domingo, 22 de março de 2015

Ponham os olhos no Monchekokékoisa, moços!

Esta é a cidade de...uh...aquela de que vou falar agora.

Quando eu tinha sete ou oito anos, idade em que as crianças gostam de deixar o mundo saber que existem, e que estão aí para substituir os adultos quando estes já não se aguentarem nas canetas, gostava de impressionar os adultos com os meus conhecimentos sobre coisas que eles próprios desconheciam, como dizer-lhes que a capital da Mongólia é Ulan Bator, por exemplo. Outro dos meus "claims to fame" era conseguir pronunciar correctamente (atenção: não "bem", mas "correctamente") o nome de uma das equipas do futebol alemão mais difíceis de pronunciar para quem não teve o azar de nascer alemão: Borussia Mönchengladbach. O problema não está no "borussia", que rima com "pelúcia", e basta ter o cuidado de não carregar no erre para não sair um "bó-Russia", que mais parece um calão para designar a caganeira, mas é a cidade do estado alemão da Renânia-Vestfália do Norte que complica tudo. Bem vistas as coisas, Mönchengladbach são só quatro sílabas, como em "Alcobaça", só que ao contrário da cidade portuguesa conhecida por provocar nas pessoas uma inexplicável dependência que leva a que "não passem sem lá voltar" (no norte diz-se que "quem passa por Alcobaça deixa Tomar atrás", mas isso é desculpa de quem gosta de tomar atrás porque lhe dá gozo), esta localidade alemã situada junto da fronteira com os Países Baixos tem as quatro sílabas em alemão, e aquele trema em cima do "o", que já serve como um aviso de que se trata de algo que não foi feito para ser pronunciado pela nossa língua tuga, assim como Preußen Münster, para dar outro exemplo mais concreto.

Mönchengladbach fica próximo de Düsseldorf, que mesmo não sendo difícil de se pronunciar - basta "espirrar": ah...ah...dusseldorf! santinho - existe uma tradução em português, "Dusseldórfia", que não soa tão bem como outras traduções para cidades alemãs existentes no nosso léxico, como "Estugarda" (Stuttgart) ou "Munique" (München. Santinho), mas não é pior que "Francoforte" (Frankfurt). Ainda me recordo das latas de salsichas onde se lia "tipo Francoforte", e que por motivos de "marketing" passou novamente a "tipo Frankfurt". Pudera...quem vai comprar um produto tão propício a piadas brejeiras como são as salsichas com "Francoforte" lá escrito. Imaginem um alemão gorducho, calvo e bigodudo com camisola de alças e de calções segurando um prato de salsichas, e dizendo: "virrr aqui, menina...virrr provarrr salsichen de tio Frranco Forrte!". Por um lado ainda que não se lembraram de traduzir Mönchengladbach, senão ainda saía algo do género "Mocho-gladebáquia". E admiram-se? Se a tradução foi obra do mesmo caramelo que determinou que a capital da Tailândia se devia chamar em português "Banguecoque", não era nada de surpreendente. Fiz agora uma pequena consulta na Wikipédia e descobri que originalmente Mönchengladbach she chamava apenas "Gladbach", e que o "Mönchen" foi acrescentado para não ser confundida com outra Gladbach já existente, e que hoje tem o nome de de Bergischgladbach. Aí está, vêem como podia ser muito pior? E que tal Borussia Bergischgladbach?

Esta é a equipa do Borussia....er...o outro Borussia, que não o de Dortmund.

O tal Borussia Mönchengladbach já ganhou cinco campeonatos e três taças da Alemanha, e pode-se dizer que a década de 70 do século XX foi a era dourada do clube, que contava com grandes nomes do futebol teutónico da altura, casos de Jupp Heynckes, Uli Stielike ou Berti Vogts, e o treinador era o recentemente falecido Udo Lattek. O clube venceu duas vezes a Taça UEFA (1975 e 1979), foi finalista vencido em outras duas ocasiões (1973 e 1980), e ainda ficou perto de fazer história em 1977, quando perdeu na final da Taça dos Campeões com o Liverpool. Entretanto nos anos 80 e 90 entraram em decadência, e chegaram mesmo a descer à segunda divisão da Bundesliga em mais que uma ocasião, Entre as possíveis raz­ões que podem explicar esta quebra, inclino-me para uma conspiração da parte dos medalheiros e outros fabricantes de troféus, que não queriam adaptar o seu produto de modo a que o nome do clube coubesse nas taças. Para isto terão contado a cumplicidade da indústria dos marcadores electrónicos e da própria imprensa desportiva, que ainda hoje é obrigada a recorrer à abreviatura M'Gladbach, que mais parece o nome de um jogador zambiano de ascendência germânica. Poderiam ter resolvido o problema imitando a BMW, por exemplo. A conceituada marca de automóveis alemã nunca teria alcançado o mesmo sucesso se em vez da abreviatura que ostentam tivessem insistido no seu nome completo, "Bayerische Motoren Werke". Quem é que ia comprar uma "bomba" para impressionar as chavalas, para depois não conseguir pronunciar o nome da marca? O Borussia Mönchengladbach podia ter optado pelas iniciais "BMG", mas aí teria problemas com a produtora discográfica Bertelsmann Music Group (ainda bem que isto está escrito em jeito de sátira e como tal leva ao devido desconto, pois a produtora BMG só existe de 1987).



Só que ontem a equipa com um nome pouco comercial para vender camisolas fora da Alemanha voltou a viver uma noite de glória, tal como nos distantes anos 70, indo vencer no Allianz Arena o poderoso Bayern de Munique por 2-0. Isso mesmo, dois secos na casa do gigante papão que conta com uma maioria de campeões do mundo no seu plantel avaliado em cerca de 600 milhões de euros, e que em casa só tinha um empate em doze jogos, e 40 golos marcados. O brasileiro Raffael Caetano de Araújo, que joga na Alemanha há sete anos, e é possível que consiga pronunciar o nome do clube que representa desde 2013, foi o autor dos golos que derrubaram o próximo adversário do FC Porto na Liga dos Campeões, e que teoricamente deixa a equipa portuguesa na condição de "carne para canhão" entre os "bookers" das apostas desportivas. Não sendo possível contratar à pressa o Raffael, a alternativa passa por estudar minuciosamente o vídeo deste jogo, onde apesar do habitual domínio que exerceu em todos os aspectos, o "Super-Bayern" de Guardiola acabou por "mamar dois secos" em casa. Já estou a imaginar o presidente Pinto da Costa a encomendar a tarefa: "Bejam com atençone o bídeo do jogo, e aprendom a fazer igual ao Borussia Mun...Monche...Muche...o raio que os parta, carago".

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