Huey Lewis and the News numa fase inicial, quando o mundo era ainda a sua ostra. Um grupo muito 80's, este.
Se os Eurythmics foram a banda dos anos 80 por excelência, Huey Lewis foi o cantor solo que mais encantou os "yuppies". Nascido no ano de 1950 em Nova Iorque mas criado na idílica Califórnia, Hugh Anthony Cregg III deve ter vibrado na sua adolescência com os Beach Boys e outra música "do bem", que fizeram dele um músico certinho, sempre mais preocupado em manter a imagem de menino de coro do que a de um gajo que é capaz de partir a loiça toda. Passa a maior parte dos anos 70 no grupo Clover, onde iniciou a sua carreira artística, e depois do fim destes, em 1978, tocou harmónica com os Thin Lizzy, e em 1980 criou o seu próprio grupo, a que chamou "The News", mas mesmo assim resolveu assumir o protagonismo. Posto isto, nasciam os Huey Lewis & The News, que gravaram cinco discos durante os anos 80, onde gozaram de uma enorme popularidade, especialmente dentro de portas, nos Estados Unidos. Eram tempos materialistas, estes, onde Hollywood apresentava ao mundo a sua interpretação muita própria de como devia funcionar o capitalismo: mansões em Beverly Hills, carros modelo desportivo de luxo ou limousines com bar e linha de telefone incorporados, garagens com porta controlada por controlo remoto, piscina com "Jacuzzi", uma namorada que tenha aparecido na capa da Playboy, e tudo isto pago com cartão de crédito. Huey Lewis era um tipo que tocava um género pop com ligeiras influências do "jazz" (quase residuais), sentado ao piano de óculos escuros, enquanto ao saxofone estava um tipo igualmente de lentes escuras, chapéu de aba "a la The Blues Brothers", e uma gravata com o desenho de um teclado de um piano.
O primeiro disco foi o homónimo "Huey Lewis & The News", que era tão novidade ("news", perceberam? ah, ah) que passou despercebido. Mas o sucesso viria a chegar com a mesma decisão com que a NBA vendia ao mundo o "seu" basquetebol, e em 1982 sai o disco "Picture This", que chega ao top-10 da Billboard, tal como o seu single "Do You Believe in Love?". Reparem no conformismo patente neste vídeo, o estilo americanóide, o pop pastilha-elástica, tão vago e denunciado. Mas nada contra Huey Lewis, que era um músico competente com uma boa voz, bem distinta. O homem certo na época certa.
Se em 1982 "Picture This" tornaram Huey Lewis um nome a seguir com atenção, em 1983 o seu terceiro disco com os The News tornaram-no numa celebridade, e um dos artistas de topo na América". Intitulado simplesmente "Sports", o disco chega a nº 1 do Billboard, e é apresentado por um dos temas mais conhecidos da discografia do grupo, "Heart and Soul". No entanto seu tema mais conhecido é este "I Want a New Drug", que se tornou um dos hinos dos anos 80. O tema não é genial, e a letra nem sequer é sobre "droga" propriamente dita, mas um comentário sobre o "stress" das grandes cidades, essa treta toda, e não passou do nº 6 da tabela de singles da Billboard (é nº 1 na lista de "Dance & Club songs", contudo), mas faz parte de qualquer compilação de canções dos anos 80. Em 1984 são identificadas algumas semelhanças entre "I Want a New Drug" e o tema de "Ghostbusters", que levaram Huey Lewis a processar o autor Ray Parker Jr. de plágio.
E falando em filmes, com quem Huey Lewis teve sempre uma relação de grande proximidade. Na primeira metade dos anos 80 os grandss filmes foram "Fame", "Flashadance", "An Officer and a Gentleman" ou "E.T.", tudo no grande quadro do "sonho americano". O mundo temia a guerra termo-nuclear e um ataque do "inimigo", a União Soviética, e muito boa gente estava convencida que as máquinas viriam a dominar o homem, ao mesmo tempo que muito boa gente acreditava que aqueles computadores grotescos de filmes como "Electric Dreams" ou "War Games" eram "muito perigosos". É para rematar esta sequência em grande estilo que aparece em 1985 o filme "Back to the Future", que nem é um mau filme, diga-se de passagem, e Huey Lewis é escolhido para compôr a canção original. Assim nasce "The Power of Love", que como single vale ao cantor mais um nº 1 da Billboard, um primeiro top-10 no Reino Unido, e pasme-se, a nomeação para um Oscar! "The Power of Love" perde para "Say You, Say Me", de Lionel Richie, do filme "White Nights", mas levam Huey Lewis a passar mais um fronteira no mundo do estrelato. Voltando à polémica com "Ghostbusters", Huey Lewis havia sido convidado para fazer a banda sonora em vez de Ray Parker Jr., mas recusou por estar compenetrado neste projecto para "Back to the Future". Uma opção sensata, é o mínimo que se pode dizer.
Em 1986 sai o quarto álbum de originais "Fore!", que marca o princípio do fim dos Huey Lewis & The News como "grande acto capaz de encher estádios com 50 mil ou mais pessoas" - pelo menos depois deste pouco ou nada se tem ouvido de Huey Lewis em termos musicais. Além do single anterior, "The Power of Love", este "Fore!" apresenta aquela que é para mim a melhor canção do seu reportório. "Stuck With You" é um tema engraçado, e mesmo que igualmente descomprometido, como todo o seu trabalho, parece existir uma feliz harmonia tanto na composição como na execução e na voz do cantor. O vídeo, especialmente, é genial, e o single chega a nº 1 da Billboard (lógico). Outro single conhecido deste registo de originais é "Hip to be Square", um hino "yuppie", e tal como "I Want a New Drug", é um daqueles temas que todos os americanos desta geração conhece de gingeira.
Huey Lewis em 2009, à beira de se tornar sexagenário. Será que dá para pedir emprestado o DeLorean ao dr. Brown e voltar 30 anos no tempo?
"Fore!", com cinco singles a entrar no top-10 da Billboard, foi o topo da montanha para Huey Lewis & The News, e a partir daí foi sempre a descer. O quinto trabalho de originais, "Small World", de 1988, não se compara aos dois anteriores em termos de vendas, e a partir dos anos 90 o grupo começa a cair no esquecimento, e o último disco, "Soulsville", sai em 2001 - já lá vai um bom tempo. Paralelamente à carreira de músico, Huey Lewis entrou em vários filmes e series de televisão, quase sempre em papéis secundários. Quando o vejo no grande ou no pequeno ecrã na sua faceta de autor, faço sempre questão de notar esse facto e dizer: "olha, o Huey Lewis", que para mim é o cantor dos anos 80. E esses anos 80 correram-lhe mesmo muito bem; a sua popularidade era tal, que em 1985 fez parte dos "eleitos" que participaram no projecto USA for Africa, no tema "We are the World", sendo um dos 21 solistas. É verdade que a solo só diz a linha "But if you just believe there's no way we can fall", e depois com Cyndi Lauper e Kim Carnes "stand together as one", mas isto diz muito da sua popularidade para a época - é tanto a quanto Tina Turner tem direito! Em termos de bom gosto ou de importância para a história da "rock-pop", o valor deste Huey Lewis e os seys The News é discutível, mas para a sua conta bancária, foi certamente um período épico.
Sem comentários:
Enviar um comentário