu...



Liu Xiang voltou a desiludir. O campeão dos 110 metros barreiras nos jogos de Atenas em 2004 voltou a ficar pelo caminho na primeira eliminatória, depois de se ter lesionado ao tropeçar na primera (!) barreira, e ter saído a coxear do Estádio Olímpico de Londres. Liu, que tinha desisitido em Pequim há quatro anos mesmo antes da prova ter começado, alegando "indisposição", desta vez não durou dez segundos até cair feito fruta madura. Muito estranho para quem provou uma vez que não tinha adversário à altura. O que se passa contigo, rapaz?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Bolt mais uma vez


Usain Bolt voltou a fazer das suas. Quatro anos depois do ouro e do recorde mundial em Pequim, o homem mais rápido do mundo voltou a conquistar o ouro nos 100 metros, a disciplina que prova, exacatmanete, quem é o mais rápido do mundo. O jamaicano completou a distância em 9,63 segundos, novo recorde olímpico e segundo melhor tempo de sempre. Usain Bolt é provavelmente o melhor atleta de todos os tempos, o mais completo, o mais espectacular. Fiquem com o vídeo, que foi o melhor que consegui arranjar - isto dos direitos de transmissão já se sabe...

domingo, 5 de agosto de 2012

Sex, swimming pool & rock'n'roll - crónica de um dia de Agosto em Macau

O Verão em Macau é. como se sabe, uma bela merda. O calor, a humidade, as monções, os tufões, a chuva torrencial, o mau cheiro do lixo, tudo coisas que são contra a nossa natureza lusitana. Habituados outrora ao céu azul e ao tempo seco de Portugal, às praias limpas do Algarve e da Costa, ao casaquinho de malha à noite, custa-nos muito passar o Verão na RAEM, onde nem arrancando a pele se consegue algum alívio - mesmo à noite. É chato andar sempre com o corpo pegajoso, o ar-condicionado sempre ligado em casa, e mais chato se torna ainda quando se paga uma milena por mês de electricidade. Passar o Verão em Macau é como ficar à espera de um avião durante três horas num aeroporto sem casa-de-banho: tortura sem alívio.

Contudo não me importo mesmo nada de passar o mês de Agosto em Macau. Como sou funcionário público - como muitos dos leitores que conhecem a minha identidade já sabem - o mês oito é bastante tranquilo. Os advogados estão de férias, os prazos não correm nos tribunais, é tudo tranquilo, tranquilo. Se quiaser ir a Portugal é melhor ir em Julho, enquanto não chegam as carradas de emigrantes que enchem as praias e os parques com o cheiro a sardinha assada e pimentos a os cantantes que debitam os últimos sucessos do Tony Carreira (ou sempre os mesmos). Se não é para ir a Portugal, sempre se pode esperar alguns meses e ir às Filipinas, à Indonésia ou ao Vietname, e apanhar uns dias de calor enquanto o Inverno dita as suas regras em Macau.

Ora bem, e o que fazer num fim-de-semana de Verão em Macau? Ir à discoteca na sexta ou no Sábado à noite, porque não? Em Macau as discotecas "da moda" são o D2, o D3, o Cubic ou o Sky 21, para citar algumas sem precisar de puxar muito pela moleirinha. O D2 é um lugar que frequento com alguma assiduidade, e em termos mais simples, meus amigos, é um sítio do c...! Quem chegou a Macau mesmo agora e quer abanar o capacete, o D2 é o sítio. Para os homens então, nem se fala. Cheio de boa pescaria. Quer dizer, é bocetame de primeira apanha. Não é preciso ser bonito ou bem composto, basta ter algum dinheiro. Quer dizer, convém tomar um banho antes de ir - de preferência pouco antes - e quem sofre de halitose crónica deve ter cuidados redobrados. Em conclusão: o D2 é o "place to be" numa "Saturday night" para quem procura a parte do "sex" na trindade do "sex, drugs and rock'n'roll". Quanto ao rock'n'roll, bem, aquilo é mais disco, e daquele que só se aguenta melhor depois de bem bebido.

E depois, o que fazer num Domingo à tarde? Para aliviar o calor crónico, nada como frequentar "uma das piscinas do IACM: "Estoril, Sun Yat-Sen. Hac-Sá e Cheoc-Van", como diz o anúncio da rádio apresentado pelo Jorge Vale. Pela modesta quantia de 30 patacas (é quase sempre de borla se for depois da uma). Há praias em Macau? Bem, lá haver há, mas não presta. Basicamente existem as praias de Hac-Sá e Cheoc-Van, mas não são aconselháveis aos banhistas caso não queiram nadar ao lado do lixo ou dos cagalhões flutuantes que os residentes da RAEM que não vão à praia (99% deles) ali deixam a quem ainda tem a ilusão de praia em Macau. Quanto às piscinas propriamente ditas, até são agradáveis, para quem não se importa com a miudagem que mija lá dentro. Em todo o caso parabéns ao IACM pelo esforço. Quem é mais endinheirado opta pelas piscinas dos hotéis da moda, ora a do Hard Rock Hotel, ora a do Regency da Taipa, ora a do Altira. Quem não pode, não come.

E é assim. Aguentai um Agosto em Macau que não custa mesmo nada. Conviva com os indígenas, que para eles Agosto é como outro mês qualquer: trabalhar, fazer dinheiro, "business as usual". Evite é os autocarros, frequentados pelos indivíduos mais sebosos da espécie. Cuidado com os encostões. E faça como eu: três banhos por dia, duas mudanças de camisa e de cuecas, muito pó de talco para as emergências (isto para quem tem tomates...), e de preferência fique em casa...debaixo do tal ar-condicionado. E boas férias para quem preferiu escapar a tudo isto.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Diz-me a tua rua, e digo-te quem és



Os portugueses que chegam agora a Macau - e têm sido muitos, felizmente - poderão ficar surpreendidos com o nome de alguns dos arruamentos da RAEM. Quem se demora a observar as placas toponímicas do território diverte-se a pensar na origem do baptismo destas ruas, becos, travessas e pátios. Quando cheguei a Macau há vinte anos, ouvi falar de uma tal de "Ilha Verde". Ilha Verde? - pensei eu - deve ser um sítio bestial, ideal para passar um fim-de-semana, umas férias, ou isso assim. Mas este tal Bairro da Ilha verde, "cheng chau" em chinês, não passa de um amontoado de barracas, habitações sociais e ferro-velho atirado lá para a zona norte da cidade. Tem muito pouco de verde, e nada de ilha, e populado por gente com um aspecto muito pouco saudável, que pendura as cuecas nas janelas que dão para a rua. É um engodo. Mas o que seria de esperar de um sítio que fica perto de um tal Bairro do Fai Chi Kei? (fai chi significa "pauzinhos", daqueles de comer, em chinês).

Existe ainda um tal Canal dos Patos, onde não encontramos nenhuma ave daquele tipo. Outros locais como a Travessa das Janelas Verdes ou o Pátio do Jardim apresentam-se bastante cinzentões e decepcionantes. Existe aqui perto de casa uma tal Rua do Teatro, que além de não ter nenhuma sala de espectáculos visível, tem várias lojas de armazenamento e distribuição de fruta, tornando impossível a circulação de veículos e pessoas, especialmente depois das seis horas da tarde. Devia-se chamar Rua da Fruta. As más línguas benfiquistas diriam que "é a rua favorita do Pinto da Costa". Curiosamente não existem em Macau a Rua do Chocolatinho nem a Rua do Café com Leite. Perto da Igreja de S. Lourenço existe um tal Pátio das Seis Casas. Eu já lá estive e contei pelo menos oito! Existe contudo uma Travessa Curta (na imagem), que faz jus ao nome. Não tem mais de dois metros de comprimento! Isto é que é chamar os bois pelos nomes. Existe um Coloane um tal Pátio Pequeno, mas ainda não tive oportunidade de verificar a pequenez do mesmo.

Como se sabe, os chineses não são adeptos de dar nomes de rua a personalidades históricas, figuras públicas ou beneméritos. Assim temos nomes muito simplistas, como a Travessa dos Ovos ou ou o Beco dos Óculos, o Pátio da Cadeira ou o Pátio do Banco. Outros mais românticos ficam sempre bem num cartão postal; a Rua da Esperança, Felicidade, Fortuna, Harmonia, Riqueza, Saúde, Prosperidade, Tranquilidade ou Virtudes, a Travessa da Glória ou da Paixão, o Beco da Sorte, o Pátio da Eterna Felicidade ou da Eterna União. Sempre é menos deprimente do que viver no Beco do Desprezo (em Coloane, e adivinho que será perto do Estabelecimento Prisional de Macau), no Pátio da Ameaça, do Desgosto ou da Indigência. Curiosamante não existem em Macau arruamentos com os nomes de desgraça, tragédia, miséria ou fome, mas bem podiam existir. Sem dúvida que é muito mais agradável ser abençoado e viver na Rua Alegre ou na Rua da Aleluia, do que viver na Rua da Cadeia ou na sua correspondente de calão, a Rua da Cana.

Quem é chique sempre pode morar na Travessa do Clube dos Iates, enquanto os mais pobrezinhos ficam remetidos ao Beco das Barracas ou ao Beco das Barraquinhas. Ou ainda à Travessa do Hospital dos Gatos, onde deve ser impossível dormir devido aos miados de angústia. O evento dos Jogos da Ásia Oriental, realizados na RAEM em 2005, baptizou uma série de arruamentos, incluíndo uma Avenida, Travessa e Praça, e exactamente, "dos Jogos da Ásia Oriental", uma Rua do Desporto, e uma tal Rua da Patinagem, em Coloane. Esta deve ser dedicada aos orçamentos para a realização de certos eventos na RAEM, que são conhecidos por "patinar" de vez em quando. Disse eu de vez em quando? Queria dizer: "sempre".

Ainda em Coloane, exstem novos arruamentos com nomes bastante "floridos": a Rua das Albízias, das Cássias Douradas, das Champacas Brancas, das Bauínias, das Árvores do Pagode, das Canforeiras, das Acácias Rubras, das Lichias, das Schimas, das Margoseiras ou das Mangueiras. Lindo, lindo, um deleite para os adeptos da floricultura e da botânica. Em contraste existe em Macau um Pátio do Pivete, onde deve ser impossível abrir uma janela. E celebremos com alegria a toponímia de Macau, provavelmente a mais rica do mundo!


Obituário


Foram várias as figuras públicas que nos deixaram estes últimos dias, num início de Agosto fatídico. O escritor e ensaísta norte-americano Gore Vidal, o ex-ministro da defesa e figura de proa do PSD e do cavaquismo, General Eurico de Melo, a actriz Carla Lupi, e o ex-administrador da TDM, o macaense e nosso bem conhecido Manuel Gonçalves. Estes dois últimos vítima de cancro, o flagelo que a humanidade ainda não conseguiu debelar, e que tantos amigos, familiares e gente boa nos tem custado. Para estes um até breve...