Com os desejos de uma boa semana de trabalho, deixo-vos com o
artigo de quinta-feira do jornal Hoje Macau. O Bairro do Oriente regressa dentro de breves momentos.
A insistência das autoridades daqui e d'álem Cerco no tema da educação patriótica só pode querer dizer uma de duas coisas. Por um lado pode ser entendida como um sinal para a população no sentido de encetar uma progressiva integração das regiões de Macau e Hong Kong no primeiro sistema – sim, para quem ainda não sabia, as “mordomias” aqui usufruídas não durarão para sempre. Mesmo que de forma gradual, o mais importante é que se faça essa integração, e sempre e melhor a bem do que a mal, com militares nas ruas, tanques a passar por cima das flores (quais flores?), criancinhas a chorar, enfim, a loja dos horrores. Por outro lado pode-se entender isto mais como um apelo do que uma directiva, ou até um teste ao sentimento patriótico das RAE, que como se viu aqui ao lado em Hong Kong durante os feriados do Ano Novo Lunar, está longe de ser o ideal para os padrões dp Governo Central. Mas se é por ingenuidade, ou apenas para medir a temperatura à lealdade aos patriotas, o erro não está tanto no "quê", mas sim no "como" – não vai ser com vinagre que se apanham as moscas, e a ideia da educação patriótica é um dos vinagres mais reles e pobrezinhos que se vendem nesta mercearia. Estamos em pleno século XXI, no auge daquilo que os livros de História do futuro descreverão como "a grande revolução tecnológica", e a informação viaja hoje de um hemisfério ao outro em poucos segundos. Fardas militares, cantilenas ou juras de fidelidade à Pátria e quejandos são uma relíquia de um passado bafiento, do tempo em que não existia TV por cabo e muito menos “playstations”. Quem é que hoje em dia chora quando vê uma bandeira ou ouve o hino do seu país? Talvez um atleta quando acabou de ganhar o ouro olímpico, e sobe ao lugar mais alto do pódio, o que se entende, mas tirando essa honrosa excepcção, é de desconfiar – patriotismo a mais é quase sempre sintoma de um parafuso a menos.
A Polícia de Segurança Pública de Macau mereceu a censura de alguns opinadores pelas reservas que demonstrou quanto quanto à aprovação da lei que criminaliza a violência doméstica. Concordo, eu e a generalidade da opinião pública, que o papel das Forças de Segurança é o de fazer os cidadãos cumprir as leis, e não concordar ou discordar com elas. É de facto um pouco estranho que se venham agora manifestar a respeito desta legislação em particular, quando na maior parte das situações demonstram uma abnegação ao dever que se poderia descrever como "rígida", quando até seria interessante e oportuno darem uma opinião. O aumento das penas para o tráfico e consumo de estupefacientes é um bom exemplo disso, partindo da noção de que todos os agentes pensam da mesma forma, e são eles os encarregados de fazer o trabalho “sujo” – opiniões qualquer um dá sentado do sofá. Contudo dou o benefício da dúvida aos oficiais da PSP, mesmo que assim dê a entender estar a fazer o papel de advogado do Diabo. Vão ser os agentes da PSP que vão ocorrer às chamadas em caso de alegada violência doméstica, e que tipo de formação está a ser administrada para que possam eles decidir no momento se o caso segue para a esquadra e eventualmente para procedimento judicial, ou se foi apenas mais uma piela do marido ou o TPM da esposa. Sim, e “last but not least”, como se vai determinar a tal da intensidade, e cuja intepretação variável pode mesmo ter uma influência decisiva na tal da “harmonia” familiar? Para tentar entender melhor esta súbita aflição policial, nada melhor do que tentar colocar-me no lugar deles. E o que diria eu a quem me está a mandar calar e limitar-me a cumprir o meu dever? Olha, e que tal: “vai lá tu saber quem é que bateu em quem com o rolo da massa, e aturar o outro que diz que a tipa é uma vadia enquanto ela te diz as vezes que o marido deixou as cuecas no chão para ela apanhar”. Mas isso sou eu, que sou um refilão, em constante conflito “doméstico” comigo mesmo.
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