domingo, 21 de dezembro de 2014

Macau: é noutro planeta!


OLÁÁÁÁ...EU MOSTLAL MACAU PALA SENHOL, SIM, SIM? EMBOLA LÁ CALALO!

Oi! Bzzz...brrr...frrr...desculpem, mas...brrrr...hooiinnn...! Ah desculpem a interferência, foi uma chuva de meteoros que passou e interrompeu o sinal. É que estou a falar de Macau, que fica num planeta longe, longe, mas tão longe, que nem fazem ideia do que é isto. É tudo tão diferente aí da Terra, que se vocês viram a reportagem do Telejornal da RTP dedicada aos 15 anos da criacção da RAEM ainda não fecharam a boca de espanto, mas se não viram, brrrr...bzzz...fffff....ah bolas, agora foi um asteróide. Nós aqui neste planeta temos uma anedota:

- "Olha lá, asteróides?"
- "Ainda não chegaram, mas tenho estrogénio!"

Ahahahaha! Aii...bem, se não viram, eu conto como é o meu dia aqui em Macau, que é igual ao dia de outra pessoa qualquer numa galáxia muito, muito longe daí.



O momento em que Kwai Chang Caine ascende aos céus.

Acordo todos os dias ao som de uma música oriental parva, sabem qual é, aquela com harpas e o caraças que escutam cada vez que passa um filme qualquer sobre a China e sobre Macau ou sobre qualquer sítio onde apareçam pessoas, perdão, extra-terrestres com feições asiáticas. Sabem como são, não é? São todos iguais e chamam-se Lim Pó Pó, Nukumata, Chin-Chon-Chun, Ping-Pong e Pudim Flan Chino El Mandarin. Ah é verdade, e havia ainda o Kwai Chang Caine, da série "Kung-Fu", lembram-se? Pois...é possível que tenham escutado uns rumores no sentido de que ele foi encontrado morto na Tailândia, que é num planeta aqui ao lado, sufocado enquanto executava um acto de masturbação esquisita e vestido com roupa interior feminina mas isso é mentira! Ali têm a imagem dele a ir para o Céu, não porque morreu, mas aqui a malta vai para o Céu quando lhe apetece e depois volta quando quiser. Por acaso ele ainda não voltou.



Ninhos de andorinha, de fácil preparação: é só tirar o pássaro e comer!

Depois de acordar, bebo um chá que me aparece misteriosamente de manhã na mesa de cabeceira. Este chá permite-me levitar enquanto faço meditação transcendental, que aprendi num curso que tirei no Tibete, que caso não saibam é uma cadeia montanhosa que consigo ver da janela da minha casa, e fica a vinte minutos de barco daqui. São capazes de estar a pensar se tenho o hábito de ir a Pequim? Sim, de facto vou lá todos os fins-de-semana de bicicleta para apanhar dos beirais os ninhos-de-andorinha que como todos os dias ao pequeno-almoço, pois em Pequim são mais saborosos. Não são maus, passei a gostar logo que encontrei a técnica correcta para mastigar os ramos fininhos que a andorinha usa para fazer o ninho, mas a sabor da merda do bicho é mais complicado de suportar, mas a gente acaba por se habituar. Há quem acompanhe com sopa de barbatana de tubarão, que já devem ter ouvido falar. Eu não tenho esse costume desde que um colega meu ficou sem o braço do cotovelo para baixo - é que o tubarão não gosta que lhe mordam na barbatana.



Fang-Fong-Tung, a minha vizinha, no seu traje de dona-de-casa.

Saio de casa, que é num bambuzal no meio de Macau, e cumprimento a minha vizinha Fang-Fong-Tung; já devem ter ouvido que os chineses quando querem dar os nomes aos filhos apitam uma pequena gaita de plástico e atiram uma lata pela escadas abaixo, ou as duas coisas, e o som que aquilo fizer é o nome que dão. Ora bem, isso é tudo verdade! Afinal já sabiam muita coisa, ah? A minha vizinha, que é uma chinesa típica, tem a pele amarela da cor da gema do ovo e tem os olhos em bico, tão pequeninos que não vê um palmo à frente do lugar onde devia estar o nariz, que também não tem. Quando se curva em reverência à minha pessoa e diz "BOM DIA HONOLÁVEL SENHOL!", bate com a testa no chão, coitada. Então ofereço-lhe uma tigela de arroz, que é tudo o que ela come, e fica a venerar-me meia hora, enquanto diz "OBLIGADO! EU GOSTAL MUITO! OBLIGADO!" e a seguir vai queimar um pauzinho de incenso num pequeno templo que construíu em minha honra, para me prestar culto em vida.



Rua do Buda, onde eu vivo. Reparem na muito "tipicamente característica" iluminação pública.

Eu moro na Rua do Buda, assim chamada porque o Buda mora duas casas ao lado da minha, depois da escola de artes-marciais Aikidói e o templo. Qual templo? Aquele que tem escrito no portão "Templo nº 56 da Rua do Buda". Diz-se que é ali que se faz a melhor magia negra, mas é preciso fazer reserva por telepatia, pois às vezes os monges estão a atingir o nirvana e não ouvem quando alguém toca no gongo. Vou até ao jardim onde faço "tai-chi", e estão lá outras pessoas a praticar meditação, a arte de voar ou de derrubar objectos com o ar que empurram com as mãos, e as crianças constroem muralhas da China de areia à beira-mar, onde os casais dão pãozinho aos dragões aquáticos. Aqui não se trabalha, passa-se o dia inteiro a fazer coisas destas, muito orientais, e sempre com aquela musiquinha como pano de fundo.



Alguns dos pratos que encontramos nos restaurantes em Macau.

Depois de duas horas no jardim cheio de gente a abanar-se com um leque e a preparar novos venenos para eliminar os seus inimigos, e ninguém ter dito uma única palavra, limitando-se a olhar uns para os outros, ora num súbito esgar repentino e fulminante, ora fixando os olhos nos olhos de quem pretendiam dizer mil palavras mas não saíu nem uma, deu-me fome. Tenho por hábito almoçar no "Grande Restaurante de Macau Onde Toda a Gente Come com Pauzinhos", que apresenta uma cozinha de fusão luso asiática, célebre pelo seu Cão Rafeiro à Padeiro, Ninhos de Pipi na Brasa, Gato à Caçadora ou a grande especialidade da casa, Arroz Chau-Chau Malandrinho, assim chamado por incluir na sua confecção "o orgão sexual do tigre", mas aquilo é só conversa, pois toda a gente sabe que usam a pilinha do rafeiro que foi assado à Padeiro e dizem que é tigre. É preciso ter cuidado com o que se come em Macau: às vezes pensam que estão a comer ratazana do esgoto, e na verdade é um simples rato que apanham nos caixotes do lixo. Muita desonestidade encontramos em Macau. Como diz um amigo meu muito engraçado com um metro e meio de altura, "VELGONHA, TU MOLEL, EU SAMULAI CALALO!. Nunca soube exactamente o que isto queria dizer, mas adoro escutar a milenar sabedoria oriental. Mijo-me a rir.


Um dos famosos casinos de Macau. Os tipos estão chateados porque perderam, mas amanhã ganham,  e ficam outra vez ricos.

Acabo de almoçar, passo pelo casino para ir buscar dinheiro. Sim, porque não sei se ouviram dizer que em Macau há muitos casinos, e é por isso que não precisamos de trabalhar, e é só passar pelo casino quando é preciso maçaroca. É para os casinos que os acendodores de lamparinas vermelhas e os carregadores de água do poço mandam as contas dos bens essenciais, e o gás aqui é desnecessário, pois cada residente tem um dragão-anão em casa, que lhe aquece a água que os carregadores trazem do poço, e cozinham os cães, gatos, ratazanas, etc. que  trazemos do mercado. Mas também há frutas, vegetais e outras coisas iguais às que vocês têm aí em Portugal, sabiam? Imaginem só, quem diria. Aqui a diferença é as melancias serem quadradas e os laranjas azuis, para não falar dos nomes, que também são diferentes. Assim "laranja" é LALANCHA, "repolho" é LAPOLO, "cenoura" é SENOLA e "coentros" é COENTLO, CALALO. Não sei porquê, mas a algumas palavras acrescentam este CALALO, que já me disseram ter um significado místico qualquer, como todo o resto aqui, até as pedras da calçada, mas eu penso que os tipos estão é bêbados.


O Riquexó é o principal meio de transporte em Macau, puxado por uns bichos muito engraçados.

Como devem saber, na China as pessoas andam de bicicleta, ou em alternativa de búfalo, ou de Riquexó, que é o transporte mais utilizado em Macau. Assim depois de sair de mais um dos casinos que entrei por acidente (há um porta sim, porta não, portanto...) e fui até à Avenida Mao Tsé-Tung apanhar o Riquexó até à Rotunda Bruce Lee, onde fica um jardim onde passo a tarde toda de pé a ver as fénix no lago de Lótus, e a escutar as melódicas harpas tocadas por divindades celestiais que às segundas, quartas e sextas dão ali um recital entre as três e as cinco da tarde. A certa altura sai da terra um pêssego gigante, e salta do lago um peixe dourado mágico com bigode. Vou-me embora, depois de mais uma tarde de harmonia e deleitosa pasmaceira. 


O Opiário, o equivalente ao "pub" inglês.

Depois de passar o dia inteiro sem fazer nada, a população costuma entreter-se no opiário, a tertúlia local, onde se discutem temas irrelevantes da actualidade. Eu costumava frequentar um destes locais, ali para os lados da Praça dos Piratas Invasores Imperialistas Portugueses, perto do monumento ao Diabo Estrangeiro Impalado, mas deixei de ir depois de um incidente desagradável; costumava estar ali um homem que de vez em quando olhava para mim, e depois eu para ele, e ele para mim, com um ar misterioso e enigmático. Um dia, cansado de o ver a destilar ódio com o olhar, denunciei-o às autoridades como espião nacionalista e traidor à Pátria, e depois de esquartejado minuciosamente deixando os orgãos vitais intactos enquanto cortavam o resto às postas, atiraram-lhe as entranhas aos porcos e com a carcaça fizeram uma das bolas usadas no campeonato de futebol do Brasil deste ano. Um incidente deveras desagradável.


Os macaenses: metade portugueses, metade chineses.

Macau é um ponto de encontro de culturas, como devem ter ouvido dizer por aí em Portugal. E de facto uma das heranças culturais que os portugueses deixaram foi a comunidade macaense, ou seja, os filhos de portugueses e chinesas, ou chineses e portuguesas - vamos lá DEIXAL-NOS DE MELDAS, como se diz por aqui, pois salvo raras excepções, são homens portugueses e mulheres chinesas, pois os portugueses andam sempre com as calças aos pulos e os chineses demoram três meses para dizer "bom dia" a uma menina por quem estão perdidamente apaixonados. Assim estes macaenses são meio portugueses, meio chineses, e isto traz mais desvantagens do que vantagens. Os homens têm mais dificuldade em voar e em levitar por causa da pança da cerveja, e as mulheres vestem uma cabaia com desenhos de galos de Barcelos e têm a graça de uma oriental, mas quando se chateiam atiram com a canastra das sardinhas na tola do atrevido. Vejam a menina ali na imagem a fazer o gesto universal de "corto-te a piroca" a um manganão que lhe piscou o olho. Em comum, além do bigode, têm a língua, ela também meio português e meio chinês, e que só eles entendem.


Fufu, amigo de Pim Pam Pum e Chu Pa Ki, filhos de La Le Li.

E pronto, depois de mais um dia normal em Macau, volto para casa, mas antes passo pelo supermercado para comprar bambu, ou FALDO DI BAMBU CALALO para dar ao Fufu, o panda de  estimação da minha outra vizinha, a La Le Li. Aqui vemos os seus filhos, o Pim Pam Pum e a Chu Pa Ki a brincar com o amiguinho, que é completamente inofensivo quando não se chateia, e dá uma bofetada nos miúdos com as suas patas de urso e arranca-lhes a cabeça. E espero que tenham gostado, e aprendido mais  sobre Macau....fzzzz....brr....agora preciso desligar....brrrr....aproxima-se um cargueiro especial com mais um carregamento de arroz, e....frrrrr....eles nunca acertam na pista por causa dos olhinhos...prrr!

1 comentário:

Gustavo disse...

A brincar a brincar de certeza que viste esta noticia que passou numa cadeia de televisao dos EUA...
no ano passado

https://www.youtube.com/watch?v=8COo-QsIXm4

Acho interessante que a pivot ao ler não lhe tenha parecido exactamente o que ela lia (será que eles ouvem o que lêm?) - Something Wrong... Way Too Low...Holly Fuck... Enfim...

Não são só os portugueses que acham que a Ásia é noutro planeta (pensando bem até é, mas para melhor, digo eu)...