segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A hora da democracia (ou não)




Gostava que o actual Chefe do Executivo, Edmund Ho, viesse à televisão na noite antes do acto eleitoral do próximo Domingo, e que se dirigisse à população num jeito mais especial. Que lhes lembrasse que as eleições de dia 20 para a AL são mais do que escolher os 12 deputados eleitos por sufrágio directo. É uma espécie de avaliação à governação destes últimos dez anos, e um apelo à próxima administração. Macau tem agora duas escolhas: ou afirma a sua autonomia mantendo vozes discordantes no hemiciclo, ou estende a mão a uma inevitável aproximação à China, optando por uma via mais tradicional. Era importante que os eleitores votassem em consciência, e uma mensagem do actual chefe nesse sentido era uma garantia de que não eram obrigados a votar em ninguém.

Isto tudo para falar de um dos polos desta solução aquosa e gelatinosa: os democratas. A peleja da democracia de estilo ocidental em Macau começou a ser levada mais a sério muito depois de Hong Kong, onde uma consciência cívica e política existe desde o tempo em que Macau era uma espécie de quartel. A primeira democracia em Macau organizada por chineses concretizou-se na forma da eleição de Alexandre Ho nos anos 80, e depois de Tiananmen apareceu uma onda nova e modernaça que ousou chamar-se “Novo Macau Democrático”. Os democratas em Macau estão divididos em três grupos: os pró-democracia-package, os pró-bandalheira, e os pró-democracia-mas-vê-lá-se-não abusas.

Começemos pelo primeiro grupo. Porque será que o Novo Macau Democrático ganha sempre as eleições? Porque os seus eleitores – cada vez mais – vêem neles a última fronteira, uma espécie de Portas do Cerco ideológicas entre Macau e o outro lado. Por incrível que pareça (as manifestações são pouco comuns), existe um grupo de gente em Macau que não está ainda preparado para se integrar no outro lado. Sabem que eventualmente irão, mas têm as suas condições. São duros de roer. O NMD apresenta-se sempre ambicioso, e este ano desdobrou-se em duas listas para tentar eleger pelo menos mais um deputado, que se prevê que seja Paul Chan Wai Chi, nº 2 da lista encabeçada por Ng Kwok Cheong. Au Kam San vai provavelmente ficar a torcer para que o seu eleitorado perceba o objectivo desta estratégia, e consiga pelo menos o número de votos para ser eleito.

Depois o segundo grupo, o da democracia radical. Ng Sek Io apresenta-se como cabeça da lista 9, a Associação Activismo para a Democracia (AAD). O seu adjunto é o conhecido Lee Kin Yun, o rapaz que mais brigou com a polícia em Macau. Um valentão que faz lembrar aquela menina em Hong Kong, a Christine Chan (coitada…), que se dedicam a fazer tudo que a China não gosta. Deve ser só para chatear. Ng Sek Io diz que se for eleito vai investigar “toda a corrupção da actual administração”. Ia ser divertido. Os elementos do AAD acham que deviam existir em Macau “mais aquários, e um zoo”. Os candidatos do AAD usam um estilo semelhante ao League of Social Democrats de Hong Kong, onde pontifica Leung Kwok-hung, o famoso “longhair”. O estilo é semelhante, mas tanto os resultados como a base de apoio são desapontantes.

Depois o terceiro grupo, um grupo novo. Um grupo que cheira a novo. A favor da maior intervenção da classe média nas lides opinativas da política, a favor da diversificação da economia, da cultura e das artes, da força da juventude estudante universitária, pelos direitos dos animais e das criancinhas. Adivinharam, é o Observatório Cívico de Agnes Lam. O discurso é cativante e bem apresentado, não tivesse a sua cabeça de lista experiência adquirida como jornalista da TDM. Aquela ideia dos direitos dos animais é que continuo sem perceber, e porque James Chu aparece sempre com um cão ao colo. Os animais não votam e o eleitorado que anda com cães ao colo não será assim tão significativo para justificar algumas iniciativas. Até gostava que Agnes Lam fosse eleita, para que toda a gente percebesse do que se trata. Depois sempre me davam razão.

Deixei de fora os democratas das listas 2 e 14, a Nova Esperança e a Voz Plural, que têm as suas ideias assaz interessantes mas que não prendem a atenção do grosso do eleitorado. Pois é mesmo assim, são dois caminhos. Um que poderá ditar que o desempenho do actual executivo podia ter sido melhor, e pedir ao próximo que fosse mais cuidadoso. O outro diz que está tudo bem, e que continuem assim. Não digo que um seja melhor que o outro, nem estou a tentar influenciar o sentido de voto de ninguém, mas é ou sim, ou sopas. Gostava de recordar o leitor que existe uma pergunta relacionada com o desempenho do NMD nas eleições de Domingo, e que tem sido o menos votado dos três inquéritos. Agradecia a vossa participação. E como diz Au Kam San no tempo de antena da lista 15: “Obigada”.

3 comentários:

Anónimo disse...

Você tem realmente uma mentalidade obcessiva, a roçar o doentio, no que toca a raparigas que gostam de expressar a sua opinião e ideologia aberta e publicamente, sem medo e sem receios.

E eu a pensar que com a descoberta da Agnes Lam, tinha encontrado finalmente um novo "borracho" com quem embirrar, mas parece que ainda está dificil esquecer a outra, a que se manifestou em HK há já lá vai mais de um ano.

Ao menos aqui por estas bandas temos gente jovem e cheia de energia a participar activamente na vida política local. Já viu como andam as coisas lá pela nossa terra? Já viu a cara decrépita, cansada e triste daquela senhora que anda a candidatar-se a primeira ministra?

Leocardo disse...

Obsessiva. O seu único comentário é em relação ao parentisis que diz "coitada..."? Estou desiludido.

Cumprimentos.

Lúcio disse...

Oh Leocardo, deixe-se de tretas.. essas constantes picardias (ou parentesis, como queira chamar) já vêm de muito atrás hehe..

De qualquer maneira, gostei da sua análise.