O que têm em comum as personagens que vemos nas duas imagens, e penso que não é necessário acrescentar que não se incluem os agentes da autoridade? Aparentemente nada, e quem esteja por fora do que se passa nesta latitude vai ver apenas um bebé queriducho na fotografia da esquerda, e na direita um "cota" com uma aparência suspeita, que apanharam na piscina a espreitar para o balneário das senhoras. Mas na realidade estas imagens têm uma enorme carga política - isso mesmo, e se por acaso o vosso telemóvel se encontra a bateria quase no fim, dá para encostar ali e carregá-la (não dá, a sério, não tentem porque depois fazem fraca figura). O que aconteceu foi o seguinte: aquela criancinha inocente que nem limpar o cu sabe (se alguém tiver a coragem de negar...) é uma "ameaça à segurança interna de Macau". Porquê, é radioactiva? Não, por causa do seu nome, e nem sequer se chama Lúcifer ou Dalai Lama, mas sim Ho Chun-Yan. E porque é que isto é mau? Porque é exactamente esse o nome do senhor que vemos na imagem da esquerda, que é um perigosíssimo terrorista, e por isso está impedido de entrar em Macau, pois consta de uma tal "lista negra" que ninguém sabe muito bem onde está, que nomes nela constam, ou que critérios foram utilizados na sua elaboração. O bebé e os respectivos paizinho e mãezinha, gente de Hong Kong, não devem estar a par deste importantíssimo pormenor, e então toca de embalar a trouxa e zarpar na direcção da RAEM para "filmar as Ruínas de S. Paulo". Está bem, está. Contem outra, que também houve uma vez que uns certos tipos disseram aos pilotos de uns certos aviões que queriam "filmar o World Trade Center em Nova Iorque", e pediram-lhes para "passar lá perto", e depois foi o que se viu. Deste modo estes três tristes turistas foram obrigados a dar meia volta e regressaram a Hong Kong, pois o pequenucho é um elemento perigosíssimo para a segurança da região, mas apesar disso não sabe voltar para casa sozinho. Imaginem só vocês que nem consegue ainda andar! Muito suspeito, e podemos estar aqui na presença de um bebé-bomba. Sim, já sei que todos os bebés são "bomba" (Querem o quê, se eles não sabem falar? Pensam que eles gostam de se humilhar daquele jeito?) mas este é o outro tipo de bomba, que transforma em merda tudo o que estiver à sua volta.
Este tal Ho Chun-Yan é um elemento super-perigoso, como aliás é possível perceber pelo seu ar ameaçador, e a forma como enrosca os braços nos dois polícias, arrastando-os até à esquadra onde os obriga a detê-lo para dessa forma os seus cúmplices mandarem para associações de defesa dos direitos humanos cartas que ele havia escrito antecipadamente, sabendo de antemão que iria ser detido. Isto é inadmissível, minha gente. Assim não vale, é batota. Malditas associações dos direitos humanos. Malditos direitos humanos. Malditos humanos. Ainda por cima o gajo é deputado da LEGCO de Hong Kong, imaginem, e eleito directamente, através do voto dos eleitores. Mas não se deixem impressionar com o barulho das luzes, pois é possível que estejamos perante uma conspiração daquelas mesmo a valer, grandes à brava, tipo o assassinato de Kennedy, e tal, e prepetrada pelas forças do mal. Enquanto estava tudo distraído a votar lá na RAEHK, tenho a certeza de ter visto o Darth Vader e o Imperador Ming a sabotar várias urnas, alterando os boletins que tinham a cruzinha nos patriotas, os malandros. Portanto dou graças por impedirem este tipo de entrar em Macau, porque não simpatizo com os óculos dele, pronto. E aqueles pais são maus pais - imaginem que eu dava ao meu filho o nome de Bin Laden e entrava com ele todo pimpão e com cara de gozo na alfândega do aeroporto de Nova Iorque a cantarolar aquele êxito do Emanuel, "love me baby, lalalalalalala es una bomba,es una bomba...". Andava mesmo a pedi-las, digam lá se era mesmo estar a pedi-las?
Agora falando a sério, e por falar a sério quero dizer que considero tudo isto uma palhaçada, e já ter gasto aquele latim todo em algo que nem merece honras de ser satirizado já foi uma homenagem mais completa que estátua, nome de rua e salva de morteiros. Agora cada um pode dar a interpretação que quiser a isto; por um lado a culpa não é da polícia, que está apenas a cumprir ordens e não foram eles os autores da tal lista misteriosa. Excesso de zelo e desprezo pelas mais básicas regras da lógica e do bom senso? Ora essa, quando as autoridades às vezes fazem uma dedução, queixam-se de que "são pagos para cumprir ordens e não para pensar", então ficamos no quê, afinal? Pode-se ainda levantar a questão dos pais não terem sido informados logo em Hong Kong que o nome que escolheram para o pequeno ia fazer-lhes bater com a porta na cara aqui em Macau, o que deixa algumas dúvidas sobre a "cooperação regional na área da segurança" tantas vezes elogiada, mas como é de segurança que estamos aqui a falar, e da minha segurança também, o segredo é a alma do negócio, e como "nunca se sabe", o melhor mesmo é não deixar o bebé cagão, analfabeto e terrorista entrar em Macau. E assim durmo mais descansado e tudo.
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