quarta-feira, 18 de março de 2015

O fim de um sonho: adeus, Rússia



Acabou, meus amigos. E ainda antes de ter começado. Esqueçam as aulas de russo, desencomendem as faixas onde se lia "Parabéns Macau, novo campeão mundial", e com que se ia receber a equipa da RAEM ao aeroporto, trazendo consigo o troféu Jules Rimet, de tão convincente que tinham sido as goleadas frente à Alemanha, à Holanda, ou à Colômbia (ao Brasil não conta por ser demasiado fácil). Macau falhou a fase de grupos da zona asiática de qualificação para o mundial de 2018 na Rússia. "Do svidanya i uti" - adeus, ó vai-te embora, no idioma de Putin. O adversário foi matreiro, velhaco. Sim, tenho razões para desconfiar que o espírito de Pol Pot foi o 12º jogador do Cambodja, e tornou o Estádio da Taipa num dos seus campos da morte - da morte do conquistar o mundial da Rússia, o que aconteceria com toda a certeza caso fosse dada à selecção da lótus a oportunidade de lá ir. O problema é a qualificação: as equipas são demasiado fracas. Os jogadores de Macau são de um apuro técnico elevadíssimo, de uma cultura táctica que não é para esbardalhar contra o Cambodja e quejandos.

Macau levava uma desvantagem de três golos do jogo da primeira mão em Phnom Phen, e os "bambini", os "ragazzi", os "niños" de Tam Iao San sabiam o que precisavam de fazer: vencer por quatro. Fácil, nada de extraordinário até aqui. O problema foi que aos 28 minutos o Cambodja beneficiou de um livre directo em zona quase frontal à baliza de Macau, e um tal de Thierry Bin, que nasceu em França, uma situação altamente irregular, bateu direitinho para o fundo das redes de Ho Man Fai. Reparem no lance, e vejam como o indivíduo AGRIDE um defesa de Macau, rematando quiçá intencionalmente na direcção da sua cabeça, sem imaginar que a bola faria um efeito que a levasse para o golo. Agressão de um jogador que nunca devia lá estar, para começar. Feio, feio. Não admira que as pessoas deixem de ir aos estádios, como aliás se viu ontem na Taipa. Este golo veio mudar o cenário inicial, e a RAEM precisava agora de marcar 5 golos para passar à fase de grupos, que seria uma mera formalidade para chegar à Rússia em 2018. Não foi para isso que estes jogadores pediram dispensa dos seus serviços da parte da tarde; estes atletas são rigorosos e disciplinados, e se era para marcar quatro golos, era quatro golos que iam marcar, nunca cinco.

Mesmo assim a rebeldia levou-os ao empate, com Leong Ka Hang a marcar de grande penalidade, assinalada após uma falta ASSASSINA de um defesa do Cambodja. Ou médio, uma vez que o Cambodja só veio com três defesas, e um deles é o já referido Thierry Bin, que por ser francês não conta. Por tudo isto que aqui referi...o quê? Isto, quer dizer, não se faz, ganhar a Macau em casa e depois vir aqui fazer-se de convidado abusador e não retribuir a gentileza. Falta de cavalheirismo, e eu nem esperaria outra coisa do Cambodja, que se estiverem lembrados, teve um comportamento idêntico em Taiwan, quando lá foi em Outubro do ano passado disputar um encontro que devia ser de carácter AMIGÁVEL, e venceu os seus hospedeiros, que tão bem os receberam, por uns secos 2-0. Ricos amigos, sim senhor. Fica a Rússia à distância de uma sonho, mas os atletas de Macau saíram de cabeça erguida, indo de seguida para casa jantar e depois dormir, que hoje era mais um dia de trabalho. Uns foram de autocarro, e acredito que outros que moram na Taipa não se importaram de ir a pé.


PS: No "site" da AFC lê-se que estavam 1000 (mil) espectadores no Estádio da Taipa à assistir à partida. Pelas imagens que vimos na televisão percebia-se que se estivesse realmente ali um milhar de pessoas estariam todas sentadas na mesma bancada, e ao colo umas das outras. Acho que isto se deve ao facto do número mínimo para o qual a AFC e a FIFA arrendonda os números é mil, portanto contadas as 68 cabeças (incluíndo jogadores, árbitros, técnicos e restante pessoal afecto às equipas), arredondaram para 1000.

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