sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sin city? E que tal...shut up city?


Ainda no Jornal Tribuna de Macau, mas naquele confessionário da penúltima página que chamam de "Gente Gira". No topo da tal página temos uma coluna onde se pergunta aos leitores "O que falta em Macau?". Tenho lido de vez em quando, às vezes gosto de saber o que pensa o que sente a gente certa (lá estou eu outra vez com a minha "festivalite" aguda outra vez), e os que têm um pouquinho de imaginação saem da previsibilidade das rendas, do trânsito, dos turistas a mais, etc., e todas essas queixinhas. Hoje contudo fiquei boquiaberto com o que li. Nas palavras de Sá de Miranda, poeta renascentista a quem devemos a introdução do soneto em Portugal (quanto é, já agora?): "M'espanto às vezes, outras m'avergonho" - neste caso as duas coisas.

A entrevistada da edição de hoje deste rubrica do JTM foi uma cidadã filipina, assume que trabalhadora não-residente (TNR), que começa por dizer que no seu país ouvem falar do território como sendo "a cidade do pecado" (os que sabem onde fica, suponho...), e que a dependência do jogo traz problemas como "droga, roubos, extorsão, imigração ilegal, etc.", muito bem, "welcome to Macau", filha. Depois identifica o maior problema como sendo "a prostituição", e de como antes "era só nos casinos", mas agora "é em toda a parte", e isto não pode ser, e remata com a conclusão que "não deviam haver tantas prostitutas", porque Macau é "a capital do jogo e não um centro de prostituição". Ah!

Ora bem, não sei onde foram encontrar esta florzinha de estufa, mas ainda bem que o JTM recolhe a opinião deste tipo de pessoas, pois assim fico a saber o que é Macau: "capital do jogo". E o que não é Macau: "um centro de prostituição". Assim está bem, "Macau centro de jogo", onde as velhinhas completam o cartão do bingo, acabam o cacau e as bolachinhas, e depois vão para a caminha. Ah sim, e não se esqueçam de rezar. Agora prostitutas...que horror. Extorsão e roubo ainda vá lá, agora mulheres que prestam serviços sexuais a homens que as procuram voluntariamente em troco de dinheiro, epá, isso é que não. Abrenúncio, vade retro Satanás.

O texto onde esta delicada senhora se atira com unas e dentes às prostitutas não tem mais de dez linhas, e deixa uma ou duas perguntas no ar. No entanto tenho a certeza que se quiser esclarecer qualquer dúvida é só procurá-la no Largo do Senado este Domingo a cantar "Lord is Jesus" ou "Jesus is Lord" ou ainda "Jesus loves you all night long, his love is all over your face" ou outras inanidades, enquanto segura um saco de pano onde se lê "Flood victims" ou "Medical help" e pedir donativos. Ou então no Sábado à noite num dos bares do NAPE, do MGM, no D2 ou no D3, de garrafa de água benta numa mão e crucifixo na outra, a tentar trazer de volta para os caminhos do bem as suas compatriotas devolutas, que procuram acrescentar 500 ou 1000 patacas aos seus parcos rendimentos mensais - "it's just a part-time, ma'am".

Quer dizer, anda um gajo a gastar o latim, a ponta dos dedos e o teclado a defender os TNR das intenções malávolas da menina da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau e restantes "pangyaos" que só querem ver filipinas, indonésias e outras que tais pelas costas, e vem esta discriminar outras "trabalhadoras" deste jeito. É como se acabássemos de salvar uma coruja das garras de uma águia faminta e a seguir ela abocanhar um ratinho inocente mesmo à frente dos nossos olhos. Não aprenderam nada? E já agora expliquem melhor a pergunta: é "O que faz falta em Macau?", e não "O que está a mais em Macau", ou "Qual é o teu preconceito, ó sua rançosa".

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