segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Nos Óscares aconteceram...coisas


Teve lugar ontem a cerimónia de entrega dos Óscares da Academia de Artes e Ciências blá, blá, blá, ou como toda a gente os conhece "os óscares", ou ainda "a m... dos óscares". Não me entendam, houve um tempo em que eu devorava a cerimónia, e contava os dias até aos Óscares. Cheguei a tirar férias para ver a transmissão em directo pela TVB de Hong Kong na manhã seguinte! Depois passei a "aguardar" apenas, a ler e saber mais sobre os filmes e actores candidatos, e com o passar dos anos passei a "dar a uma vista de olhos", apenas "por curiosidade". Ontem nem sabia que era o dia da entrega bonecos dourados. Ou melhor, sabia, pois no dia anterior entregaram-se os "razzies", prémio que distingue os piores filmes do ano, que passou a ser mais interessante que os próprios Óscares. Porquê? Porque é sobre os filmes, enquanto aquilo que se passou ontem tem mais a ver com quem disse o quê, e dizem-se muitas palermices neste dia, quando os olhos do mundo estão postos em Los Angeles, Califórnia, oh yeah órite mádafaka. Não os censuro, e se calhar no lugar deles fazia o mesmo, mas para bem do cinema do propriamente, não é algo que dê algum tipo de contributo. Então como se podia fazer a entrega do prémio de reconhecimento pelo trabalho de actores, realizadores, guionistas, e tudo isso? Uma sugestão:



Pois, e até consigo imaginar o que diria o mestre Hitchcock a propósito deste seu aparente "desprezo" pela Academia: "O senhor quer que eu lhe diga o quê? Eu faço filmes, veja-os, ali está tudo o que eu quero dizer". Mas pronto, vamos dar uma olhadela àquilo que se passou este ano naquela fogueira das vaidades que é Hollywood, e vou tentar sobretudo dos vencedores, e evitar banalidades - mas vai ser difícil.



O grande vencedor da noite foi "Birdman", uma paródia a...espera lá, "Birdman" é "homem-pássaro"...o actor principal é Michael Keaton...este foi o primeiro Batman da série iniciada em finais dos anos 80 por Tim Burton...ah, já sei! O filme fala de um actor que ganhou fama décadas antes no papel de um super-herói, ficando associado ao papel, entretanto foi-se dando a sua decadência e tenta voltar à ribalta. Qualquer coisa assim? Senão, devo ter ficado perto. Seja como for, o filme é bem feito, foi bem recebido pela crítica, conta com vários actores conhecidos e muito "in" em papéis secundários, e tem um toque de humor negro que lhe dá transmite o epíteto de "paródia". Tudo bem, boa ideia, mas para Hollywood, paródia ou outro estilo, interessa é o dinheiro em caixa. O resto é decoração, como os tais Óscares, enfim.



"Birdman" ganhou um total de quatro óscares, e além de melhor filme levou também o de melhor argumento original e melhor realizador, este último para Alejandro González Iñárritu. Agora perguntam-me vocês: "Quem é esse, um dos cabecilhas da ETA?". Na, mas podia ser. Alejandro González Iñárritu é mexicano, o que vale por dizer que foi preciso incluir à última hora os tacos y burritos con salsa muy picante ay ay ay me gusta, señor, y tequila, hombre! no menu da "after-party". Se o nome não vos diz nada, é o realizador de filmes com que a Academia simpatizou bastante no passado, casos de "Amorres Perros", "Babel" ou "Biutiful" - tudo lamechices. Como realizou e teve também créditos de produção, Iñárritu subiu ao palco duas vezes, e da segunda fez este discurso que aqui vêem, dedicando o troféu aos seus compatriotas que emigram para os Estados Unidos, em muitos casos ilegalmente, blá, blá, blá, who cares? E onde é que estão os meus tacos e burritos?



Já na representação, os óscares foram para os outros "pesos pesados" da noite, e não houve surpresas de maior - venceram os mesmos que meses antes ganharam os Globos de Ouro. Assim Eddie Redmayne ganhou na categoria de melhor actor principal em "The Theory of Everything", um biópico sobre Stephen Hawking, o matemático mais célebre por ter passado toda a idade adulta a definhar lentamente devido a um tipo de raro de esclerose lateral amiotrófica, que o deixou hoje na situação que todos sabemos, aos 73 anos. Ouch! O prémio deve ser merecido, este é o tipo de papéis que tem "óscar" escrito nele, ou caso contrário é um fiasco. Contudo o filme deve ser deprimente para lá do que é recomendável; ninguém vai ver o filme por causa da teoria dos buracos negros ou do restante trabalho científico de Hawkings.



Na categoria de melhor actriz principal a vencedora foi Julianne Moore. Finalmente! - dirão uns, eu digo antes "que se lixe", que não suporto a tipa, e não me recordo de um único filme onde ela esteja creditada que eu tenha gostado. O filme que lhe valeu o óscar é "Still Alice", onde faz o papel de uma professora de linguística da Universidade de Columbia que ainda jovem é diagnosticada com a doença de Alzheimer - aparentemente as doenças degenerativas são o "sabor do ano" em Hollywood. Moore falou no discurso de aceitação de como precisou de conviver com pessoas que sofrem de Alzheimer, etc., etc., epá coitada. Como lhe deve ter causado tanta impressão, a doença dos outros.



Nas outras categorias o óscar para melhor actor secundário foi para J.K. Simmons no filme "Whiplash", um dos grandes derrotados da noite. Serve bem, ao actor que conhecemos melhor no papel de director do jornal onde trabalha o Homem-Aranha. Para melhor actriz secundária a Academia deu finalmente o devido reconhecimento a Patricia Arquette, para ver se ela se calava, mas foi pior a emenda que o soneto. A ex-mulher de Nicholas Cage e Thomas Jane fez o discurso de aceitação mais politicamente carregado da noite, apelando à igualdade salarial dos géneros em Hollywood, que é uma "boca" para nos deixar saber aquilo que há muito todos sabiamos. Volta Michael Moore, estás perdoado.



O mestre de cerimónias e respectivamente bobo da corte foi Neil Patrick Harris, Meryl Streep - que tem 183 anos e foi nomeada pela 55ª vez - apresentou a sempre comovente lista dos óbitos de 2014, e o óscar para "continuem a tentar que um dia chegam lá" (melhor filme estrangeiro) foi "Ida", da Polónia. Seria sobre um rapazinho e a sua ratazana de estimação? Para o ano há mais.

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