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Um grupo de cidadãos entregou na AL uma petição no sentido de tornar obrigatória a presença da bandeira chinesa em todas as escolas de Macau em dias de aulas. Este grupo de patriotas representados por uma senhora que preferiu manter o anonimato (porque será?) acha que não tem sido feito o suficiente para elevar o patriotismo entre os jovens, e pedem a aplicação directa da “Lei da Bandeira Nacional da República Popular da China”.
Fong Chi Keong, presidente do comité da AL, afirma que não se vai alterar a actual lei que regula a exibição dos emblemas nacionais ou regionais. Considera que o sentimento patriótico deve ser promovido entre os jovens, e garante que se vai agir nesse sentido junto das instituições de ensino. “Há uma vasta variedade de estabelecimentos de ensino em Macau e algumas das escolas não têm equipamentos suficientes”, afirmou. Lá se fala algum senso.
Para estes patrioteiros, a bandeira resolve todas os problemas do ensino em Macau. A criminalidade juvenil, a violência nas escolas, o abandono escolar, o limitado acesso ao ensino gratuito, a parca qualidade do mesmo, ficam logo neutralizados com o içar da bandeira. Não sei qual o objectivo deste grupo, se provar que são muito patriotas, se esperam algum tipo de contrapartidas ou se simplesmente o facto de muita gente preferir o tal segundo sistema, lhes faz ainda muitas cócegas.
Não que eu tenha algo contra os símbolos nacionais da República Popular da China, não senhor. E vou até mais longe: como estamos na RPC propriamente dita, por mim a bandeira devia estar por toda a parte, o hino devia ser tocado todas as manhãs e claro, os jovens deviam aprender a amar este país que também lhes pertence. A RPC tem feito mais por mim do que o meu país de origem já alguma vez fez, e orgulho-me de ser cidadão permanente de uma Região Administrativa especial da RP China.
É que o simples facto de ter uma bandeira lá no alto para que toda a gente se lembre onde está, não é só por si um sinal de soberania. Quando Neil Armstrong caminhou na Lua e lá espetou a bandeira norte-americana, isso não deu aos yankees o direito de reclamar o satélite natural da Terra como seu, e só seu. Mais do que ter lá a bandeira é preciso assumir a responsabilidade de conduzir com eficácia os destinos do território.
Se há algo que profundamente me irrita é ver nos noticiários os tais fulanos que queimam bandeiras. Os palestinianos, por exemplo, adoram queimar bandeiras dos Estados Unidos e Israel, assumindo que tacando fogo a esses pedaços de pano estão a neutralizar de vez a honra e soberania daquelas nações. Mais do que "ofensa aos símbolos nacionais", os queimadores de bandeiras deviam ser presos por perturbação da ordem pública e tendências piromaníacas.
Mesmo quando vejo a bandeira nacional (de Portugal) em qualquer sítio remoto do mundo ou aquele puto indonésio que sobreviveu ao tsunami de 2004 com a camisola da selecção das quinas acho piada. Acho tanta piada como ao meu gato quando tenta apanhar os carros de Fórmula 1 no televisor. Não, não me rola uma lágrima pelo rosto nem me enche de orgulho, nem desato a cantar o hino. É só uma bandeira, bolas.
Já bastou quando depois da transição o Governo gastou milhões em minhoquices, quando mudou placas, plaquinhas, carimbos, selos, indicações toponímicas e tudo mais. Que sentido faz o chinês "vir primeiro", se os chineses vão só ler o chinês e os portugueses só o português? Mesmo os meus amigos chineses consideraram isto um desperdício de tempo e meios. Se era para mudar por mudar, mais valia ficarem quietos.
Ensinar o significado da bandeira, do hino, dos outros simbolos nacionais e a História do país é importante, pois claro. Mas mais importante é preparar os jovens para que sejam elementos úteis à sociedade, que desenvolvam uma maior capacidade de raciocínio, que tenham uma cultura geral mais vasta. Pensar que ver a bandeira da RPC içada na Escola Portuguesa de Macau, por exemplo, é um xeque-mate no campo da soberania, é fanatismo retrógrado.
Não sei porquê quando li esta notícia na imprensa de hoje, lembrei-me de um episódio que se passou pouco depois da transferência de soberania. Um cidadão tão alarmado quanto mal informado telefonou para o tal fórum matinal do canal chinês da Rádio Macau exigindo explicações para o facto da bandeira portuguesa "continuar içada no Edifício do Hospital de S. Rafael", que como se sabe é actualmente a sede do Consulado Geral de Portugal. "Mas agora não somos parte da China?", perguntava enfurecido. Ó meu amigo, somos pois. Educai-vos.