quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014: os menos



O ano de 2014 correu para muita gente, e eu próprio não o vou incluir na minha lista do top-40 - tendo eu a bonita idade de 40 anos, penso que já entenderam onde quero chegar. Para este lote de personagens a que o ano agora findo foi também problemático, só me resta desejar-lhes um próspero 2015. E eles bem que precisam...



O TORQUEMADA

Já sei o que estão a pensar, mas certamente que a culpa não é minha, se o senhor é pouco fotogénico. É que em todo o caso Peter Stilwell tem poucos motivos para sorrir, depois de ter feito história pela negativa, tornando-se o autor do primeiro saneamento político da curta existência da RAEM, bem como o primeiro grande acto de censura e atentado à liberdade académica, ao despedir um professor de Ciência Política por ter feito comentários políticos - de gravidade discutível, diga-se de passagem. Mais grave se torna quando estamos aqui a falar de um sacerdote da Igreja Católica e reitor de uma Universidade que deveria promover o pensamento livre entre os futuros quadros de Macau. Sinceramente não sei quantos pai-nossos e avé-marias são precisos rezar para obter a expiação deste pecado, mas acredito que serão muitos.



UM LOCAL POUCO RECOMENDÁVEL?

E continuando no tópico da liberdade académica, quem também ficou mal no retrato foi a Universidade de Macau, que também foi notícia em afastar o académico Bill Chou, devido à sua alegada afiliação política - e a "política" parece mesmo ser aqui o problema, pois este é também professor de Ciência Política, e actualmente vice-presidente da Associação do Novo Macau. Pouco depois de ter mudado para o seu novo "campus" na Ilha da Montanha, a UMAC voltava a ser notícia pelos piores motivos, quando agiu de forma desproporcionada com uma aluna que durante a cerimónia de graduação em Junho último exibiu um cartaz pedindo que deixassem de perseguir os académicos. Juntamente com Bill Chao, foram alvo de processo disciplinar pelo menos mais três professores. Pouco digno do que se poderia esperar da principal instituição de ensino superior do território.



FALTA DE CHÁ

Se ninguém sabia a razão de Lam Heong Sang ter uma presença discreta no hemiciclo da Praia Grande, ficou completamente esclarecido neste ano de 2014. O vice-presidente da Assembleia Legislativa foi a personificação do "nervoso miudinho" que existiu à volta do polémico diploma que atribui regalias aos detentores de altos cargos públicos. Inquirido por um repórter do canal inglês da TDM, o Vice-Presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau e Membro da Comissão de Ética para a Administração Pública (?) ficou irritado, e disse que o profissional da comunicação "tinha baixo nível" - e isto à frente de miríades de câmaras e outro equipamento de recolha de de som e imagem. E falando de "imagem", é a da AL que sai mais manchada do incidente.



CHERCHEZ LA FEMME

Havendo alguém para onde apontar o dedo pela responsabilidade do diploma cuja votação na especialidade seria cancelada após os protestos de 25 e 27 de Maio, esse é Chan Chak Mo, presidente da comissão que elaborou o texto que tanta celeuma provocou. Mas já não é de hoje que o empresário de Hong Kong e gerente da companhia Future Bright anda com a popularidade em baixa - Chan Chak Mo é visto pela opinião pública como um dos "tubarões" do mundo empresarial local, e parcialmente grande responsável pelos problemas ligados à inflação e à especulação imobiliária. Conhecido pela sua postura arrogante, fez beicinho quando se colocou a hipótese do boicote aos restaurantes da cadeia da sua empresa: "O que é que eu fiz para vocês serem assim mauzinhos comigo? Buh uh uh..."



MEA CULPA, MINHA GRANDE CULPA

O referendo civil foi o "happening" deste Verão, e apesar da postura oficial ser a da "desvalorização", muito boa gente "patinou no gelo" feito um iniciante. Um deles foi o deputado e professor de Direito da UMAC, Gabriel Tong, protagonista de uma cena digna dos tempos da Revolução Cultural. Depois de ter afirmado que o referendo "não é ilegal", foi dias depois à AL afirmar que "sim, é ilegal e sempre foi" - só lhe faltava mesmo um cartaz com dizeres insultuosos pendurado ao pescoço.



ACEITAMOS ENCOMENDAS PARA FORA

Em 2014 foram inaugurados conceitos inéditos à escala mundial, e Macau foi o balão de ensaio, tudo por culpa da "bota" do referendo civil, que era difícil de descalçar. Desde o "ilegal porque não é legal", ou "Não é ilegal, mas é mau, e é ilegal ser mau", entre outras pérolas, brincou-se às intepretaç­ões extensivas e abusivas da lei, e o vencedor foi o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais, que ao estilo da GESTAPO a atirar para a Stasi, desencantou um artigo que serviu para deter os organizadores do referendo. Momento alto: "O BIR é um documento importante para provar a identidade do residente de Macau". Pudera, de tão duro que é, e com todas aquelas arestas, queriam que servisse para....?



EPÁ, PAREM! ASSIM NÃO VALE...

Com tantas voltas e reviravoltas, desde as manifestações até aos atentados às liberdades, passando pelo referendo civil, o trânsito caótico ainda deixava as coisas mais complicadas: demorava-se muito tempo a chegar a parte nenhuma. E assim em 2014 continuou o reinado de terror dos homens do táxi, perante a inoperância do rei Wong Wan, director da DSAT, que é muito pesado para simplesmente pegar nele e atirá-lo pela janela.



O TRUQUE DA INVISIBILIDADE

O Comissariado Contra a Corrupção tem desde o dia 20 um novo comissário. Mas espera lá...tinha algum, antes? Aparentemente tinha, um tal Vasco Fong. Não, também não dei por nada.



AGORA JÁ NÃO QUERO...

Tive uma ideia espectacular: e que tal se Susana Chou mudasse a data daquelas entradas no seu blogue onde demonstra o enorme ressabiamento que sente pela administração que serviu durante dez anos? Podia mudar para...sei lá, 2005? 2006? Quando era relevante falar dos temas que vêm agora na forma de roupa suja? Aquela de "já saber que Ao Man Long era corrupto" foi muito boa. E os números do próximo sorteio do Mark-Six, que tal?

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