A selecção de futebol de Macau perdeu ontem por 3-0 no Cambodja, jogo da primeira mão da pré-eliminatória da zona asiática de qualificação para o mundial de 2018, que se realizará na Rússia. A selecção agora orientada por Tam Iao San estava relativamente confiante para esta partida, e até numa eventual passagem à primeira fase de grupos, que antecede um outra cujos dois primeiros classificados garantem uma vaga na fase final do mundial da FIFA, enquanto os terceiros jogam um "play-off" que dá acesso a outro com uma selecção da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF) ou da América do Sul (CONMEBOL). Mas muito, mesmo muito longe deste cenário estava o desafio entre a selecção de Lótus e a sua congénere cambojana, disputado no "Army Stadium" em Phnom Phem, que como demonstram as imagem lembra um desenho animado esquisito, como aqueles da Checoslováquia que o saudoso Vasco Granja passava no seu programa dedicado à animação. "Army Stadium" significa "estádio do exército", ou seja, a selecção da casa usou uma manobra de intimidação, deixando no subconsciente da nossa rapaziada um sentimento de receio em levar um balázio no caso de vencerem a partida. É nestas coisas que a FIFA não põe os olhos em cima, enfim. No entanto Macau até se bateu bem, e pode-se queixar de alguma falta de sorte - ou de pernas. Isto porque a meia-hora do final do encontro o resultado encontrava-se empatado sem golos, e foi preciso preciso o treinador coreano Tae-Hoon Lee (miseráveis, a precisar de um treinador estrangeiro...) tirar do banco a sua arma secreta. Quem?
Vata-quê? Vai tu!
Este: Chan Vatanakha, grande estrela do futebol cambojano em geral, e da sua equipa em particular. Nem preciso de vos dizer que a equipa a que me refiro é o Boeung Ket Rubber Field, actual segundo classificado do super-competitivo campeonato do Cambodja, e do qual já campeão em 2012, e vice-campeão nos dois anos seguintes, curiosamente após a entrada deste a que chamam "a segunda maravilha de Angkor Wat" (a primeira é o famoso templo, pois). Mas os entendidos nestas andanças do futebol, cuja apreciação requer um gosto muito selectivo, estão certamente recordados das exibições e dos golos deste jovem de 21 anos nas partida contra o Build Bright United em Julho último, a contar para o campeonato, e que terminou numa vitória por 10-5 para o Boeung Ket, ou na partida para a Taça contra o FC Battambang, no mês passado, que terminou em 10-2 - tudo resultados normalíssimos no Cambodja, pois dali ninguém arreda pé sem que os espectadores vejam pelo menos oito golos, que é para isso que vão à bola.
Olha para estes, que até parece que nunca ganharam a ninguém. Hoje foi feriado no Cambodja e tudo.
Vatanakha começou a partida no banco, o que logo deu a entender que se tratava de uma canalhice do treinador coreano do Cambodja, que o mandou entrar aos 55 minutos para fazer dois golos para o Cambodja, aos 64 e 81 minutos. Primeiro numa jogada em que aguenta a carga da defensiva de Macau (no mundo do futebol a sério aquilo chama-se "marcação deficiente", mas deixem lá), e outra de livre directo, que não deu hipóteses de defesa...bom, o guarda-redes não se mexeu, mas o livre foi bem apontado na mesma, com força (a bola chegou lá) e colocação (...e entrou). Se o resultado já era comprometedor para as aspirações macaenses, tudo piorou com o terceiro golo do Cambodja, obtido por Khuon Labouvary (outra referência do futebol cambojano), e já quatro minutos depois da hora, imaginem só! A arbitragem foi aliás bastante caseira, e outra coisa não seria de esperar de um juíz de Hong Kong - é o mesmo que colocarem um árbitro catalão fanático do Barcelona a apitar um jogo (qualquer um) do Real Madrid. O jogador Alexandre Matos, da selecção de Macau, viu o único cartão amarelo do encontro, mas não acredito que do outro lado não tivesse havido que merecesse um cartão amarelo, ou até vermelho. Por exemplo, Chhin Chhoeun deveria ter sido expulso, por excesso de "agás" no nome. Se realizassem o controlo anti-doping, detectavam-lhe logo abuso de consoantes mudas, e talvez cantasse outro galo lá na capoeira de Phnom Phen.
Sim, sim, meus queridos, o tio Sokha arranjou um brinquedo para os meninos brincarem.
Mas qual cartões, qual anti-doping, qual quê. Eis a prova que este jogo tinha que dar Cambodja, senão ninguém ia sair dali com vida. Este na imagem é o General Sao Sokha, presidente da Federação de Futebol cambojana, acumulando funções como comandante da polícia militar. Ahh...pois, isto deve ser "por acaso", uma feliz coincidência, ou então é porque no Cambodja só há 15 milhões de habitantes, e daí que para colmatar a falta de matéria humana seja preciso que alguns beneméritos voluntários acumulem cargos daqueles mais chatinhos, que ninguém quer. Ah 'ganda Sokha, que te sacrificas para dar com a moca na malta se não te aviam uma notinha, não é meu grande Khmer? Reparem no tratamento carinhoso que dá aos jogadores do Camboja, como se fossem galos de combate a quem ele arranjou uma franga magrinha para eles depenarem.
Não foi bem esta a selecção de Macau que jogou ontem, mas tanto faz: same same, but different.
O jogo da segunda mão realiza-se na próxima terça-feira no Estádio de Macau, na Taipa, e não se prevê que a equipa de Tam Iao Sam consiga dar a volta ao resultado negativo trazido lá da parvalheira. Pelo menos não vai contar com 8 mil adeptos nas bancadas, como aconteceu com o Cambodja - se tiver oito já não é mau. No entanto pode-se considerar isto "um progresso", pois recorde-se que há quatro anos no apuramento para o Brasil 2014 a selecção de Macau jogou com o Vietname nesta fase, perdendo por 6-0 em Saigão e outra vez por 7-1 em casa. Concordo com a interrupção de um mês do campeonato local para preparar estes jogos, e de facto valeu a pena, Não fosse pela pausa para este compromisso patriótico, e se calhar tinham perdido por quatro golos. Ou mais! É isso mesmo malta, a esta velocidade vamos ver as cores da RAEM no mundial de 2276. Se não for antes!
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