sexta-feira, 13 de março de 2015

A liga dos últimos (versão asiática)

Que bela m... de futuro, esse.

Mas não foi só de Cambodja-Macau que se fez a pré-eliminatória da zona asiática de qualificação para o mundial que se vai realizar na Rússia daqui a 3 anos - se a Rússia não acabar com o mundo antes disso, entenda-se. A AFC, confederação asiática filiada na FIFA, realiza este "play-off" a duas mãos entre as 12 selecções do fundo do barril, perdão, do "ranking", para que depois não se verifiquem muitos resultados de 10 ou 15 "secos" entre as equipas o Japão, Coreia do Sul ou países da península árabe e do golfo contra outras que ainda não sabem bem o que é o futebol, como se joga, ou como foram ali parar a Tóquio, quando ainda há dois dias trepavam num coqueiro ou caçavam focas para o jantar.



E por acaso é um de cada desses exemplares que tenho para vos mostrar primeiro: Timor-Leste e Mongólia, duas dessas selecções que nem nos seus sonhos mais húmidos entrariam num mundial de futebol - acho que nem constam da lista de equipas do Championship Manager para a PlayStation. Timor-Leste, onde só existe dois hotéis no país inteiro, tem um estádio a que deu o originalíssimo nome de "Estádio Nacional". Ena. Vá lá, vá lá, que vindo de quem vem, podia muito bem chamar-se "Estádio dos Mártires da Pátria", ou "Estádio dos Heróis da Independência" ou outra merdeka dessas. Pela frente tinham a Mongólia, onde o campeonato está interrompido devido à pausa de inverno - ou seja, o ano inteiro. O seleccionador de Timor-Leste é...(pausa para dar tempo aos patrioteiros tugas que pensam que é um português)...Davide Ballardini, um italiano que treinou...EQUIPAS ITALIANAS, pasme-se. E não foram uns "mamma mia, que spaghetti" quaisquer, pois do seu currículo constam passagens pelo Cagliari, Genoa, Lazio e Palermo, e sempre como treinador principal - não vão começar a pensar que o roupeiro de uma equipa da Serie A tem categoria para treinar a selecção de Timor-Leste.

Chiquito, o goleador, mais um jogador mongol correndo atrás do mundial da Rússia (ou fugindo dele).

Bem, o Palermo, que não deve receber em cocos para treinar, deu-se bem, e os timorenses GOLEARAM a selecção mongol (atenção: "mongol", e não mongolóide) por expressivos 4-1. Estas imagens recolhidas pela televisão da Mongólia mostram alguns lances do encontro, que apesar de eu não ter visto (duh...) tenho razões para suspeitar que foi "incaracterístico", nem que seja pela marcha do marcador. Assim aos 4 minutos Timor fez o primeiro por Chiquito, avançado da equipa indonésia do PS Waibaku, e cujo nome próprio é mesmo Chiquito (?). Assim sendo, e embalado pelo golo madrugador, Chiquito fez outro logo três minutos depois, levando ao delírio os 9 mil adeptos nas bancadas do Stadio Nasional (mas que raio, não foram para lá professores de Português e o camano?). Mas só voltaria a haver golos no segundo tempo, e quando digo "segundo tempo", quero dizer "ao cair do pano"; Rodrigo fez o 3-0 aos 84 minutos, e no minuto seguinte Jairo Neto fez o quarto golo mauber, para aos 87 um tal Batmunkh Erkhembayar (santinho, e não te constipes) fazer o golo de honra dos mongóis. Com esta cadência na marcha do marcador, dá vontade de perguntar: o que andaram a fazer estes gajos dentro do campo entre o minuto 8 e 83, ou seja, durante 5/6 do jogo? Eu diria que estavam a contemplar a frondosa vegetação que rodeia o recinto onde foi disputada a partida, uma daquelas coisas tão castiças que depois a FIFA orgulha-se em ostentar enquanto conta o carcanhol sacado a países como a Alemanha, a França, os Estados Unidos ou o Japão, onde não se encontra nem uma trepadeira junto de um dos balneários dos estádios. Agora a eliminatória segue para as estepes da Mongólia, onde os mongóis têm que vencer por 3-0 para chegar à fase de grupos. Penso que era mais fácil se lhes pedissem para mugir uma burra.



Agora muita atenção, que esta imagens são históricas, e ensinam uma verdadeira lição de humildade (mais humilde é impossível). Numa outra partida da primeira mão deste "play-off" aconteceu um escândalo de proporções épicas: o Butão venceu o Sri Lanka, e no reduto deste último! Agora que estão a pensar "e depois?", fiquem sabendo que o Butão é o último classificado do "ranking" da FIFA, ou seja, a pior selecção do mundo. Na realidade nem deve ser, pois basta uma destas selecções que nunca ganha ficar sem jogar três ou quatro meses para cair no último lugar daquele "ranking" idiota, mas tecnicamente, foi assim mesmo, um David contra um Golias, mesmo que moribundo, coxo e zarolho, este Golias do Sri Lanka. Tudo aconteceu no Estádio Sugathadasa, em Colombo do Sri Lanka, onde 3500 adeptos cingaleses esperavam assistir a uma vitória da sua selecção, e assim aliviar a comichão de que tantas vezes é acometido o orgulho tamil, e para o efeito nada com os tenrinhos butaneses, vindos directamente dos Himalaias para fazer de caril nessa noite. Mas enganaram-se, estes compatriotas do Ceylon Tea, e de nada lhes valeu estrelas do calibre de Chathuranga Sanjeewa, mais conhecido como "O Maradona dos papadoor", ou ainda o prolífico avançado Nipuna Bandara, que apontou 2 (dois) golos em seis internacionalizações, ou o facto de terem um selecionador sérvio, um tal Nikola Kavazovic, que se celebrizou na Tajiquistão, onde orientou o grande F.C. Istiklol, e de seguida a selecção. Ou muito me engano, ou depois deste resultado o senhor vai mudar de nome para "Kava e Bazovic Dakipraforovic".

E o Butão ganha mais um herói, para juntar a...hmmm...aos heróis do Butão.

Conheçam Tshering Dorji. Vinte e um anos. Butanês. Jogador de futebol. Herói. Agora que está prestes a assinar por um dos grandes clubes europeus e o seu nome vai ecoar por todo o universo infinito, um conselho: chamem-no pelo nome completo, ou em alternativa por "Tshering". Isto porque o seu apelido, "Dorji", é tão comum no Butão como "Silva" em Portugal, com a diferença de Dorji ser um dos maiores e mais respeitados clãs dos Himalaias. Quanto aos Silvas, bom, há de tudo, como na farmácia. Realeza ou não, o rapaz é um herói, e certamente que este feito lhe vai garantir pelo menos um suplemento vitalício de banha de iaque, oferecido pelo rei/marajá/emir/maioral/Grande Estrumfe ou seja lá quem for que toca nos botões lá do Butão (lol).



Agora para os leitores sportinguistas: encham o peito de orgulho, pois um ex-leão esteve em grande destaque ontem, ao apontar os dois golos da vitória da sua selecção na qualificação para o mundial! Está bem, o Porto está nos quartos da Champions, e no campeonato o Benfica não se vê nem de binóculos, mas quantos jogadores ou ex-jogadores do Porto marcaram ontem dois golos em jogos a contar para o apuramento do mundial, uh? Ah bom. E falo, é claro, de Sunil Chettri, que passou por Alvalade na época de 2012/2013, onde fez três jogos pelo Sporting "B", tendo apontado nem mais nem menos que zero golos. Números redondos, como convém para uma avançado como é o Chettri. O seu "vindaloo" deixou saudades em Alcochete, onde já era popular entre os locais, que adoravam ir lá provar "da mixórdia do monhé", como carinhosamente lhe chamavam. Ontem o mundo rendeu-se a Chettri, que bisou na vitória da India sobre o Nepal por 2-0 - um "derby" e tudo, pá. Bem o mundo não sei, tenho dúvidas quanto ao sub-continente indiano, e acho que os 11 mil espectadores contabilizados no Estádio Indira Gandhi em Guhati foram lá pensando que se tratava de uma partida de "cricket". Mas pronto, foi um dia diferente para o Chettri. Pelo menos diferente dos dias em que era jogador do Sporting...



Mas não pensem que os indianos ignoram este feito. Nem pensar. Reparem como até fizeram uma canção para apoiar a selecção nesta sua campanha rumo ao mundial russo, onde só entrarão nos estádios se comprarem bilhete, é lógico. Vendo bem as coisas, se 0,1% dos indianos gostasse tanto de futebol ao ponto de ir até à Rússia apoiar a equipa, seria qualquer coisa como 100 mil indianos! Lá ia o Putin buscar a caçadeira e mandar os tanques para a rua. Não é à toa que partilham milhares de quilómetros de fronteira: é para ficar cada um do seu lado da mesma.



Nas restantes partidas que ninguém guardará para a posteridade, o Brunei foi a Taiwan vencer por uma bola a zero, lá, lá, lá, mas o melhor resolvi guardar para o fim: a partida entre o Iémen e o Paquistão. Assim à partida a tendência é para que em vez de se perguntar o resultado se pergunte "quantos mortos?", mas convido-vos a ver o vídeo, que é só rir. Primeiro o estado está cheio...de ar (mulheres é que não devia haver, nem uma para a amostra), e tanto as incidências do desafio como alguns detalhes que o rodearam são só rir. Spoiler: ao minuto 1:28 os iemenitas marcam um golo, juntam-se todos e ficam de cu para o ar. Ah sim, isto é que é a verdadeira essência do futebol, e como o campeonato do mundo devia ser.

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