segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Flamenco imperialista e decadente


O Papismo é uma daquelas coisas tão caretas e "démodé" que nem o actual Papa pratica, mas nessa "selva" que é o mundo virtual, por vezes é difícil encontrar os limites. Reparem neste vídeoi onde se vêem cinco crianças norte-coreanas a tocar guitarra clássica. São três minutos e meio que não vão dar por perdidos, certamente, pois estes jovens, que não terão mais que cinco ou seis anos, dão um autêntico "show" a tocar um instrumento que posto de pé será maior do que eles. O "clip" tem sido partilhado em vários "websites" na "net" e algumas redes sociais como sendo "assustador", "terrível" e outra adjectivação alarmante. Claro que isto me despertou a curiosidade, pois da Coreia do Norte espera-se tudo, e assisti até ao fim para ver qual era a "punchline" - e volto a repetir, não dei o meu tempo por perdido - e não aconteceu nada de "horrível". Cheguei a pensar que lá pelo meio uma corda de uma das guitarras se partia e vazava um olho a um deles, ou que o mais pequenote e queriducho se enganasse numa nota e lhe cortassem um dedo com uma tesoura de poda, ou que no fim fossem comidos vivos, mas nada. Tudo o que se vê são as crianças a tocar guitarra espectacularmente bem, com o ar mais alegre e descontraído do mundo, e no fim o públicoi bate palmas, os petizes fazem uma vénia, e "the end". Nada pasa, muchachos. Se estes cinco foram selecionados de um grupo de duzentos, e os restantes 195 foram mandados para campos de reeducação pelo trabalho ou cortados aos pedacinhos e lançados aos tubarões não sei, porque tudo o que nos é dado a ver é uma mão cheia de jovens talentosos a mostrar o que sabe fazer.

Fui ler alguns comentários de outros usuários para tentar perceber melhor a indignação de quem carregou este pequeno filme dotando-lhe de titulação tão alarmista. A maioria partilha da minha estranheza: o que há de terrível e assustador nisto? Mas lá está, porque na era do mundo à distância de um clique, da "aldeia global" que a internet criou, por muito absurda que seja uma opinião, encontramos sempre alguém que concorde com ela. Entre as mais variadas teses do abismo, uns falam de como os pequenos foram obrigados a praticar "até os dedinhos ficarem em osso", ou de como "nem imaginem a disciplina rígida a que foram sujeitos", e há até quem chame a atenção para o sorriso aberto de uma das duas meninas, que de entre a dentição de leite se nota a falta de duas ou três "favolas". Quer dizer, é claro que praticaram, e onde está o mal? Nos outros países os alunos de guitarra ficam em casa à espera que o talento cai do céu? Disciplina rígida? Talvez, mas como é que queriam que eles tocassem tão bem e em perfeita sintonia? Deixando-os a sós e que depois se desenrascassem. A menina sorri porque o tema que interpreta é alegre, e perante isto queriam que fizesse o quê? Que chorasse? E não vi nenhuns ganchos a prenderem-lhe as bochechas por um fio para obrigá-la a sorrir. Faltam-lhe dentes, é natural, ou será só na Coreia do Norte que os dentes caem quando se muda de dentição? Pode ser que a situação de algumas crianças na monaqrquia dos Kim seja dramática, mas estes cinco pelo menos parecem saudáveis e bem alimentados. Um comentário fala de "não ser dada escolha aos jovens senão aprender guitarra". E como é que ele sabe disso? Seria mais democrático deixá-los com o cu sentado em casa e encher o bandulho de hamburgers e "tota-tolas", a ficar obesas enqunanto passavam o dia em frente à PlayStation? Todos sabemos que muita coisa que nos chega do país mais isolado do mundo é suspeita, mas assim tmabém é exagero. Portanto aqui a tabela que se aplica é esta: se fosse no Ocidente, eram "virtuosos" e "olha para eles tão queridos, e que bem que tocam, também", mas como é na Coreia do Norte são "escravos", e "alguém chame os X-Men para ir tirar dali aqueles inocentes, coitadinhos". Vá lá, deixem os miúdos tocar guitarra e tenham juízo.

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