sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os blogues dos outros


Há duas palavras que dominam o discurso político por estes dias em Macau - democracia e harmonia. De repente, todas as listas passaram a ser muito democratas. Não sei se já pensaram nisso, mas acho que não se é pouco ou muito democrata, assim como se não é muito ou pouco honesto. São das tais coisas que ou se é, ou se não é.
Ponto final que não há aqui lugar a intensidades. Mas, para além de democratas, as listas concorrentes são também todas muito harmoniosas. A harmonia vem sendo utilizada correntemente pela oficialidade, em Pequim e em Macau, em doses cada vez maiores. Agora são as listas concorrentes à AL que recorrem, com inusitada frequência, à harmonia nos seus programas. Mas ainda ninguém explicou o que é que quer dizer com harmonia. Vai daí, resolvi ir ao dicionário para ver se ficava mais esclarecido. E o que é que descobri? No Dicionário da Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora, harmonia vem definida como "combinação de sons agradável ao ouvido".
Pois, há um músico que é cabeça de lista (ou um cabeça de lista que é músico?) Não interessa...) e há agora aquele outro senhor, que também é cabeça de lista e que aparece nos tempos de antena a cantar, de auscultadores nos ouvidos, assim ao melhor estilo "We are the World". E as outras listas, volta que não vai, também cantam.
Mas não deve ser disso que se trata....Como tal, todas as definições que têm a ver com música devem ser postas de lado. Será então "disposição bem ordenada das partes de um todo"? "Paz e amizade entre as pessoas"? "Qualidades que tornam a frase ou o discurso agradável ao ouvido"? Cada vez estou mais confuso. Elucidem-me por favor. É que, depois de ler estas definições e de ouvir os candidatos e a oficialidade, estou a ficar com vontade de voltar atrás e ligar harmonia a música. Será que é isso mesmo?
Se é, o Miro ganha de caras! E se ele convencer os irmãos Acconci a apoiarem a lista, aí então é maioria absoluta garantida!!


João Coimbra, Devaneios a Oriente

Pelo que vou acompanhando, a campanha eleitoral para a Assembleia Legislativa tem um pouco de tudo. Oferta de jantares e outros brindes, vírus informáticos, promessas surreais, mensagens xenófobas, cartazes colocados em locais irregulares etc. Perante isto, interrogo-me como seria se fosse implantado o sufrágio universal.

El Comandante, Hotel Macau

Há muitos anos, contam-me, o Imperador fazia-se transportar numa cadeira mais ou menos deste género quando se tratava de subir montanhas. Hoje mantém-se umas tradições estranhas e há quem nos pergunte - quer subir a montanha de cadeira? Sorrimos e dizemos - "não, obrigada" - como que a tentar explicar que hoje já não se usa.

Maria João Belchior, China em Reportagem

Faz hoje 8 anos que o mundo estremeceu e dois emblemas da liberdade foram atingidos pelos instrumentos de ódio de um punhado de fanáticos e extremistas. Quase 4000 pessoas pagaram, com a vida, este acto de perfídia e indole assassina. 8 anos depois, as razões são estapafúrdias e, desde então, há quem nos queira convencer que temos que aceitar quem nos queira liquidar e volatilizar da superfície da Terra. Há tolerância para quem é intolerante é a questão filosófica de fundo que importa reflectir. Como Voltaire ou Isaiah Berlin o fizeram. Por mim basto-me no Antigo Testamento e na sua enorme sabedoria.
Job 29:14
I put on righteousness as my clothing;
justice was my robe and my turban.
Repetem-se os actos de terror, um pouco por todo o mundo, sem falar no Afeganistão ou no Iraque. Ainda, esta semana, as autoridades inglesas desvendaram um complot que levaria à morte de milhares de pessoas. Três paquistaneses envolvidos na preparação e orquestração do complot. Mas será que seremos sempre tão afortunados?
Hoje é o dia de relembrar os que cairam e morreram e a dor das famílias; gente de todas as nacionalidades, credos, lealdades, raças. Há que continuar a Guerra contra o Terror, mesmo que politicamente não o queiramos chamar, assim. E continuar a respeitar o Outro, porque é diferente e não pensa ou reza como nós. Mas não vamos criar sofismas e mentiras para justificar o injustificável: um acto de terror contra gente inocente. Espalhar o medo pelo medo, destilar ódio pelo ódio.
Glória aos que cairam! Morte aos bandidos!


Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

A História abordada nas possibilidades de futuríveis que jamais se realizaram constitui vasto e sedutor horizonte especulativo que não ofende nem o rigor nem a ética dos historiadores. Não se tratando de gratuito empréstimo da ficção, possibilita incorporar no labor historiográfico a metodologia das chamadas "ciências militares" - geo-política, geo-estratégia - que trabalham com cenários, colocando aqueles que a exercitam perante a imprevisibilidade dos factores subjectivos implícitos nos acontecimentos, sobretudo aqueles factores ditos "intangíveis" e "psicológicos" que são inerentes a qualquer acção humana. O What If ?, que conheceu um primeiro volume em 2001 e, logo depois uma segunda série de ensaios de grande interesse em 2004, apresenta um vasto elenco de acontecimentos submetidos a inversão. Se os Confederados tivessem vencido, se Lutero tivesse sido julgado e sentenciado, se Roosevelt não tivesse chegado à Casa Branca, se Churchill tivesse sido preterido por Halifax, se Wallace tivesse conseguido a eleição, se os chineses tivessem perseverado na expansão marítima no século XV... Seria curioso reunir alguns historiadores caseiros e desafiá-los para trabalho análogo sobre os acontecimentos axiais da história portuguesa. Se D. João I não se tivese decidido pela tomada de Ceuta, se os portuguseses em 1640-50 não se tivessem interessado pelo Brasil e dessem uma guerra de longa duração aos holandeses na Ásia, se Pombal não tivesse ascendido ao poder, se D. Miguel tivesse vencido a guerra civil, se João Franco tivesse ficado com a presidência do ministério após o regicídio, se o 25 de Abril se tivesse gorado...

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Diz o povo que se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo. Neste caso, uma mentirosa. Carolina Patrocínio é a mandatária do PS para a juventude. Em entrevista ao 'i' afirma com todos os dentinhos que já tem na boca, que "sempre votou PS nas Legislativas". Como? Então, a menina nasceu em 27/05/87 e as últimas eleições Legislativas foram em 20/02/05, quando a menina tinha 17 anos e ainda não podia votar e vem dizer que sempre votou? Assim o nariz cresce igualzinho ao chefe...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Ontem à noite, o debate entre Paulo Portas e Manuela Ferreira Leite. Eu sabia que não ia assistir, por ter de ficar até tarde em Lisboa por questões de trabalho. Mas um imprevisto obrigou-me por volta das oito e meia ir a uma estação de correios e quando lá cheguei tinha não uma, não duas, não três, mas quarenta e cinco pessoas à frente. Liguei a avisar que ia demorar a voltar ao trabalho. E fui para o carro fazer tempo. No rádio, o debate. Se no dia anterior tinha visto imagens sem o som a acompanhar, agora tinha som mas imagens nada. Quarenta e cinco pessoas à minha frente, pelo menos a julgar pelo que estava no ecrã dos números das senhas. E lá fui ouvindo o debate. Fiz contas... Por cada afirmação de Paulo Portas talvez se despachasse uma pessoa. E por cada asneira de Manuela Ferreira Leite outra. Tentei contar as afirmações de um e as asneiras de outra. Quando cheguei a quarenta (vinte afirmações e vinte asneiras, porque a moderadora impunha a disciplina no debate), saí do carro e voltei para a estação de correios. Apenas três pessoas à minha frente. Talvez durante o percurso do carro até à estação se tivessem despachado duas pessoas. Vinte, mais vinte, mais duas, mais três, igual a quarenta e cinco pessoas. Como dizia o outro, é fazer as contas. Daí a vinte minutos estava de volta ao trabalho, e daí a umas sete horas de volta a casa.

António Manuel Venda, Delito de Opinião

É próprio da nossa gente o deslumbramento e curiosidade indómita em relação à vida privada de quem quer que seja. Elevam-se a expoentes próximos do infinito, tanto o deslumbramento como a curiosidade, quando quem-quer-que-seja é «político». O que come o Sócrates ao pequeno-almoço, que histórias contam a Manuela e o Jerónimo aos petizes netos, que sítios frequenta Louçã ou que nacionalidade é a da empregada de Paulo Portas: tudo é do maior interesse para as gentes interessadas na «política» portuguesa. Claro que as televisões, com olho para o negócio, dão à plebe o que a plebe pede. E então surgem, sempre, antes das eleições as «reportagens especiais» nas quais uma jornalista atrevida passa um dia inteiro, pobrezinha, com cada um dos líderes dos principais partidos. Com a plebe deleitada por ver, com os personagens deliciados por serem vistos, sobro eu que, tonto, me pergunto se é tudo parvo.

Tiago Moreira Ramalho, Corta-Fitas

Eu estou espantado! Nunca esperei ouvir do Francisco Louça aquilo que disse sobre os direitos dos pobres e de alguma média burguesia, esta já muito pouca. Então se nós, os pobres, não tivermos direito ao reembolso do pouco de IRS que a Entidade Patronal nos retira da folha do salário, que vamos fazer: vamos roubar os livros escolares para os nossos filhos frequentarem as escolas e pagar a dobrar o IRS? Ou melhor; vamos pagar livros e IRS? Que País, meu Deus, que País! Francisco, Francisco! Os meus anos já não serão muitos, mas cada dia que passa sinto mais que a esquerda anda atrás de votos e de classificações. Não foi para isto que a verdadeira esquerda nasceu. Também gostaria de falar acerca de Alberto Jardim, fascista e bandido sem cura, mas estou cansado. Estou a ver alguma esquerda muito confusa e capaz de dar o poder à direita por uns votos ou por um lugar a meio da "tabela". QUE VERGONHA! Estou indignado. Não andem a fazer fretes: Jardim é fascista com todas as letras. É um bandido, tal como Sá Carneiro e outros, que apoiaram as guerras ditas ultramarinas. Nunca gostei de esquerda envergonhada nem de esquerda que goste de fazer uma "perninha" com a direita. Que trinta diabos me levem, pois já vou tendo idade para ir caminhando, mas que não me deixem continuar a ver o que estas esquerdas, a troco de mais uns votos ao na tentativa de apanhar a medalha de bronze, tudo fazem, menos entrar em actividades a que se possam chamar de esquerda. Quem foi e quem é o PSD? O PSD foi um grupo político nascido dentro do parlamento fascista e que apoiou as guerras ditas do Ultramar. Guerras essas onde ficaram milhares de jovens portugueses. O PSD é uma seita de malfeitores: Dias Loureiro e...Tantos que nunca mais param. Muitos até são oriundos do exército cobarde e fascista que deixou milhares para trás, sem apoio de ninguém e entregues ao seu destino: A MORTE. Nunca fui homem de obediência a qualquer partido. Penso ser muito feio e deitar-se fora parte da nossa liberdade, como nas religiões ou credos. Contudo, eu votei sempre em partidos de esquerda. Quanto mais pequeno era o partido, mais garantidamente, tinha o meu voto. Desta vez não. Desta vez vou pôr toda a minha força e os meus parcos meios a fazer com que a direita não chegue ao poder. Eu ainda sou dos que tem medo da direita.

David Santos, Voz do Povo

O regresso às aulas é um verdadeiro pesadelo para muitas das famílias portuguesas. Os manuais escolares estão mais caros do que nunca. Os seus preços aumentaram mesmo muito mais do que a inflação. Os portugueses ganham salários de miséria, muitas das escolas dispõem de instalações obsoletas, mas os manuais que os alunos são obrigados a comprar – esses são de luxo. Só em livros, cada criança ou jovem pode ter de dispender mais de duzentos euros. As editoras impõem os preços, o governo cede e os pais pagam.

Paulo Morais, Blasfémias

João César das Neves (JCN) deve andar envenenado por alguma encíclica e extenuado com orações. A homilia da última segunda-feira, no DN, é uma incongruente peça que vacila entre a indigência mental e o humor negro. JCN está para as encíclicas, cartas pastorais e outros textos pios da Igreja católica como os mullahs estão para o Corão. Só não prescreve para os hereges os métodos com que o fundamentalismo islâmico rivaliza com o Santo Ofício. JCN leu no Levítico que a homossexualidade é uma abominação e tem a noção de que os livros sagrados obrigam a matar os homossexuais mas os hábitos cristãos sofreram um revés tão grande com o Iluminismo e a Revolução Francesa que o próprio Papa já substitui o churrasco purificador por uma excomunhão sem publicidade. Numa sociedade onde a liberdade individual merece mais respeito do que a vontade divina, JCN recorre a sinuosas argumentações para contrariar a adaptação das normas jurídicas à evolução dos costumes e ao respeito pela diferença entre cidadãos. Se houvesse um prémio para a hipocrisia, não teria concorrência e ainda ganhava as indulgências que busca para a remissão dos pecados. JCN afirma esta enormidade: «Mas não existe aqui [na legislação portuguesa] nenhuma desigualdade. Os homossexuais podem casar exactamente nas mesmas condições de todas as pessoas: todos podem unir-se a pessoas do sexo oposto, ninguém pode casar com pessoas do mesmo sexo». Depois deste dislate perde importância a afirmação: «A tese do casamento entre pessoas do mesmo sexo tem graves falhas lógicas. O Estado institui o contrato de casamento não por razões emocionais mas cívicas: porque ele é a base da sociedade, origem da sua reprodução». Quando leio JCN, não sei porquê, lembro-me sempre de Frei Gaspar da Encarnação, a quem Camilo chamava «uma santa besta», epíteto que eu jamais atribuiria ao devoto João César das Neves, além do mais, porque lhe desconheço a santidade.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

Diz que o problema da Argentina é não encontrar linhas de passe. Não se percebe. Maradona é um perito em linhas.

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

4 comentários:

joãoeduardoseverino disse...

Obrigado Leocardo. Abraço

Anónimo disse...

Cuidado, El Comandante, que os fundamentalistas democratas ainda te começam para aí a desancar.

Anónimo disse...

Estou espantado com o blogue de Arnaldo Gonçalves, pois não sabia que a Bíblia tinha sido escrita em inglês !!!
Um dislate deste tipo, que se calhar o autor ignorantemente não se dá conta, classifica-o intelectualmente num segundo.
Samuel

Anónimo disse...

Pobre do Pedro Coimbra. Passou a João.