O cancro é fodido. Faz-nos lembrar da nossa frágil condição de humanos, a quem basta que alguém nos acerte na cabeça com uma moeda de cinco patacas de um vigésimo andar qualquer para que ganhemos um lugar cativo no jardim das tabuletas. Todos conhecemos alguém que morreu de cancro, e na maioria dos casos é alguém na nossa família, ou grupo de amigos, ou ambos. A notícia de que "há um tumor" deixa o maior dos duros de cabelos em pé. Até que se confirme "se é maligno" é o desespero, depois a conformação, depois outra vez o desespero. Os mais pragmáticos fazem planos, tratam dos bens, recusam o tratamento se sabem que é irreversível, chora-se baba e ranho entre os entes queridos, e depois definha-se devagar. É uma merda.
Ficamos a saber que Paul Newman tem cancro. Que está de saída deste mundo. Que falta pouco para que seja recordado, para que se fale dele durante uns tempos, se rendam as devidas homenagens, e que depois seja vetado ao esquecimento. Newman tem 83 anos e cancro do pulmão. Não quer que se fale nisso, quer passar os últimos momentos junto da família, e quer morrer em casa. Por um lado é bom que se despeça lentamente de todos antes de partir a caminho do desconhecido, por outro lado é mau que não possa usar e abusar da máxima que todos usamos para a morte, "a hora é incerta". Para ele é algures entre agora e as próximas semanas ou meses.
A auto-estrada da informação deixou-nos saber que Patrick Swayze ( o tal actor de
Ghost) tinha cancro. Foi noticiado em Março, e o actor fez quimoterapia e removeu metade do estômago. Recentemente foi visto "em grande forma" e disse que se sentia bem. Bobby Robson, 75 anos, o célebre treinador inglês que passou pelo FC Porto e Sporting, foi diagnosticado com cancro pela quinta vez desde 1991. O simpático
sir já cconfessou sentir-se "mais para lá do que para cá". Ficamos a saber tanta coisa que não interessa. Há tempos um inglês ganhou uma quantia considerável ao apostar que "estaria vivo" naquele tempo, quando lhe foram dados poucos meses de vida quase um ano antes. As probabilidades iam todas contra ele.
Quero celebrar Paul Newman agora. O actor que participou em 82 filmes, venceu um óscar, um globo de ouro e mais um sem número de prémios. Os seus olhos azuis e charme sedutor encantaram gerações, que levou ao cinema e os fez sonhar. Foi
Rocky Graziano,
Billy the Kid,
Butch Cassidy,
Roy Bean, entre outros, todos num só. Nem quero saber se está a morrer. Só me interessa que esteve bem vivo. E assim vai continuar, que já ganhou o estatuto de imortal.
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