domingo, 28 de dezembro de 2014

O pidezinho que há dentro de nós



Estava hoje a acabar de jantar enquanto esperava pelo programa "Contraponto" da TDM, e antes deste e logo após o Telejornal deu o programa "Ler +", que pela enésima vez foi dedicado ao trabalho da poetisa Maria Teresa Horta. Admiro muito a senhora, e a coragem que teve, desafiando o Estado Novo e a censura, e tudo isso, mas não sou grande adepto de poesia portuguesa contemporânea - acho mesmo que a poesia como género literário esgotou-se, e vai havendo cada vez menos espaço para sonhar acordado, e a realidade é demasiado dura para servir de travesseiro. Contudo o que mais admiro na senhora foi a sua resiliência, a sua força de vontade própria de quem se quer libertar das correntes da ignorância e do seguidismo acrítico, indo contra as convenções da época. Além da própria PIDE, a "auto-intitulada" polícia a que foi confiada a aplicação da tal censura, tinha contra si todos os outros que achavam que as coisas estavam muito bem como estavam, e que mudar só ia tornar tudo muito pior. Uns, poucos, pensavam desta forma porque o regime lhes servia às mil maravilhas, e os outros, a grande maioria, por cobardia; mas não só: o processo de brutificação que os boçais do poder tinham engendrado para tornar o povo ainda mais boçal que eles teve o efeito desejado. Com este cenário não me surpreende que a única saída fosse a revolução, o que veio a acontecer, efectivamente - em retrospectiva, tivemos sorte de ter sido uma revolução relativamente pacífica. É que para grandes males, já se sabe, e este era um mal enorme; e feio, mas o pior é que ainda resiste, o cabrão do carbúnculo pidesco. Só aquele pequeno excerto do programa dedicado à luta da Maria Teresa Horta pela liberdade de pensar, dizer e escrever o que muito bem lhe apetece dentro do respeito pela individualidade alheia já era suficiente para me fazer lembrar de outra realidade, geograficamente distante daquela, mas tão actual que parecia que a estavam a descrever naquele preciso momento.

O trabalho de Maria Teresa Horta foi censurado na base do "porque sim, porque nos apetece e isto não se diz" - típico de gente bacoca. O mais notável foram as "Novas Cartas Portuguesas", e num processo célebre na época foi acusada juntamente com as duas outras autoras da obra, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa (também elas "Maria" de nome, ficando o grupo conhecido por "Três Marias") de atentado ao pudor, pois o conteúdo abordava o amor do ponto de vista da mulher e o próprio prazer feminino, não tanto o sexual, mas o da paixão em geral, com "prazer" aqui a ser sinónimo de satisfação, de bem estar. Mas não, não pode ser, e por isso o livro foi considerado "imoral" e "pornográfico", e isto com a benção adivinhem de quem? Pois, quem mais dá bençãos a não ser esses? Quando me vêm chatear os cornos a propósito da minha aversão às religiões em geral e à Igreja Católica em particular - "perguntar" ou "querer saber" não implica os julgamentos de valor que são feitos logo na hora em relação à minha pessoa - podia muito bem citar este exemplo. O que mais querem que eu pense a esse respeito quando em pleno século XXI ainda há pessoas que manda calar outra que diz algo que só eles interpretam como blasfémia, e depois olham para cima enquanto se benzem e pedem desculpa? Mas está tudo maluco ou quê? Estão a falar com os passarinhos, é? Ou será a uma mosca que está pousada no tecto? Mas isto tinha tudo um fim, é lógico. Ninguém se arma em maluquinho e tenta fazer os outros ainda mais maluquinhos por diversão.

Mas voltando ao assunto que aqui me traz. A certo ponto, a escritora fala dos canais que então utilizou para difundir a sua obra, uma vez que estava na lista negra das editoras e das livrarias, e como não podia deixar de ser, naquele tempo os únicos que se dispunham a ajudá-la eram os que optaram por se colocar no lado da oposição extrema ao regime: os comunistas. Aqui era esta a oposição, mas podia ser outra qualquer, bastava ser "contra". Se fosse um regime comunista a mandar, se calhar chamavam-se "democratas" - já estão a ver onde quero chegar, certo? Diz ainda que na altura em que a PIDE a pressionava mais, "ligavam-lhe para casa de madrugada", e "para os seus familiares", e quando havia uma voz, esta "dizia obscenidades, fazia ameaças ou insultos". Epá com um raio que o parta! Isto não vos faz lembrar nada? Todo este "quem não está connosco está contra nós, e se não gostar da alternativa, então está contra os dois"? O dramatismo do tipo "amor ou morte", com pessoas a serem seguidas e a ligarem-lhe para casa de madrugada? É verdade, meus amigos: quase meio século depois, Macau é em tudo parecido com Portugal no tempo da PIDE. Não? E não devia estar a dizer isto? Ah então, isso é o melhor que conseguem? E que tal chamarem-me à parte, insinuar que me vão lixar enquanto me tentam fazer ver que "gostam muito de mim, e é por isso estão preocupados comigo"? Ou se estiverem com muita pressa, podem sempre sentar-me à vossa frente e perguntarem-me "o que é que eu quero". Olha, e que tal "quero que vocês se lixem"? Mas já lá vamos, passemos agora à segunda metade deste "romance policial".

Veio a seguir o programa "Contraponto", que concluíu o tema da semana passada: os 15 anos desde a criacção da RAEM. Para este epílogo os convidados foram Carlos Morais José (CMJ), Miguel Senna Fernandes (MSF) e Emanuel Graça, e o que só por esse facto já prometia ser no mínimo interessante. O moderador do debate, o jornalista Gilberto Lopes, começou com uma pergunta forte: o que está melhor e o que está pior desde 1999. Aqui quem ficou um pouco de fora do fogo cruzado que se seguiu foi Emanuel Graça, que deve ter ficado um pouco baralhado. Claro que não tem a culpa de ter chegado (julgo que) apenas em 2005, e não ter essa referência do pré e após 99, pelo que ficou complicado entender o que movia a discussão entre os outros dois elementos do painel. De um lado tinhamos CMJ a dizer que Macau tornou-se uma cidade "desconfortável", que perdeu bastante em termos de qualidade de vida - nem era preciso acrescentar mais nada em frente do "qualidade", se bem que o conceito mais abrangente de "vida" também assenta como uma luva a este diagnóstico. Do outro lado tinhamo MSF a dizer maravilhas da RAEM, e de como há quinze anos "não tinhamos as coisas que temos hoje". De La Palisse, bien sûr, mas mesmo assim questionável. O que mais me assusta é que não só não tinhamos "o que temos hoje", como ainda esse era o nosso maior receio. E parece que se concretizou, para mal dos nossos pecados.

Não posso acusar nenhum deles de coisa nenhuma. O Miguel Senna Fernandes é possivelmente uma das pessoas mais pacíficas, conciliadoras e acessíveis que já conheci - pelo menos tendo em conta o seu estatuto, e há outros que com muito menos julgam ter o rei na barriga. Este é o tipo de pessoa que vê outras duas a discutir, ou ao estalo uma na outra, vai separá-los com um ar preocupado e diz: "shh...então o que é isso?". Não o faz por querer saber mesmo o motivo do desaguisado, mas apenas para que toda a gente se dê bem e não haja chatices para ninguém. A sua motivação é nobre, e estou aqui a falar de uma das poucas pessoas que ainda faz qualquer coisa na área da cultura e das artes, e ainda o faz despretenciosamente e sem ganhar bateladas de dinheiro com isso. O problema é que nem uns dão descanso aos outros, nem os outros são feitos de ferro, e um dia a casa vem abaixo. Carlos Morais José fez-me lembrar a selecção portuguesa, numa versão a que nos temos habituado a ver nos últimos anos: joga bonito, desenha jogadas fabulosas, faz passes de morte, mas falha no capítulo da concretização. O que eu quero dizer é que ele andou ali à volta da ferida e na hora de tocar nela fê-lo apenas de leve, ou nem isso. E isto tanto se consegue entender, como se aceita e ainda se receita: todos sabemos de coisas que se passaram ou que se vão passando, que só de mexer rebentam logo, e estando nós mais perto, o grosso dos estilhaços acaba enfiado na nossa cara, ficando o destinatário da nossa denúncia delatória a rir do nosso acto de heroísmo a atirar para a estupidez: "Mais um herói caído em combate" - diriam depois do pobre pateta.

As "coisas boas" que MSF referia tinham aparentemente a ver com alguns dos progressos na área da tecnologia, mas aí temos que ver que o resto do mundo está igual ou melhor que Macau, e havendo corporações multinacionais com sentido empresarial a lucrar com o negócio, porreiro, o Tio Patinhas dorme descansado e não chateia ninguém. No "quanto" parece que está tudo bem, mas no "como" é que nem por isso. A CTM, helas, cherchez la femme, a única operadora da rede móvel, uma situação de monopólio no sector das comunicaç§es que nesta região só encontra paralelo na Coreia do Norte. A questão não se prende tanto com a lentidão, ou coma a viabilidade de mercado desta ou daquela tecnologia, mas com antes com o fim. E com que "fim" temos uma ligação medíocre e apenas uma companhia encarregada de todas as contas da rede móvel e internet? Sendo que fica assim mais fácil controlar essa rede e essas contas e identificar os seus clientes caso seja necessário, quem é que lucra com isso?

Quanto à possibilidade que o MSF levantou, de "não se investir por não existir um mercado que o justifique", acho isto uma mentira em que nem as próprias pessoas que acreditam nela estão plenamente muito convencidas - se há algo aqui em que as pessoas normalmente investem sem pestanejar é em tecnologia, pois trata-se de investir nelas próprias, o que lhes parece sempre um investimento acertado. Idiotas. Sei que o MSF não injha nenhuma intenção maldosa, e estaria apenas a recitar a justificação padrão mais "apaziguadora", mas eu costumo dar o exemplo dos Donuts. Quais Donuts? Estes:



Estes donuts. Cada vez que digo que aqui no território não temos uma loja de donuts como outras cidades e territórios aqui à volta, a resposta que mais obtenho é: "as pessoas de Macau não gostam". Reparem na subtileza desta humilde presunção: "as pessoas de Macau" - uma única pessoa a declarar o que meio milhão de outras gosta ou não. Se "apertarem" com o tema, ainda conseguem ouvir qualquer coisa como: "as companhias não investem por causa dos preços das rendas das lojas". Ah aqui parece que já nos estamos a entender. Agora é só acrescentar o miserabilismo dos consumidores de Macau, que dão milhares por um telemóvel de última geraçÒio que daqui a seis meses "nem para partir nozes serve" (isto segundo eles), mas quase que se mijam todas quand o lhes pedem 10 ou 15 patacas por um bolo, e atiram de imediato com o facto de "no Maxim's um 'po lo bao' custar quatro patacas e meia". Olha, tomem lá dez patacas, comprem dois desses e metam-os pelo cu acima. E podem ficar com o troco.

Depois há outra curiosidade fascinante que observo cada vez que dou este exemplo - há sempre um chico-esperto qualquer que insinua que "é tudo o que eu quero: donuts" e ainda acrescenta "Só isso? Ohohohoho". O estimado leitor honesto, bem formado e com dois palmos de testa entende que este é um exemplo como outro qualquer; faltam donuts e faltam outras coisas, e mesmo que sejam apenas produtos de consumo imediato e até fúteis, como donuts ou "fast-food", a falta deles em Macau deixa-nos sem entender muito bem o que temos nós aqui se tão bom, afinal. Anos a fio a convencer as pessoas de que aqui temos uma sorte do caraças, e que lá fora andam todos a comerem-se uns aos outros deu origem não só a pessoas sem horizonte, mas também alimentou um monstro cujos filhos aprenderam que "pensar muito faz mal". Dizer que "eu quero é donuts" é pegar no acessório para desviar a conversa do essencial, mas eu até compreendo que prefiram assim do que a dizer que não têm resposta para me dar quando pergunto "onde estão essas coisas maravilhosas" que dizem por aí que temos em Macau, mas sejam honestos. Não me ofende que não me queiram dar razão, nem preciso da vossa anuência para coisa nenhuma, mas por favor abstenham-se de me tratar como um atrasadinho mental, que eu nao vou na conversa. Mas o que nao falta por ai e quem se lambuse com a banha da cobra, e isto leva-me ao ponto que nao sendo o essencial, e o mais triste, de dar pena aos frangos carecas: a comunidade portuguesa.

Tanto CMJ como MSF não conseguiram encontrar palavras para descrever a comunidade portuguesa em Macau, e um deles - julgo que MSF - disse mesmo que que "em vez de comunidade talvez devessemos dizer comunidades", referindo-se certamente à desunião, individualismo, pedantismo, narcisismo, autismo e cabotinagem que caracterizam em traços largos a nossa comunidade. Reparem que me estou a incluir neste lote, e mesmo sem me identificar com qualquer destes atributos, sinto-me parcialmente responsável. Desunida ou não, equipa é equipa, e quando ganha ganham todos, e quando se perde não interessa de quem foi a culpa nem há "ses" ou "mas": todos carregam consigo uma parte do peso da derrota. Já agora, inclui-se neste lote o sub-grupo dos macaenses, que o MSF tão bem conhece, e que neste anti-jogo "contra" tem uma característica fenomenal, invejada pelos treinadores mais masoquistas, para quem a derrota é praticamente o ar que respiram: consegue dividir-se, e desta divisão acaba por sair outra divisão, e depois mais outras, até que chegamos a ter grupos compostos por apenas um indivíduo. Quando alguém nota que este anda muito calado ultimamente, responde que "se chateou com ele próprio e deixou de falar consigo mesmo". O mais engraçado é o facto des dizerem mal de si mesmo, mas não gostam de ouvir a mesma coisa da boca de outros. Mas neste "abacaxi" estamos todos juntos, por isso tanto me faz que se cosam ou que se cozam.

A respeito deste tema, CMJ foi buscar a questão da língua portuguesa, e talvez eu esteja a fazer uma interpretação errada associando as duas coisas, mas aqui o nosso problema tem mais a ver com o fígado do que com a língua. Depois de 99 notou-se um certo apaziguar de alguns ânimos mais agitados, e agora dá para entender melhor o porquê desse fenómeno: andou-se a "apalpar terreno", a ver o que é que isto ia dar. Uma vez convictos de que não ia existir problema de maior, deram à costa alguns galifões, uns que acabavam de despertar da hibernação sabática a que se sujeitaram, e outros completamente novos, cheios de garra e pêlo na venta, chegados com as baterias por estrear. Aqueles mais "old school" aprenderam a movimentar-se nas sombras, pautando-se pela discrição, desferindo sempre que necessário golpes singulares, mas sempre certeiros e letais. Um truque que aprenderam com os novos senhorios foi o da "invisibilidade", optando agora por atingir os seus fins com recurso a intermediários, evitando uma exposição possivelmente danosa em termos de imagem. Os mais novos, por outro lado, são uns tipos e umas tipas que mal vieram, logo viram e finalmente perguntaram: "aceito o cargo de rei desta merda toda; agora levem-me ao trono". O que é mesmo de lamentar não é tanto a cagança desta gentinha, mas o facto de não usarem para o bem toda aquela experiência, sabedoria, dinâmica e conhecimentos técnicos. Em vez disso convenceram-se que isto eram favas contadas, estes gajos não me chegam aos calcanhares, e como de burros não passarão e as suas vozes aos céus não chegarão, toca a tomar toda a gente por parva, agradar só a este e àquele por motivos "estratégicos", e toca a capitalizar, já que isto perdido por cem, que perca por mil, e já que alguns desses golos sejam da minha autoria.

De facto em termos estruturais o território peca pelo baixo nível de quase tudo em termos de material humano: qualificações, capacidade de liderança e de decisão, ou de lidar com situações novas, perícia, ou "talento", o que lhe quiserem chamar, e é de notar o desinteresse pela aquisição de valências que permitam aos residentes maior competitividade. Há um problema? Chama-se alguém de fora para de resolver. E que tal formarmos a malta de cá? Na...isso demora tempo e a solução era para ontem, e além disso "dá trabalho" - aqui está uma coisa a que o pessoal de cá é alérgico, o trabalho. O que eles querem é emprego, de preferência sentados, bem remunerados e sem ninguém ou nada que lhes dê chatices. E entretanto nós, comunidade portuguesa, gente com horizontes largos e escolaridade de aprendizagem diversa, adquirida em plena liberdade, em vez de "puxarmos" por eles andamos mais preocupados em "fazer a folha" uns aos outros, ocupados com a masturbação mental que tem sido patente estes últimos anos. Andamos perdidos em exercícios fúteis de nos convencermos que somos os maiores da nossa rua, e nem damos pelo papel ridículo que estamos a fazer.

Estou convencido que se amanhã chegasse aqui um famoso ornitólogo qualquer para dar uma conferência, levasse consigo um papagaio e anunciasse alto e bom som à sala completamente cheia: "Isto é uma galinha". Depois pairava o silêncio, pontuado por algumas risadas tímidas, mas depois de repetir, desta vez mais alto e com um ar mais sério que tinha ali uma galinha, não se ouvia uma nem uma mosca. Se estivesse lá um Leocardo ou outro maluco qualquer e dissesse: "desculpe, mas qualquer pessoa consegue ver que isso é um papagaio, ou uma arara, ou o raio que parte, e vá gozar com a cara da sua tia, ó palhaço", era mandado calar, ou pediam-lhe mesmo para sair. Motivo: "o homem é o especialista, e sabe do que fala". É neste ponto que nós estamos, meus amigos; às vezes pensamos que estamos a lidar com atrasadinhos mentais, e de facto estamos, mas a esses interessa permanecer na condição de "atrasadinhos mentais", pois vão retirando aqui e ali alguns dividendos disso. Um dia cansam-se do tratamento, digamos, a atirar para o humilhante, e o que fazem? Procuram melhorar? Nada disso, vão procurar outros ainda mais atrasadinhos que eles para poder também fazer deles gato sapato. E é assim, "and so on, and so on, and so on", até à estuporização total. Claro que enquanto ficam entretidos nesta espécie de versão do concurso "Acha-se mais esperto que uma amoeba?", há quem vá capitalizando, gozando da imunidade que lhe dá a falta de fiscalização da parte da sociedade civil.

A tal reportagem premiada que ANTES de o ser chamei a atenção para aquela falha, e além de ter sido completamente ignorado ainda se seguiu uma orgia de bajulação e as palmadinhas nas costas do costume, como se quem dá força aos pobrezinhos miseráveis para que não desistam de vir a ser alguém um dia. O que queria eu com aquilo? Sei lá, e que tal admitir o lapso - e nem digo "fraude", que é o nome correcto - e ter mais cuidado da próxima vez? Não, deixa lá o maluquinho a falar para as as paredes, que a peça "está ao nível do que se faz nas melhores televisões do mundo". Sim, senhor. Sendo assim já sei agora o que a casa gasta, mas olhe que o rei vai nu. É tudo a brincar, não é mesmo? É no reino do faz de conta que nós estamos, não é mesmo? Ainda bem que avisaram, que vou já pôr os meus óculos cor-de-rosa. Já não bastava a alguns destes patetas alegres não ter conseguido singrar onde queriam e na área que pretendiam, como ainda não contentes com o cabotino sucesso que aqui obtêm, ladram cada vez que alguém chama a atenção para a enorme bosta que fizeram. Agora que sei com quem estou a lidar, não vale a pena explicar o que eu queria com aquele alerta. Tornou-se impossível tentar explicar que não ganho nada em criticar, e que tudo o que pretendo é que tenham um ponto de referência, qualquer coisa para motivar, e a partir daí levá-los a tentar fazer melhor. Mas não, nada disso. Se critico é porque sou um fdp de um ressabiado, artista frustrado blá, blá, blá. Olhem lá ó pázinhos, e se em vez de estarem aí com merdas, respondessem à crítica abordando as causas porque algo correu menos bem ou explicando aquilo que ficou menos claro? Ai não sou crítico encartado? Nem são os que vos dão palmadinhas nas costas e vos chamam de maiores do mundo da vossa rua e arredores.

A frase que tanto MSF como CMJ procuravam para definir a comunidade portuguesa em Macau era esta: "a pior inimiga de si prória". E quanto ao último, o meu mentor, guru e líder espiritual e director da única voz da liberdade, queria dizer-lhe que já há muito que o bom senso que o meu caro quer que prevaleça saltou pela janela e estatelou-se no chão. Ao assistir a tudo por que a Maria Teresa Horta passou, cheguei à conclusão que afinal não aprendemos mesmo nada. Aquele pidezinho que todos temos dentro de nós mas graças à cultura democrática que fomos adquirindo permite-nos tolerar o que consideramos intolerável, afinal tem um campo de erva a perder de vista em Macau, onde pode pastar e correr à vontade. Quanto ao meu caro amigo a que fiz referência um pouco mais acima nesta longa missiva, gostaria de me despedir dizendo que lhe dou razão quando me diz que "fica-me mal" dizer que escrevemos "para o boneco". Ao contrário de outros menos humildes, fa♪o aqui a devida retracção. De facto não andamos a escrever "para o boneco"; andamos sim a escrever para o fantoche.

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