Agora que se aproxima o aniversário da implantação da R.P. China, gostava de render uma singela homenagem aos patriotas de Macau. Os filhos mais novos da China, trazidos para o seu imenso regaço em 1999, encontram em Macau uma cidade onde podem exercer a sua lealdade à Mãe Pátria. Aqui em baixo tudo, pelo delta do Rio das Pérolas, mora a aldeia de irredutíveis de Cantão. Quando aconteceu o “1,2,3”, um enorme reboliço causado por causa de uns espiões de Taiwan que estavam alojados no território, evidenciou-se a antipatia da malta de cá pelos portugas, arrendatários do enclave. Com muito menos massa bruta depois de 74, Portugal cumpriu com a tarefa de administrar Macau até à sua entrega, garantindo-lhe direitos que não existem na China continental, e deixando uma economia completamente dependente de algo que nunca falha: o jogo.
Só que em termos de educação cívica, toda a gente percebe que os ingleses educaram melhor do outro lado do tal Rio das Pérolas, em Hong Kong, e que em Macau ainda se adere a demonstrações diversas de amor a um país a que mesmo muitos chineses ultramarinos torcem o nariz. O pior mesmo são algumas demonstrações que ultrapassam a encomenda. É claro que a China quer que o seu povo demonstre afecto, enfim, pela sua “mothership”, mas os patriotas de Macau querem ser os melhores da turma, chegando a dar sermões maiores que a encomenda. Na realidade o tão apregoado “ou mun ian” não conseguiu uma identiddade própria, igual ao do hongueconguense ou do singaporeano.
Sendo casado com uma menina chinesa nascida e criada em Macau, nem me devia queixar muito, pois afinal sempre sou parte funcional de uma família de patriotas. Os patriotas da minha família aceitaram-me como “uma das especificidades de Macau”. Sou residente, vivo e trabalho aqui, mas sou “estrangeiro”. Ser estrangeiro costumava ser bestial, quando se entrava naqueles supermercados do Iao Hon ou da Areia Preta e ficava toda a gente a olhar para nós. Mas ao fim de um tempo começa a enjoar um bocadinho. Seja no Hotel Lisboa, no New Yaohan ou na mercearia aqui ao lado da minha casa, onde vou todos os dias. O pior problema é não conseguir dominar a lingua, até porque a programação dos canais locais de televisão em chinês são pobrezinhos.
Vantagens, também há, quando fazemos assim um disparate enorme considerado “barbárico” para os costumes chineses, temos sempre uma desculpa: “Não sabia, sou estrangeiro”. Faz-me lembrar o meu primo francês que vinha a Portugal de férias, tocava às campaínhas dos vizinhos e ficava à espera para lhes falar em Francês. Isto do problema da língua, ou melhor, o problema dos chineses de Macau não falarem, de um modo geral, português, é culpa nossa. Nunca lhes interessou e nós nunca nos interessámos realmente em ensinar. As tentativas feitas por IPOR’s e outros grupos desorganizados vão dando algum resultado, mas nada de muito significativo.
Como único ocidental a viver no meu prédio, por exemplo, sou um caso de popularidade. Não faltam sorrisos de vizinhos no elevador, ou pais a insistirem com as criancinhas que me digam “hello” ou “how are you”. Mas por outro lado, se um dia quiser dar uma escapadela, esquecer-me da chave dentro de casa quando vou deitar fora o lixo só com uma toalha enrolada à cintura, não posso! Não me é permitido o mínimo deslize. É como viver numa gaiola dourada: paz, calma, tranquilidade, boa vida, mas pouca ou nenhuma liberdade. É mais fácil em locais frequentados por outros estrangeiros, mas os ajuntamentos não são o meu forte porque 1) não gosto de parecer um expatriado e 2) a comunidade portuguesa em Macau é muito oca.
O dia nacional vai trazer dois dias de feriado: o dia 1, quinta-feira, e o dia 2, o dia seguinte à implantação da RPC. Vão haver festas, jantaradas e até fogo de artifício, o do própria RP China no dia 1. No estádio vai-se realizar um magnífico concerto com muitas celebridades de Hong Kong, que por alguma razão estranha precisam de vir para Macau para arranjar trabalho no dia nacional. Depois mete-se o fim-de-semana, e é uma oportunidade óptima para sair daqui. Só que nunca saio. Preferia sair durante o Grande Prémio, de que não gosto. Macau vai ficar muita animada durante estes quatro dias. Ainda por cima no Domingo, dia 4, é o Festival do Bolo Lunar e as suas coloridas e alegres lanternas. Sábado vai ser o início de uma festa depois de outra festa. Como já disse aqui, é difícil mobilizar a população em massa. Eventos como o dia nacional, o ano novo chinês ou as eleições para a AL são muito mais participados que o Natal ou o ano novo civil.
4 comentários:
Os chineses são patriotas e os portugueses que falam mal de Portugal são patriotas, à sua maneira todos amam o seu país, o que acontece é que alguns não o demonstram e outros fazem-no com algum show off desnecessário, mas sem dúvida que o dia 1 de Outubro é dia grande para a China, apesar de tudo a China está bem melhor,falta aquele olhar para a própria história recente mas os chineses são assim, preferem não olhar...e seguir em frente.
O Ou Mun Ian por vezes ainda não sabe bem o que quer, tem razão, ao contrário do HK ian ou Singapore ian...o dia em que souber, Macau deixará de ser pequena.
Só devia poder viver em Macau quem gosta e apoia as especificidades de Macau. Os chineses que vêem em Macau um simples prolongamento da China, de e para chineses, deviam estar do outro lado da fronteira. Já disse o mesmo em relação aos portugueses que gostariam que isto fosse como Portugal: deviam estar em Portugal e não aqui. Mas os portugueses são tão poucos que nem chegam a incomodar. Já estes chineses "patriotas", por serem tantos, incomodam e de que maneira!
O Leocardo, dá uma no cravo e outra na ferradura...é para o lado que lhe dá geito, só não percebi se se inclue " no que diz comunidade (oca)...Haja paciência
Jeito, inclui.
Cumprimentos.
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