quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

De uma vez por todas...



O que tenho para dizer nas próximas linhas vai certamente deixar muito boa gente aborrecida. Não faz mal. Eu até diria que "é pena" que assim seja, mas se a hora é de contar os esqueletos guardados no armário, posso mais uma vez garantir, aliás como sempre foi e sempre será, que único campo que vou preencher é o da assinatura, no fundo da última folha. So não digo que "estou de consciência tranquila" porque só quem carrega na consciência algum peso sente a urgência de produzir tal afirmação, perpetuando a farsa que leva a que minta a si próprio, aos outros, e ainda seja arrogante ao ponto de pensar que o resto do mundo cai na sua conversa de chacha. Como disse em tempos um grande amante da paz e da liberdade: "pode ser que enganes algumas pessoas algumas vezes, mas não penses que enganas toda a gente todas as vezes". O meu único compromisso é apenas com a verdade, pura e dura, ou em alternativa o silêncio. Por "silêncio" não me refiro a qualquer acto de auto-censura, mas antes a um exercício de ponderação e análise introspectiva que me tem sido facultado com o avançar da idade. Estou a poucos dias de completar 40 anos, e a única coisa que me aborrece a esse respeito é o facto dessa ser a idade em que começam a ser recomedados os tais exames a próstata, e com toda a certeza os leitores do sexo masculino que já se submeteram a esse exame devem entender as razões que me levam a ficar apreensivo. Mas é só isso que me aborrece, nada mais.

Posto isto vou passar directo ao assunto sem mais rodeios, e não assumam que o parágrafo anterior foi alguma "anestesia" para o que vem a seguir. Se no fim quiserem chamar-lhe "lavagem de roupa suja", então considerem a introdução o programa de pré-lavagem. E quem sou eu para dizer o que devem pensar ou que conclusões podem ou não retirar? E vice-versa. As vezes é preciso dar um biscoito ao ditadorzinho que existe dentro de cada um de nós, a ver se ele se vira para o lado e volta a adormecer, e dessa forma não incomoda ninguém. Como os leitores mais atentos devem estar certamente recordados, fiz aqui no blogue uma exposição que considerei pertinente relativa a uma certa reportagem exibida na TDM no dia 21 de Novembro último, e que alertava para as condições de vida dos trabalhadores não-residentes, e onde identifiquei uma figura conhecida que se fazia passar por uma pobre de Cristo perante as câmaras da TDM, mas que de resto no seu dia-a-dia normal se auto-intitulava "top model", dizendo-se ainda "natural das Filipinas, mas actualmente sediada em Macau". Estava de saída para o aeroporto mas ainda fui a tempo de deixar um "post" a expressar o meu repudio, e tive mesmo que o fazer em cima do joelho, pois ia estar na Tailândia nos três dias seguintes e desconhecia se haveria disponibilidade para fazer qualquer actualização durante esse período. No entanto o que escrevi nesse breve "post" resume no essencial a minha ideia, e nem os dados suplementares a que tive mais tarde acesso alteram uma vírgula que seja ao seu conteúdo.



Foi já no Sábado seguinte, dia 22, que pela hora de almoço e entre o "furo" que foi a detenção de José Socrates que fiquei a saber que a referida reportagem era datada de Setembro de 2013. Este facto colocava a situação numa nova perspectiva, mas apenas no sentido temporal. De regresso a Macau na segunda-feira, dia 24, ao final da tarde, fiz questão de deixar um outro "post", este mais elaborado, onde explico com mais detalhe exactamente o que me incomodava da reportagem. Ficou bem patente para uns que o meu único problema era com uma das entrevistadas, e só isso, nada mais. Outros talvez não tenham dado importância ao assunto, enquanto outros ainda têm um certo problema com o mais básico e elementar dos raciocínios - digamos que padecem daquele mal social que os leva pelo mais ínvio dos caminhos naquela encruzilhada entre a verdade e a mentira: o caminho do "depende". Um célebre partidário desta filosofia "dependista" foi um senhor que certo dia proferiu uma frase que se viria a tornar imortal: "uma mentira contada milhares de vezes torna-se numa verdade". Nao há alvíssaras para quem acertar no nome da pessoa a que me refiro, tantas foram as vezes que esta moral de pacotilha foi recitada nas mais variadas circunstâncias - aparentemente há quem ainda não tenha entendido bem a sua mensagem.

O assunto parecia morto e enterrado, quando de repente, e qual Lázaro erguendo-se da tumba, ganha um novo fôlego, tudo porque o trabalho em causa foi laureado com um prémio da Fundação Oriente, que distingue todos os anos o melhor trabalho de reportagem para televisão. Fiquei a saber disto no Sábado a noite, portanto no dia 29, através do Facebook por intermédio do marido da autora da peça premiada, e também ele jornalista. Agora vamos entrar num campo mais privado, mais intimista. O jornalista e marido da reporter premiada é nem mais, nem menos que Rui Cid, um rapaz que, e posso dizer isto com à vontade, praticamente vi crescer. Conheci-o ainda nos tempos do IRC, quando eu usava a identidade de Coconut e era administrador do canal #soccer na Undernet (já nesse tempo eu era um SOB de primeira classe). O Rui estava na altura a terminar o ensino secundário, e depois foi cursar Direito na UMAC, e entretanto deu-se um lapso de tempo de alguns anos (os anos em Macau não passam: voam) e quando voltei a vê-lo era já jornalista da Rádio Macau, e um homem feito. Posso assegurar que o reconheci de imediato, pois é difícil esquecer aqueles dois metros de gente, ou mais coisa menos coisa, despercebidos. O mesmo talvez ele não possa dizer de mim, pois durante aquela meia dúzia de anos fui acometido de albinismo capilar agudo, além de ter reforçado o meu tecido adiposo nuns bons vinte quilos - só uns quatro ou cinco leitões assados, nada de especial.

Quanto à Sandra Azevedo, não a conheço, e sei que foi uma contratação recente, e as suspeitas ficaram confirmadas após ter sido anunciada como vencedora do tal prémio - tem apenas 3 anos de carreira no jornalismo. Isto não significa nada, pois é tudo uma questão de oportunidade. Há quem seja louvado no primeiro mês em funções, e há quem malhe no ferro 40 anos sem um "olhá lá, obrigadinho" que seja. Penso que será assim em todas as profissões. Não conhecendo a menina (epá e tenho idade para ser tio dela), se o Rui a escolheu e ela conseguiu prendê-lo há poucos meses pelos grilhões do matrimónio (eh, eh...), é porque só pode ser gente fina, do melhor. E o que fiz eu quando soube que a Sandra ganhou? Em primeiro lugar, logo no Sábado, fiz um "like" da entrada do Rui Cid, e como passava da uma da manhã foi 'pró choquinho. No dia seguinte deixei uma mensagem à feliz vencedora, que tinha razões de sobra para se sentir realizada, mas ao mesmo tempo deixei-lhe um pequeno alerta:



Aí está. A Sandra não respondeu, nem precisava de o fazer, pois como podem observar pela minha mensagem, não apelo para que o faça. Confesso que as aparências poderão dar a entender que estou f... com a atribuição do prémio a uma reportagem que contém um "orgasmo fingido" da misericórdia e comiseração, mas isso não importa, e já vou explicar porquê. Pode ser que a jovem repórter tenha entendido a minha missiva como algum tipo de areia da engrenagem do seu sucesso, que é inteiramente merecido, ou que estou aqui a assombrá-la com algum "I know what you did last summer", mas não, o meu problema nunca foi com ela, nem com a sua reportagem. Para que não fique qualquer dúvida, eis uma reencenação do meu ar quando lhe dei este "toque", que como se pode ver começa com "parabéns" e depois segue para um "blá blá blá" que seria apenas em jeito de chamada de atenção:



Foi assim, jovem: "straight from the heart".



...e não assim. Peço desculpa se foi esta a ideia com que ficou. Ok? Chuac, chuac.



Já lhe dei os parabéns? Sim, já dei, eu sei, mas aqui fica outra vez: parabéns. Nunca é demais e se a vir por aí não hesitarei em fazê-lo pessoalmente, como sempre fiz noutras ocasiões com amigos ou conhecidos que vivem horas de felicidade. Só lhe queria dar um pequeno conselho, se me permite; sei que não tenho nada para lhe ensinar, nem isto é um acto de paternalismo, e olhe, se quiser cite-me nesta afirmação: sou um palerma - trata-se apenas de uma sugestão. Compreendo que se tenha sentido realizada, como qualquer profissional que vê o seu trabalho reconhecido, mas...- e isto é do mais sincero que pode levar de mim - penso que como registo fica um pouco mal aparecer com um sorriso de orelha a orelha a falar de um prémio que recebeu por uma reportagem sobre a miséria alheia - e quanto a este aspecto vou deixar a minha opinião pessoal para o fim deste extenso artigo. Deixei aqui este vídeo da cerimónia dos oscares em que Michael Moore recebeu a estatueta pelo documentário "Bowling for Columbine" (certamente que lhe é familiar, pois são imagens que correram mundo e entraram para a galeria de momentos altos da história da cerimónia), e onde é óbvio que consegue manter o sangue frio, e ainda aproveita para "passar sal na ferida". Temos que concordar que seria desagradável ao realizador surgir comovido, a choramingar e a balbuciar "thank you...thank you, I still think I'm dreaming" na hora de ser reconhecido um trabalho cujo tema é um massacre que vitimou adilescentes numa escola secundária do Colorado. Outra vez: não lhe estou a dar nenhuma lição, nem isto é uma crítica. Fica para você entender como quiser.



Antes de continuar a minha exposição, gostaria de apresentar aqui outro caso, igualmente ocorrido nos Estados Unidos há cerca de dez anos, e que abriu o debate sobre até onde se podem esticar os limites de verdade de forma a dar ao público o que ele quer ver. Em 2003 o escritor James Frey lançou o livro "A Million Little Pieces", que falava da sua experiência como toxicodependente e alcoólico, a sua reabilitação, e ainda continha um programa de doze passos para deixar a dependência de substâncias dissociativas. O livro foi um "best-seller", e no ano seguinte sairia a sequela, "My Friend Leonard", que fala da relação do escritor com o seu pai durante esse período difícil da sua vida. Em 2006 Frey é denunciado como "fraude literária" no programa "The Smoking Gun", que apresenta provas de como os factos que relata nos dois livros são "exagerados", e em alguns casos "completamente fabricados". E o que aconteceu com Frey? Terá caído em desgraça? Au contraire, pois em 2008 lança "Bright Shinny Morning", uma novela assumidamente de ficção, que volta a ser um sucesso de vendas, e a partir de 2010 dá início à série "Lorien Legacies", em parceria com Jacob Hughes, que já conta com três publicações. Uma delas, "I am number four", foi mesmo transposta para o cinema.

E aí está, o que faz um livro bem escrito, com um argumento que prende o leitor do princípio ao fim e lhe transmite uma experiência literária agradável mais ou menos bom conforme a veracidade dos relatos que contém? É inegável que aqui o autor cometeu uma desonestidade ao assumir experiências pelas quais não passou, ou das quais acrescentou ou omitiu factos, até porque é possível que muitos leitores tenham encontrado naquela obra uma referência para encontrarem eles próprios uma saída, e o consumo de estupefacientes é um problema social que não se deve tratar de forma tão "ligeira". Contudo o "mentiroso" leva o benefício da dúvida, pois faz o mal com uma finalidade que se pode considerar positiva, e fá-lo bem feito. Se há quem o primeiro livro tenha ajudado a abandonar a droga, tanto melhor, e não é por ser mais ou menos verdade a experiência que o que autor descreve, não me parece que isso seja uma desculpa para voltar à estaca zero e abraçar novamente o vício. Imaginem que tinham ido ao Louvre e tinham visto a célebre "Mona Lisa", de Da Vinci, uma experiência que muitos consideram única, uma daquelas coisas que entram nas listas de "o que fazer antes de morrer". Mais tarde era-vos dito que o quadro era apenas uma imitação. Pode ser que se sintam enganados, traídos, mas isso retira a sensação que tiveram quando olharam para a pintura convencidos que era autêntica?

Mas regressando ao tópico deste artigo, decidi deitar este assunto para trás das costas nesse Domingo à noite, e tratá-lo como mais uma daquelas coisas que "acontecem", fazer o quê? Deixei o exemplo do James Frey aí em cima para ilustrar exactamente aquilo que eu penso: a reportagem podia até ser completamente ficcional, que não deixa de ser bem feita. Não me cabe questionar se a vitória é justa, pois desconheço quais eram as restantes reportagens a concurso, ou os critérios do júri que elegeu o melhor trabalho. Julgo que muitos dos leitores sabem a razão de eu ter dado tanta importância a este assunto (e se não sabem podem procurar, que é o que eu faço, e a resposta está no blogue), e só tenho pena que a Sandra Azevedo tenha sido metida ao barulho - aqui quem a enganou a si, a mim e a toda a gente foi a Rodily Vilches. Agora isso não lhe retira o mérito, e se há algo que se pode retirar daqui é apenas mais uma experiência, um "golpe na tábua". Mas parece que o assunto estava longe de ficar por aqui...

Na segunda-feira, dia 1 de Dezembro, recebi algumas mensagens no Facebook pedindo esclarecimentos sobre o artigo do dia 24, e foi-me sugerido - de forma diplomática, entenda-se - que terei "interpretado mal" a reportagem, ou que "posso estar a tirar conclusões erradas". Outro ainda pediu-me educadamente que retirasse o artigo em questão, e eu educamente mandei-lhe dar uma curva. A polémica subiu de tom na terça quando fui chamado de "mentiroso" (por um anónimo, claro), e na quarta deu-se o clímax da palhaçada, quando fui abordado na rua por uma certa pessoa, que inicialmente em tom jocoso me disse que "ando com as vistas trocadas", e depois com um ar mais sério me disse "que devia deixar certos assuntos para os profissionais". Ora bem, não vou aqui dizer quem é esta pessoa, e apenas por uma razão que é mais que dirimente que o faça: iria comprometer terceiros, e deixá-los numa posição delicada. A sério, nem me perguntem quem é, e nem à minha mulher ou amigos mais próximo revelei quem era, e ainda bem que não existem testemunhas - pelo menos que tenham escutado a conversa. Se insistirem só posso entender isso como mera cuscovilhice, e nem tem importância, pois nem é má pessoa, esta de quem falo. Está apenas equivocada. Aqui, tal como na reportagem da Sandra Azevedo, "quem" é menos importante que "o quê".



Confesso que demorei a entender do que falava este vigário/a-do-sermão-que-ninguém-encomendou (lá por não ser má pessoa não significa que eu não lhe diga das boas, ora essa), mas quando percebi que se tratava deste moribundo assunto que demora a morrer, e que não pedi para ouvir os últimos ais, aconteceu algo de positivo: finalmente tenho uma oportunidade de expôr duas ou três temáticas que a falta de oportunidade não me deixaram fazer antes - já lá vamos. Não era de estranhar que subitamente o artigo que tinha apenas pouco mais de 60 visualizações numa semana tenha "disparado" para mais de cem entre esses dois dias, e é possível que muita gente tenha ficado baralhada. Para quem não entendeu da primeira e da segunda vez, aqui fica a terceira apresentação da teoria da fraude que é essa Rodily Vilches. As provas falam por si, e quem quiser refutá-las, é mais que bem vindo.



Esta foi a casa onde vivi entre Julho de 2013 e Abril deste ano, no Pátio do Socorro. A casa de Rodily Vilches, que apareceu na reportagem da TDM, fica localizada no fundo do pátio, e mesmo que pouco nitidamente, é possível vê-la. Casas antigas estas, e só a minha foi construída há quase 100 anos, composta por sala, um quarto e sótão, além de uma diminuta cozinha e uma minúscula casa-de-banho - mas deixo bem claro que para mim apenas era mais que suficiente, por 4200 patacas mensais.



Uma imagem foi captada de noite em Setembro de 2013, e a outra à luz do dia cerca de sete meses depois, e apesar de algumas vias públicas em Macau parecerem praticamente idênticas, digamos que estamos aqui na presença de dois locais que "oferecem semelhança".


E pronto, para que não restem dúvidas, fica aqui uma confissão da própria, que também providencia um esclarecimento aos mui indignados leitores que alegaram que confundi a criatura com "outra pessoa". Mas espera, há ali mais qualquer coisinha...




Fico comovido com a resiliência deste povo, que acaba uma frase como "A questão é esta: como é que eu consigo sobreviver até ao dia 30" com um sorriso no rosto. Quem sabe se não era boa ideia pedir ao tal "magazine in the UK" que lhe pagasse pelo retrato. Mas espera aí, qual magazine? E o que faz esta Rodily para ser causa da inveja alheia, e tudo?



Sei...trabalho honrado e honesto, diga-se de passagem. Não consigo é entender como pôde uma revista no longínquo Reino Unido interessar-se por isso.


Elááá...tenho que começar a tomar mais atenção ao mundo da faxina. Mas será isto possível? Deve haver algum engano...



Não, parece que é a mesma, a não ser que existam duas Rodily Vilches em Macau, e gémeas; improvável. Mas sendo "Freelance Model" desde Junho de 2013, trabalho que acumula com o de empregada doméstica (ah, ganda mulher!), qual é a razão de tanta choradeira? E como é que concilia o exigente mundo das "passerelles" com os dos panos e das esfregonas?





Hmmm...empregada doméstica das nove da manhã às nove da noite, e seis dias por semana? Interessante, portanto as fotografias (e são centenas) só podem ser tiradas de manhãzinha ou à noite, ou então ao Domingo. Sabem uma coisa? Até lhe dou isso de barato, com a "porrada" que já levou...





...mas deixa levar mais um bocadinho. Anda em crise, o mundo da moda: os Vuittons, os Channels e os Blahniks desta vida anda por aí à míngua. Claro que isto não prova nada, aliás vem reforçar a ideia de que a rapariga sofre a bom sofrer. Notem como na reportagem de Setembro de 2013 lamenta-se de "não ter um centavo no bolso", e em 18 de Setembro de 2013 andar pelo cemitério à procura de um lugar onde cair morta. Só pode ser isso mesmo. Faz todo o sentido.





Então rapariga, que drama é esse? Anima-te, que depois dessa "triste confissão" já eras uma "rising star", e aí vais encher o frigorífico de champanhe e caviar, e ainda é a  Kate Moss que te leva as compras a casa.



Sim senhor, muito bem dispostos que nós estamos a 28 de Agosto, doze dias "sem ter um centavo no bolso". Como é possível?



Talvez tenha sido com a ajuda desta "pinga", adquirida uma semana antes, provavelmente com uns trocados que tinha ainda lá por casa.



Este seria o momento que lhe valeria o Oscar, não fosse pelo guião, que é uma merda. Acho que a Meryl Streep já pode dormir descansada. Quem sabe a Rodily ainda pode aspirar ao Nobel da Aldrabice?



E penso que com este já são muitos "erros". Portanto, meus amigos, isto é mesmo assim, e não é engano nenhum. Até pode ser que esta Rodily Vilches esteja a passar mesmo por dificuldades, e é mais que óbvio que esta ilusão do "modelo" tem-lhe feito mal à cabeça - percebe-se pela postura das "still images". Mais uma vez deixo bem claro que isto NÃO VISA MENORIZAR O MÉRITO DA REPORTAGEM. Outra vez: NÃO É NADA CONTRA A AUTORA DA PEÇA. Quem nos andou aqui a fazer de parvo foi a Rodily Vilches. A todos salvo seja, e não tenho nada de pessoal contra esta farsante (chamemos as coisas pelos nomes), mas como referi no primeiro parágrafo deste já longo texto, o meu compromisso leva-me a que sofra de alergias cada vez que deparo com este tipo de "espectáculo". Peçam satisfações aqui à artista, não a mim, e não esqueçam que existem mesmo TNR que vivem com dificuldades, mas tenham cuidado, não generalizem e evitem ser ludibriados. Duvido que alguém numa situação muito aflitiva deixasse uma reportagem entrar pela sua casa e dar a conhecer ao mundo a miséria em que vive. Talvez no caso de haver uma ou mais crianças, e apenas por esse motivo, se fossem submeter a tamanha humilhação.

O que me continua a surpreender é a ingenuidade da nossa gente. Nem sei como colocar isto de forma a que não pareça estar a gozar com a vossa cara, mas pronto, vamos lá: como sabem neste mundo existem centenas de milhões de seres humanos que vivem com menos de um dólar por dia. Atenção ao tempo verbal: vivem, estão vivos, vão vivendo, enfim, vão-se aguentando. Têm consciência desta realidade, certo, mas se vos custa a imaginar como vivem os TNR em Macau com menos de 4 mil patacas por mês, mandando quase a totalidade desse valor para a sua família no seu país de origem, duvido que vos passe pela cabeça como vive alguém com oito patacas por dia, o valor do tal dólar. Lembro ainda, e referi isto num artigo da semana passada, que as remessas em divisas enviadas pelos emigrantes filipinos constituem 17,3% do PIB daquele país. Olhando para o todo e não para uma das faces, congratulo-me que continuem a enviar dinheiro para casa, e quanto mais melhor. Não é que isto seja uma surpresa para eles, pois sabem ao que vêm. Sabem que têm que fazer sacrifícios, possivelmente passar a maior parte do tempo entre quatro paredes a cuidar de uma criança ou de um idoso, sujeitos a abusos e outros perigos. Espanta-me como a nossa memória é curta, pois nem foi assim há tanto que tivemos emigrantes em situação semelhante, em França, durante a ditadura, que chegavam a sair do país "a salto". Hoje não nos conseguimos imaginar ir jantar fora sem pedir uma garrafa de vinho, e há ainda aqueles muito patrioteiros, cheios de saudades, que não dispensam ir a Portugal de férias no Verão e no Natal, com mais um pézinho de praia na Tailândia pela Páscoa. Isto num agregado familiar de quatro elementos fica em qualquer coisa como 80 mil patacas só em bilhetes de avião, que é o equivalente ao rendimento de uma empregada doméstica durante dois anos, e dá para comprar uma casa mais ou menos decente nas Filipinas, ou um terreno jeitoso na Indonésia.

Imagino os olhinhos de gato morto que alguns espectadores fizeram ao ver esta reportagem, soluçando: "ai coitadinhos, tão pobrezinhos", intrigados como é que a Sandra não foi com uma máscara cirúrgica a tapar o rosto, pois ali "deve cheirar mal". Alguns devem ter admirado a coragem da repórter, pois recentemente deu-se aquela lamentável tragédia, e quem sabe se durante o tempo que a equipa da TDM lá esteva aquilo podia começar tudo a arder, ai Jesus. Recordo que eu próprio vivia ali, quase a paredes meias com a Rodily, e não considero que fosse uma pocilga nem nada que se pareça. Também já vivi com filipinos, sete ou oito na mesma casa, e garanto-vos que não era nenhuma javardice - ninguém se mijava pelas pernas abaixo ou no lava-loiça enquanto esperava pela sua vez de usar a casa-de-banho, e dava para nos virarmos na cama sem enfiar nada em qualquer coisa do vizinho. Conheci vários TNR que viviam com 100 ou 200 patacas por mês, às vezes nada, e os que não recorriam aos expedientes do costume dependiam da camaradagem ou da solidariedade dos compatriotas. Outra vez: isto às vezes corre muito bem, ou apenas bem, mais ou menos, mal, muito mal e na pior das hipóteses pode até acabar em tragédia. É a vida. Também é possível que uns americanos quaisquer de uma dessas "Picket Fences USA" olhem para o vosso apartamento de 120 metros quadrados na Taipa ou no NAPE pelo qual pagam um balúrdio desnecessário, e exclamem: "Onde é que eles fazem o BBQ ao Domingo? Como é que alguém consegue viver assim???". É um mundo grande, este.


Finalmente, e numa nota pessoal, gostaria de deixar claro que muita gente por aí, que se julga da realeza, ainda tem muito que pedalar antes de chegar ao cume do nirvana das certezas absolutas. Eu não reconheço a ninguém o monopólio da palavra e da opinião, e há quem confunda o dever de informar com o "direito a informar" - que não existe, lógico. Cada um vê o que quer, lê o que quer, interpreta como quiser, e tem legitimidade plena para comentar ou tecer as observações que bem entender - tudo desde que não meta o bedelho onde não é chamado, é claro. A "democracia" de que por aí tanto se fala, que tem passado de boca em boca como a herpes, tem as suas muitas e reconhecidas virtudes, e tem os seus defeitos; um deles é termos que aguentar coisas que nos dão a volta ao estômago. Tenho pela imprensa, qualquer imprensa, a maior estima, mas agora gostaria de chamar a vossa atenção para o seguinte: isto não é um jornal. Repito: ISTO NÃO É UM JORNAL. Entenderam ou é preciso fazer um desenho? Não tenho obrigação nenhuma, não recebo um avo ou ordens de ninguém para fazer isto, não tenho nenhuma agenda oculta, e como tal falo daquilo que quiser, e se alguém não gostar é livre de me pedir satisfações e estou sempre disponível para responder com um sorriso nos lábios. Ou não, se quiserem podem ficar aí a rosnar, que o fígado é vosso. Pelo menos agora que já lá vão dois anos que este vosso mais que tudo deu a cara, cessaram as ameaças de dentes partidos, as "bocas" ao meu filho ou as insinuações de que a minha mulher me engana. Ah, valentões!

Em Macau há jornalistas que são gente fantástica, e que depois são jornalistas. É a profissão que escolheram, assim como um médico, um arquitecto ou um advogado escolheram a sua, e depois há aqueles que como eu se "encaixaram" num ganha-pão qualquer, fazem o seu dever e depois vão à sua vida, que é curta e é só uma. E por falar nisso do "dever", escutei o meu camarada José Rocha Dinis a dizer na sua rubrica de opinião do Telejornal da TDM na última segunda-feira que "tem a obrigação de seguir a vida pública". Fico preocupado, meu caro amigo. Quem é que o anda a obrigar ao quê? Nem eu tenho a obrigação de ir para o meu serviço assidua e pontualmente; vou porque caso contrário sofro as consequências, que é algo que prefiro evitar, mas ninguém me obriga a lá ir. Adoro trocar impressões com jornalistas, pois é sempre interessante (ou quase sempre) saber o que eles pensam, pois são normalmente gente inteligente e bem informada, bem lida e bem-falante. Conheci aqui profissionais da imprensa que admiro e respeito muito, e coloco à cabeça o José Carlos Matias e a Patrícia Lemos que deram a conhecer este espaço (sim, nunca me meti em bicos de pés, ao contrário do que alegam alguns ranhosos), e tive a sorte de me "meter" com o Carlos Morais José praticamente desde que cá cheguei vai para 22 anos, e hoje tenho a honra de colaborar com ele no Hoje Macau, mesmo que timidamente. Depois há outros pelos quais tenho uma enorme estima, e talvez eles prefiram que eu não mencione os nomes, mas eles sabem quem são. Um abraço para todos.

Depois há os que me detestam, sem que eu lhes tenha feito nenhum mal. Não estou aqui a choramingar, a pedir satisfações ou uma chance de me dar a conhecer melhor para assim passarem a gostar de mim - é que estes que me vetam ao desprezo nunca trocaram sequer dois dedos de conversa com a minha pessoa, e não prometo a ninguém que sou o máximo, e que vale a pena investir nas minhas boas graças - era o que faltava. Durante todos estes anos vi muitos a chegarem e outros tantos a fazerem o percurso inverso, uns para melhor, outros para pior, e há ainda os que deixei de saber do paradeiro, e como é da ordem natural das coisas, há os que já não se encontram entre nós. Não posso deixar de rir baixinho com certos presunçosos que por aí cairam de pára-quedas, e assim de repente recordo-me de uma tipa entretanto já "devolvida ao remetente", que dizia ser "Citizen Kane" o seu filme favorito, mas "só para jornalistas". Squeeze me? A baking powder? Mas estamos a falar de um filme,  de apontamentos em estenografia ou de um rolo de cautchu? Também com algum carinho observo certos "bloopers", como o caso daquela eterna romântica que dedicou um texto nostálgico quase em jeito de prosa poética ao Campo dos Operários, apesar do local ter deixado de existir antes da sua vinda para Macau. Ah quem não se lembra do velhinho Campo dos Operários...a cantina o chá com leite intragável...as tostas triangulares de ovo e fiambre que convidavam à salmonela...as massas instantâneas tão duras que serviam de esfregão palha-de-aço...os drogados que viviam no prédio condenado ali atrás, e que apareciam a cravar trocos...o campo onde se jogava à bola com lama até aos joelhos quando chovia...ai que saudade.

Pois é, o que acontece é que temos muita gente que pensa que é o rei ou a rainha da cocada preta, e ainda mais gente que acha que os outros são burros, e que têm um "sexto sentido" qualquer, que são uns predestinados. Lamento desiludi-los, mas o vosso "terceiro olho" é igual ao de toda a gente, e também não vê  - e ainda bem para ele, se pensarmos bem. Vir da tuga ainda com a marca dos banquinhos da faculdade no rabiosque e pensar que chegam com a fórmula secreta da Coca-Cola e que vão mudar o mundo, Snowdens e Assanges de Vildemoínhos, pode-vos trazer dissabores ó pázinhos e pázinhas, mas por mim vão com Deus que eu até vos acho alguma piada. Um "press card" serve para ter acesso a conferências de imprensa, outras curas para a insónia e pouco mais (para se obter acreditação para certos eventos nem é preciso ser da imprensa). Esperem que estou a ser injusto, que maldade a minha, pá. Assim de cor consigo dizer uns dez ou vinte países onde um "press card" vos habilita a uns balázios no coiro. Sei que às vezes ficam afonos com o barulho das luzes, e perdem temporariamente o sentido do olfacto, mas eu indico-vos a direcção: é muito provável que neste mundo tenhamos vários indivíduos que dão pelo nome de Clark Kent, é possível que alguns sejam até jornalistas, e que por uma incrível coincidência trabalhem num jornal chamado "Daily Planet" - e vamos perder a cabeça - numa cidade com o nome de Metrópolis! O que vos posso garantir com um elevado grau de certeza é que não existe um planeta Krypton, nem vocês voam, têm visão de raio-X ou qualquer outro super-poder. E é só isto.

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