Vi hoje no Telejornal da TDM que os Rangers, clube de futebol com sede em Glasgow, na Escócia, perdeu por 4-0 numa partida do Championship, a segunda divisão escocesa, e que esta foi "a maior derrota em 102 anos" dos 142 de história daquele emblema. Ssssiiiimm...bem, se não contarmos os resultados nas competições europeias, acredito, mas também diga-se em abono da verdade que até aí a última vez que tinham perdido por estes números foi em 96 na Liga dos Campeões, em Itália frente à Juventus. O futebol escocês é deprimente, mas tem uma ou outra particularidade engraçada. Em termos competitivos tudo se resume à rivalidade entre os Rangers, 54 vezes campeão e 33 vezes vencedor da Taça da Escócia, e o Celtic, também de Glasgow, campeão 45 vezes mas com mais taças conquistadas: 36. A rivalidade entre os dois clubes tem um significado que vai muito além do futebol, pois o Rangers é o clube dos "unionistas", leais à coroa britânica de confissão protestante-anglicana, e o Celtic é o clube dos católicos; os primeiros têm um quadro da rainha na sala e uma carpete à entrada com a cara do Papa, e os outros vice-versa - isto às vezes dá porrada, não tivesse religião metida pelo meio.
Rangers e Celtic têm dominado o panorama futebolístico nas terras altas da Grã-Bretanha desde sempre, mas com maior incidência nos últimos 30 anos. É preciso recuar até 1985 para encontrar outro campeão que não estes dois, o Aberdeen, orientado então por sir Alex Ferguson, antes de ser "sir". Recorde-se que o mítico treinador do Manchester United é escocês, e no seu país natal treinou, além do Aberdeen, o St. Mirren e a selecção - nunca um dos clubes da "old firm", que é também o nome que se dá ao "derby" que põe frente a frente Celtic e Rangers. Contudo fica por explicar a razão dos Rangers estarem numa divisão secundária, o que tem deixado os seus rivais católicos à vontade e sem oposição, a vencer campeonatos uns atrás dos outros. Ora isto deve-se ao facto do Rangers ter falido em 2012, ficado sobre administração da Federação, e rebaixado à Segunda divisão, o quarto nível da pirâmide do futebol escocês. Mas quem sabe nunca esquece, e agora sob a presidência de Ally McCoist, antiga glória do clube, o clube subiu ao segundo nível em dois anos, mas está mais difícil regressar à divisão principal. A principal razão prende-se com a concorrência, pois a liderança pertence a outro respeitável emblema das Highlands a passar por um momento difícil, o Hearts de Edimburgo, que lidera com quinze pontos de vantagem sobre o Rangers e dezanove sobre o Hibernian, também de Edinburgo, também com pergaminhos e também em crise. Só o primeiro sobe directamente, e os quatro seguintes jogam um "play-off".
Mas serão só católicos e protestantes que têm direito a torcer por um clube em Glasgow? E se eu fosse "Glasguense" (glasgonês? glasganete?) e não tivesse qualquer simpatia política e religiosa? Ora, para mim há o Partick Thistle F.C., o clube para escoceses de "kilt" encardido e barba rija e ruiva, que bebem uma ou duas garrafas de "scotch" depois de acordar e em cada duas palavras que dizem soltam um "arrrhhh!" - é o clube do Groundskeeper Willie dos Simpsons, mesmo que ele diga que apoia o Aberdeen. Partick (ou "partaig" ou "pairtick") é um distrito de Glasgow a norte do rio Clyde, e "thistle" é um cardo, uma planta que só um bom escocês compreende. Portanto estes são os "cardos" de Partick, e como o nome indica, quem se mete com eles, leva! Não confundir com os outros cardos, o Inverness Caledonian Thistle, que são da cidade de Inverness, como o nome indica, e o nome também dá outras pistas: é à beira do célebre lago Ness (não, o monstro não joga na equipa da terra). Ao contrário do Rangers e dos dois fanfarrões de Edimburgo, ambos estes cardos jogam na divisão principal, com o de Glasgow actualmente em nono lugar, e o de Inverness em quinto (estava em segundo à três semanas), numa liga que tem 12 equipas.
Mas para mim os escoceses estão é a perder tempo com isto do futebol, que é um desporto para meninas. A Escócia, com grandes tradições noutros desportos menos convencionais mas mais apaixonantes, casos da bebedeira, da porrada ou da cárie dentária, devia imitar os seus irmãos irlandeses e adoptar o Futebol Gaélico, que vemos ali explicado no vídeo. Os escoceses chamam-lhe Pêl-droed Wyddelig (fácil de pronunciar), e têm clubes respeitáveis na modalidade, como o Dún Deagh Dálriada, de Dundee, ou o Tír Conaill Harps, este de Glasgow, de que todos já ouvimos falar (eu já, pronto, agora mesmo). É que ficar pelo futebol como o conhecemos é uma merda para os escoceses, pá, e para aquilo ser minimamente digerível é preciso recrutar jogadores ingleses, e estrangeiros e o camano. Assim com este futebol gaélico dava para chutar a bola, ou em alternativa pegar nela com as mãos, e no evento de haver caldeirada, distribuir uma boa meia dúzia de socos e outro tanto de biqueirada. Não se esqueçam que isto são tipos que quase nunca vêem o sol. Arrrhh!
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