Dos personagens com que nos cruzamos enquanto calcorreamos a estrada sinuosa da vida há aquelas com que nos recordamos com uma certa nostalgia, e entre elas estão certamente as ex-namoradas. Para quem teve pelo menos uma mão cheia de namoradas lembra-se dos momentos mais bem passados, especialmente se a relação terminou em termos amigáveis. Há outras que nos deixam alguma saudade, e como estou aqui a falar de mulheres e por isso este discurso é mais dirigido ao público masculino, alguns devem estar lembrados de como foram um sacristas e uns sacaninhas com as miúdas, que até gostavam de vocês, mesmo o afecto por vezes se manifestasse de uma forma mais...inconstante, chamemos-lhe assim. Cenas de ciúmes acompanhados de escandaleira, objectos volumosos em metal maçico arremessados ao crânio, arranhões com os quatro dedos deixando marcas visíveis da testa até ao queixo, tudo demonstrações de que afinal ela gostava mesmo era de nós - era amor. Nestes joguetes do amor, alguns homens reagem menos bem às investidas femininas, e num momentâneo lapso da razão esquecem-se que o que não falta por aí são "vaguinas" - vaginas vagas. Fora do controlo, no estado emocional que mais nos aproxima do cachorro rafeiro, alguns homens cometem os maiores disparates, e os que têm sorte de sair ilesos desse desvio da estrada da sanidade dão-se a pensar com os seus botões: "que merda...o que me passou pela cabeça?". Outros menos afortunados são levados a cometer actos de que muitas vezes se pagam caro, ou que não têm redempção possível pela via do arrependimento: cometem homicídio, homicídio e depois suicídio, apenas suicídio, homicídio com um uma pitada de suicídio, suicídio mas bem passado, enfim, percebem onde eu quero chegar. No extremo, e com a razão bem longe da prateleira onde devia estar arrumada, a cachola, cometem um disparate que lhes vale um lugar na História. Isto noutras circunstâncias parece uma boa ideia, daquelas que nos faz sorrir de orelha a orelha abanando a cabeça num gesto afirmativo. Mas se vos disser que se trata aqui de despenhar um avião contra uma montanha na companhia de centena e meia de passageiros inocentes em pânico e soltando brados de horror, são capazes de assumir uma expressão mais fechada e dizer "não, isso já não".
O co-piloto da Germanwings (aí está um exemplo de uma companhia que ninguém conhecia e entrou para a História pelas piores razões) Andreas Lubitz era um tipo bestial, amigo do seu amigo, apaixonado pela aeronáutica, como qualquer jovem nazi que se preze, e mantinha a forma praticando diariamente "jogging", como aliás tem sido possível constatar pelas inúmeras imagens suas a correr publicadas na imprensa nos últimos dias. Subitamente entra o factor "X", e o "x" marca o lugar, neste caso onde o jovem Lubitz deixou o tino: com a namorada, ou a ex-namorada, ou a namorada que não foi, passou a ser e depois deixou de ser, e isto a repetir-se até o rapaz enlouquecer, e agora descobriu que "está grávida", isto segundo os tablóides britânicos - só pode ser verdade, portanto. A relação entre ambos era, como a própria descreve, "atribulada", e a "femme fatale" de 26 anos que apenas se identificou como "Maria" (e eu pensava que isto era só mania dos portugueses) afirma agora que "já sabia" que o namorado ia cometer um acto tresloucado desta natureza, daqueles mesmo grandes. O rol de pistas nunca mais tem fim: era perturbado, ciumento, possessivo, andava a ser medicado, tinha a retina deslocada, em suma, só faltou dizer que tinha pila pequena, perna de pau e cara de mau, ressonava, tinha mau hálito e pé-de-atleta. O que não se inibiu de contar, demonstrando que tem uma memória fantástica, foram os planos de Lubitz de "fazer um disparate" precisamente na mesma montanha onde se foi espetar com o avião cheio de gente que nada tinha a ver com isto metida lá dentro. Sabendo de tudo isto, o que fez ela? Avisou as autoridades ou a companhia aérea onde o namorado trabalhava para a eventualidade dele ter rebentado um fusível e não estar em condições de voar? Alertou alguém para o facto dele ignorar os atestados médicos que comprovavam ser uma pessoa instável e sem condições para exercer a sua profissão? Na, isso é para meninas; o que a valentona fez foi esperar que fosse tudo com os cães e depois veio dizer que "já sabia de tudo". Eu no lugar dela tinha ficado calado, mas já que a sua língua não cabe arrumada atrás dos dentes, pelo menos pedia ao jornalista a quem cometeu estas inconfidências para alterar a data da entrevista para antes do dia 23 - quando ainda tinha alguma relevância.
Se alguma senhora ainda não fechou esta janela indignada, comentando "que homem tão ordinário" referindo-se à minha pessoa, e ainda está a ler, deixe-me perguntar-lhe: o que faria no lugar desta flausina, desta desgraçada, desta amostra de gente? A) Mantinha o anonimato, salvaguardado a sua dignidade e de toda a gente que sofreu com a tragédia, apesar de se ter de resignar ao peso da consciência, assaltada subitamente a meio da noite por pesadelos induzidos pelo pensamento de que podia ter feito para evitar esta desgraça, ou B) soltava a língua, desbobinava a história toda para que o mundo ficasse a saber que é uma pessoa muito informada, e no processo insulta a memória do ex-namorado, das vítimas, e fica na lista de "pessoas que devo matar" dos familiares dos passageiros que perderam a vida naquele fatídico voo de uma forma estúpida, mas que você poderia ter advertido. Eu sei que é uma escolha difícil, como escolher a cor dos cortinados ou um novo par de sapatos. Mas talvez eu esteja aqui a ser inconveniente, e a fazer julgamentos de valor, pois a leitora, assim como muitas outras e leitores devem estar revoltada com a atitude deste assassino, etc., ertc. e sente a mesma raiva que a senhora que deixou este comentário na página electrónica do Jornal Sol:
Não me venham atirar areia aos olhos para desculpar o que não se pode desculpar. Da Ponte sobre o Tejo atiram-se pessoas frequentemente, mas não levam ninguém atrás. Ora este quis levar mais de uma centena com ele, incluindo bebés! Desculpem lá, mas, mesmo como cristã, para mim estas acções não têm perdão, até porque se fechou deliberadamente na cabine e não abriu a porta. O rapaz era doido suicida, mas com maus instintos, instintos criminosos, é o epílogo desta funesta história.
Esta "cristã" deve estar fora do prazo, pois quem não saiba nada do que se passou (só se viver no mato) vai pensar que o triste do Lubitz andou a travar amizade com cada um dos passageiros, a ver álbuns de fotografias e a inteirar-se das suas vidas, sonhos, planos, ambições, ficando ainda ao corrente de quem os esperava do outro lado da viagem, atingindo uma transe orgásmica enquanto escutava os casos mais comoventes, e depois de espetar o avião contra a montanha sacudiu as calças e foi para casa a rir-se. Ah, e pelo caminho esfolou um coelhinho e deu um pontapé num cachorro. Para estas pessoas deviam-se procurar vestígios do ADN de Lubitz na fuselagem e metessem cada peça que encontrassem no tribunal, e depois na cadeia. Ou ainda melhor: "fazer-lhe o mesmo que é para ele aprender", um apanágio das cristãs como esta senhora.
Talvez a "Maria" pensasse o mesmo se soubesse de uma notícia destas, mas que não fosse nada com ela, é óbvio, pois pimenta no cu dos outros é refresco. Talvez venha agora dizer do namorado o que Maomé não disse do toucinho para bem da criança que leva consigo, pois...não, isso não faz sentido nenhum, como nada disto fez sentido, e esta expressão popular com Maomé aplica-se na perfeição à tal "Maria, mas com uma diferença fundamental. É que enquanto o Maomé comeu o toucinho, não gostou e disse mal, esta adorou o chouriço do "maluco", e agora ainda vem com coisas. E mais: o toucinho do Maomé não foi pegar num avião e cometer uma loucura, agora o outro. Tenho pena da criança, e repito: não sei o que vai na cabeça desta rapariga, e de todas da mesma talha. Pelo menos o outro está morto, e já não chateia ninguém.
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