Fui dar com esta imagem numa página do Facebook dedicada a paneleirices do mesmo calibre, e se isto me irrita não sendo eu uma pessoa de fé, deixava-me fulo se fosse - desde quando é que Deus me vai ajudar partilhando uma macacada que uma desocupada (foi uma mulher) andou a publicar naquela rede social? Os palerminhas que insistem em "ladrar" contra as redes sociais darem voz a toda a gente, e consideram isso "perigoso", deviam era preocupar-se com este tipo de TERRORISMO. Sim, pode-se considerar isto terrorismo; nos anos 80, por exemplo, quando ainda não existia a internet, quem convencesse alguém a acreditar neste disparate, a seguir passava-lhe uma Magnum .45 para as mãos e mandava-o ir limpar o sebo ao líder da oposição de uma pequena república na América Latina. Quem convencesse um número considerável de pessoas, digamos umas 15 ou 20, podia começar um daqueles "cultos domésticos" que normalmente terminam com homicídios em massa ou pactos de suicídio. E porque não, se Charles Manson conseguiu formar um gangue de assassinos convencendo-os de que as letras de um disco dos Beatles, interpretadas por ele próprio, previam o iminente regresso de Jesus Cristo ao mundo? Faz sentido: Jesus Cristo vai voltar, portanto toca a matar toda a gente que aparecer pela nossa frente, de preferência de forma sadística, cortando os corpos os cadáveres às postas depois de decapitá-los? Quem fizer "picadinho" de uma mulher grávida no oitavo mês de gestação ganha um doce.
Mas sem querer estar aqui a insultar ninguém, deixa-me ver quantas pessoas partilharam esta bosta? Certamente uma ou duas, se calhar os próprios autores da brincadeira parva. Sim, ainda confio no bom senso da espécie humana. O quê? Quase sete milhões de partilhas? Estão a brincar, deve ser obra destes espertalhões, que na tentativa de dar mais credibilidade à sua fantochada criaram "bots" para simular este número. Podia ser esta a explicação, mas normalmente quando algo assim acontece é na ordem das poucas centenas, e nunca da meia dúzia de milhões. Mas olhando para a data da postagem desta fabulosa promoção "partilhe uma futilidade que nada tem a ver com religião nem com Deus ou qualquer igreja e ganhe um favor de...Deus!", vejo que é de Agosto de 2012, ou seja, já tem dois anos. Portanto estamos aqui na presença daquilo tipo de "spam" que aparece de vez em quando e ataca dois ou três milhões de pobres ignorantes de cada vez - é assim como o ébola, mas aqui a única vítima é a dignidade do portador do "vírus". Tentei descobrir quando teve início esta nova "epidemia", e para isso fui recuando na secção de comentários, onde constatei um fenómeno ainda mais interessante de observar do que seria Deus fazer mesmo um favor a alguém dois minutos depois de partilhar aquela espécie de cupão "vale um favor de Deus na compra de um microondas": há por aí muita gente necessitada de auxílio psicológico, e urgente. A qualidade de alguns dos comentários - e estive a olhar por alto para apenas umas vinte páginas deles - dava para ficar a discutir durante meses. Dava para dedicar um blogue inteiro ao assunto! Fica a sugestão para quem esteja interessado (e tiver paciência para ler tanta asneira) , que eu limitei-me a selecionar alguma "pérolas". Aqui estão elas.
Dos mais de 25 mil comentários (!), é seguro afirmar que mais de metade consistem apenas de "amen", que não é que se está a pedir aqui, mas pronto, os "amens" nunca são demais. Que o digam as alminhas caridosas que caem naquela esparrela que consegue ser ainda pior que esta, e que consiste em publicar a foto de uma criança mutilada, desfigurada ou com queimaduras de terceiro grau e pedir que se dê um "amen a este anjinho para que Deus o proteja". Bom, depois voltamos a esse lamentável espectáculo. Só nestes onze comentários, há oito "amenções" (menções de "amen"): seis "amens" simples, um triplo "amen" na segunda entrada a contar de cima, e um AMEN maiúsculo na quarta.
Depois há os amens mais compostos como são os casos de Ruby Marigsa, que já com a tradução para português feita na hora, apela: "Ajuda-me, Deus! Amen!". Além da maioria absoluta de "amens" na secção de comentários, outro facto que se verifica a olho nu é o de dois terços das entradas serem da autoria de cibernautas norte-americanos ou mulheres naturais das Filipinas, entre as que vivem nesse país e as expatriadas. Ruby: não sei se isso é uma oração cheia de fervor, ou um pedido de ajuda sincero, mas caso estejas em apuros, o melhor é ligar também para o número de emergência. Sim, sim, claro, Deus vem a caminho, mas é só para ter uma garantia, nunca se sabe. Só uma sugestão.
Ann Chalmers diz que "Deus é que sabe", e eu digo que ela "é que sabe de si", enquanto Matthew Upson diz "Yep", como quem concorda com essa elaborada e original teoria. No fim temos os dois maiores "cromos" desta página da caderneta; Brian Hembley não se contenta apenas com "amen", e atira com um "dos nossos lábios para os ouvidos de Deus, amen". É só para ter a certeza que a mensagem chega ao destinatário. No fim o Tyler Hewitt achou que seria engraçado chegar ao pé de um grupo de gente a fizer uma figura triste e fazer uma pior ainda, deixando um "Avé Satanás". Destoa do resto, temos que reconhecer, e só pela originalidade, olha o que é que o tio Satã deixou para o menino brincar? Ah? Quem é amigo, quem é? Bom proveito.
Sem que ninguém lhe tenha pedido que o faça, Tracey Taylor fala do que é para ela Deus, que "vê todos os dias nos olhos dos seus filhos e netos, e por isso O ama, de tão abençoada que foi". Este é o tipo de pessoa que mete Deus em qualquer conversa, do género "Amanhã é o piquenique do curso de tricô em ponto-cruz, e eu sei que não vai chover, pois Deus ama-nos e retribui a quem agradece, blá, blá, blá". Na eventualidade de cair uma chuva diluviana com início e fim no exacto período em que decorria o tal piquenique, ela dirá "Se Deus mandou esta chuva, é porque talvez devessemos repensar a forma como estamos a tratar da nossa higiene pessoal. Ele sabe o que é melhor par aos Seus filhos, blá, blá, blá". Se tiver uma vizinha assim, deseja matá-la mas não quer ser preso por homicídio mesmo estando a fazer um favor ao mundo e à própria vítima (afinal assim vai para o Céu, e fica toda contente), recomendo-lhe que emigre para bem longe.
Depois ao meio, após mais um "amen" para a continha, temos um tal Wade Sanders, que nos explica como "é mau andar a enganar as pessoas deste jeito", e que "se estão a aproveitar da espiritualidade de pessoas imaturas". Concordo, sim senhor, constata o óbvio, mas parece que temos finalmente alguém com um pouco de bom senso. A seguir explica-nos como isto pode dar origem a uma tragédia! A sério? Uma tragédia??? Claro, imaginem que alguém anda deprimido por levar uma vida de bosta e pede a Deus a tal ajudinha instantânea, e dois minutos depois esta não chega. Lá vai ele saltar da janela do 12º andar e o vizinho do rés-do-chão fica com os Gerânios todos cagados de mioleira, não é mesmo? Não, aparentemente o perigo é outro: "E se um não-crente anda à procura de Deus, pede o favor e dois minutos depois nada acontece? Já viram o que fizeram?" Nãããooo! Isso é que não pode ser, pá, isso devia ser um crime. Não sei o que o Wade Sanders entende por "não-crente", mas julgo que será alguém que nunca esperaria um favor de Deus apenas partilhando algo no Facebook? Porque senão isso seria ser demasiado...crente? Parvinho, até? Este gajo é dos mais perigosos; cria a ilusão de que é normal, e quando estamos prestes a convidá-lo para um churrasco lá em casa e apresentá-lo aos outros amigos e respectivas famílias, aparece uma ambulância de onde saem a correr dois enfermeiros, que depois o amarram com uma camisa de forças e o levam de volta para o hospício. Já viram o cagaço que não era???
Finalmente Roslyn Hartman diz que "ama Deus e tudo o que Ele fez por ela", concluíndo com um enigmático "smiley", como quem diz que gostou do que comeu. Hmmm...suspeito, mas pelo menos esta está agradecida pelas dádivas do Senhor. Vamos ver outros.
Agora aqui o testemunho dos clientes desta promoção, e que só têm bem a dizer dos favores de Deus, que também podem ser seus! Basta partilhar! Partilhe já!
George Carr, como quem não quer nada, diz que "obteve alguns favores", como quem diz: "Eu até nem acredito nisso de Deus, mas acontece que partilhei, e pronto, tentei pedir assim umas coisitas, e não é que Deus apareceu à minha porta a pedir-me para assinar os papéis de como as encomendas foram entregues? Continuo a não acreditar em Deus, mas que ele existe, existe". Steve Garcia parece concordar, com aquele sorriso de orelha a orelha, dando o "amen" da ordem e dizendo que Deus "fez tanto por ele". Pudera, pois "está todos os dias em toda a parte", como afirma Janina Kluba, e no fim temos outra cliente satisfeita, Rhonda Green, que diz "obrigado senhor por tudo o que tens feito por mim e por me teres guiado na tua direcção.
Eu quando leio isto não consigo pensar em Deus, na definição de Deus que, pronto, e aqui anda a distribuir ofertas, portanto do "Deus caridoso". Vem-me a cabeça o correio-rápido, que entrega a sua correspondência num fechar de olhos, uma espécie de faz-tudo, que conserta buracos no telhado e limpa as folhas caídas na piscina, o 7-11, aberto 24 horas por dia, sete dias da semana, e um cão-guia que orienta um ceguinho. Razão deve ter aquele enigmático Billy Greene quando diz: "E pensam que Deus é assim? Foi ele que vos disse, ó humanos". Espera lá, este tipo sabe qualquer coisa que a gente não sabe, como se fosse "íntimo" de Deus, uma visita lá de casa. E chamou-nos de "humanos"...e ele, é o quê? Será...um ARCANJO?!?! Oh, oh, oh! Se me pedissem para responder, eu dizia que não, é apenas outro chico-esperto que se destaca dos outros que afirmam a pés juntos que Deus anda por aí a ver como é que a malta se porta, mas sabe mais que os outros. Bardamerda para ti, Billy Greene.
Agora reparem na ingratidão de certas pessoas. Chris Esomo não precisa de mais nada, porque Deus "já fez muito por ele". Pois é, mas quer a religião, quer os restantes maluquinhos que andaram a comentar nessa página acham que Deus é que sabe o que tu precisas, e se Ele quiser que tu comas a feijoada até te começar a sairem feijões e chispes pelas orelhas comes e calas-te.
Depois a Jacinta Tofi diz que também já se fartou do "buffet" dos milagres, e aparentemente come pouco: "Ele morreu por mim na cruz, e acho que isso é suficiente". Boa menina, só que andou a faltar à catequese, coitadinha; então Deus morreu numa cruz pelo meu amorzinho? Que grande cruz, devia ser essa. E nem era assim todo-poderoso se O apanhassem tão a jeito, diga lá se é ou não é? E cheira-me aqui a comuna. Deus morreu? Esta é a bisneta do Marx ou quê?
E se a Jessica cometeu sacrilégio por ignorância, a Rosemarie Simangan fê-lo por mero lapso - mas em comum têm o facto de serem ambas burrinhas, benza-as o Deus que elas tanto adoram e de que falam como se tivessem visto todos os seus filmes e comprado todos os discos que Ele gravou. Portanto a Rosemarie queria dizer que "Deus é tão bom" (good), e sai-lhe que "Deus é tão pateta" (goof). Olha, não faz mal, é só uma letra, e até ao dia em que a Rosemarie estiver a arder no enxofre do Inferno violada pelos capetinhas mais dotados pela frente, por trás, pela boca e pelas orelhas, não tem qualquer importância.
Alto e pára o baile, que chegou o Diácono Remédios, o Beato Salú, e o Inquisitor Torquemada, que não podia vir e assim mandou este seu acólito, o Robert A. Diaz, para nos dizer que o facto de Deus nos ter dado a vida "é mais que suficiente", e que "nós ocidentais somos os maiores hipócritas quando se fala de fé". Olha-me este, que só pelo nome cheira que tresanda a óleo de fritar os churros. Se isto é uma "questão de fé", a "roulotte" de tacos dos teus paizinhos é um restaurante "Gourmet", é ou não é, ó Speedy Gonzalez. Por acaso eu ou mais alguém te passámos procuração para falares em nome do Ocidente, "pindejo"? E de resto vi por ali outros comentários de indivíduos que afirmam que Deus os "deixou viver três vezes", ou que tiveram "duas oportunidades". Intrigante, sem dúvida. E é mesmo assim, Deus deu-vos a vida para poderem crescer, viver, ter uns dias bons, outros assim-assim e outros maus, e no fim ainda têm a honra de assistir à vossa própria decadência, ficarem doentes e depois morrerem. Isto se antes disso não meterem os dedos numa tomada, ou levarem com um camião em cima, ou qualquer coisa a que um elefante e um hipopótamo sobreviveriam, mas nós não. Isto não vos chega? Querem mais? Qualquer dia ainda começam a fazer perguntas, qual é o sentido de tudo isto e não sei quê. Haja dó. Mas esperem lá, deixem as questões metafísicas e todas as interrogações para quem percebe do assunto.
Aí está, a peça que faltava no "puzzle", trazida pelos filósofos "da casa". Patrícia Eddington, esse poço de retórica, esse espírito crítico, denuncia a fraude que é o Deus dos homens! Eta! Dáli di bem! Então aquela organização terrorista horrível, o Estado Islâmico, diz que "Deus" está do seu lado, depois os israelitas dizem o mesmo, o mesmo Deus esteve do lado dos brancos (isto é que é um festival anti-branco que para aqui vai) durante a escravatura e o massacre dos nativos da América, e finalmente os alemães acreditavam que estavam com Deus durante o "halacosto". Ó Patrícia, aquilo não foi o "halacosto", nem as vítimas eram judeus. Vê lá se não te esqueces: chama-se "mundial de futebol FIFA 2014", e os massacrados foram os...os..."bra-si-lei-ros". Qual "halacosto", pá. Mas a Patrícia até tem razão, pois Deus coloca-se do lado deste e daquele assim como quem...ah não, espera aí, independentemente das razões porque o fez, todas estas "opções" de Deus foram tomadas em períodos distintos da História da humanidade. O porquê de tomar decisões tão pouco "ortodoxas" desconheço, ignoro, e prefiro continuar assim - o Deus é vosso, portanto resolvam vocês esse enigma. Mas a Patrícia por muito burra que seja, tem sempre uma mão amiga que não a deixa ficar (tão) mal.
John Winslow puxa da sempre eficaz arma argumentativa do "se está bem feito fui eu, senão foi o outro menino". O senhor, que aparente idade para ter juízo (se calhar é demente coitado) repreende a Patricia dizendo-lhe que as situações que ela descreve "não têm nada a ver com Deus", mas sim "com o homem". Pois é, quando os progressos da ciência curam as doenças, ou a tecnologia nos deixa mais próximos ou com a vida mais fácil, foi Deus. Quando morre o doente ou acontece merda da grossa, fomos nós. Ahem, nós vírgula, foram vocês. Eu só cá vim para ver os palhaços, mas outros há que não querem ter nada com debates teológicos e só vieram por causa da promoção. É o caso da Shelly Morris, que pede para "pararem", aparentemente e atendendo ao contexto, para pararem com a discussão. O apelo à paz tem uma razão de ser: se repararem na hora da entrada do John Winslow, vêem que foi dois minutos antes do comentário da Shelly Morris. O que a tipa quer é que Deus lhe faça o favor, e se continuam naquilo Ele ainda se aborrece e fecha mais cedo a loja. Mas há ainda melhor...
"And the winner is..." Jean Jett, que diz "não acreditar nestas tretas", mas pelo sim pelo não, partilhou na mesma - claro, é como jogar no Euromilhões: nunca se sabe. E já agora que favor pediu ela até perceber que fez figura de parva? Arrisco um: ser bilionária. Queria pedir para ser bilionária e que finalmente o mundo vivesse em paz, e que todos os homens dessem as mãos e fossem irmãos. O problema é que depois com tanta "paz", as mãos ocupadas e as constantes reuniões familiares, não ficava ninguém para lhe trocar o balde do gelo quando estivesse de perna esticada na praia em Malibu. Ela não acredita, nem eu acreditava nesta gaiola dos malucos. Só visto.
1 comentário:
Ena Pá, gabo-lhe a pachorra. Uma "Tese de Doutoramento" sobre a imbecilidade humana.
Ah, considero-me religioso, mas estas paroleiras fazem-me rir.
Já agora, comparti-lha esta mensagem nas redes sociais e Deus vai-te dar uma gargalhada.
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