Estôn a uólhar para adonde, carago?
Este fim-de-semana a RTPi transmitiu o programa "3 por uma", um magazine apresentado por três "pivots" femininas - Patrícia Bull, Joana Teles e Adrianne Garcia - e que teve como convidado Manuel Serrão. Vi o programa pelo menos três vezes desde sexta-feira, a última delas na noite passada, e interrogo-me sobre o porquê disto. Pondo de parte o factor de elevado interesse cultural ou grande momento de entretenimento, fico a pensar que a RTPi entrou em "tilt" entre a última sexta-feira e ontem. Das apresentadoras, uma é actriz (Patrícia Bull), e as restantes ficaram famosas pelo programa "Só Visto", que depois mudou de nome para outra coisa qualquer que não interessa, ele próprio um magazine onde se entrevistava a "beautiful people" do nosso país. Adrianne Garcia é uma brasileira radicada em Portugal, e faz questão de demonstrar que está perfeitamente integrada, e para tal tenta mesmo encobrir o seu sotaque, que mesmo assim é por demais evidente. Detesto quando os brasileiros tentam falar "Português de Portugal", da mesma forma que desprezo os portugueses que mal aterram no Rio de Janeiro ou em S. Paulo começam a falar "oi! tchudo beim cara? legau, pô", fazendo a figura do palhaço Batatinha. Ninguém impede a Adrianne de viver e trabalhar em Portugal e mesmo assim manter o seu sotaque original. A falar assim, pronunciando as palavras sílaba a sílaba, parece que teve um AVC, coitada.
Mas adiante. O convidado foi Manuel Serrão, que o público português ficou a conhecer graças ao programa "Noite da má língua", transmitido pela SIC nos anos 90 e apresentado por Júlia Pinheiro, e onde Serrão fazia parte de um painel de comentadores de onde constavam ainda Miguel Esteves Cardoso, Rui Zink e Rita Blanco. Já nesta altura Manuel Serrão era um alarve, continuou a sê-lo depois disso, e pelos vistos não teve melhoras - pelo menos até ao dia da gravação deste programa, que deve ser bem recente. Onde quer que apareça - e costuma ser bastante requisitado - este Serrão não perde uma oportunidade para fomentar uma guerra clubística e regionalista, defendendo com unhas e dentes o FC Porto, de que é adepto, e a cidade do Porto em particular e a região norte do país em geral, seja qual for o tema que se debate, tenha ou não tenha razão. É actualmente membro do painel de comentadores do programa "Prolongamento", da TVI, onde se discute o futebol português, terreno fértil para o tipo de quezílias clubísticas e regionalistas onde Manuel Serrão se parece sentir como um peixe na água. Para que se tenha uma ideia dos figurões que este indivíduo é capaz de fazer, basta olhar para
este vídeo de uma das suas diatribes no referido programa. Nos "links" à direita estão muitos outros exemplos, qual deles o mais "colorido".
Como a maioria dos leitores sabe ou devia saber, sou adepto do FC Porto, mas sou contra estas manifestações bacocas de bairrismo. Sou do sul, sim, mas e depois? Vivemos num país do tamanho do estado norte-americano do Indiana, onde se chega de um extremo ao outro em menos de seis horas, que necessidade há em fazer divisões desta natureza? Será que os americanos do Indiana do norte também diferenciam os do Indiana do sul? Este Manuel Serrão está sempre em "on" quando é hora de iniciar uma guerra norte-sul; basta uma pequena sugestão ou insinuação no sentido de que qualquer coisa no sul é melhor ou maior do que no norte, e lá começa ele a saltitar, como se tivesse um foguete a subir-lhe pelo rabo, levantando a voz e gesticulando ao estilo das peixeiras do Bolhão - com todo o respeito por estas. Não tenho nada contra os debates sobre futebol ou desporto em geral, especialmente se forem feitos em sede própria, como num desses programas de televisão, mas a atitude provocatória de Serrão, que até um forcado a chamar um touro numa pega de caras, dizem tudo sobre a natureza do indivíduo. Fica ligado à corrente e prestes a entrar em curto-circuito com a mesma naturalidade que um elefante toca o sino quando se lhe dá uma moedinha.
Uma dúvida que sempre me apoquentou: afinal o que faz este Manuel Serrão na vida? Aparentemente é empresário ligado à organização de eventos, ou algo que lhe valha. Não fazia ideia, pois nunca o vejo a falar de mais nada do que seja o FC Porto, o Porto e Lisboa, o norte e o sul, o S. João e o Santo António, tudo menos "organização de eventos". Neste programa e na presença das três meninas batia sempre na mesma tecla, diz que o Porto agora ultrapassou Lisboa em qualidade dos bares, dos serviços e não sei quê. Diz que "não tem nada contra Lisboa", onde aliás viveu seis anos, tempo que demorou a obter a sua licenciatura em Direito, mas...há sempre um mas qualquer que sugere algo como: "não tenho nada contra Lisboa, mas o que andavam a precisar era de mais um terramoto, como aquele em 1755". Deve ser deprimente conversar com este gajo, que em 15 minutos deve fazer outras tantas referências ao Porto e ao norte, que deixem bem claro que ele é de lá, não o vão confundir com a alguém do sul. Não me surpreende que já se tenha casado e divorciado não sei quantas vezes, pois para aturá-lo é preciso paciência de santo, e mesmo os santos foram também pessoas, e têm os seus limites. Como é que se diz "cala a boca, morcão", em tripeiro?
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