segunda-feira, 30 de março de 2015

Frágil: contém legislação


O programa "Contraponto" da TDM, gravado na sexta-feira à noite e transmitido no Canal Macau abordou ontem um tema que considero da maior importância, e ao mesmo tempo tão delicado como uma flor de estufa, e com o qual é preciso ter o máximo de cuidado. Por isto de "cuidado" não significa que não se deva discutir, ou que o painel do programa desta semana tenha cometido alguma "gaffe" ou imprecisão - antes pelo contrário. O painel composto por Frederico Rato e os reconciliados Carlos Morais José e Paulo Rêgo tocaram em vários pontos pertinentes quanto ao tema das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a Administração e Justiça, que me é especialmente caro, uma vez que é nessa Secretaria estou integrado como funcionário. Não que tenha algo a acrescentar ou comentar sobre as minhas funções em particular, ou pelo menos que me digam respeito directamente, que nem foi isso que esteve em discussão. O que importa reter da apresentação das LAG apresentadas pela secretária Sónia Chan, uma estreante nestas andanças, diz respeito a toda a população de Macau e dá indicações sobre o que podemos esperar no futuro em matéria de algo que muitos ainda consideram tabu: a produção legislativa no contexto do segundo sistema que vigora na RAEM.

Sónia Chan, que no ano passado abandonou a pacatez do anonimato do cargo de directora do Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais para assumir o protagonismo de uma controversa interpretação da lei que regula esse mesmo departamento, e que serviu para "atrapalhar" a realização do Referendo Civil organizado por activistas e elementos de associações consideradas "marginais" à cúpula governativa. As "más línguas" (sem desprimor por ninguém, foram apenas opiniões e não subscrevo) apressaram-se a associar o "sacrifício" da directora do GPDP com a sua nomeação para o cargo que Florinda Chan deixou vago após 15 anos em funções, algo que tem passado despercebido à comunidade internacional mas que pode muito bem ser um recorde do género, num estado que é supostamente de Direito e uma sociedade que se diz "aberta", de "mercado livre", e com "liberdade de expressão" - as aspas que remetem para citações são apenas uma manifestação de neutralidade, e não um comentário ou qualquer tomada de posição, entenda-se. Havendo quem tenha achado que Florinda Chan fez um bom trabalho, e outros que nem por isso, os primeiros viram a nomeação da nova secretária com a esperança de uma continuidade em vista, e os últimos com redobradas expectativas. E o que se pode esperar de Sónia Chan, afinal?

Ao contrário da sua antecessora, que vinha da área administrativa, a nova secretária tem raízes na magistratura, com uma formação jurídica, e portanto mais específica. A escolha de uma figura do Direito foi interpretada por alguns como um sinal de que era altura de "pôr ordem na casa", não porque o consulado anterior a tenha deixado desarrumada, mas numa tentativa de afastar alguns "fantasmas" e recuperar a confiança da população no Executivo, nomeando uma figura da magistratura, e portanto acima de qualquer suspeita, pelo menos em teoria. No topo da ordem de trabalhos está a famigerada "reforma administrativa", um chavão que fica sempre bem atirar em sede de debate, discussão e especialmente se o tom for de crítica à própria administração. Sónia Chan diz que é "complicado" levar a cabo a reforma, e seria um fenómeno do Entrocamento político se dissesse que era fácil e que se fazia com uma perna atrás das costas. Os vícios de que os críticos falam e que de facto se encontram um pouco por toda a máquina administrativa não são uma sentença de morte, um cancro que mina o sistema, pois as coisas vão funcionando mais a bem do que a mal, e sou testemunha privilegiada desse facto - em comparação com outras jurisdições Macau ainda se pode orgulhar de ter uma administração funcional, e sem sobressaltos que lesem o ambiente jurídico ou administrativo da região. Já que não gostam da palavra "transparente"...

Os vícios têm mais a ver com o aspecto cultural do que propriamente com a competência ou a preparação dos técnicos. Instalou-se um sistema "palaciano", já disse isto milhões de vezes, e há um déficit de responsabilização e uma indefinição quanto a competências, o que em linguagem familiar se chama de "passar a bola". Isto suportado por um servilismo autista, e tudo só não resvala para o abismo por causa do "backup" de técnicos especialistas hiper-pagos para elaborar os diplomas, responder a recursos, ou seja, fazer praticamente tudo o que interessa? Será mesmo assim? Alguns casos conhecidos, talvez, e deveria existir uma maior elasticidade, quem sabe? Mas tal aspecto cultural que referi prende-se com a primazia das hierarquias, que concentram os poderes mas delegam responsabilidades, o que provoca um fosso e impede uma maior comunicação entre a base e o topo da pirâmide. Pode ser que este sistema tenha sido imposto como "estratégia", mas tem sido tolerado e seria complicado introduzir outra de um dia. Um limar de arestas seria bem recebido, mas não estou a ver como é que se vai "revolucionar" a administração, ou como Au Kam San sugeriu, reduzir o número de funcionários, eliminar alguns departamentos e proceder à fusão de outros. É preciso não esquecer que a administração é praticamente a única alternativa aos casinos em termos de empregabilidade. Se quem tiver formação superior ou técnica, e não quiser trabalhar na indústria dos jogos de fortuna e azar, vai fazer o quê, exactamente? Uma pergunta para o deputado Au Kam San responder, e depois sim, discutimos essa "dieta" da máquina administrativa.

Existe a noção, que pode ser mais ou menos verdade, de que se tem medo de legislar, ou fazer grandes mexidas na legislação actual, alguma dela desactualizada. É já famoso o estatuto de sacrossanto que a Lei Básica adquiriu, e aí já é mais que garantido quem sem vontade de Pequim, ninguém mexe na mini-constituição da RAEM. Mais do que isso: sem que Pequim tome a iniciativa, e perguntar "porquê" é algo que não se recomenda para a saúde. Na globalidade fica a sensação de que a Administração está em gestão até 2049, e tem receio de meter o pé na poça e ficar mal vista aos olhos do Governo Central. É nos discursos onde se repete constantemente a ladaínha da "competência do Assembleia Nacional Popular" que se vê que não existe uma vontade muito grande de mexer em muita coisa, mas alimenta-se uma expectativa geral de que se pode (e se deve) mexer em alguma. A população, do seu lado, ou a opinião pública, chamando-lhe assim recorrendo ao pomposo "opinião", que é disso que se trata afinal, espera ver na Administração e Justiça alguma trabalho feito. É para isso que ali estão, pronto, se fosse uma fábrica de rolhas de cortiça esperava-se deles um certo número de rolhas por dia, e sendo assim esperam-se "leis". Este faz-não-faz, deve-não-deve, provoca um impasse, como que alguém que quer apresentar um carro com muita quilometragem mas não quer tirá-lo da garagem.

Mas se por um lado existe legislação desactualizada, outra há que não necessita de revisão, nem se recomenda. Agradou-me ouvir Leonel Alves durante as LAG a recordar Sónia Chan que os códigos "não são leis avulsas", e que são para vigorar muitos e muitos anos. Na área em que bate os restantes deputados aos pontos, e mesmo os que são juristas não têm os "calos" que ele tem, Alves recordou ainda quem nem todos os diplomas carecem de consulta pública, dando o exemplo da lei da violência doméstica. Fala quem sabe, e no Contraponto o dr. Frederico Rato, outro jurista experimentado e conhecedor da realidade local parece ir pela mesma bitola. E nem é preciso ter formação jurídica para entender pelo menos esta lógica: um governo que consulta a população por dá cá aquela palha não revela qualidades democráticas bem está a promover a participação cívica, mas sim a demitir-se das suas responsabilidades. Desejo a melhor sorte para Sónia Chan, e que faça um bom trabalho, mas para isso não precisa de apresentá-lo feito em quantidade, mas sim em quantidade. É preciso não esquecer a singularidade do estatuto da RAEM, e isso, para o bem e para o mal, é preciso manter, e ter o cuidado de não deixar cair - é frágil, e a fábrica que a produziu já fechou.

Ela rendeu-se, e nós?


O estado podre em que se encontra o mundo ficou mais uma vez demonstrado através da inocência pura de uma criança, que ainda não aprendeu os "truques" para conseguir sobreviver entre os homens. A imagem da menina da Síria que levantou os braços perante uma câmara fotográfica, julgando tratar-se de uma arma tem corrido mundo, e deixado os corações derretidos - é um mundo de terror constante, em vive este pobre pequena. Se ela levanta as mãos, nós muitas vezes encolhemos os ombros, e apesar da diferença nos gestos, o significado é em quase tudo idêntico: andamos a render-nos, e às vezes a vender-nos.


É a ex, desta vez



Dos personagens com que nos cruzamos enquanto calcorreamos a estrada sinuosa da vida há aquelas com que nos recordamos com uma certa nostalgia, e entre elas estão certamente as ex-namoradas. Para quem teve pelo menos uma mão cheia de namoradas lembra-se dos momentos mais bem passados, especialmente se a relação terminou em termos amigáveis. Há outras que nos deixam alguma saudade, e como estou aqui a falar de mulheres e por isso este discurso é mais dirigido ao público masculino, alguns devem estar lembrados de como foram um sacristas e uns sacaninhas com as miúdas, que até gostavam de vocês, mesmo o afecto por vezes se manifestasse de uma forma mais...inconstante, chamemos-lhe assim. Cenas de ciúmes acompanhados de escandaleira, objectos volumosos em metal maçico arremessados ao crânio, arranhões com os quatro dedos deixando marcas visíveis da testa até ao queixo, tudo demonstrações de que afinal ela gostava mesmo era de nós - era amor. Nestes joguetes do amor, alguns homens reagem menos bem às investidas femininas, e num momentâneo lapso da razão esquecem-se que o que não falta por aí são "vaguinas" - vaginas vagas. Fora do controlo, no estado emocional que mais nos aproxima do cachorro rafeiro, alguns homens cometem os maiores disparates, e os que têm sorte de sair ilesos desse desvio da estrada da sanidade dão-se a pensar com os seus botões: "que merda...o que me passou pela cabeça?". Outros menos afortunados são levados a cometer actos de que muitas vezes se pagam caro, ou que não têm redempção possível pela via do arrependimento: cometem homicídio, homicídio e depois suicídio, apenas suicídio, homicídio com um uma pitada de suicídio, suicídio mas bem passado, enfim, percebem onde eu quero chegar. No extremo, e com a razão bem longe da prateleira onde devia estar arrumada, a cachola, cometem um disparate que lhes vale um lugar na História. Isto noutras circunstâncias parece uma boa ideia, daquelas que nos faz sorrir de orelha a orelha abanando a cabeça num gesto afirmativo. Mas se vos disser que se trata aqui de despenhar um avião contra uma montanha na companhia de centena e meia de passageiros inocentes em pânico e soltando brados de horror, são capazes de assumir uma expressão mais fechada e dizer "não, isso já não".

O co-piloto da Germanwings (aí está um exemplo de uma companhia que ninguém conhecia e entrou para a História pelas piores razões) Andreas Lubitz era um tipo bestial, amigo do seu amigo, apaixonado pela aeronáutica, como qualquer jovem nazi que se preze, e mantinha a forma praticando diariamente "jogging", como aliás tem sido possível constatar pelas inúmeras imagens suas a correr publicadas na imprensa nos últimos dias. Subitamente entra o factor "X", e o "x" marca o lugar, neste caso onde o jovem Lubitz deixou o tino: com a namorada, ou a ex-namorada, ou a namorada que não foi, passou a ser e depois deixou de ser, e isto a repetir-se até o rapaz enlouquecer, e agora descobriu que "está grávida", isto segundo os tablóides britânicos - só pode ser verdade, portanto. A relação entre ambos era, como a própria descreve, "atribulada", e a "femme fatale" de 26 anos que apenas se identificou como "Maria" (e eu pensava que isto era só mania dos portugueses) afirma agora que "já sabia" que o namorado ia cometer um acto tresloucado desta natureza, daqueles mesmo grandes. O rol de pistas nunca mais tem fim: era perturbado, ciumento, possessivo, andava a ser medicado, tinha a retina deslocada, em suma, só faltou dizer que tinha pila pequena, perna de pau e cara de mau, ressonava, tinha mau hálito e pé-de-atleta. O que não se inibiu de contar, demonstrando que tem uma memória fantástica, foram os planos de Lubitz de "fazer um disparate" precisamente na mesma montanha onde se foi espetar com o avião cheio de gente que nada tinha a ver com isto metida lá dentro. Sabendo de tudo isto, o que fez ela? Avisou as autoridades ou a companhia aérea onde o namorado trabalhava para a eventualidade dele ter rebentado um fusível e não estar em condições de voar? Alertou alguém para o facto dele ignorar os atestados médicos que comprovavam ser uma pessoa instável e sem condições para exercer a sua profissão? Na, isso é para meninas; o que a valentona fez foi esperar que fosse tudo com os cães e depois veio dizer que "já sabia de tudo". Eu no lugar dela tinha ficado calado, mas já que a sua língua não cabe arrumada atrás dos dentes, pelo menos pedia ao jornalista a quem cometeu estas inconfidências para alterar a data da entrevista para antes do dia 23 - quando ainda tinha alguma relevância.

Se alguma senhora ainda não fechou esta janela indignada, comentando "que homem tão ordinário" referindo-se à minha pessoa, e ainda está a ler, deixe-me perguntar-lhe: o que faria no lugar desta flausina, desta desgraçada, desta amostra de gente? A) Mantinha o anonimato, salvaguardado a sua dignidade e de toda a gente que sofreu com a tragédia, apesar de se ter de resignar ao peso da consciência, assaltada subitamente a meio da noite por pesadelos induzidos pelo pensamento de que podia ter feito para evitar esta desgraça, ou B) soltava a língua, desbobinava a história toda para que o mundo ficasse a saber que é uma pessoa muito informada, e no processo insulta a memória do ex-namorado, das vítimas, e fica na lista de "pessoas que devo matar" dos familiares dos passageiros que perderam a vida naquele fatídico voo de uma forma estúpida, mas que você poderia ter advertido. Eu sei que é uma escolha difícil, como escolher a cor dos cortinados ou um novo par de sapatos. Mas talvez eu esteja aqui a ser inconveniente, e a fazer julgamentos de valor, pois a leitora, assim como muitas outras e leitores devem estar revoltada com a atitude deste assassino, etc., ertc. e sente a mesma raiva que a senhora que deixou este comentário na página electrónica do Jornal Sol:

Não me venham atirar areia aos olhos para desculpar o que não se pode desculpar. Da Ponte sobre o Tejo atiram-se pessoas frequentemente, mas não levam ninguém atrás. Ora este quis levar mais de uma centena com ele, incluindo bebés! Desculpem lá, mas, mesmo como cristã, para mim estas acções não têm perdão, até porque se fechou deliberadamente na cabine e não abriu a porta. O rapaz era doido suicida, mas com maus instintos, instintos criminosos, é o epílogo desta funesta história.

Esta "cristã" deve estar fora do prazo, pois quem não saiba nada do que se passou (só se viver no mato) vai pensar que o triste do Lubitz andou a travar amizade com cada um dos passageiros, a ver álbuns de fotografias e a inteirar-se das suas vidas, sonhos, planos, ambições, ficando ainda ao corrente de quem os esperava do outro lado da viagem, atingindo uma transe orgásmica enquanto escutava os casos mais comoventes, e depois de espetar o avião contra a montanha sacudiu as calças e foi para casa a rir-se. Ah, e pelo caminho esfolou um coelhinho e deu um pontapé num cachorro. Para estas pessoas deviam-se procurar vestígios do ADN de Lubitz na fuselagem e metessem cada peça que encontrassem no tribunal, e depois na cadeia. Ou ainda melhor: "fazer-lhe o mesmo que é para ele aprender", um apanágio das cristãs como esta senhora.

Talvez a "Maria" pensasse o mesmo se soubesse de uma notícia destas, mas que não fosse nada com ela, é óbvio, pois pimenta no cu dos outros é refresco. Talvez venha agora dizer do namorado o que Maomé não disse do toucinho para bem da criança que leva consigo, pois...não, isso não faz sentido nenhum, como nada disto fez sentido, e esta expressão popular com Maomé aplica-se na perfeição à tal "Maria, mas com uma diferença fundamental. É que enquanto o Maomé comeu o toucinho, não gostou e disse mal, esta adorou o chouriço do "maluco", e agora ainda vem com coisas. E mais: o toucinho do Maomé não foi pegar num avião e cometer uma loucura, agora o outro. Tenho pena da criança, e repito: não sei o que vai na cabeça desta rapariga, e de todas da mesma talha. Pelo menos o outro está morto, e já não chateia ninguém.

Na boa tradição do rigor alemão



Talvez ninguém tenha dado conta deste facto, mas Lubitz, cuja pessoa ficou reduzida a cinzas mas a memória ainda está relativamente intacta, pronta para que seja espezinhada, triturada e cuspida em cima, alcançou uma proeza rara, quiçá inédita. Não fosse o senão de ter sido pelos piores motivos, e diria que estávamos aqui na presença de um místico, de um mago, ou quem sabe de um santo! O co-piloto responsável pela perda de centena e meia de vidas inocentes conseguiu levar a cabo actos e adquirir valências que anteriormente não tinha, e isto apesar do "handicap" de se encontrar…morto. É nisto que os alemães se excedem; é o segredo do seu sucesso que depois leva a que outros povos os odeiem e invejem. No fundo os tipos recusaram-se a ser mandriões, caloteiros, insolventes, iletrados, cábulas e pedinchões só para chatear a malta - já viram isto? O caso de Andreas Lubitz em particular difere do típico alemão pela natureza errática e pouco ortodoxa dos feitos que realizou no "post mortem", mas tirando isso revela uma abnegação em corresponder às expectativas que nele eram depositadas - fez o que lhe pediram, enquanto outros nem pensariam duas vezes em utilizar o seu óbito como desculpa para não respeitar os compromissos.

Mal se avançou com a tese de que Lubitz teria sido o único responsável pela queda do famigerado avião, surgiram de imediato reacções de colegas e conhecidos seus, que se pautaram por um misto de choque e surpresa, quase de descrédito, quando souberam que alguém que tinham como "afável, simpático, bom colega, apaixonado pela profissão e praticante de desporto" fosse capaz de cometer tamanha loucura. Exacto, e fosse isto um filme que por motivos de orçamento precisasse de ser filmado ao mesmo tempo que se escrevia o guião, o realizador/argumentista gritava logo "corta!". Como é isto possível, que alguém que com a intenção de cometer suicídio atira com um avião contra uma montanha, sem qualquer consideração pela vida de cento e tal passageiros inocentes possa ser "boa pessoa"? Quem é que vai querer saber de um enredo onde o "mau da fita" é um tipo porreiro, agora que o "50 sombras de Gray" elevou a fasquia? Este personagem precisa de ser demonizado, e já. Toca a denegrir a sua imagem, e nada do que se possa dizer em prejuízo da sua memoria é demais.

Primeiro deu-se uma tentativa de o associar com o terrorismo islâmico, sem esquecer a hipotética conversão, uma alegada ex-namorada muçulmana ou a existência de duas mesquitas na zona da sua área de residência - na sua e de centenas de milhares de outras pessoas - tudo completo com uma página no Facebook onde Lubitz se confessa um sôfrego seguidor de Maomé e escravo de Alá, e que a comichão que o apoquenta só passa quando rebentar aos pedacinhos num local assaz frequentado levando consigo o maior número possível de inocentes. No entanto este é um argumento que não só não prima pela originalidade, como também não convence uma criança de cinco anos. Nem uns palestinianos na Faixa de Gaza se dignaram a dar uns tirinhos para o ar em comemoração do atentado, ou veio qualquer imã tecer elogios ao novo mártir, para conferir alguma credibilidade a esta tese. A tradição já não é o que era. Depois ainda se lembraram de ir buscar uma depressão nervosa que afectou Lubitz, mas tinha seis anos e estava caducada. Era preciso mais, muito mais.

E assim nos dias que antecederam o fim-de-semana e durante o mesmo, quando há mais tempo livre para que brotem as ideias, eis que afinal o tal rapaz que era "afável, simpático e bom colega" era na realidade um maníaco depressivo que "escondia os atestados médicos" que o impediam de voar, e o médico que os passou estava mais ocupado a cozinhar schnitzels e kartofelpuffers com a tia Helga de Wattenscheid para informar a companhia aérea da situação de psicose grave do seu assalariado. E eles próprios têm culpas no cartório, pois sempre pensaram que Lubitz apresentava-se ao trabalho numa camisa de forças e a espumar da boca por ter uma "personalidade excêntrica". Soubemos também que ele disse que ia fazer aquilo tudo, exactamente como fez, para "ficar conhecido", e que era pitosga, e não enxergava um palmo à frente do nariz, e é possível que a montanha fosse para ele a Fábrica do Chocolate, e estava lá o Willy Wonka a convidá-lo para a visitar. eMEm nome de todas as pessoas "normais" que assim permanecem insuspeitas, obrigado, Andreas Lubitz. Foi já cadáver que esclareceste todos esses equívocos, mas mais vale tarde que nunca.

O indefensável indefeso



Este é o rosto do pesadelo para os familiares e amigos das vítimas do acidente do voo 9525 da companhia de baixo custo Germanwings, que na terça-feira da semana passada se despenhou com 150 pessoas a bordo, entre passageiros e tripulação. Ou seriam antes 149 vítimas, mais o homicida-suicida que os conduziu até à morte , cruzando os céus como um piloto dos infernos com a missão de levar consigo o maior número possível de alminhas, todas as que encontrar no caminho dos danados que Lúcifer lhe mandou percorrer, escolhendo-o pessoalmente e a dedo para o efeito? Pode ser que seja um retrato como este, ou pior, que muitos pintam de Andreas Lubitz, e não será arriscado apostar que quanto mais próxima for a ligação com alguma das vítimas, maior é o ressentimento, e mais agravado o desaforo. Entende-se tudo o que possa dizer em jeito de desabafo, que é algo que dizem que alivia, e que faz bem - mais mal não pode fazer, certamente.

Quando o tempo sarar as feridas e este episódio for arquivado no já (infelizmente) amplo arquivo dos episódios trágicos e lamentáveis, as referências a Lubitz não serão do cariz daquelas que normalmente se lêem nas lápides tumulares nos cemitérios, e que apesar da sua temática taciturna e deprimente, redimem-se pela natureza de homenagem ao ente querido contida na mensagem, e que interpretamos como um prelúdio de eterna saudade. De Lubitz ninguém terá saudades, mesmo que isto não seja verdade. A impossibilidade de perdoar quem cometeu um acto imperdoável leva a que se interiorize todo e qualquer sentimento de comiseração ou dó, evitando a todo o custo exteriorizá-lo, e ficar à mercê dos justiceiros de pacotilha, para quem o sangue derramado só pode ser vingado com ainda mais sangue derramado, e chamam a isto "justiça". Como quem não deve não teme, aproveito para expressar a minha compaixão pelo homem que todos se apressaram a julgar, usando para esse efeito tudo e mais alguma coisa que apanharam dos media para usar como pregos para crucificar o que nem tem uma ponta por onde se pregar. Foi mau, teve um comportamento horrível, e não está cá mais para pagar por isso. Acabou-se, finito, kaputz, e não é por estar a falar de fora que o faço com "frieza", e pode haver quem esteja a pensar qualquer coisa como "se fosse com a tua família queria ver se pensavas assim". Claro que demoraria mais tempo a assimilar a tragédia se me dissesse respeito directamente, mas é por isso que as feridas cicatrizam. Se temos um golpe a sangrar e por causa disso nos é facultada a simpatia alheia, não vamos abrir esse golpe quando começar a fechar só para perpetuar esse estado de coisas, só porque nos faz sentir especiais, ou um objecto de atenção e estima. Tudo tem um limite, nem que esse limite seja imposto pela saturação, pelas marés que vão e vêm.

Não estou aqui a fazer de advogado do Diabo, ou a branquear o acto hediondo cometido por Andreas Lubitz, mas sendo ele e só ele o único responsável pela conduta desastrosa e o acto de egoísmo que o levou a não considerar que aquelas pessoas que ele tinha por obrigação transportar em segurança não tinham culpas do cartório, fosse qual fosse a razão da sua amargura, para quê perpetuar o ódio, se daí não se vai tirar qualquer satisfação? Nem sequer de vingança. Sim, claro, está no direito de se matar, se for essa a única saída para a sua aflição, uma vez que tentou tratar-se, ou pelo menos tudo aponta nesse sentido, mas a sua angústia era maior que a vontade, mas devia fazê-lo sem prejudicar inocentes, isto é dos livros, mas o que querem dele, agora que ficou reduzido a cinzas? Fico aliviado por saber que não tinha filhos, pois se por um lado temos uma crueldade que se manifesta atirando um avião contra uma montanha, por outro lado temos a que culpabiliza inocentes pela morte de outros inocentes. Para que a culpa não morra solteira, vamos encontrar um magala jeitoso para casar com ela, e se ele se recusar, obrigamos-lo. Tenho pena dos seus pais, que deixaram de ser um casal normal para ficarem conhecidos pelos "pais do assassino". Estou a exagerar? Sabem tão bem quanto eu que é mesmo assim, e mesmo quem se abstenha de tomar a parte pelo todo vai pelo menos ficar com sérias reservas em relação às pessoas que se calhar antes até tinha em boa conta. No fim fico a pensar se não seria melhor se na altura em que cometeu aquele acto irreflectido e irresponsável, não teria sido melhor para Lubitz ter berrado "Allah Akbar", "Euskal Herritarrok" ou outra coisa que lhe sacudisse a água do capote. Sempre era um comportamento mais em conformidade com o mundo que deixou, levando com ele quem agora não pode ficar do lado da fora a julgá-lo.

Portugal! Yesss!!



Weeeee...Portugal ganhou! Chupa! Toma, Sérvia, para saberes o que é bom para essa tosse balcânica! E é assim, pessoal, a nossa selecção ficou a jeito de se qualificar para o Euro 2016 em França, liderando isolado o Grupo I com 9 pontos, mais dois que Dinamarca e Albânia, com quem Portugal perdeu em casa no jogo inaugural, e não fosse a derrota com esses "shiptar" duma figa, e já só nos viam lá em cima com recurso a binóculos daqueles mesmo potentes. Ontem no Estádio da Luz os nossos rapazes não perderam tempo e marcaram aos 10 minutos por Ricardo Carvalho, que tem 36 anos - convém referir este facto uma vez que sendo assim fica-se com a impressão que ele joga pela selecção desde os 11. Mas é mesmo assim, a idade na perdoa, e o esforço suplementar que foi empurrar a bola para o fundo da baliza fez com que o defesa actualmente ao serviço dos franceses do Monaco se ressentisse da ciática, e precisaria de sair sete minutos mais tarde, entrando para o seu lugar José Fonte. Para quem nunca ouviu falar de tal criatura, recordo que é um central formado nas escolas do Sporting, e que depois de representar clubes como o Felgueiras, Est. Amadora, V. Setúbal e P. Ferreira foi para o futebol inglês jogar nas divisões secundárias, primeiro no Crystal Palace e depois no Southampton, onde começou pela League One (terceiro escalão) há seis anos, e viu a sua persistência agora recompensada, sendo uma das pedras basilares dos "saints", que são a equipa sensação da Premier League esta temporada.



Os sérvios, esses nazis de um raio, precisavam desesperadamente de ganhar, pois encontram-se na última posição do grupo a par da Arménia, com apenas um ponto. Isto apesar de terem vencido a Albânia num jogo em casa, mas a vitória que acabaria por ser atribuída na secretaria depois do jogo não se ter realizado de nada lhes valeu, pois os três pontos foram-lhe retirado devido ao seu comportamento animalesco. É normal, e bastou que os "shiptar" os provocassem um bocadinho para se passarem dos carretos. Na impossibilidade de resolver as coisas "à sérvia", ou seja, encostando os "shiptars" à parede e fuzilá-los, andaram à porrada com a ciganada, e a UEFA obviamente não achou piada nenhuma. Não sei se o tal desespero que os obrigava a conquistar os 3 pontos lhes pesou nos calções, mas o melhor que conseguiram foi empatar aos 60 minutos com um golo de Nemaja Matic, que já jogou no Benfica, e teve aquele estádio como casa. Podem vir com as tretas que quiserem, que foi um grande golo, pontapé de bicicleta e não sei quê, mas só de alguém com ligações ao Benfica poderia ter chegado um acto de TRAIÇÃO, como o deste Judic Iscariotic das balcãs. Tenho dito.



E quem também conhece os cantos ao estádio dos pardalinhos é Fábio Coentrão, incluindo os cantos onde fumava ganzas às escondidas. Para fazer a folha aos sérvios, esses matreiros, era preciso alguém matreiro e meio - afinal o que são uns gajos que cometeram genocídio no Kosovo e na Bósnia comparados com as peixeiras da lota de Vila do Conde? E foi só preciso Matic cometer aquele atrevimento para que Coentrão murmurasse entre dentes: "ai aêi? enton é assim-eh? Bão já ber cumelas bos mordem, murcongues". Dito e feito, dois minutos depois o defesa do Real Madrid (só às vezes) recebe um passe de João Moutinho (redundância), e a bola estava no fundo da baliza do Frangic, nome pelo qual ficou conhecido o guardião Vladimir Stojkovic aquando da sua (fugaz) passagem pelo Sporting. E com isto despeço-me pedindo as mais sinceras desculpas à lagartagem, pois não é elegante recordar momentos deprimentes quando joga a selecção e toca tido a unir. Sim, sportinguistas também, desde que não digam muito disparate. Portanto evitam conjugar as palavras "Sporting" e "títulos" na mesma oração, por obséquio. Valeu a vitória, e até os comemos!

domingo, 29 de março de 2015

Desumano? Claro. Estúpido? Podem crer!


Ainda na onda da contestação, activismo e seus derivados, chegam notícias do "nosso" Jason Chao - que quer se goste ou não, é o que temos parecido com um político na acepção do termo, aqui em Macau. Como a maioria já deve saber, Jason Chao está por terras do Tio Sam estes dias e até ao início do próximo mês. Primeiro convidado pelo Departamento de Estado norte-americano para participar numa conferência dedicada à temática LGBT, e depois disso - e isto assumo sem que me tenham confirmado ou desmentido - no gozo do seu próprio tempo , que tem ocupado a viajar pelos Estados Unidos, aproveitando para participar em algumas de acções de protesto. Assim é, de facto, o activismo não tira férias e as muitas injustiças que há por esse mundo trabalham sete dias por semana e 24 horas por dia, e o nosso atento activista esteve em Salt Lake City, no estado do Utah, onde se juntou um grupo de outros defensores dos direitos LGBT para protestar contra a detenção de um transsexual guatemalteco pelas autoridades do estado do Arizona, e como vão ver a seguir, isto é daquelas coisas que nem tem discussão possível: é simplesmente decadente.


Esta criatura que vêem na imagem responde pelo nome de Nicoll Hernández-Polanco, é originária da Guatemala, e é transexual. Portanto não estou a descriminá-la ao chamá-la de "criatura", nem aquele "responde pelo nome" tem qualquer intenção de menosprezar a sua cidadania. É que aos olhos da lei, ou das leis da maioria - da quase totalidade - dos países neste planeta que não tinha países nem leis quando apareceu, a Nicoll Hernández-Polanco é um homem, e o seu nome não será certamente aquele. As razões que levaram Nicoll a proceder a esta transformação com o auxílio só a ela lhe dizem respeito, e desconheço se implicou mais alguém nesse processo ao ponto de lhe acusarem de algum crime, ou de alguma falta grave, mas duvido. Desconheço ainda qual foi a razão pela qual foi detida (aparentemente imigração clandestina), e pouco me importa, pois nem é isso que está em causa. O que está em causa o "pragmatismo" (para não lhe chamar já de "negligência criminosa") das autoridades americanas, que colocaram Nicola na ala masculina da prisão, e na companhia de homens, homens-homens, e não transexuais ou transgenders, chamem-lhes o que quiserem, mas não a estes com quem deixaram a pobre Nicoll, que nem se pode dizer serem simpatizantes da mesma causa que levou Jason Chao e os restantes a exigir a sua libertação - antes pelo contrário.

Claro que apanhando na rede um peixe destes, os tipos que estão reclusos na penitenciária arizoniana não fizeram de Nicoll o seu líder, mascote, ou sequer a ignoraram, que aposto que era o que ela queria. Em vez disso agridem-na, insultam-na, ameaçam-la, e isto é só as entradas. O resto penso que podem adivinhar, e só num assomo de sadismo doentio ficaria aqui a enumerar o que é mais que lógico que podia acontecer a alguém com aquele aspecto deixado num lugar daqueles. A Nicoll podia até ter cometido o mais horrível dos crimes, que isto nem chegava a ser "justiça poética", como tanta gente gostaria de ver aplicada aos actos cruéis que a justiça dos tribunais nunca poderia castigar por não ter a mesma medida. É até indecente colocar "justiça" e "poética" junto de uma coisa destas, perfeitamente inconcebível. Pode até ser que alguém ache piada a uma coisa destas, que encontre vestígios de comédia onde o enredo não convida sequer a um filme de terror, mas pronto, não há limite para a imbecilidade e para o mau gosto. Por mim estou com a causa, e nem sou de aderir a causas, especialmente desconhecendo os seus contornos na totalidade, mas isto...isto é um absurdo. Junto-me em nome do bom senso que julgo ainda existir em alguns elementos da espécie humana. Se estou a ser ingénuo, prefiro assim, obrigado na mesma.

A Joana tem Dias (em que é só rir)


Hoje de manhã, Domingo, assisti na RTPi à repetição de uma entrevista com Joana Amaral Dias, a "free-agent" da política portuguesa de ideologia...espera lá, qual? Ah, sim, já sei: de ideologia "do contra". Joana Amaral Dias nasceu em Luanda em 1975 e celebrizou-se no Bloco de Esquerda, plataforma para muitos dos políticos da sua geração, como tinha sido o MRPP depois do 25 de Abril para a geração que deu à política nacional nomes como Durão Barroso, Ana Gomes ou Manuel Pinho, que mais tarde sairiam para outros partidos por motivos de "elegibilidade". Só que ao contrário do MRPP, tão firme nas suas convicções que nunca passou da cepa torta - mas reconheça-se o seu mérito em termos de coerência - o BE é uma espécie de foguetão norte-coreano: apareceu como uma novidade refrescante, chegou a conseguir 16 mandatos nas legislativas de 2009, e agora está prestes a desaparecer, sem ter atingido o "firmamento" durante a sua curta existência.

Nos seus tempos do BE, Joana Amaral Dias era também conhecida do grande público por "aquele pitéu do Bloco", e em plena falência ideológica deste, desfiliou-se no ano passado e andou a "empernar" de forma mais assumida com o PS, a quem já andava a ir a varanda mandar beijinhos desde 2009. Depois disso formou o movimento "Juntos Podemos", que colocou no mercado para ver qual força maior o queria comprar. Sem nenhuma proposta interessante, a não ser do "Partido Livre", um partido de "hippies", desistiu da ideia de tornar o "Juntos Podemos" num partido político, e deixou o movimento para formar...um partido político, que dá pelo nome de "Ag!r" - assim mesmo, com um ponto de exclamação a fazer de "i", como aliás fez questão de sublinhar na entrevista com Vasco Gonçalves. Desconheço o programa deste partido, e antes de ouvir da própria Joana Amaral Dias não fazia ideia sequer da sua existência, mas tem um longo caminho a percorrer em termos de "marketing": é que não encontro em lado nenhum o "Ag!r" escrito desta forma.

A entrevista, que demorou cerca de 45 minutos foi engraçada, e isto é o adjectivo que melhor a descreve. Não digo isto por desprezo ou para desacreditar a face política de Joana Amaral Dias, que é psicóloga de profissão, imaginem! A pobre Joana nem consegue intimidar ninguém com este facto, pois não dá para se defender dos críticos acusando-os de projectarem nela um complexo qualquer derivado de carências afectivas, ou de algum apêndice diminuto, ou disfuncional. É que na política há coisas que nem Freud explica, e a pobre Joaninha se calhar tinha mais a ganhar limitando-se a dar sessões de psicanálise ou aulas no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, onde é professora assistente. Quando digo que a entrevista foi "engraçada" é porque me fez rir, literalmente. E ri porque o discurso da Joana Amaral Dias insere-se na categoria de "cómico de linguagem", ou seja, o que ela diz provoca-me o riso. Não é por mal, mas se a intenção não era essa, então peço desculpa (não vá ela depois inventar que fui molestado sexualmente na infância, ou qualquer coisa desse género).

A Joana Amaral Dias quer passar uma imagem de mulher de armas, como outras que tivemos na política, casos de Natália Correia, Odete Santos, Maria José Nogueira Pinto ou a vendida da Zita Seabra, que até trair os seus ideais era conhecida por não ter papas na língua. No entanto a imagem da Joana Amaral Dias não difere muito daquela que têm as suas suas ex-camaradas de armas do Bloco, como a actual coordenadora Catarina Martins, ou a histórica (apesar de ter apenas 39 anos) Ana Drago. Aliás as semelhanças com esta última vão muito além do facto de ambas serem umas belas postas, pois assim como a menina Drago é descendente de uma abastada família de latifundiários, também a Joana Amaral Dias nasceu em berço de prata, filha do conceituado psicanalista Carlos Amaral. Isto para dizer que as posições que toma e as coordenadas onde se situa no mapa político-ideológico não serão propriamente resultado da sua experiência de vida. Tudo bem, pode pensar da maneira que lhe apetecer, mas é a menina que tem que me convencer a mim e ao restante eleitorado (que vota, o que não é o meu caso), e não o contrário.

Aquela atitude contestatária de rebelde sem causa, do "isto está mal e tem que ser mudado", os socos na mesa, o descaramento, que possivelmente me vai levar a ser acusado de "chauvinismo" e todo o resto que o "animal" político que Joana Amaral Dias pretende ser levam-nos a abrir a porta e tudo o que vemos é uma gatinha perdida e molhada da chuva. O próprio entrevistador estava a fazer um esforço para manter a compostura. E mais uma vez não confundam este sentimento com despeito, ou se pense que estou a ser trocista. É que a demagogia irradiada pela Joana Amaral Dias é tão evidente como uma gorda de pijama roxo a desfilar na "passerelle" ao lado de anoréxicas com vestidos de noiva. Deitar-se na mesma cama com os gregos do SYRIZA só comprova a lamentável queda para o populismo, que hoje é uma coisa que até colhe entre quem acha mais fácil "partir a loiça toda" do que honrar compromissos, enfim, nem vale a pena entrar por aí, pois como já disse, a Joana Amaral Dias nunca precisou de se preocupar em como ia pagar uma dívida sem que tivesse liquidez para isso. E aposto que também pensa duas vezes antes de emprestar. Ora essa.

Vettel contra as probabilidades


Sebastian Vettel venceu o GP da Malásia, disputado esta tarde no circuito de Sepang, obtendo a primeira vitória para a Ferrari em quase dois anos, desde que Fernando Alonso cortou a meta em primeiro no circuito da Catalunha a 12 de Maio de 2013. Poucos esperariam outra coisa que não mais uma vitória de Lewis Hamilton e a confirmação do domínio da Mercedes, que voltou a ter o inglês na pole-position, mas com Vettel logo atrás de si. Na corrida o alemão tetra-campeão mundial deixou os dois Mercedes atrás de si, com o seu colega Kimi Raikkonen a terminar em quarto, deixando entender que possivelmente a escudaria do cavalinho poderá ser a única com capacidade para fazer frente à marca alemã. Foi uma corrida muito "aos pares", esta na Malásia, com os dois McLaren a terminar em quinto e sexto, com Valtteri Bottas à frente de Felipe Massa, seguidos dos dois Toro-Rosso de Max Verstappen e Carlos Sainz Jr., os dois "benjamins" da edição deste ano do mundial de F1, e a fechar os pontos a dupla da Red Bull, com o russo Daniil Kvyat a terminar à frente de Daniel Ricciardo, que dificelmente repetirá o sensacional 3º lugar do ano passado. Fernando Alonso regressou após convalescença de uma acidente durante a pré-época e estreou-se na McLaren, mas abandonaria à 20ª volta devido a uma avaria na transmissão do motor, e 20 voltas mais seria imitado pelo seu colega Jenson Button, este com problemas nos travões. Nada a lamentar, uma vez que ambos saíram muito atrás na grelha de partida, revelando ter um carro longe de poder competir com os da frente. O mundial é lidarado ainda por Lewis Hamilton com 43 pontos, apenas mais 3 que Vettel e mais dez que o outro Mercedes, o de Nico Rosberg. Nos construtores a Mercedes soma 76 pontos contra 52 da Ferrari e 30 da Williams. A terceira prova do mundial realiza-se a 12 de Abril em Xangai, na China.

sábado, 28 de março de 2015

A vingança do chinês


A semana que passou ficou marcada por um atentado à liberdade de...tudo, porra! Sim, "imprensa" é uma coisa, e o Hoje Macau é outra, e desde meados do mês, finais da terceira semana deste Março negro para o jornal de referência de Macau, o ÚNICO em língua portuguesa do território onde o nome do mesmo ocupa METADE do nome da publicação está inacessível! Não sei quem, nem como, nem através de que meio ou em que circunstâncias, e muito menos porquê "atacou" o Hoje Macau, que no momento em que vos escrevo estas linhas encontra-se apenas em formato .pdf. Sim, é esplendoroso e sensual na mesma, mas não deixa de ser uma ausência de monta nos títulos da imprensa electrónica MUNDIAL, que não seja possível aceder a versão electrónica do jornal, e em vez disso tenhamos que nos desenrascar com a edição feita para iPads e quejandos - não digo "contentar" porque não dá para ficar contente. Como é que se fica "contente" perante um ATENTADO desta natureza, desta vilipêndiação, desta...desta...pedofilia jornalística! Isso mesmo, é preciso não esquecer que o Hoje Macau tem apenas 13 aninhos e meio. Cheira-me a obra de um Carlos Cruz das rotativas.

Julguei - como outra gente, que pensou o mesmo - que o problema era meu. Yep, nos dias após o escabroso ataque à imprensa livre pela via electrónica pensava tratar-se de mais uma birra do machimbombo a que chamo PC, deste cangalho onde no teclado repousam vestígios de mil e uma tostas mistas, borrões de coisas que se fumam e grude de poções açucaradas. Um dia vou levar o meu "rato" até à malta da CIA para averiguar se é biónico, pois foram tantas as vezes que o PC "encalha" e é exactamente no "rato" de descarrego a tensão acumulada, batendo com ele na secretária de madeira como se fosse um quebra-nozes que finalmente a sua párea numa casca inquebrável de uma amênndoa ou outra porcaria qualquer. Na verdade tento andado a procrastinar a compra de um computador, pois o cenário de esperar dois dias até que a loja transfira a porcaria toda que não me faz falta mas que me recuso a deitar fora de um computador para o outro arrepia-me até aos ossos. Mas enfim, a conclusão, para quem ainda está a ler isto e não mudou de página murmurando entre dentes "este gajo é maluco" (ou pior) foi esta: não foi do meu PC, mas do próprio "site" do jornal, que está desactivado. Voltando ao programa de lavagem "indignado": isto não se faz.

Como já disse mais acima, desconheço os termos em que ficou bloqueado o acesso à edição electrónica do Hoje, mas isso deixa-me duplamente fulo; se tivessem bloqueado outro jornal, já teria ficado indignado, mas tratando-se do Hoje a indignação vem em "super-size" com "extra-cheese" e uma cereja marasquino em cima - só que azeda e a saber a traques de cachorro. Desde que comecei a colaborar com o "Hoje", vai para dois anos e meio, têm-me acusado de "bater mais leve" ou até "fechar os olhos", fingindo que não vi quando a malta do jornal "mete a pata na poça". Ora essa, qual é o termo científico para definir essa presunção? Ah, já sei: paneleirice. Para mim nenhum jornal é mau, e os três diários mais o outro com o nome de uma marca de sabão macaco que é semanal e clerical têm todos o seu encanto, o seu charme, o seu "je ne sais quois". O que se passa é que por vezes o seu conteúdo inclui material que considero...outra vez, para não fugir do tom formal da minha retórica...ah, sim: que considero "parvo". Só que nem a publicação nem próprias pessoas que cometem estes infelizes "faux pas" (apenas na minha opinião, claro) são merecedoras de prisão perpétua a pão e água e acorrentadas numa masmorra por uma corrente apertada e curta. Toda a gente merece uma segunda, terceira ou décima-nona oportunidade, pá. Além disso os comentários que oiço sobre esta ou aquela reportagem e este ou aquele facto são perfeitamente mesquinhos, e sempre acompanhados de um julgamento fulminante em relação à pessoa que assina: "fulano É uma besta porque escreveu tátátá e tátátá, quando na verdade é tátáti e tátátu". Correcção, meus caros: não É, mas FOI, naquele preciso momento e naquele exacto instante, e se acreditam nessas tretas da astrologia, pode ser que tenha a ver com Mercúrio ter ficado na casa de Água Oxigenada, nunca se sabe.

Fico preocupado com o caminho que a humanidade leva, e permitam-se que fale assim neste modo tão generalista, e de mão cheia, mas é mesmo verdade: andamos a retroceder no processo civilizacional, e a nossa geração, a que veio a seguir à outra que nos queixávamos de ter deixado o mundo do avesso, consegue ser ainda mais casmurra, teimosa e asinina que essa. Estamos cada vez mais radicais, menos tolerantes, misturamos convicções com casmurrice, confundimos orgulho próprio com despeito, e não sei quem é que andou por aí a espalhar que falar mais alto que os outros com o dedo em riste, os olhos a sair das órbitas e a bufar feito um cavalo é prova mais que irrefutável que se tem a razão do seu lado. "Newsflash", pessoal: não é, e no mínimo transmite a imagem de que são tão vernáculos e sensatos como...olha, um cavalo, para não andar a complicar as coisas. Somos mais desconfiados, derretemo-nos com qualquer treta que nos impingem que envolva miséria, ou chocamo-nos com exemplos de crueldade e desumanidade à distância, mas somos capazes encontrar uma data de razões para justificar uma desgraça que tenha acontecido ao nosso vizinho do lado. Quem era ontem completamente anónimo e insuspeito, basta-lhe um dia mau para que se levante o tapete e se diga: "logo vi, este nunca me enganou". Mesmo não tendo visto o que estava debaixo do tal tapete, e sejam os outros a dizer-nos, nós acreditamos, claro, porque o fulano em causa é o tal que foi responsável por aquela coisa muita má e reprovável que soubemos que ele fez ontem - é o culpado desse e de todos os outros males do mundo. Vejo as pessoas em uníssono a repudiarem a violência ou actos de terrorismo, ao mesmo tempo que acrescentam "...e quem pensar o contrário, leva". Tanto extremar de posições que até parece que se esqueceu essa nobre tradição de se "estar nas tintas". Pois, pois, mas é mau, ficar indiferente a tanto mal blá blá blá, e "não estar contra é o mesmo que estar a favor" (uma mentira especialmente desonesta, mas em que muita gente acredita) e assim um dia "perdemos a liberdade". Concordo, assim como perdemos a liberdade de "estar nas tintas". Entendo muito bem.

Assim, senhor ou senhores, ou mera coincidência, ou espírito do mal que deixaram KO a página do Hoje Macau, deixem-me que vos diga isto: morram. Não, não vos estou a desejar qualquer mal, e nem vale a pena explicarem as razões que levaram a que tal trafulhice fosse cometida. É como quando nos dizem que alguém que nos é querido morreu decapitado, e depois insiste em descrever no mais ínfimo detalhe como isso aconteceu - o que está feito está feito. Recorrendo à sabedoria da internet que atribui a autoria de textos, frases ou citações a meia dúzia de autores diferentes, com uma amplitude que chega a ir de Confúcio a Einstein, permitam-me que termine com uma pequena metáfora insípida e inócua, só para dar um ar agravado de intelectual: cada inimigo que fazemos é como um saco de pedras que levamos para toda a parte, todos os dias; quanto mais inimigos, mais pedras são as que trazemos connosco, e maior o cansaço e o desgaste que nos levam à angústia, e nos prendem os movimento e nos impedem de ser felizes, até ao dia em que mandamos as pedras pró c... e rebentamos os miolos com um tiro. Posto isto, tudo o que desejo é que a normalidade seja restabelecida, que o Hoje Macau volte ao pedestal cibernético onde pertence, e só depois desejo aos supostos "hackers" muita elegância. Porquê "elegância", perguntam vocês? Porque é mais "elegantes"que iam ficar depois de um ataque de disenteria aguda, que era aquilo que mereciam.

Onde mais dói (e dói mesmo)


O pódio do mal.


Estava na noite passada a ver o programa "Linha da Frente" da RTP, que desta vez tinha o sugestivo sub-título "As vítimas do BES", dedicado aos 2500 pequenos accionistas que investiram em papel comercial do Banco Espírito Santo, ficaram "fu" e agora esperneiam mais do que um frango de aviário mal degolado na hora em que lhe arrancam as penas. Vou ser curto e grosso: percebo muito pouco de Economia, mas se há uma coisa que me apaixona é observar o comportamento humano na sua forma mais crua, mais genuína. O melhor "restaurador Olex" da personalidade, aquele que revela a verdadeira natureza de cada ego, é uma situação de crise extrema, onde não há cosmética que disfarce as carantonhas, de tão feias que são. Diz-se que existe um "limite" onde um dia toda a toda a gente se encontra e eventualmente "se dá realmente a conhecer", exposta como se tivesse passado pelo raio-X da personalidade. Convém sempre saber se no caso de irmos parar um dia a uma ilha deserta com alguém vale mesmo a pena confiar nessa pessoa, ou se o melhor é limpar-lhe o sebo e jantá-la, antes que seja ela a tomar essa iniciativa. Há coisas em que não se deve mesmo hesitar, reflectir ou pensar duas vezes, e em nossa defesa sempre podemos rugir e bater no peito tal um gorila, e assim tirar do caminho essa coisa da "humanidade" que é suposta estar dentro de cada um, que às vezes atrapalha mais do que ajuda.

Posto isto, e no caso de o banqueiro Ricardo Salgado ir parar a uma ilha deserta com um dos accionistas do BES, não se arrisca tanto a ser comido, pelo menos no sentido antropofágico do termo, como a ser sacudido, torcido e espremido até ao tutano até que saia cá para fora a cheta que estes "pobres coitados" investiram no seu esquema, e que depois "evaporou". Mas aí está, há uma expressão popular antiga que se diz de quem é rico: que "até caga notas de conto", e agora veio Ricardo Salgado demonstrar que isso não é para ser interpretado no sentido literário. Se fosse mesmo assim, e o homem já tinha laxante a escorrer-lhe dos ouvidos, de tanto que corria pela sua goela abaixo - até já passava por debaixo das portas, tal era o "sumo" que tinham tirado dele. No entanto há mar e mar, há ir e voltar, assim como há investir e investir, e choram uns, outros ficam a rir. O banqueiro Ricardo Salgado pediu desculpas, diz que vai cavar fossas até aos 851 anos para pagar o que deve (ah...a garantia da mortalidade, mais eficaz que qualquer apólice de seguros), e o que mais pode ele fazer? Não é o Pirata Barba Ruiva para ter enterrado o dinheiro dos investidores numa ilha do Tesouro, e apesar de eu não discordar de quem defende que ele devia estar preso, também não era isso que ia fazer as notas caírem do céu. O que aconteceu com o dinheiro, meus senhores, permitam-me que vos diga recorrendo a uma onomatopeia: "Puff!".

Os lesados com a falência do BES parecem pessoas normais, daquelas que vemos na rua todos os dias, quem sabe se nos cruzámos com elas numa ou noutra valência, e não deu para notarmos os fios. Quais fios? Os fios que as prendiam à vida, à saúde, ao equilíbrio emocional e à sanidade mental, em geral. A primeira entrevistada foi uma senhora que perdeu "as economias de uma  vida", vida essa que levou a trabalhar no campo depois de deixar os estudos ainda durante o primeiro ciclo, juntou aquele dinheirinho com tanto esforço, à custa de sangue, suor e lágrimas, heróis do mar nobre povo, etc., etc. Dá para entender o desespero da senhora, que não é propriamente uma jovem para poder arregaçar as mangas e recomeçar a partir do zero, e até nos sentimos solidários com ela e oferecemos-lhe o que não nos custa nada porque não é material: a nossa simpatia. Só que para ela parece que isso não chega, e durante a reportagem - e assumo ela ter consciência de que ia aparecer e ser vista no mundo inteiro - comporta-se como uma tresloucada, repetindo vezes sem conta que "está a gastar os últimos cartuchos", ameaça que "nos vai suicidar a todos" (isto foi a minha interpretação, entenda-se) e a certo ponto mete-se de pé em cima de uma mesa no Banco e berra que "vai fazer dali a sua segunda casa". As circunstâncias especiais e o mediatismo que envolveram o caso do BES permitem-lhe que adopte esta conduta de troglodita, mas fosse o seu apenas um caso isolado, e ia direitinha para a esquadra onde lhe administravam um sedativo "dos grossos". Assim sendo comporta-se como uma selvagem e ainda fica com a opinião pública do seu lado, mas até que ponto? O que quer ela, que "derrubemos o sistema"? "Anarquia já"? "Violemos o presidente"? Não obrigado, e sei que estou a ser mauzinho quando digo isto, mas aquele é o tipo de pessoa que perante uma situação idêntica, mas que se passasse com outra que não ela, ainda mandava umas "bocas" do tipo "quem é que te mandou ser parva?". E digo isto porque tal como ela já trabalhei na agricultura, mas passei também por outros sítios e vi muitos "carnavais" destes.

Não estou com isto a isentar a banca das suas responsabilidades, ou sugerir que os lesados se resignem à pouca sorte, porque isto acontece, olha, paciência, tentem numa próxima reencarnação. Nada disso, até porque quando navega tudo no mar de rosas das finanças os banqueiros enchem-se de cheta e nem um copito pagam à malta, portanto tudo bem (ou tudo mal), aceita-se que lhes venham pedir contas, exigirem explicações e o mais importante, encontrar uma solução que passe por menorizar os prejuízos dos lesados, compensando-os de algum jeito. MAS, e é um grande "mas", agir como um terrorista da treta ou um desgraçadinho não vai adiantar de nada. Além da tal senhora do parágrafo anterior, foram entrevistadas outros patos investidores, gente de idade, velhos, avôs e avós a chorarem baba e ranho, como se fossem crianças de colo a soluçar e a fazer birra, dizendo que não vão jantar e se amanhã estiverem mortos a culpa é do pai ou da mãe que não os deixaram fazer isto e aquilo. É só a minha opinião, e não me canso de sublinhar isto, mas o que se pedia nesta hora era um pouco de dignidade, e que pelo menos se mantivesse a postura e a graciosidade, em vez de se aprestar a contribuir para lixo televisivo, que apenas tem o objectivo de angariar audiências.

Curioso como subitamente estas pessoas, que tinham o dinheiro investido no BES, ou seja, não tinham o mesmo acesso do que se o tivessem guardado na lata das bolachas ou debaixo do colchão, passaram a necessitar dele como se fosse o ar que respiram. São centenas de casos de ex-clientes do BES a precisar de operações, a viver na rua, a pedir esmola, um desespero onde estranhamente ninguém comete suicídio - pelo menos na reportagem não se fez referência a nenhum caso tão extremo, e seria de esperar pelo menos uma tentativa. São só pessoas que um dia tinham 25 mil euros a render no banco, e que no dia seguinte precisaram de todos os centavos dessa quantia, senão morriam. Arriscando mais uma vez a ser maldoso, desconfio que caso o "pasteleiro" Ricardo Salgado tivesse a elevar com competência os "papo-secos" destes clientes com o seu "fermento", e muitos dos "aflitos com falta de ar" andavam a transpirar saúde e se calhar ainda lhe passavam mais massa para as mãos. Também nesse casi não iam aparecer na televisão a dizer maravilhas do sr. Salgado, de como ele é bom e generoso, e o mais provável que permanecessem anónimos, que o segredo é alma do negócio, e se lhes perguntassem sobre alguma  carteira de papel comercial iam rosnar e mostrar o dente, deixando bem claro que ninguém tem nada a ver com isso, e o dinheiro é deles e não dão nem emprestam um avo, e "vão mas é trabalhar, malandros". Não quer dizer que não tenham casos genuínos, daqueles a lamentar, revoltantes, mas muito do meu cepticismo se deve ao sortido de personagens com que me fui cruzando enquanto trabalhei na agricultura - e nos outros sítios por onde passei, depois disso.

Como já disse, não entendo peva de Economia, mas penso que não é necessário ser um Albano Martins para se saber que o dinheiro que temos no banco - todos nós, nas nossas contas - não está ali pendurado com molas num varal com o nosso nome lá escrito para o irmos buscar caso qualquer coisa dê para o torto. O dinheiro do Leocardo, do Sr. Silva, do Sr. Antunes e da Sra. Maria da Purificação da Piedade das Dores, todo depositado no mesmo banco, é o dinheiro DO BANCO, e não dos bancos do Leocardo, do Sr. Silva, do Sr. Antunes e da Sra. Maria da Purificação da Piedade das Dores isoladamente, plantado num vasinho e regado de quando em vez para não secar. E o que fazem estes  bancos com o pilim colectivo da clientela? Isso mesmo, investem, e para o fazer não necessitam da autorização epressa de cada um dos depositantes, que quando "confiam o dinheiro ao banco" estão mesmo a "confiá-lo", deixando fazer o que bem entenderem com ele. Não é a mesma coisa que deixar as notas na caixa e dizer "toma aí conta disso que eu daqui a um mês venho cá buscar". Se um belo dia de Junho o banqueiro japonês Eusou Maluko resolve investir o capital inteiro da instituição de crédito que dirige em ovos da Páscoa, porque tem um "feeling" que em Setembro a cotação vai "disparar até ao tecto", e o dinheiro for todo pró galheiro, vai dinheiro de toda a gente que ali o deixou depositado, sem excepção. A única forma de o reaver seria fazer o sr. Maluko pagar do seu próprio bolso. No caso do BES o sr. Maluko é mais conhecido por "Ricardo Salgado".

Agora uma realidade que no caso de ser novidade para alguém vai deixá-lo em estado de choque: o dinheiro não cresce nas árvores. Passo a elaborar. Quando se "investe" está-se a gastar dinheiro para recuperar o montante investido e obter lucro, que pode ser mais, ou menos, conforme o sucesso do investimento. Quando se investe no sentido de produzir e escoar a totalidade da produção para o exterior, e no fim acabar com um saldo positivo na balança comercial, e criam-se ainda postos de trabalho nesse processo, a isso chama-se "produzir riqueza", ou seja, faz-se com que entre capital que não existia antes e ficam todos contentes. Yupi. Quando se investe nos mercados, e se fica a depender das  suas flutuações, de ganhos e perdas, de falências, insolvências e tipos que ora compram um "rolls-royce" novo, ora acabam a balançar na ponta de uma corda, há a possibilidade de ganhar muito ou de perder tudo, e o capital que circula é sempre o mesmo, praticamente, e só vai mudando de mãos. Portanto o dinheiro que uns ganham é o dinheiro que outros perdem, e o dinheiro dos clientes do BES foi muito possivelmente transformado em pó que depois foi inalado por um corrector de Wall Street qualquer, em cima das bóias de  uma bimba loiraça, com os dois "na maior", dentro de um "jacuzzi". Mas não se aborreçam, que se um dia for a vez dele ficar com o cu apertado, não vão vê-lo na televisão a choramingar por não poder mais comprar ração para o cão e comida para ele próprio, ao ponto de ter de comer o cão para solucionar o problema de ambos. Torna-se um pouco complicado chatear seja quem for depois de deixar a mioleira toda espalhada pelas paredes do apartamento com vista para a ilha de Manhattan, e que passou de "custar uns trocos" para "completamente incomportável", ao ponto de ter menos de 24 horas para o desocupar. É o capitalismo, meus amigos, que pode ser uma maravilha, mas também pode ser uma merda, e cada vez mais desproporcional se torna esta equação, com mais os que vão acabando sarjeta para que os mesmos de sempre fiquem ainda mais ricos.

Portanto sabendo que o banqueiro Ricardo Salgado não tem um realejo para dar à corda e tirar de lá notas para calar o clientes chorões, fico cada vez mais com a sensação de que os portugueses não são um povo mais ou menos ganancioso que outros, mas consegue ser muito mais aldrabão. Esqueçam aqueles populares que à pergunta sobre o que fariam com o "jackpot" do euro-milhões respondem balelas do tipo "compro uma casinha para os meus filhos...o resto vou guardar...como um pãozinho com um queijinho por dia...". Tretas! Fariam o mesmo que toda a gente faz quando se apanha com mais dinheiro do que o número até onde sabe contar: ostenta-o, esbanja-o, e enquanto o tem procura usá-lo para comprar os outros, porque assume que toda a gente é como ele - e vai tendo cada vez mais razão, infelizmente. Quando nos interrogamos como é possível perder o juízo quando se fica na posse de muito mais dinheiro do que é preciso, estamos a fazer a pergunta errada. O truque aqui é conseguir manter a sobriedade, o que alguns (poucos) conseguem, e outros não. O dinheiro na verdade não enlouquece ninguém - é a megalomania das pessoas que se convencem que uma vez bafejadas pela fortuna, são capazes de tudo. Vendo-se numa situação em que o dinheiro é produto de anos de sacrifício, como alegam os ex-clientes do BES, aí sim, é a loucura, e é aqui que reside a grande ironia de tudo isto: o veneno que os mata é também o único antídoto, e foi pelo ralo do BES abaixo. E agora?

E você, tem visto Jesus por aí?



Jesus Cristo apareceu a semana passada numa rocha em San Francisco de Putumayo, na Colômbia. "O quê? Jesus...Cristo??? E isto não abriu os noticiários que ficariam a falar deste tema desde então até agora, e durante pelo menos mais 3 meses???", pergunta o devoto e crente leitor. Sim, de facto o retorno de Jesus Cristo, fosse numa montanha colombiana ou noutro sítio qualquer seria a notícia do século - deste, dos últimos 20 e quem sabe dos próximos. Mesmo assim estou a crer que é uma daquelas que soam melhor do que realmente seriam caso fossem materializáveis, pois o mais provável era esse Jesus Cristo fosse uma fraude, e na eventualidade de ser o original era levado pela NASA ou pelos serviços secretos de uma super-potência qualquer para um local isolado, onde seria submetido a testes, tal como no mito do extra-terrestre de Roswell, no Texas. Com o mundo no estado em que está, duvido que a humanidade tivesse a oportunidade de se prostrar a seus pés e adorá-lo como seu líder e salvador, mesmo que quisesse. Mas nada disso, não apareceu Jesus nenhum, e o que temos é mais uma daquelas curiosidades que começaram a surgir com mais frequência desde o aparecimento da internet, pois torna-se mais fácil de divulgar a milhões de pessoas que nunca poderão verificar sequer a autenticidade do espectro. Eu disse espectro? Queria dizer "mancha", ou "nódoa", senão vejam:



Aqui estão outras "aparições" de Jesus, tantas e em tão variadas (e surpreendentes) localizações que se tornam banais ao ponto de se realmente um dia o verdadeiro Cristo se manifestar, terá a mesma importância, ou menos. Numa frigideira, num ferro de passar, numa toalha, em tacos ou pizzas, e até no rabo de um cão! Agora, antes que me acusem de "sacrilégio" ou de não respeitar nada nem ninguém, vou adiantando que nem o cão é meu, e nem me passava pela cabeça ficar a olhar para o cu do bicho até "descobrir" a silhueta de Jesus. Só para que fique claro, por via das dúvidas


Em cima à direita temos uma forma um tanto ou quanto elaborada para Jesus se revelar: numa raia. Em baixo, à esquerda, pega "boleia" da sua rival nestas coisas da fé, a natureza, e manifesta-se através de uma mariposa, e ao lado temos Jesus "no ponto", num pão indiano - ou será Ganesh? Se for mesmo o Nazareno só pode ter sido num "naan" de um restaurante no Ocidente, que é onde surgem estas "misteriosas" aparições que de mistério não têm nada. Pensem bem: o filho de Deus  todo-poderoso não é, tal como o pai, poderoso o suficiente para nos dar a honra de uma aparição sua em alta-definição e Dolby Surround System, em vez de se mostrar em...comida?! Quem vê ali Jesus é porque quer ver Jesus, e cada um poderá reconhecer nestas figuras o rosto de outro conhecido seu, ou  uma outra celebridade que não da área do Divino. Mas como se pode ter a certeza de como era a aparência de Jesus, se tudo o que nos deixaram sobre ele foi na forma de documentação escrita?


Aqui estão alguns dos "Jesus", que não tendo reencarnado - ou pelo menos não se recordam disso - encarnaram a personagem do fundador do Cristianismo; em cima à esquerda temos Peter Powell, actor que interpretou Jesus na mini-série "Jesus da Nazaré", de Franco Zefirelli, e ao seu lado Ted Neely, que deu corpo a um messias-cantor em "Jesus Christ Superstar", de Andrew Lloyd Weber. Eram os anos 70, e dava a entender que as audiências aprovavam a imagem do Cristo famélico e vagabundo, usando roupas com um tamanho muito acima do seu, cabeludo, barbudo, ar de mendigo, em suma, encaixando-se perfeitamente na imagem de quem supostamente veio ao mundo para sofrer e morrer, e passo a citar, "pelos nossos pecados" - isto segundo os cristãos, e que falem por eles, que eu não vou de forma alguma assumir a cumplicidade num caso de tortura seguida de homicídio.  Em baixo à esquerda temos Diogo Infante, o Jesus 2.0, que apesar do ar menos faminto e chungoso, reforça a ideia generalizada de que o carpinteiro judeu nascido no território que se situa onde ficam hoje Israel e a Palestina era na realidade sueco ou norueguês. Sim, ou ele ou o Espírito Santo tinham ADN "viking" - loiros, olhos azuis e pele de tez clara, o que não faz muito sentido sendo ele originário no Médio Oriente. Ao lado de Diogo Morgado temos Júlio Pereira, que não dita salmos mas toca cavaquinho, e além disso é mais versátil: tanto dá para Jesus Cristo, como para D'Artagnan, personagem central do romance "Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas.


As Testemunhas de Jeová, honra lhes seja feita, tiveram sempre a sobriedade de representar Jesus de uma forma mais fiel ao que (não) se sabe do seu aspecto físico. Era carpinteiro, portanto dificilmente seria um magricela "hippie", e em vez disso teria um corpo relativamente musculado e uma barba aprumada - sabendo-se que naquele tempo os homens usavam barba, o que talvez seja a única certeza que se pode ter em relação à aparência de Cristo. Mesmo assim as Testemunhas não destoam dos restantes no que concerne ao charme do Salvador, ideia cujo expoente máximo foi atingido com Diogo Morgado, que é modelo e tudo. Nunca entendi essa insistência em apresentar Jesus como um homem atraente; se era para criar um dogma à volta do celibato e do sacrifício, para quê ter um profeta que nos tempos modernos seria um sucesso entre as senhoras e convidado para ser modelo em campanhas da D&G?


Há a possibilidade do aspecto latino-nórdico do Jesus convencional ter a ver com a implantação do próprio cristianismo, que se espalhou inicialmente pelo Ocidente, para depois do cisma do século XI passar a ter duas grandes "frentes": a Igreja Católica, sediada em Roma, e a Ortodoxa, com patriarcados no norte de África, Europa de Leste e Médio Oriente. Na Rússia foram produzidos inúmeros ícones de Cristo, como aquele que vemos na esquerda da imagem, e pode-se dizer que não varia muito da imagem convencional propagada pelo Cristianismo ocidental. No meio vemos uma representação de Cristo feita pelos chineses, e à direita está "Isa", que é nome de Jesus no Corão, livro sagrado do Islão, onde aparece referido como um dos profetas, sem muitas diferenças para o Jesus que encontramos na Bíblia - além do facto de não ser o "personagem principal", ficando esse papel para Maomé, também fisicamente é adaptado à geografia local. Aqui faz lembrar um pouco o pirata Sandokan.


Aqui estão mais exemplos das mil e uma possibilidades de Jesus não ser nada do que o pintam - literalmente, entenda-se. A imagem da direita é um quadro encomendado pela Nação do Islão, uma seita norte-americana composta na totalidade por afro-americanos e que segue uma interpretação muito peculiar do Evangelho, mais inclinado para o Corão mas com fortes influências do cristianismo, e com a reverência a Jesus em primeiro plano. O rev. Louis Farrakhan, um personagem que sofre de um desequilíbrio mental profundo, considera esta a versão definitiva da aparência. O que ficaria mais perto da verdade de o Cristianismo tivesse aparecido em África, lógico. Se tivesse sido  no Pólo Norte que Jesus pregou o evangelho, falando aos discípulos de dentro de um iglo, seria um esquimó, como na imagem da direita. Dessa forma quem sabe a neve que aparece em alguns Presépios fizesse mais sentido nas calotas gélidas do que no desértico Oriente próximo. e em vez de um burrinho e uma vaquinha havia um elefante marinho e uma foca.


E se pensavam que depois de um Jesus chinês, árabe, negro e esquimó já tinham visto tudo, eis que mais uma vez se prova que retiraram conclusões precipitadas (como sempre), pois eis o Jesus indiano! Bem, na imagem da esquerda trata-se de facto de uma iconografia indiana de Jesus Cristo, mas na direita vemos uma pintura representando Ajatha Nagalinga Swamy, um hindu ascético que é "yogi" num templo em Karnatakata, entusiasta seguidor da Bíblia e da doutrina cristã, e que dizem ser "muito parecido" com Cristo. A esta noção de "parecer-se com Cristo" nem sempre se dá uma  conotação positiva, pois depende de como cada um o imagina. Já cheguei a ouvir algo do género: "Ó rapaz corta-me esse cabelo e faz essa barba, que até pareces o Nosso Senhor". E olhem que não foi ao Júlio Pereira que isto foi dito. No fundo basta ser magro, alto, ter feições caucasianas e um rosto longo e fino, que com cabelo e barba a condizer temos um potencial Robert Powell ou Ted Neely. Convém é saber representar, caso seja essa a pretensão, a de encarnar o profeta cristão.


E finalmente, "Ecce homo". Ou não? Este um retrato-robô do que poderia ser o aspecto real de Jesus Cristo, elaborado por arqueólogos e outros investigadores sem nada que fazer com base na aparência do homem comum do seu tempo no local de onde se diz Jesus ter nascido e vivido. Claro que para o crente que se preze, este moreno barbudo não tem nada a ver com o Messias, e os tais investigadores não tiveram em conta o facto do Espírito Santo ser natural de Estocolmo, ou quiçá de Oslo. Verdade, verdadinha, é que o Diogo Morgado cai mais no goto do grande público do que este tipo a atirar para o Neandertál, e é disso mesmo que se trata: "marketing". Frigideiras, omeletes, pescado ou o cu de um cão não são lugares decentes para que Jesus se manifeste, não senhor, e aquilo é tudo festim, uma parvoíce. Agora com algum jeitinho, e uma certa "arte", dá para se transformar uma pequena aldeia ribatejana que nem constava do mapa num santuário sumptuoso onde ocorrem milhões de fiéis na esperança de um "milagre". E o milagre já lá está: o milagre da multiplicação dos crentes. Não dos crentes no sentido de que seguem e acreditam, que têm a sua fé, mas sim dos "tão crentes que eles são, coitadinhos...". Pode ser que não tenha sido Jesus a aparecer mas foi a sua mãe, Maria - pronto, são portugueses, o esperavam o quê? Foi o melhor que se pode arranjar. 


sexta-feira, 27 de março de 2015

E um prato de m...,já agora


A Monsanto, uma daquelas multinacionais que representam o lado podre e ganancioso do capitalismo, está outra vez debaixo do fogo cruzado de ambientalistas, Organização Mundial de Saúde (OMS), média, e claro, da opinião pública. Só não entendo é como a companhia de produtos agroquímicos que lidera o mercado dos controversos transgénicos consegue aumentar os lucros anuais na ordem dos mil milhões de dólares por ano, quando toda a gente os odeia. No passado foram mais de 14 mil milhões de lucros e ainda se deram ao luxo de despedir mais de dois mil funcionários. Agora a polémica está relacionada com o glifosato, um composto que é o ingrediente activo de um herbicida criado pela Monsanto e distribuído no mundo inteiro com o nome "Roundup", e a cuja exposição pode provocar cancro, segundo um relatório publicado pela OMS esta semana. O herbicida criado pela Monsanto e que provoca um tipo de leucemia foi na altura da sua invenção considerado "milagroso", pois o produto é absorvido pelas folhas e não pelas raízes das plantas, mantendo-as assim intactas enquanto as protege dos parasitas - mas pode causar cancro. O estudo que serviu de base à elaboração desta hipótese não é conclusivo, uma vez que foi realizado entre homens adultos com empregos na área da Agricultura, Horticultura, Botânica e Florestação, expostos diariamente ao pesticida, tendo ficado de fora mulheres, crianças e jovens, pelo que a OMS não pode afirmar categoricamente que o "Roundup" causa cancro, mas apenas que poderá causar cancro - é um pouco como jogar roleta russa: que pode acabar bem, ou com a cachola espalhada pelas paredes da sala.


Esta questão faz lembrar um pouco os primeiros tempos após ser feita a associação entre o tabagismo e certos cancros, nomeadamente o do pulmão, e até convencer as massas de que realmente fumar provoca riscos sérios para a saúde, deu-se uma batalha feroz entre o "lobby" da super-lucrativa indústria tabaqueira e a comunidade médica, com os primeiros a pagar aos segundos para se calarem, e estes tentados a aceitar a oferta. Neste vídeo vemos o Dr. Patrick Moore, um antigo membro do movimento Greenpeace que entretanto descobriu que podia fazer mais dinheiro como "lobbyista" do que a abraçar árvores e atirar bosta a barcos baleeiros japoneses, a defender que o produto da Monsanto é "inofensivo", e que a relação que possa existir entre o seu uso e um súbito disparar de casos de leucemia na Argentina em pessoas que o usavam com frequência "carece de fundamento". Tretas, o tipo é uma pêga do capital, mas descai-se quando se arma em parvo e diz ao jornalista que o está a entrevistar que "o herbicida é tão seguro que se pode beber um copo cheio dele e nada acontece ". Nem por acaso, o repórter afirma que no local onde ambos se encontram há herbicida em quantidade mais que suficiente para prosseguir com essa experiência, mas o palerma do médico retira o que disse, e recusa-se em fazer exactamente aquilo que afirmou ser "completamente seguro", e porquê? Porque "não é estúpido". Ah mas é estúpido, e isso é muito mais fácil de provar do que a relação entre o herbicida e a leucemia. Mas estejam atentos, e sejam vivaços para continuar vivos: por muita "moca" que o herbicida vos provoque, não inalem aquela m... . Valeu?

RIP Ironia


Desconhecia até há pouco tempo a etimologia da palavra "ironia", e efervescendo de curiosidade, fui a um "anyplace, world wide web" informar-me, apenas por merda mera curiosidade. Descubro sem surpresa que é derivada da palavra grega εἰρωνεία, ou "eironea", que por sua vez tem origem em εἴρων, "eiron", ou "aquele que finge não saber". A ironia dos gregos era sinónimo de engodo, de uma hipocrisia sem dolo, no sentido de confundir o nosso interlocutor, provocar-lhe uma reacção ou fazê-lo dizer algo que queremos saber e ele recusa-se a divulgar. Tanta coisa que abrange este sentido de ironia, e interessante a linha ténue que a separa da hipocrisia. Contudo a hipocrisia é velhaca e matreira, procura atingir fins desonestos, quer ludibriar os ingénuos, ou os apenas inocentes e puros - se ainda os há. Quando a ironia, que nas mãos certas se pode transformar numa arte, se aproxima demasiado da hipocrisia, dá-se um fenómeno quase como que de sublimação, que deixa a ironia num estado vulgarmente conhecido por "só podes estar a brincar", ou ainda em alguns quartéis por "deves pensar que és o maior e os outros todos parvinhos, não?". Antes de consultar a origem desta palavra fantasiei sobre as possibilidades de ela ter a sua raíz não no grego clássico, mas nas línguas germânicas, e por inerência no inglês moderno. Pensei nisto uma vez que as semelhanças com a sua prima inglesa, "irony", são impossíveis de ignorar. Não se pense que eu desconhecia que as influências do grego clássico chagavam também às línguas germânicas, nada disso, mas tinha graça se "ironia" tivesse a sua "mater" na palavra "iron", inglês para "ferro". Às vezes é difícil detectar a ironia por se encontrar dissimulada, o que se torna já por si irónico, uma vez que a própria ironia é a dissimulação, numa das suas ramificações. Quando damos por ela bate-nos com força, deixando-os atordoados, como quando agredidos com um ferro. Aí segura-se a cabeça, como se fosse ceder à violência e à surpresa do choque, exclamando "oh the irony", com o respectivo baque metálico a ecoar nos ouvidos.

Passando à vaca fria. Em Macau a ironia como forma de expressão artística, poética, ou aplicada ao seu uso popular, vulgo "olha-me este, a fingir-se de sonsinho", anda pelas ruas da amargura. Sim, Macau precisa de médicos, precisa de tradutores, arquitectos paisagistas, biólogos marinhos, tanta coisa que Macau precisa, e permitam-me que acrescente "peritos em ironia". Estes "peritos" teriam a missão de incutir em quem faz da ironia parte da sua profissão, ou que a ela recorre no seu dia-a-dia nas mais diversas situações uma forma de executar a ironia sem que fique demasiado fácil entende-la. O sarcasmo é outra conversa, já que a intenção é mesmo menosprezar o discurso alheio com recurso a possibilidades surrealistas, mas para a ironia é necessário graça, como a de um tareco que se passeia por uma cristaleira passando por entre as estreitas margens deixadas entre os copos sem que toque num deles, sem que oiça sequer um "plim". Aquela imagem que deixei no topo desta entrada é referente a Jornal Tribuna de Macau, a que faço desde já a devida vénia por ter "roubado" a imagem da sua página do Facebook, é o exemplo de um gato torpe, desastrado e míope que manda os copos todos ao chão, num recital desafinado de vidro partido e reduzido a cacos, tão pequenos que nem dá para juntar dois deles de modo a que se encaixem, tão agudo que é o efeito de uma ironia mal usada sobre a própria matéria. Não deve ser por maldade, mas também não descarto a possibilidade de não ter sido completamente inocente, mas o que nem eu e possivelmente qualquer pessoa que faça a devida analogia entre os dois casos (a analogia é o "teste do algodão" da ironia) entende é que critérios se aplicam para se dar destaque a quem se diz "estar preparado para ser preso", enquanto outro que diz a mesma coisa, mas num registo um tanto ou quanto diferente é desprezado e tratado como um tontinho, uma asserção tão persistente e entregue de forma tão convicta que chega a fazer escola. Será porque este último disse que tinha a trouxa pronta para levar quando fosse "de cana", e que na "choldra" ia escrever um livro?

Este personagem a quem o JTM dá amplo destaque em tom aparentemente elogioso a propósito da sua passagem pelo Festival Rota das Letras, que decorre em Macau desde dia 19 com término este Domingo, é nem mais que Murong Xuecun, "nom de guerre" do escritor Hao Qun, conhecido "dissidente" chinês, mas já lá vamos. O simples facto de terem deixado o indivíduo entrar no território já é uma surpresa, pois garanto que se trata de alguém com um potencial para "confundir a população" muito superior ao do bebé de um ano a que foi negada a entrada em Dezembro último, no terminal do Jetfoil do Porto Exterior. Ou será que tudo o que luz é ouro, e tudo o que faz chinfrim é "dissidente"? Convidar este tipo para um Festival Literário em Língua Portuguesa e Chinesa, numa região administrativa do país de que diz cobras e lagartos, e numa altura delicada em que Macau pretende reforçar junto do Governo Central a imagem de "bom aluno" que já demonstrou mas que se atravessa uma "fase de adolescência" onde são comuns as "dores de crescimento" não cabe na cabeça de ninguém. Isto seria dar um tiro no pé, e seria de esperar algo parecido vindo de Hong Kong, não deste lado do Rio das Pérolas, onde os jovens andam sôfregos por ter a disciplina de Educação Patriótica, e os pais ansiosos, com medo que os pequenos não saibam a cartilha completa das gloriosas alvoradas vermelhas do eterno amanhã. É que este Murong Xuecun não faz a coisa por menos; tornou-se conhecido por denunciar casos de censura, de que ele próprio foi também alvo, e de violência das autoridades sobre cidadãos detidos, ficando célebre o episódio do indivíduo que não resistiu a várias lesões no crânio e viria a falecer após ter ficado sob custódia policial durante um dia, mas que na versão oficial terá sofrido um acidente "enquanto jogava às escondidas" - o indivíduo em questão tinha 24 anos de idade. Além de tudo isto, que já é mais que suficiente para lhe colar um autocolante "Made in China" com a certificação de "maluquinho" e metê-lo no "fresco" até que a sua existência seja esquecida. Murong Xuecung assina uma coluna no New York Times, a dizer mal das uvas chinesas. Anda por aí à solta, mas a qualquer momento "pode ser preso". Questiono-me se a Will Hill abriu uma aposta na data exacta da detenção - não que eu quisesse meter lá um centavo, pois repudio os resultados combinados de antemão.

Não quero insinuar que o autor em questão é de como uma espécie de marioneta do regime, de modo algum, ou algum crítico "encartado" para quem é permitido ir até um certo limite e de vez em quando apanha com a "barra dura" manter as aparências, bem como desencorajar possíveis imitadores. Contudo não é inédito ou sequer raro encontrar este tipo de personagem em regimes fechados e totalitários como o da China, e mesmo aqui neste micro-cosmos (a)político temos o exemplo de Agnes Lam, cuja intervenção pública feita a cobro do estatuto de docente universitária (como se isto representasse uma autoridade tutelar insuspeita) vai fazendo o que convencionou designar de "crítica construtiva", muitas vezes falando em nome de quem não lhe encomendou tamanho sermão. O que qualquer pessoa com dois olhos, dois ouvidos e uma memória intacta consegue constatar é que fala muito, diz sempre a mesma coisa e ao câmbio daquilo que interessa realmente acaba por não dizer nada, enfim. Mesmo assim diz-se que está, e passo a citar, "em oposição ao poder", e que mesmo assim "não tem problemas" ao nível profissional, como outros que não se contentam em ser apenas "yes man" se queixam frequentemente. Depende do ponto de vista, pois estou em crer que a bitola que elogia a sua "frontalidade" é a mesma que na hora de ela vir pedir batatinhas se coloca como um obstáculo a voos mais altos - o seu a seu dono, portanto. Infelizmente isto vai-se verificando também um pouco por esse mundo fora, mesmo nos países ditos "democráticos", alguns com grandes tradições nesse particular. Começou a tornar-se imperativo filtrar a informação que vai chegando de todas as partes em doses cavalares e à velocidade da luz, e convencer a opinião pública de que muito do que ouvem e lêem não é senão obra de um espalha-brasas, que vai escrever nas redes sociais tudo o que ouve na rua, e isto quando não vão mais longe, ao ponto de o descredibilizar, e se for necessário recorrer ao seu passado de alcóolico/toxicodependente/presidiário não hesitam em fazê-lo. Os governos têm por hábito premiar os arautos desta difícil missão de manter rédea curta no que o povo diz e pensa, mas este "tássakagar", e só diz que sim ao pintarolas para ver se ele cala e vai chatear o Camões.

Assim de camada em camada de ironia fica quase completo este bolo, que não recomendo a diabéticos, nem a qualquer outra pessoa que tenha "permanecer vivo" na sua lista de planos para os feriados da Páscoa. Sobretudo não se esqueça que o número da ressurreição ao Domingo depois de quinar na sexta-feira anterior não é executado com sucesso por ninguém vai já bem para lá de 2000 anos, e mesmo o último peca por um ligeiro défice de credibilidade, e mais ainda de objectividade. E já que entramos no âmbito do divino e do sobrenatural, nada como completar este proverbial bolo com um recheio conventual, e na falta de um convento digno desse nome, que tal o local onde Murong Xuecun se apresentou no Festival Rota das Letras? Nem mais nem menos que…a Universidade de S. José! Olé! Mas espera lá, que posso estar a sonhar, como daquela vez que sonhei que estava com diarreia e por um triz não acordava a tempo de evitar uma desgraça…não foi a USJ que chegou a não renovar o contrato de um professor por este ter feito comentários tidos como pouco abonatórios em relação ao Chefe do Executivo, e por ter convidado um académico estrangeiro conhecido pelas suas posições críticas em relação a Pequim quanto ao respeito das liberdades individuais e dos direitos humanos?". Bingo! Apontou duas das razões pífias e desculpas de mau pagador usadas pelo inquisitor-mor, o Bernardo Gui de Carcavelos que dirige aquela sucursal do Santo Ofício para justificar uma conduta que, e sem mencionar os seus contornos mais pérfidos, é a antítese de tudo em que assentam os valores humanistas em que a Igreja diz estar alicerçada.

Parece então irónico que eles próprios se reduzam à condição de um Frei Tomás, só que sem a convicção deste último. Despedir alguém recorrendo a um argumento e depois mais tarde imitá-lo, e na eventualidade de alguém tocar o assunto ainda vai provavelmente achar tudo "normalíssimo" não é bem o tipo de ironia que Sócrates (o filósofo grego) usava para confundir os sofistas de Atenas. Eu chamaria-lhe antes de baixeza, imundice, e fico por aqui, que há terrenos lamacentos que não me atrevo a pisar. Se é ou não de bom tom abrir as portas a um orador que para todos os efeitos é "persona non grata" ao regime, pouco importa, pois se há algo que a USJ tem deixado bem vincado nos últimos tempos é que à velha máxima do bom samaritano que apela a "fazer o bem sem olhar a quem" foi averbada a completação "…mas convém espreitar, pela via das dúvidas". Sim, de facto, não vá o…oops, o melhor e nao chamar esse para a conversa, que depois ainda me vem dar razão. Mas a USJ está na berra, vai na onda, é fixe, adere e participa, e vai criar uns cursos de não-sei-quê, línguas, ou técnicas de manuseamento da dama de ferro, uma coisa dessas. Assim não perde o metro ligeiro do progresso quando este aparecer (se aparecer), e pode ser que assim lhe seja dada a devida importância (ou seja, muito pouca) e possa usufruir do Campus onde se vai instalar brevemente, e o qual pagou com a alma - e lá estou eu outra vez…que chatice. A propósito, os tais cursos que são do mais bué que há por aí vão incluir o diploma no acto do pagamento da última propina, ou vão fazer exames? É que há famas que "vêm de longe", como o brandy Constantino.

O meu problema - que nem é problema nenhum - não se prende tanto com a USJ e a sua tropa fandanga de cruzados que o Reverendo Torquemada vai recrutar directamente à "cantera" da Sé, nem com este ou aquele galifão, ou outro qualquer espertalhão das dúzias que por aí há de sobra - se foi essa a forma que cada um encontrou para prevenir (ou compensar) a disfunção eréctil, tanto melhor, que seja muito feliz. Agora não venham é vender gato por lebre e tomar toda a gente por parva, porque esse sermão já sei eu de cor e nem sequer vou a missa. Dizer que hoje isto é assim e que amanhã é o exacto oposto, ou que está tudo bem, "nada pasa", e olha que até aquele tipo que se farta de mandar "bocas" à China esteve cá a beber uns copos com a malta, e por muito que queira ser preso, não lhe fazem esse, já viram isto? Chega de atestados de burrice, ou tratar as pessoas como se tivessem a memória de um peixinho de aquário. Também me estou a marimbar para a relação entre e a China, nenhum deles é a minha "posse", não pertenço a qualquer desses "niggaz", mas já estou enjoado de olhar o sr. reitor a oscilar entre as directivas de um e o Campus da outra, e a meter os pés pelas mãos, e o pior de tudo, a justificar o que não tem justificação com "decisões políticas". Ó "el padre", para fazer política já cá andam os políticos, e estão cá a mais. Já pensaram o que seria com os padrecos na política? Corria-lhe mal um debate, evocava logo o Big Boss. E no Governo? "Ontem falei com Nosso Senhor, e ele mandou-vos desconvocar a greve". A este ponto a ironia está morta, enterrada, e prepara-se para ser exumada e os seus restos condenados à erosão dos tempos, até ao dia em que serão apenas pó. E no seu lugar fica a hipocrisia, "mama-san" das primas feias da ironia que agora ocupam o lugar que antes foi seu. Triste.