Ainda no Brasil, a Rede Globo, a maior produtora de televisão do maior país da América do Sul está debaixo de fogo, e tudo por causa de um beijo homossexual. O problema não foi o beijo, mas o que veio a seguir. A história conta-se assim: no último capítulo da telenovela "Amor à vida", transmitido na sexta-feira, os personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), selaram o final feliz com um beijo na boca. Nada de especial, para quem vive no mundo civilizado e sabe que existem homossexuais, e que estes, tal como qualquer outra pessoa, expressam o seu afecto por alguém que os atrai com um beijo. Mas na Globo isto é a primeira vez que tal coisa acontece! Tchã, tachããã...sabiam desta? Pois, e para assinalar este momento histórico, a gerência da Globo enviou um comunicado a alguns media, onde se lia o seguinte:
"'Toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade. O beijo entre Felix e Niko selou uma relação que foi construída com muito carinho pelos dois personagens. Foi, portanto, o desdobramento dramatúrgico natural dessa trama. A pertinência desse desfecho foi construída com muita sensibilidade pelo autor, diretor e atores e assim foi percebida pelo público. É importante lembrar que o relacionamento homossexual sempre esteve presente nas nossas novelas e séries de maneira constante, responsável e natural. A cena esteve de acordo com essa premissa e com a relevância para a história"
Amén, ficamos todos mais descansados. É que se fosse uma cena de pedofilia, de incesto ou uma violação, ainda vá lá, mas dois gajos a beijarem-se? E a seguir? Vão tocar na "bunda" das calças um do outro??? Agora fora de brincadeiras, ninguém entende bem qual é a necessidade da Globo se justificar, e apesar de dizer a certo ponto que "o relacionamento homossexual sempre esteve presente" nas suas novelas, não se entende porque não se lembraram de meter uns gajos "gay" à beijocada antes, e assim tiravam logo o "problema" do caminho - e mesmo estes tiveram que esperar pelo último episódio, coitados. Tudo indica que deverão existir na Globo investidores, executivos, accionistas, etc. conservadores, homófobos, nazistas, e tudo mais, e que foi preciso quase pedir-lhes desculpa de joelhos pelo atrevimento. Não terá sido por reverência aos telespectadores, uma vez que este final de "Amor à vida" teve uma audiência que marcou 48 pontos no Ibope, e num país como o Brasil isto é muito para que exista quem realmente se importa com um beijo "gay" em número que justificasse a missiva.
Esta quasi-polémica podia ter sido perfeitamente evitada - podiam ter ficado quietos, por exemplo, que surtia um melhor resultado. Assim metem os pés pelas mãos a explicar algo que ninguém pediu nenhuma explicação. Além disso, qualquer tipo de enredo "anormal" deste tipo, só serve mesmo para aumentar as audiências - e é lógico que até a Globo sabe disto. A ficção não precisa de imitar a realidade, e é facílimo fazer um filme, uma série ou uma novela sem incluir temas desta natureza, digamos, "fracturante". Nas séries e novelas portuguesas, por exemplo, não vemos os personagens a registar o bilhete do Euromilhões, a ver a bola na TV enquanto comem amendoins e bebem umas jolas, ou os casais a cumprir com as suas obrigações matrimoniais. Se incluem qualquer coisa dessas na história, será certamente de propósito, com uma finalidade previamente pensada. Não é preciso a Globo nos vir dizer que existem homossexuais, ou que é "normal" e eles estão "com os tempos" e não sei quê. Já sabemos disso tudo e de muito mais Mas para realidade na televisão, já bastam os blocos noticiosos.
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