sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Notas finais da campanha


Hoje o Telejornal so canal 1 da TDM começou assim. Três jovens que alegadamente vão votar pela primeira vez sentam-se na escadaria das Ruínas de S. Paulo a falar das eleições de Domingo...em português. Falaram praticamente de tudo, ou melhor, daquilo que insistiam ser "muito importante", nomeadamente a participação cívica e afins. Foi muito divertido assistir, mas para que público se dirigia, exactamente?


Finalmente a suspeita de corrupção eleitoral veio manchar a campanha. O CCAC está a investigar uma das listas, mas não divulgou qual. Coincidência ou não, uma das listas admite ter tido recebido uma visita do Comissariado, que recolheu possíveis provas. As listas com falta de experiência e argumentos têm tendência para captar eleitorado desta forma, o que é suficiente para que se perceba que se trata de uma lista que não vai eleger qualquer candidato – porque não sabe como.


Hoje deu para ver todos os tempos de antena no canal 1 da TDM. Bem distribuído. Listas houve que fizeram um esforço colossal para ler o seu manifesto em português: as listas 4, 15 e 16. Ora se alguém escreveu (ou traduziu) aquilo para eles, custava muito arranjar alguém que lesse, também? Eu nem me importava de fazer o favor de graça, assim em jeito de voice-over. Ng Kwok Cheong, Jason Chao e Paul Pun abriam a boca, mas era a minha voz que se ouvia. Não por qualquer tipo de simpatia partidária, mas por amor à língua de Camões.


Continuo a sentir-me triste e deprimido por algumas listas não me ligarem nenhuma. As tradicionais fingem que sou invisível, os democratas só me dão folhetos depois de muita hesitação, e os único que me abordam, cumprimentam e fingem que me conhecem de algum lado são as listas de Coutinho e Casimiro Pinto. E ainda se diz que não existem listas tendencialmente étnicas. Daqui a quatro anos vou passer a usar uma t-shirt onde se lê: “SOU ELEITOR! EU VOTO!”. Assim fico a conhecer melhor as propostas de todos os candidatos.


Neste último dia de campanha, recebi várias mensagens no telemóvel, uns em chinês e outras em português. As listas apelaram aos seus eleitores (isto é o que acontece quando se pertence a associações) para que não se esqueçam de votar no próximo Domingo. Algumas escreviam que “não tinham votos suficientes, e precisam do seu apoio”. Outras mais alarmistas e directas diziam simplesmente “URGENTE! Amigo, precisamos do seu voto. Não temos votos suficientes”. Ou seja, o acto eleitoral propriamente dito ainda não começou, mas já se contam os votos. Aposto que a esta hora já estão pessoas acampadas à boca da urna até à manhã do próximo Domingo, tão ávidas que estão de “ajudar”.


Lei Kin Yun é o Falâncio de Macau. O nº 2 da lista 9, Associação Activismo para a Democracia, anda sempre de microfone em punho, gritando palavras de ordem contra a corrupção, compadrios de vários tipos e a falta de aquários e zoos em Macau. À vista o rapaz até parece normal, e já tive oportunidade de falar com ele duas vezes. Mas é um animal de palco, que se transforma quando a voz lhe começa a sair pelos altifalantes. O jovem reclama que foi atacado à porta de casa com tinta e ketchup! Isto é escandaloso! Não só é um ataque a um candidate como também um desperdício de comida! O seu nº 1, Ng Sek Io, é “trabalhador da construção civil e trabalhador social”, segundo o seu perfil de candidatura. O homem constrói não só prédios, mas também a sociedade.


Amanhã é dia de reflexão, dia de assimilar tudo e escolher em consciência a lista que melhor servir os interesses de Macau. Espero que os leitores tenham gostado desta (modesta) cobertura da campanha, e tal como eu votem em consciência. A rubrica "Os blogues dos outros" é publicada amanhã, assim como todo o resto da programação habitual. Lembrava ainda que amanhã é o último dia que pode votar no inquérito-de-bolso que o Bairro do Oriente promoveu, ali à direita no topo do ecrã. Bom fim-de-semana e toca a reflectir!

4 comentários:

Anónimo disse...

Para quem não sabe ler chinês, é muito mais fácil decidir em quem votar, já que há poucas listas.

Para mim, só existem 4 listas: a 2 (Nova Esperança), a 6 (Observatório Cívico), a 14 (Voz Plural Gentes de Macau), e a 16 (Associação de Apoio à Comunidade e Proximidades do Povo). O motivo é simples: estas são as únicas listas cujo programa completo está disponível nas duas línguas oficiais de Macau. As outras são listas só para chineses.

Das listas só para chineses, há algumas que são xenófobas de tal maneira que até fazem questão de retirar da sua propaganda o nome português da lista. Eis as listas mais xenófobas: 1, 7, 9, 10, 12 e 13. E o que é que estas listas têm todas em comum, para além do ódio à segunda língua oficial de Macau? Não sabem? Eu digo: todas elas são constituídas maioritariamente por chineses que não nasceram em Macau. Imigrantes que não nasceram em Macau mas acham que isto tudo lhes pertence. Estão a assassinar tudo aquilo que diferenciava Macau do resto da China.

O Leocardo acha que não lhe dão panfletos porque o confundem com um turista? Não lhe dão panfletos porque sabem que é português, e mesmo que esteja cá há mais tempo do que eles, queriam vê-lo bem longe. No fundo, o que eles querem é que isto seja igual ao resto da China. Só não sei é por que é que, assim sendo, não ficaram do outro lado da fronteira. Enfim, é a democracia...

O Analista disse...

É curioso como ninguém respondeu ao comentário do anónimo anterior. Mas eu percebo porquê. Todos sabem que ele tem razão, portanto não há argumentos contra, mas ninguém lhe pode dar a razão que tem, porque isso seria negar a democracia que tanto defendem.

Anónimo disse...

E pena e que das meninas da historia da TDM so uma possa mesmo votar. A nao ser que se andem a criar novos eleitores ao desbarato. Conheco as da Universidade e pelo que sei de ou mun yahn nao teem nada. Nascidas e criadas do outro lado. Talvez seja por isso que valorizam tanto a democracia.

Anónimo disse...

Se, por exemplo, os pais tiveram dinheiro suficiente para investir numa casa em Macau, já são residentes permanentes. Se fossem filipinas é que nem daqui a 50 anos. Mas pelo menos estas merecem ser residentes, que falam português e tudo. Por isso é que, se calhar, até nem são...