terça-feira, 11 de março de 2014

Os sons dos 80: Vive la France!


Quando pensamos em música francesa, vêm-nos à cabeça nomes como Edith Piaf, Charles Aznavour, Jacques Brel, Leo Ferre, entre os clássicos, Serge Gainsbourg para os mais atrevidos, ou Joe Dassin e Johnny Haliday para os mais "modernos". Nos anos 70 surgiram uns arzinhos de "pop-rock" gaulês, com "Pour un flirt" de Michel Delpech, ou "Magnolias Forever", de Claude François, mas a língua (sobretudo isso) continuava a expresser-se melhor musicalmente na forma da "chançon". Mas nos anos 80 os nossos amigos franceses ficaram um pouco fartos da imagem do tipo alto e esguio, de boina, camisa às riscas azuis escuras e brancas, levando uma "baguette" debaixo do sovaco a cheirar a cebola, e deram passos decisivos no sentido da modernização do seu reportório. Aqui ficam alguns dos nomes sonantes da "le pop" daquele tempo.


Tudo bem, esta não é bem uma canção, pois com exepção do refrão, o resto é completamente em holandês - apesar de existirem versões em francês, inglês e espanhol. Holandeses eram também os The Shorts, um grupo que teve uma curta existência, e que da sua discografia só se conhece este "Comment ça va", de 1983, que foi nº1 no top do deu país natal, bem como na Belgica, e nº 2 na França. No mesmo ano a cantor Kikki Danielson gravou uma versão em norueguês do tema, e chegou ao nº 3 no seu país.


Em finais de 1984, Bob Geldof e Midge Ure apelavam à generosidade dos britânicos para ajudar as vítimas da fome na Etiópia, juntaram os melhores artistas do Reino Unido, e assim nasceu o Band Aid. Meses depois Lionel Richie e Michael Jackson juntavam-se à causa, escrevendo em co-autoria o tema "We Are The World", que seria interpretado pela fina-flor da música contemporânea norte-americana, sob o nome de Band Aid. Os franceses, naquela arrogância que lhes é típica, fizeram o mesmo, e assim formaram os Chanteurs sans frontiers, que gravaram o tema "Ethiopie". Qual Christmas, qual World, qual quê; aquilo não é para ajudar os etíopes? Então toma lá um "Ethiopie". O tema junta os maiores nomes da música francesa daquele momento, como France Gall, Michel Delpech, Charlélie Couture, Axel Bauer, Renaud, entre outros - tudo nomes conhecedíssimos do leitor, tenho a certeza. Ah sim, participa ainda do projecto o actor Gerard Depardieu, caso precisem mesmo de uma referência. Arrogância ou não, "Ethiopie" vendeu mais de meio milhão de cópias.


Agora silâncio que vai cantar uma princesa. Stephanie Grimaldi, filha mais nova de Rainier III, príncipe do Mónaco, e da actriz Grace Kelly, podia ser o que quisesse, e por isso foi modelo, desenhadora de uma linha de fatos de banho, e cantora. Neste último departamento pode-se orgulhar de ter um sucesso de que se possa orgulhar: "Ouragan", que foi nº 1 em França no Verão de 1986, e juntamente com a sua versão inglesa, "Irresistable", vendeu dois milhões de cópias. Não que a Stephanie precisasse do dinheiro, como é lógico.


Se Edith Piaf imortalizou Paris com "La Vie en Rose", também os Gold prestaram a sua singela homenagem à cidade-luz, exactamente com o tema "Ville de Lumiére". Formados em Toulouse, os Gold mantêm-se em actividade até aos dias de hoje, apesar de não gravarem vai para dez anos. O seu maior êxito será "Capitaine Abandoné", de 1985, mas no ano seguinte também "Ville de Lumiére" chegava ao nº 1 do top francês.


E como não só da Etiópia sofre o mundo, também a Arménia sofreu com um terrível terramoto, com epicentro na cidade de Spitak, causando cerca de 50 mil mortos. Charles Aznavour, que é de ascendência armena, juntou um grupo de amigos e gravou "Pour toi, Armenie". O single vendeu um milhão de cópias, e entrou para o Guiness como o primeiro a entrar directamente para nº 1 do top francês


Vejam só quem temos aqui: Vanessa Paradis, e o seu "Joe Le Taxi", que gravou quando tinha apenas 14 anos, e foi nº 1 na França durante 11 semanas, na Bélgica durante 13, e também no Canadá e em Israel. Apesar do aspecto de que esteve a fumar uma ganza nas traseiras do estúdio, Paradis tornou-se uma jovem formosa, e aos 19 anos teve um caso com Lenny Kravitz. Dos seus relacionamentos o mais célebre terá sido com o actor Johnny Depp, com quem viveu entre 1998 e 2012, e de quem tem uma filha. Actualmente com 41 anos, Vanessa Paradis acumulou com a carreira de cantora as de modelo e de actriz. Coitada...


E finalmente France Gall e este "Elle, elle l'a", que significa "Ella, aquela ali", uma homenagem à cantora de "jazz" Ella Fitzgerald. À data da gravação deste tema, que foi nº 2 em França mas liderou a tabela de singles na Alemanha e na Bélgica, Ella sofreu um ataque cardíaco de que nunca recuperou totalmente, e anos depois viria a ter ambas as pernas amputadas, por culpa da diabetes, antes de morrer em 1996, aos 79 anos. France Gall, essa, era uma popular cantora francesa de "ye-ye" nos anos sessenta, e venceu o Festival da Eurovisão em 1965, mas pelo Luxemburgo, com o tema "Poupée de cire, poupée de son." Actualmente com 66 anos, está retirada da música desde 2004, e preside à "Coeurs de Femmes", uma associação que dá apoio a mulheres sem-abrigo.

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