terça-feira, 15 de setembro de 2009

Justiça em pó


Hoje queria falar de justiça, ou melhor, da falta dela. O caso Luís Amorim foi arquivado pelo Ministério Público sem que se fique a saber o que aconteceu àquele jovem de 17 anos naquela fatídica noite de 30 de Setembro de 2007, quando encontrou a morte em circunstâncias que provavelmente nunca serão apuradas.

Para os pais, que já regressaram a Portugal, este é mais um espinho cravado no seu coração. Ninguém pode imaginar a angústia que sentem uns pais que perdem o filho sem que saibam porquê, para quê, sem qualquer tipo de consolo em saber a verdade. A verdade, como já disse aqui, não vai trazer o Luís de volta, mas é para isto que serve, ou devia servir, a justiça: para que situações deste tipo não fiquem impunes. É difícil apelar a quem tem vivido com o peso desta morte na consciência nos últimos dois anos que faça o que devia ser feito, que confesse, ou que pelo menos alguém conte o que sabe.

A tese do suicídio, adiantada pelas autoridades, não faz qualquer sentido. Não porque o Luís fosse um rapaz feliz, amado por todos e em vias de prosseguir os seus estudos em Portugal, o que só por si já seria suficiente. Mas porque existem provas materiais e peritagem suficiente para garantir com segurança que não se tratou de suicídio. Por exclusão de partes, restam as teses de homicídio e acidente. Mas quem? E porquê? Nunca existiu realmente uma vontade de se apurar a verdade. Ou se insistem na tese do suicídio, que apresentem provas, factos, qualquer coisa que justifique o facto do rapaz ter posto fim à vida.

No despacho do MP lê-se que não é possível saber nada do que aconteceu. Nem se chegou à ponte Nobre de Carvalho vivo, ou se caíu, ou qualquer tipo de motivo. É como se a investigação criminal nem existisse em Macau. Recomenda ainda uma averiguação interna para melhorar as instruções de trabalho das autoridades no futuro. Futuro, esse, que já não existe para o Luís. Interessa realmente à sua família e amigos que "no futuro" a polícia actue em conformidade "para a próxima"?

Um dos comentários infelizes que tenho ouvido por aí é que "só se fala tanto no assunto porque a vítima era portuguesa". Não quero sequer pensar que se a vítima fosse local a sua família encolhia os ombros e ficava a pensar que "é mesmo assim, paciência". Mas se a vítima fosse americana, por exemplo, tenho a certeza que as autoridades dos Estados Unidos não paravam enquanto não fosse apurada toda a verdade sobre o que aconteceu ao seu cidadão. Aí talvez cantasse outro galo.

Mas connosco parece que vai ficar mesmo por aqui. Os eventuais recursos vão ficar a arrastar-se pelos corredores dos tribunais, e a angústia continuará a fazer parte do dia a dia da família que nunca vai querer desistir e esquecer o ente querido que perdeu estupidamente. A verdade, se alguma, vai ficar a ganhar pó no arquivo. Uma justiça assim mesmo, de pó, que enjoa e dá vómitos.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

"Recomenda ainda uma averiguação interna para melhorar as instruções de trabalho das autoridades no futuro".
Esta é a parte mais infeliz de toda a história, caro Leocardo.
Vamos fazer uma averiguação interna, "melhorar os procedimentos", e fica o caso arrumado.
O que é que interessa o que vai ser feito internamente?
O importante é saber, de uma vez por todas, o que é que aconteceu ao garoto.
Ou não se pode saber??
Enoja, realmente enoja.

Irene Fernandes Abreu disse...

Penso que este crime foi praticado por alguém que tem conseguido, sabe-se lá a que preço, silenciar as autoridades e limpar todas as provas. Talvez o Luis tivesse assistido a algo que tinha de ser silenciado, por estar no lugar errado na hora errada.
Ultimamente tem havido muitos "suícidios"...pudera, nada é averiguado capazmente e está-se a tornar muito comum este tipo de "desculpa".