quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Crónica de um dia de tufão


Foi hoje dia de tufão em Macau. E mesmo em cheio: sinal nº 8 hasteado de manhãzinha e baixado ao final da tarde, o que permitiu que a esmagadora maioria da população gozasse um dia de férias a meio da semana, como deve ser. Confesso que fico entusiasmado cada vez que uma tempestade tropical se aproxima do território e existe uma forte possibilidade de poder ficar em casa, naquela moleza que tão bem sabe, a recuperar horas de sono, a beber um copo ou a ver um filme enquanto de ouve o vento a assobiar e a chuva a bater na janela.

Uma colega minha diz que desejar a chegada de um tufão é “mau”.Quer dizer, pode ser mau para as populações pobres das Filipinas, do interior de Taiwan e da China continental, que vêem os seus haveres destruídos e chegam mesmo a haver vítimas mortais devido a quedas de objectos, desmoronamentos e cheias, mas aqui em Macau e na vizinha Hong Kong, protegidos que estamos pela selva de betão que nos rodeia, está-se bem. Seria ouro sobre azul se todas as tempestades tropicais viessem aqui mostrar toda a sua força, onde o homem conseguiu vencer a sua natureza, do que nas tais regiões deprimidas que referi.

Um dos mitos que mais se propaga quando há tufão é que “a maioria do comércio está encerrado”. Serviços públicos, sim. Terminal de jetfoil e aeroporto, claro. Mas o comércio em geral está abertinho da Silva. Não há dia melhor para o comércio do que um dia de tufão. Não sei quanto ao mercado municipal, mas pelo menos todas as padarias, mercearias e supermercados da minha zona de residência funcionavam em pleno a meio desta manhã, algumas horas depois da protecção civil ter recomendado aos cidadãos “que permaneçam em casa” (40 acidentes rodoviários comprovam o que valem as recomendações). Até alguns cafés, lojas de sopa de fitas e até algumas bancas de venda de jornais e revistas se encontravam abertas.

Durante o tufão alguns cidadãos têm o hábito de comprar tudo o que precisam e que não precisam. Bens de primeira, segunda e vigésima-oitava necessidade. Foi interessante mais uma vez observar o ar de desespero com que ocorrem aos supermercados, atropelando-se para obter garrafões de água, sacas de quilos de arroz e dúzias de pacotes de massa instantânea como se se tratasse do próprio dilúvio. Ai não, nunca se sabe. Também se riram do bíblico Noé, e depois foi o que se viu. Compram sobretudo porcarias que nunca vão consumir, como latas de conservas, leite, van tan congelados, tudo o que assegure sustento para as próximas duas ou três semanas.

Hoje no San Miu, aqui perto de casa, assisti a uma senhora que se abraçava ao maior número de garrafas de água mineral (da Vita) que podia, não fosse a água potável faltar lá em casa, apesar das litradas de chuva que têm caído estes últimos dois dias. Mais braços tivesse, mais garrafas levava. As empregadas da caixa ficavam quase histéricas quando não conseguiam passar um código de barras arranhado, enquanto os fregueses esperavam impacientes para ser atendidos. São reacções normais a este tipo de caprichos da natureza, pois nunca se sabem os caprichos de Eolo, deus grego dos ventos, ou Indra, a deusa hindu das chuvas e trovões. Entretanto está aora hasteado o sinal nº 3, e amanhã é outro dia de trabalho, e volta tudo ao normal. Valeu-nos Santa Bárbara.

4 comentários:

Anónimo disse...

nem consegui ler este post até ao fim...esta ideia de tufao é bom para ficar em casa nao consigo entender...e a cauda do tufao tb gosta???? eu cá odeio chuva e tempestades...

Leocardo disse...

Prefiro ficar em casa com tufão do que ir trabalhar com bom tempo. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Já somos dois. O anónimo não deve ser de Macau.

Leocardo disse...

Não é isso que me aborrece, mas o facto do senhor/a não ter sequer lido o artigo até ao fim. Não é sobre se eu gosto ou não de tempestades, ou se são boas ou más.