quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Brindes dos candidatos nossos


Hoje gostava de falar das porcarias, perdão, os brindes que se têm distribuído nesta campanha eleitoral. Tenho colecionado posters, porta chaves, pacotes de lenços, calendários, garrafas de água e balõezinhos. Tem sido uma alegria. O problema é que ninguém me quer. Ninguém quer o meu voto, a não ser o Casimiro & Coutinho Cia. Lda., que se apercebem logo que sou um “português” em apuros, e têm a certeza que vou votar num deles. Os sectores tradicionais ignoram-me porque sabem que não vou votar neles, e os democratas olham para mim como se fosse um turista. É difícil ser kwai-lou em Macau durante as eleições.

Mas acontece que sou um eleitor, interessam-me todos os programas e quero votar em quem faz bem a Macau, não em quem faz bem só a mim e aos meus. Sei que este é um conceito peregrino por estas bandas, mas lá vou ponderando com muita calma em quem melhor defende os interesses da população em geral, e não apenas o seu grupo social ou os membros da sua associação. Mas quanto a isto dos brindes, que vou pedindo, destaco os guardanapos de papel. Aquilo dá um jeito tremendo se sofremos um aperto no meio da rua e temos que ir a um daqueles restaurantes que não tem papel higiénico. Mas quem sabe se numa época onde aumentam os casos de Gripe A, não seria melhor oferecer, além dos lencinhos, máscaras cirúrgicas com a estampa da lista?

Em termos de higiene e afins, acho que algumas listas perderam uma grande oportunidade de ser originais: e que tal preservativos? Tenho lido nas perguntas de bolso do Hoje Macau, feitas aos candidatos, que a maioria é contra o aborto, e alguns até se dizem a favor da “educação sexual”. Então e que tal dar o exemplo? Para o que não há pachorra é para calendários (que também são um criativo porta-cartões de visita) que só vão até Dezembro de 2009. Então e o futuro? Só vos interessa a curto prazo?

Ainda não tive a oportunidade de visitar as barraquinhas onde se realizam jogos e se ganham prémios. Mas se esses prémios são um t-shirt, esqueçam. São todas horríveis. Nenhuma das camisolas-uniforme das listas se safa, tirando talvez a camisola cor-de-rosinha da malta do Observatório Cívico de Agnes Lam. For sale? Por esta altura a Comissão Eleitoral e o CCAC não devem ter mãos a medir com a queixinhas, mas quanto a essa estória de não aceitar brindes, como é? Não seria muito mais fácil educar os eleitores para que percebessem, de uma vez por todas, que não são obrigados a votar em quem lhes dá coisas? Que o voto é secreto? Podem ficar por aí a colecionar tralha como eu, que não ficam a dever nada a ninguém.

Isto vai ao ridículo de haver um candidato que diz que “dá, mas os outros também dão”. Isto nem parece uma conversa entre gente adulta. A CE e o CCAC proíbem isto e aquilo, e os candidatos, espertalhões, arranjam uma forma de dar a volta ao texto. Será que é preciso contratar uma equipa de juristas para que daqui a quatro anos se deixem as regras do jogo bem claras? Preto no branco?

Até lá brindemos aos brindes dos "candidatos nossos". E pode ser com aguardente Aldeia Velha. Não sei porquê, mas aquele slogan "Elegemos os candidatos nossos" faz-me lembrar o velho anúncio do Aldeia Velha. E ainda não vi (nem vou ver, provavelmente) brindes em forma de joalheria ou numerário. Se calhar não é para o meu bico. Mas se isto for como diz Camões Tam, “money doesn’t matter tonight”, os eleitores não vão votar em quem lhes paga ou quem lhes serve a melhor jantarada. Vamos ficar a fazer figas para que assim seja.

11 comentários:

Lucio disse...

Eu gostava de colocar uma questão na qual ainda ninguém falou, e que tem a ver com a posição e influência da comunidade portuguesa em Macau depois destas eleições.

Pondo de lado a candidatura do Pereira Coutinho, que está muito mais baseada no apoio dos funcionários publicos e virada para a defesa dos interesses destes, a única que pretende realmente representar a nossa comunidade é a lista Voz Plural – Gentes de Macau. Isto pelo menos é o que muitos chineses pensam.

Ora aqui vem a minha questão, se esta lista, sem qualquer experiência nestas lides, sem nenhum passado de intervenção política que se conheça, e com uma grande dose de amadorismo, acabar com umas poucas centenas de votos, como ficaremos vistos aos olhos dos chineses?

Que o nosso peso já não representa praticamente nada? Que a nossa presença é absolutamente residual nesta terra? Que a nossa voz já pouco ou nada interessa?

Claro que estou se calhar a exagerar um pouco, mas que isto vai ter um impacto negativo na nossa já fraca posição e influência, isso vai...

Hoje à tarde uma colega de trabalho perguntava-me se os portugueses estavam a mobilizar-se atrás do "nosso candidato", e dizia ela que com o peso da nossa comunidade unida e rede de influência(santa ignorância...), podiamos ter hipoteses de nomear um candidato!!

Eu fiquei a pensar, meu Deus, se é assim que muita desta gente está a pensar, como ficaremos vistos quando isto se revelar um fiasco?

Os próprios governantes do novo executivo como intrepretarão este resultado?

Nota: Claro que pode acontecer uma grande surpresa, e até espero estar muito enganado, mas como vão as coisas.....

Anónimo disse...

Se não houvesse eleições, já não havia esses medos.

Anónimo disse...

Cada um que pense o que quiser e tenha as pretensões que quiser, mas não basta o Miro, o João ou a Maria resolver candidatar-se para ter que ser o meu candidato e eu ter que votar nele.

Gotícula disse...

Bem visto Sr. Lucio! Desde sempre foi assim, pela falta de união da comunidade que tudo se desfez...o que existe...do pouco que ainda existe, vai se perdendo aos poucos, já não é a nossa terra, mais vale lutar por aquilo que nos diz respeito ou então simplesmente viver como se fosse no estrangeiro!

Anónimo disse...

Pois eu considero o Coutinho uma pessoa que tem os interesses dos portgueses em conta. Aliás, como disse e muito bem o Leocardo num post anterior, devemos votar e ter em consideração não apenas os nossos, mas os interesses de Macau. Entre os dois candidatos de raizes portuguesas, o que apresenta um programa mais virado para Macau e menos para a aldeia portuguesa é o Coutinho, e a pessoa com mais possibilidades de eleger um ou mais deputados com consciência da realidade da comunidade portuguesa e Macaense é ele. A Voz Plural e o Miro apareceram e juntaram-se para participar nestas eleições. O seu lema é de que "este movimento é para continuar" Pois bem, terão que provar nos anos que aí vem que não são só uma lista para os "portugueses", mas também para Macau e as suas gentes. Acredito no Miro e em muitos dos membros desta lista, mas não para estas eleições. Eles precisam de provar que são realmente os responsaveis e lideres deste movimento, que são capazes de se aguentarem em pé sem o apoio de algumas instituições e individuos que sempre, aparecem durante as eleições.

Anónimo disse...

Bem dito, último anónimo! O Miro e a sua equipa que trabalhem depois das eleições e poderão ser um projecto credível para daqui a 4 anos.
Aparecer em cima das eleições é o que as pessoas que estão por trás desta lista têm feito sempre. E dizem sempre que é para continuar, mas depois fecham-se na sua vidinha e só reaparecem nas eleições seguintes. Porque há-de ser diferente desta vez?
Mostrem que é para continuar e falamos daqui a 4 anos. O Coutinho também só foi eleito à segunda.

Anónimo disse...

Não percebo muito bem o Lúcio e a Gotícula. Falam em divisão da comunidade, mas quem é que dividiu? Já tínhamos um deputado português eleito directamente pela população, o Pereira Coutinho. Ele recandidata-se. Então para quê mais uma candidatura?
Quem é que dividiu, afinal? O Coutinho, que já lá estava e tem trabalhado bem, ou o Miro, que só apareceu agora?
Não concordam que só o Coutinho se possa candidatar pela comunidade portuguesa? OK, mas então não venham dizer que o novo candidato deve ser o único candidato da nossa comunidade ou que devemos estar todos unidos à volta dele.
São contra a união à volta do que já lá estava, mas acham que tem que haver união à volta do que nunca esteve. É um bocado contraditório, no mínimo.

Anónimo disse...

Realmente é uma estupidez que estas listas só aparecam umas semanas antes das eleições quando nunca fizeram nada de relevante no passado...

Podem achar que é tudo muito louvável, que o importante não é o resultado mas sim participar, que com umas canções, uns videos, uns debates e isto vai correr tudo bem, enfim, como diz o Lucio, com uma enorme dose de amadorismo.

Acontece é que esta gente não pensa no impacto que um resultado vergonhoso vai ter na percepção que as outras comunidades vão ter da nossa. Vamos dar (mais uma vez) um sinal de uma enorme fragilidade, incapacidade de união, perda de influência, enfim, vamos mais uma vez provar a todos que a nossa comunidade já não conta para quase nada.

Iludam-se aqueles que pensam que os chineses (e os governantes de Macau) não vão tirar conclusões dos resultados destas eleições. Será mais um prego no caixão da nossa presença em Macau.

E terá efeitos negativos em muitas lutas políticas onde ainda tentamos a todo o custo defender a nossa presença: o Direito de matriz portuguesa, a contratação de juízes de Portugal, a preservação do património, a continuação da utilização da língua portuguesa nos departamentos publicos, a igualdade de tratamento na contratação de funcionários publicos que não dominem o chinês, etc etc...

Joana disse...

Realmente a nossa incapacidade de encontrarmos um verdadeiro representante da nossa comunidade que agrade à maioria, e juntarmo-nos em volta dele e em nome do interesse comum é absolutamente confrangedora.

Caramba, até os gajos the Fujian conseguem arranjar um, e são muitos mais que nós!!!

O Pereira Coutinho é o único digno desse nome, mas será que a maioria dos portugueses e macaenses de Macau identifica-se realmente com ele? Sabe Deus quantos odeiam-no (vá-se lá saber porquê...).

Todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo costumam ter "líderes" e ou pessoas destacadas com as quais todos (ou pelo menos a grande maioria) respeitam e se identificam como seu representante nos momentos de lutar pelos seus interesses.

Porque será que, mesmo sendo tão poucos, ainda não conseguimos ter alguém assim ao fim de quase 10 anos de RAEM?

Anónimo disse...

As comunidades não têm que ter líderes. Já bastam os presidentes, os primeiros-ministros e os dirigentes partidários e associativos.
O nosso problema em Macau vem de trás, do tempo em que isto era português. Houve muita porcaria, muita gente no poder a encher-se e a lixar a malta, e muita malta conivente com isso para ver se também lhe pingava algum.
O que continua a acontecer hoje é, antes de mais, ainda um reflexo desses tempos.

Anónimo disse...

O anónimo anterior é que disse tudo: reflexos de tempos ainda recentes. Nos outros países os emigrantes unem-se porque o seu espírito é de solidariedade e não o típico espírito português do "bota-abaixo" e do compadrio. Em Macau, muitos portugueses são ainda do tempo da administração portuguesa e, portanto, comportam-se ainda como se estivessem no seu país, ou seja, portam-se mal.