Muito pouco mudou na composição da AL para a legislatura 2009/2013. Como disse muito bem Jorge Fão, os
kai-fong perderam um lugar, que foi ocupado por mais um democrata. A eleição foi mais fácil para uns do que para outros, e o dia do acto eleitoral ficou marcado por alguns incidentes estranhos. A ver.
DEMOKRATIAOs democratas foram os grandes vencedores da eleição, para ser sincero. Obtiveram o maior número de votos no conjunto das duas listas, elegeram três deputados, coisa que não acontecia numa só associação há décadas, e não se abalou com os rumores espalhados a semana passada, a tal “campanha negra”. Quando se proposeram ao objectivo do 1+1=4, os democratas não estavam a falar a sério. O alvo era o terceiro deputado, mas para chegar lá era preciso mostrar ser mais ambicioso. Daí que o nº 2 da lista 15, de Au Kam San, era o estudante de 22 anos Jason Chao, o que dava imediatamente a entender que não ia dar certo. Em geral, os democratas ganharam 4 mil votos em relação a 2005, o que significa que não só não perderam eleitorado, mas ganharam mais algum, provavelmente entre “o eleitorado jovem”, petisco preferencial de outras listas bem mais agressivas (chatas?). A estratégia do NMD foi, numa palavra, brilhante. Os 27 mil votos totais voltavam a não ser suficientes para eleger um terceiro deputado numa só lista, mas a manipulação de um sistema tipo Hondt da treta permitiu a eleição mais ou menos comfortável. Uma táctica que não está ao alcance de todos, como explicarei mais tarde.
(CON)TRADIÇÕESOs operários foram a formação a solo mais votada, e ultrapassaram a barreira dos 20 mil votos, algo impensável há poucos dias. Dizem que Kwan Tsui Hang desenvolve um trabalho “fantástico” na AL. Bem, talvez as políticas da senhora não tenham assim tanta importância no meu dia-a-dia, mas fico contente por verificar que alguém que trabalha tem gratificação. Mesmo assim a principal razão foi o seu nº 2, Lei Chong Cheng, que tem um discurso algo polémico para alguns gostos, mas que cativa alguns eleitores mais maleáveis. Os
kai-fong perderam um deputado, o que mesmo assim não é mau atendendo que existem rumores de desunião entre a poderosa Associação de Moradores, que nos manda sempre muito correio e SMS.
...E AGORA VAMOS DORMIRChan Meng Kam e a sua lista dos Cidadãos Unidos de Macau foi um dos casos mais interessantes: voltaram a eleger mais uma vez dois deputados, perderam 3000 votos e foram para casa quando já era noitinha e sabiam o seu resultado. É assim que querem participar da vida política? Dizem o que lhes interessa e vão embora? Não ficam até ao fim? O resultado foi decepcionante; via-se na cara do seu cabeça de lista, via-se no desalento dos seus apoiantes. Há quem faça uma leitura optimista: afinal não tem assim tanta força, a comunidade de Fujian em Macau. O Segundo lugar obtido à frente de Ng Kwok Cheong sabe a plástico, e os Cidadãos Unidos sabem que se dividissem a lista em duas, iam assistir a um desastre ainda maior.
UM CASINO É SEMPRE UM CASINOAngela Leong foi buscar 14 mil votos às entranhas dos casinos. A campanha foi muito agressiva e cheia de polémicas, mas sinto que Angela Leong não se importa muito com o que se diz, mas mais com o apoio das massas de quem o emprego depende dela. É mais uma vez deprimente verificar a forma como o empresariado de envolve na política. Nem sei se os lobbyistas do petróleo texanos fariam pior. Em todo o caso, penso que é importante que uma franja tão importante da sociedade esteja representada na Assembleia, e todos esses clichés que por aí se debitam. Destaque para o dia de ontem, onde a lista 10 alugou uma grande parte dos taxis da cidade para transportar eleitores. Os turistas queixaram-se e a noticia saíu no Ou Mun. Brilhante campanha, até à boca das urnas.
RITA ACREDITA(VA)Pereira Coutinho até melhorou a votação de há 4 anos, mas Rita Santos não foi eleita. É difícil perceber a escolha de Coutinho por Rita Santos, mas não sei se um candidato chinês forte ou mesmo a opção “macaense”(Miro?) fariam alguma diferença. O eleitorado de Coutinho parece ser o mesmo de sempre: funcionários públicos, seus amigos e simpatizantes. Rita Santos ficou a quatro mil votos da eleição, o que nem é bom para quem acreditva na sua eleição, nem mau para Pereira Coutinho, que ganha mais quatro anos para desenvolver o seu trabalho, que se espera seja mais do mesmo.
LINDA MELINDAMelinda Chan conquistou o lugar de seu marido David Chow, e até melhorou a votação obtida em 2005. Sempre disse que gostava que Melinda entrasse, mas só nos últimos dias da campanha ouvia mais pessoas a aceitar essa possibilidade. Não sei até que ponto o apoio (ou não) da APOMAC foi decisivo na eleição de Melinda, mas este é certamente um espinho que José Pereira Coutinho tem ainda encravado no dedo. Não gostei de alguns aspectos da sua campanha, mas é uma senhora que sabe estar, e fala bem, e é bonita! Pronto, já disse isto. Agora gostava de a ver a defender os problemas sociais e não sei quê, que não chega ser só “another pretty face”.
POLÉMICAS À PARTE...As tão badaladas polémicas que marcaram a campanha não fizeram mossa em nenhuma das listas. Os cartazes injuriosos à deputada Kwan Tsui Hang acabaram na melhor votação de sempre, a saída de um dos elementos da Lista 15 devido a questões judiciais não fez diferença, e ninguém percebe muito bem em quem votaram as famílias separadas. A suspeita de corrupção eleitoral que recaiu sobre a lista 5 não os impediu de terem sido os não-eleitos mais votados, à frente de Agnes Lam e tudo. Agnes Lam queixou-se de uns posters rasgados, mas o que é isso perante a suspeita de corrupção?
AGNES DE DEUSAgnes Lam “bateu no muro”, politicamente falando, como a senhora gosta de dizer. Agnes Lam não contava com a resistência dos democratas, e pensou que lhes ia roubar (mais) votos. Quando o seu grupo diz agora que o objectivo eram os quatro mil votos, eu não acredito. Depois diz que não contava que os democratas tivessem tantos votos, deve ser em jeito de elogio. Se “não contava”com a lista 1, que recebeu dez mil votos e foi eleita tranquilamente, então não está a fazer o seu trabalho de casa. Agnes Lam é mais (só?) conhecida por comentar aspectos da política local na Tv e nos jornais há vários anos. Por agora vou deixar a menina em paz. Vou ficar atento aos desenvolvimentos.
O SONHO IMPOSSÍVEL DE PAUL PUNPaul Pun, já foi analisado na TDM ontem, faz hara-kiri politico. Apoia um grupo de desamparados e injustiçados, só que não votam. Mesmo assim considero que existem mais potenciais eleitores de Paul Pun que aqueles que se expressam nas urnas. Não há famílias de eleitores que também pedem ajuda à Cáritas? E aquele segmento tão interessante mas tão pouco estudado em ciência política: os toxicodependentes? Acho que também votam, enfim. Boa sorte para Paul Pun no futuro, com já disse há quatro anos.
A COMICHÃO DA COMISSÃOA CE não esteve muito bem nestas eleições. Primeiro devido à demora da divulgação dos resultados, que por incrível que pareça, a esta hora, ainda são provisórios. Não se percebeu ainda muito bem o que é e o que não é permitido fazer, até onde se pode chegar para caçar o voto. Algumas das listas foram “repreendidas”, mas chegaram a reincidir em alguns comportamentos. Também foi confusa aquela história do transporte até às mesas de voto. Podem ser providenciados desde que não se faça campanha no seu interior? O facto de serem providenciados já é campanha per si. É preciso ser mais rigoroso no futuro, e se for necessário, puxar do cacete. Com simpatia e apelos à ordem não vamos a lado nenhum. Ponham os olhos em Hong Kong, de onde saiu a tal jornalista que afirmou que nunca seria possível ver uma lista inteira a ocupar a primeira página de um jornal.
MIROIX E OS GAULESES (OU MACAENSES)Para Miro tenho uma palavra final. Quando se fica em penúltimo lugar, com 905 votos, e uma percentagem pior que a Por Macau, o que se pode dizer? O que falhou? Será que eram os 711 votos em branco destinados à Voz Plural para se realizarem os 1500 votos? Provavelmente todos os eleitores da VPGM estavam no Restaurante Litoral, ontem. Fenómeno interessante contudo, a lista que se diz representativa da multiculturalidade fica atrás da lista 9, Activismo para a Democracia, que faz temer pela sanidade mental dos seu mil e poucos eleitores. Outro cantor arrebatou o último lugar, o indivíduo calvo com umas sobrancelhas estranhas, da lista 11. Essa foi fácil. A semente está aí, portanto vamos ver se brota alguma coisa.
O Bairro do Oriente parte agora para um dia de férias, regressando a todo o vapor na quarta-feira. Foram dias (e noites) perdidas a acompanhar as eleições, da campanha aos programas da lista passando pelo que se disse na imprensa. Amanhã vou procurar olhar para o verde, para descansar a vista.
6 comentários:
Isso da multiculturalidade é uma grande treta
Os portugueses vivem fechados na sua comunidade (às vezes nem isso), os macaenses idem, o mesmo com os Filipinos, Tailandeses e Indonésios, os Americanos praticamente só vivem para os casinos e resorts e estão nas tintas para o resto. E os chineses também não querem saber desta gente toda para nada (à excepção talvez dos americanos, porque esses ainda trouxeram os dólares consigo).
Multiculturalidade? Encontro de culturas? Deixem-me rir
Gostaria de referir que para alem do bom trabalho que o Sr. Paul Pun possa fazer no apoio social, e que o faz atraves da Caritas, a toxicodependencia nao faz parte dos seus planos e objectivos, a nao ser para opinar em aumentar as penas....nunca fez e nunca fara, inclusive chega ao ponto de recusar apoio a pessoas com historial de toxicodependencia, que se encontrem no programa de metadona e que sejam seropositivas, mesmo que nao tenham onde ficar...
Se calhar é porque Paul Pun, não podendo ajudar todos, prefere ajudar os que estão mal porque não tiveram oportunidades em vez dos que estão mal porque não tiveram juízo. Mas isso também não dá votos, como se sabe.
Macau é tão multicultural que querem correr daqui para fora com todos que não sejam chineses.
Essa é que é uma grande verdade, anónimo das 0.32!!!
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