Foram perto de 150 mil eleitores, quase 60% dos eleitores inscritos, o que confirma que estas eleições foram mesmo as mais concorridas de sempre. A Comissão Eleitoral anunciou que existe mais um boletim nas urnas do que votos registados (!), devido a um lapso informático, problema que atrasou a divulgação dos resultados. Um momento embaraçoso durante a conferência de imprensa dada pela CE depois da meia-noite prendeu-se com uma pergunta do jornalista Pedro Maia, que precisou de se repetir três vezes, uma vez que o presidente da CE, Vasco Fong, não percebia o seu sentido. A pergunta prendia-se com a presença de elementos de listas em locais inapropriados durante a votação. O resto das perguntas prendia-se com minhoquices que foram uma autêntica perda de tempo: acesso dos jornalistas à filmagem das mesas de voto, uma ou outra mesa onde as coisas aconteceram de forma diferente das outras, com uma forte insistência na fiabilidade, ou a falta dela, do sistema informático. Enfim, pevides. Vasco Fong parece ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, a pessoa indicada para presidir à CE, mas demonstrou durante todo o processo ter muito pouca paciência para a imprensa. Um jornalista chinês fez a pergunta que estava na minha cabeça à bem mais de uma hora: quando saem, afinal, os resultados?
Os primeiros resultados divulgados foram os de Coloane, que deram a vitória a Pereira Coutinho (97 entre perto de 700 votos), percebia-se que talvez o eleitorado do NMD tivesse percebido a mensagem: Ng Kwok Cheong teve 58 votos, e Au Kam San 32. A verificar-se esta tendência no resto das mesas de voto, a “magia”do 1+1=4 era possível. As primeiras projecções chegavam quase à uma da manhã, e davam a vitória ao Novo Macau Democrático, mas com três deputados eleitos: Ng Kwok Cheong, Chan Wai Chi e Au Kam San. Chan Meng Kam e os operários elegiam dois deputados, Melinda Chan entrava na AL, e a dúvida persistia entre a eleição dos segundos candidatos das listas dos ka-fong, Angela Leong e Pereira Coutinho, e a eleição de Mak Soi Kun, da União Macau-Guangdong.
À medida que os resultados foram chegando, ficou-se a saber os 12 deputados eleitos pela via directa para a AL dos próximos 4 anos: Ng Kwok Cheong, Chan Wai Chi, Au Kam San, Kwan Tsui Hang, Lee Chong Cheng, Chan Meng Kam, Ung Soi Kun, Ho Ion Sang, José Pereira Coutinho, Angela Leong, Mak Soi Kun e Melinda Chan. Tal como se previa, Agnes Lam e Paul Pun, dois "outsiders", não foram eleitos. Casimiro Pinto e a sua "Voz Plural - Gentes de Macau" repetiu o desastre eleitoral da "Por Macau" em 2005.
Destaque para a cobertura dada pelo Canal 1 da TDM, que conseguiu entreter enquanto se esperava a chegada (atrasadíssima) dos resultados. Em estúdio com Jorge Silva estiveram o sociólogo Paulo Godinho, e os jornalistas Paulo Azevedo e Gilberto Lopes. José Carlos Matias teve a missão mais excitante, pois foi-lhe incumbida a tarefa de cobrir o resultado da divisão de listas do Novo Macau Democrático, na sua sede na Calçada de Sto. Agostinho. Em ambiente de festa, Lina Ferreira esteve na zona norte da cidade, onde Chan Meng Kam e os restantes elementos da lista 7 esperavam em melhorar o segundo lugar obtido há 4 anos. Rosa Serrano esteve no Hotel Lisboa, pnde Angela Leong primava pela ausência na altura da abertura das urnas. Hugo Pinto esteve com a Voz Plural no Restaurante Litoral, na companhia da nata, quer dizer, da elite, da comunidade macaense. Casimiro Pinto não foi eleito, mas voltou a falar da tal semente.
Nota negativa para a hora em que foram divulgados os resultados. A população que não trabalhou nas mesas de votos precisa de acordar cedo amanhã para mais um dia normal. Não há feriado pós-eleitoral, a cidade e as escolas funcionam normalmente. E com resultados divulgados de madrugada, é difícil incutir o interesse pela política. Volto amanhã com uma análise exaustiva e mais rigorosa dos resultados, e depois tirarei um dia de férias para recuperar horas de sono.
21 comentários:
Caro Leocardo, aposto consigo e com todos os leitores deste blog que daqui para a frente vamos ouvir muito pouco ou quase nada deste tal Casimiro.
O borrão (mais um) deixado na comunidade portuguesa, esse fica.
O resto? A luta para um Macau mais unido e tolerante? A contribuição para uma comunidade mais forte? A união dos macaenses atrás de um ideal? A tal "semente"? Isso e outras tretas, claro, vai tudo pela retrete abaixo e amanhã está tudo esquecido.
Olha, isto faz-me lembrar uma música excelente dos Deolinda chamada "Movimento Perpétuo Associativo", e que reflecte bem este espírito.
Para quem nunca ouviu:
http://www.youtube.com/watch?v=us9dIcLjfKM
Esperemos que o Tudonumaboa esteja redondamente enganado e que a Voz Plural e o "Miro" não se deixem abalar por um resultado menos positivo.
Julgo que a comunidade portuguesa não ficou mal na fotografia e só tem a ganhar em não ficar parada.
Parabéns ao Pereira Coutinho por mais uma vez ter conseguido mobilizar em massa o funcionários públicos e não só.
Afinal os "experts" estavam enganados, nada mudou na AL...
A lista do Miro teve pouco mais de 0.5% dos votos, a segunda lista menos votada. Nem 1 pessoa em cada 100 votou nesta lista...
Caramba até os radicais da AAD, cujo passatempo é andar de megafone pela rua à briga com a policia tiveram mais votos do que a Voz Plural...
Eu também acho que isto é negativo para a imagem que a nossa comunidade transmite lá para fora. Não julguem que os chineses não vão olhar para este resultado e tirar as suas ilacções acerca do nosso peso e influência em Macau.
Eu também espero que o Miro não fique parado e comece realmente a tratar desta semente para que um dia possa crescer para algo que possa realmente fazer alguma diferença.
Mas da minha experiência no território, não alimento muitas esperanças que isto vá acontecer.
Correção: quero dizer radicais da ADS (Lista 11) e não da AAD.
O que me chateia é essa mentalidade provinciana e estupida de que o que interessa é participar, o que interessa é mexer, o que interessa fazer alguma coisa, nem que isso seja um disparate que só vai deixar-nos mal.
Essa lista, se queria participar nas eleições a sério e queria conquistar um eleitorado sólido, não devia ter sido criada em cima da hora (e provavelmente também em cima do joelho) e esperar que da noite para o dia, com umas canções e tal, aparecessem uns milhares de votos vindos do nada suficientes para nomear o seu cabeça de lista.
Se isto fosse um festival de música ou um concurso qualquer, tudo bem.
Mas estamos a falar das eleições legislativas de Macau que são vistas de perto não só pela opinião pública e imprensa local e de HK, como também pelo Executivo local e até pelo Governo Central como um bom barómetro para muita coisa que se passa e sente neste território.
Todo este amadorismo, falta de preparação e até de seriedade só reflecte o pior da nossa comunidade. E o resultado está à vista de todos.
Deixem lá o Miro.
E o pessoal da Voz Plural é boa gente. O problema é a enorme dose de ingenuidade. Mas enfim...
Ingenuidade, mas não no sentido usado pelo anónimo anterior. Ingenuidade no sentido de aceitarem fazer fretes a certas pessoas. A lista 14 foi um frete, um serviço encomendado, tal como tinha sido a Por Macau há 4 anos e a não sei quantos há 8. Mas há sempre quem esteja disposto a fazer estes fretes, ou por ingenuidade ou para ver se recebe uma recompensa mais tarde.
Também espero ver mais do Miro, e espero que a equipa dele não desanime e encare isto como a sua "iniciação".
A sua lista, porém, terá que ter em consideração algumas questões de aspecto estrutural e mesmo de consciencia social para se tornar um movimento que galvanize comunidades.
Em primeiro lugar, é preciso entender que a comunidade portuguesa, e sejamos realistas, não é, cada vez mais, bem vista por cá. Quando digo bem vista, não é, de todo, pelo Governo Central ou pelo Governo, mas pela população. Falem-me da tolerância, do intercâmbio de culturas, etc. etc., mas a verdade é que, cada vez mais, os portugu6eses, e os chamados "macaenses da Elite", ligados a Portugal e ao antigo regime, estão desacreditados e são catalogados com parte integrante de todo o "sistema"- sim, o sistema de Ao Man Long, Edmundo e afins- que, como vimos, a população pretende que mude, com a eleição de 3 deputados Democratas (e Coutinho).
Devo confessar que não percebo o que se passou nos últimos anos na RAEM, mas a verdade é que parece existir cada vez mais um conceito por entre a comunidade chinesa de que a comunidade Macaense e Portuguesa é "colonialista" e que são "estrangeiros a mamar o dinheiro de Macau".
É urgente saber o que se anda a ensinar nas escolas do território, ou que tipo de propaganda política as outras associações andam a divulgar pela população. De onde vem esta cada vez maior descriminação? Esta cada vez maior revolta pelos Portugueses e estrangeiros que cá estão? E também o facto de, cada vez mais, se estar a catalogar o Macaense, ou Macaísta (perdoem-me mas não sei qual a definição (alguém se preocupou com isto?) ou conceito correcto para definir esta tal "minoria étnica" de Macau)como estrangeiro da sua própria terra?
Percebe-se que algum descontentamento venha a partir do desconhecimento do Português Lingua, principalmente em processos judiciais, como uma das fontes de descontentamento, mas nas restantes profissões é algo que necessita uma séria reflexão.
(continua)
(Continuação)
Existe muita desinformação, e um dos trabalhos fundamentais da AssociaÇào do do Miro terá de ser esta, a de esclarecer e mostrar à população Chinesa qual o papel da comunidade Portuguesa/Lusofona na RAEM, a sua contribuição e o seu valor para Macau e os seus cidadãos, e não apenas para a Minoria que a apoia. O que quero dizer com isto? Que a Associação Plural terá que ser vista não como uma associação que trabalha para as minorias, mas para a população de Macau e como prioridade, passar essa mensagem para a comunidade chinesa.
A grande vitória de Pereira Coutinho é não ser visto como mais um do "grupo". Pereira Coutinho conseguiu ultrapassar o estigma racial e ganhar votos não só na função pública, mas em eleitorado Chinês. Provavelmente isto servirá de um bom exemplo de alguém que ganhou o respeito da população mas não dos "seus" ou da nata ou "élite" da sua comunidade. Imagino que o resultado das eleições tenha mostrado o que o cidadão comum pensa em relação a isso...
Ao Miro e Cia, será necessário ganhar o respeito dos cidadãos, dos Chineses de Macau- sim, dos Ou Mun Yan que tanto defende- dos Macaenses humildes e não da elite, e também daqueles portugueses/lusofonos e outras minorias que realmente votam a pensar não nos seus cupinchas mas em Macau e em como realmente contribuir para o desenvolvimento desta terra.
Em Macau, é preciso rever a atitude da comunidade Portuguesa. talvez este resultado da "Voz Plural" sirva para a "elite" e a comunidade Portuguesa de "Topo"- advogados, arquitectos, Intelectuais e afins tomarem consciência de que para ganharem representatividade e respeito necessitam de realmente "amar" Macau e as suas gentes- pensar nesta terra não apenas como lugar de passagem ou de ganha pão com um pensamento constante no retorno à Pátria, mas sim como comunidade com responsabilidade civica e vontade de, com humildade, partilhar e ajudar a construir a tal "Sociedade Plural".
Seria interessante, como ponto de partida, criarem iniciativas e divulgarem, SEMPRE, na lingua chinesa, e providenciarem tradução simultanea em todas as actividades. A pluralidade e o intercâmbio entre comunidades só é possivel se existir comunicação. Está na hora da comunidade Macaense tradicional, da Portuguesa de Macau e das outras minorias que se identificaram com a Voz Plural de, acima de tudo, abrirem a porta à comunicação com Macau e as suas gentes.
Tenho esperança que estes jovens saibam tomar conta do recado e que me provem que são capazes de quebrar barreiras nestes 4 anos. Desejo-lhes toda a força do mundo e, se as actividades tiverem em conta esta terra e as suas gentes como prioridade, como tanto defendem, poderão contar com o meu apoio. Mas terão que fazer por isso!
Os meus parabéns para o comentário anterior. Muito bom
Gostei muito deste ultimo comentário e concordo com o autor. Aliás é um tema muito pertinente e actual que raramente é debatido ou reflectido. É sempre mesma lenga lenga e o tal discurso politicamente correcto do encontro de culturas e intercambio e bla bla bla, mas será que as coisas estão assim tão bem como parecem?
Os chineses (especialmente os de Macau) raramente expressam publicamente o que sentem, mas essa animosidade crescente para com outras culturas, incluindo a nossa, é cada vez maior. Aliás no nosso caso, esse desconforto assume ainda maior proporção devido às nossas responsabilidades vindas do passado "colonialista".
Era um tema que se calhar o Leocardo também podia abordar e contribuir com a sua opinião.
Abraço
Pedro Junceiro
Estou a gostar da forma como as pessoas estão a começar a dabater vivamente os resultados destas eleições, particularmente o impacto que têm na nossa comunidade. Já era tempo!
Deixem o futebol de lado e vamos falar de coisas sérias.
O futebol já regressou em força ao blog lol
Mas as eleições e os resultados vão voltar em força mais tarde. Aguardai.
Cumprimentos.
Outro assunto interessante a reflectir será o da entrada de 8 mil novos residentes após a chamada medida de "reunião familiar".
Imagino que estes individuos nada saibam sobre Macau, a sua cultura, a sua sociedade. Não falemos aqui da sua formação, nivel educacional ou de como entrarão no mercado de trabalho do território- isso seria tema para outra discussão que teria necessariamente que tocarr em questões como o critério da obtenção de estatuto de residência. A verdade é que estes individuos, que não viveram nem resceram em Macau, serão eleitores para as próximas eleições. Serão eleitores sem consciência de Macau e das suas especificidades. Como eles, porém, surgirá tamém uma nova geração de eleitores que viveram praticamente num pós Administração portuguesa, numa perspectiva de cidadania consciente. Este é um grande desafio para Macau, se se pretende que mantenha essa tal "singularidade" de Macau e da presença lusofona no território.
À Associação Voz Plural, e às associações Lusofonas, como a Casa de Portugal, ADM e afins, será necessário, a meu ver, que criem iniciativas que não só divulguem as especificidades culturais das suas comunidades mas também que contribuam para a instruçãoda população e que partilhem conceitos e ideias com a comunidade chinesa. É verdade que algumas destas associações apresentam dinâmica e iniciativa, mas fico triste pela ausência de público chinês local nas mesmas. Esta deverá ser a prioridade das associações, porque não se trata de defender interesses da comunidade, emr si, mas de partilhar e de criar laços de comunicação e de partilha- de integração e de cumplicidade entre as comunidades. Ficamos muitas vezes indignados por não existir informação em Portugues em actividades de instituições chinesas (e mesmo no Governo), mas esquecemo-nos que fazemos o mesmo nas nossas actividades. Aliás, pergunto-me quantos debates no Clube Militar tiveram tradução simultânea?
Esses oito mil serão apenas mais oito mil, que se diluirão nos já muitos milhares de chineses que não entendem minimamente as especificidades de Macau nem querem entendê-las, mas que são residentes.
Esclareçam-me acerca desses 8 mil novos eleitores daqui a 4 anos, porque estava certo que somente os residentes permanentes são eleitores.
Se a reúnião destas familias concretizar-se, serão-lhes atribuidos BIRs de residente permanente.
Creio que é isso que o anónimo está a presumir.
Mas não é isso que me consta dos casos que conheço. Residentes permanentes que casaram com permanentes e voltaram para Macau e o conjuge não é permanente, so após 7 anos como os outros
(segundo já ouvi dizer, eu próprio não sou permanente).
... casaram com não permanentes... desculpem o lapso
Se reunião familiar não dá residência permanente, eles que arranjem dinheiro então para comprar uma casa. Até podem continuar a viver na China, mas o BIR permanente já lá canta.
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