domingo, 16 de março de 2014

Os sons dos 80: divas


O termo "diva", que é originário do pronome italiano que designava uma divindade feminina, foi inicialmente exclusivo da ópera para definir algumas cantoras líricas, mas rapidamente se extendeu ao teatro, cinema, e à música popular, ou ligeira. Basicamente a diva é a estrela, o destaque, a grande atracção, aquela para a qual o espectador pagou bom dinheiro para ver, e sem ela nada feito. Dotadas de um talento especial, as divas requerem um tratamento especial, e nada pode ficar aquém das suas exigências. Por isso mesmo, a expressão "diva" tem também uma conotação negativa, dizendo-se de quem tem uma qualidade apenas acima da média mas revela um temperamento caprichoso, que tem "tiques de diva". No caso da música, a diva destaca-se pela sua voz, ou pela interpretação excepcional que dá aos temas que executa. No século XX tivemos Maria Callas, a diva por excelência, e cada país pode-se orgulhar de ter a sua, aos mais diferentes níveis; os franceses tiveram Edith Piaf, nós tivemos Amália, e Cabo Verde teve Cesária Évora, para citar alguns exemplos. Os anos 80 a música ligeira, a "soul", a clássica e a adulta-contemporânea, sem esquecer a "world music", tiveram as suas divas, quer as que surgiram pela primeira vez, quer aquelas que foram dando continuidade a um trabalho de décadas anteriores. Eis algumas delas.


Bette Middler é uma daquelas artistas que consegue conciliar a carreira de cantora com a de actriz de forma mais equilibrada, e foi já vencedora de três Grammy, três Emmys e quatro Globos de Ouro. Na Europa é talvez mais conhecida pela sua faceta de actriz, mas na América destaca-se no campo da música, tendo obtido 13 discos de ouro, 8 de platina e 4 de multi-platina. Quando combina as duas facetas o sucesso é praticamente garantido: o seu filme "The Rose", de 1979, um drama-musical inspirado em Janis Joplin, e para o qual foi nomeada para o Oscar de Melhor Actriz, foi acompanhado no ano seguinte de uma Banda Sonora Original de onde se destaca este "The Rose", o tema que dá nome ao filme. Better Middler tem 13 discos de originais gravados em mais de 40 anos de carreira.


E esta é a terceira vez que falo de Barbra Streisand nesta rubrica, depois do "post" dedicado a Jim Steinman, e o outro ao Dia da Mulher. Tal como Better Midler, Streisand concilia as carreiras de actriz com a de cantora, mas apesar de ter ganho um Oscar na sua estreia cinematográfica com "Funny Girl", de 1968, é na música que tem um currículo mais extenso, com 31 álbums gravados, 51 discos de ouro, 30 de platina e 13 de multi-platina. Um dos seus maiores êxitos dos anos 80 foi "The Way He Makes Me Feel", de 1983, do filme "Yentl", onde Streisand actua, e também realiza, produz e escreve. Barbra Streisand é uma das poucas artistas a ganhar um Oscar, Emmy, Grammy, e um Tony Award.


São inúmeras as divas da música negra norte-americana, que da "jazz", dos R&B ou da "soul", e de entre nomes como Diana Ross, Ella Fitzgerald, Patti Labelle ou Dionne Warwick, prefiro falar de Aretha Frankin, uma actriz com uma carreira de quase 60 anos (!), 38 álbums, 131 singles, 18 Grammys e 75 milhões de discos vendidos. Um dos seus discos platinados é "Who's Zoomin' Who", de 1985, que contém este "Freeway of Love". Actualmente com 71 anos, Aretha tem ultimamente passado por problemas de saúde derivados dos muitos excessos. Foram várias as vezes que ganhou e perdeu peso, e só deixou de fumar em 1992 - e quem a conhece diz que era um autêntica chaminé, se bem que isso nunca chegou a afectar a sua magnífica voz.


Nana Mouskori, cantora grega de renome, e provavelmente a maior de pois de Maria Callas, teve uma vida que se pode considerar cheia e diversa. Actualmente com 79 anos, nasceu na ilha de Creta, e a sua infância foi marcada pela ocupação Nazi da Grécia, com o seu pai a ser elemento da resistência grega. Iniciou-se no canto pouco depois disso, e nos anos 50 cantava em clubes de "jazz". Em 1960 gravou o seu primeiro disco, e em 1962 viajou para Nova Iorque pela mão de Quincy Jones, para gravar um disco de "jazz". No ano seguinte foi viver para Paris, a participou no Festival da Eurovisão pelo Luxemburgo, com o tema "À force de prier". Gravou mais de cem álbums em 14 línguas, incluíndo o português; um dos temas que interpretou em mais línguas foi "Liberdade", que originalmente gravou em francês no ano de 1981, com o título "Je Chante Pour Toi, Liberté". A malodia é de "Va, Pensiero", da opera "Nabucco", de Giuseppe Verdi. Mouskouri foi embaixadora da UNICEF e deputada no Parlamento Europeu pela Grécia entre 1994 e 1999. Retirou-se da música em 2008, ano em que celebrou 50 anos de carreira, mas regressaria aos palcos três anos depois,


Linda Ronstadt é uma cantora de "rock", "pop", "folk" e "country" nascida em Tucson, no estado norte-americano do Arizona, de ascendência mexicana, inglesa e alemã - é desta última que tem origem o seu apelido. Rondstadt é originária de uma família com grande história no Arizona, tendo os seus ancestrais sido responsáveis pelo desenvolvimento daquele estado, quer no comércio, fabrico de carruagens, música e farmacêutica. Linda iniciou-se na carreira musical nos anos 60, e desde aí já ganhou 11 Grammy e vários outros prémios, que na área do "rock", como no "country", onde ganhou dois Academy Country Music Awards, o galardão máximo para o género. Em 1987 Linda abre o livro do lado mexicano da sua família com "Canciones de Mi Padre", com temas completamente em espanhol, e que vendeu 2 milhões e meio de discos nos Estados Unidos, e mais de dez milhões em todo o mundo.


E finalmente Sarah Brightman, soprano inglesa, outra poliglota com um registo musical invejável. Estreou-se no canto aos 12 anos, e a sua primeira grande oportunidade surgiu em 1981 no musical "Cats", de Andrew Lloyd Webber, que terá ficado tão impressionado com o seu desempenho que casou com ela e tudo, três anos depois, num matrimónio que duraria até 1990. Durante esse tempo participou noutros musicais de Webber, como "Starlight Express" ou "Phantom of the Opera", onde aparece neste dueto com Michael Crawford. Nos anos 90, depois do divórcio com Webber, iniciou uma carreira a solo, onde foi só somar e seguir: 30 milhões de discos vendidos, mais de 2 milhões de DVDs, tornando-a na soprano mais vendida da história. Em 1992 gravou com Jose Carreras o tema "Amigos para Siempre", para os Jogos Olímpicos de Barcelona, e outros duetos famosos com artistas como Andrea Bocelli, Placido Domingo, Jackie Cheung, Ofra Haza e Richard Marx. Em 2013 grava o álbum "Harem", onde o tema de abertura, com o mesmo nome, tem a música de "Canção do Mar", de Frederico de Brito e Ferrer Trindade.

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