Os Jogos Olímpicos de Inverno arrancaram ontem na cidade russa de Sochi, com a realização da cerimónia de abertura, que contou com a presença de 40 mil espectadores no local, e foi transmitida para milhões em todo o mundo. Não sou especialista em julgar este tipo de eventos, mas diz quem sabe que esta cerimónia foi a mais spectacular de sempre, quer em jogos de Inverno, quer de Verão. O que sei é que esta XXII Olimpíada de Inverno é de longe a mais mediatizada de sempre, com o protagonismo a ir não para os jogos propriamente ditos, mas para a organização russa, que tem sido criticada por motivos extra-desportivos.
Os jogos são a menina dos olhos do presidente Vladimir Putin, que assumiu pessoalmente a responsabilidade pelo sucesso do evento. Para isso investiu mais de 50 mil milhões de dólares - de um orçamento inicial de 12 mil milhões - para tornar uma cidade da costa do Mar Negro, com um clima húmido e sub-tropical, na sede de uns jogos que requerem montanhas, frio, neve e gelo. Putin arregaçou as mangas e mostrou do que é capaz a "sua" Rússia; o único evento desportivo internacional alguma vez organizado pelos russos foram os Jogos Olímpicos de Verão de 1980, em Moscovo, que em plena guerra-fria foram boicotados pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente.
E falando em boicotes, a empreitada a que o presidente russo se compremeteu tem-lhe dado grandes dores de cabeça, e obrigou-o a engolir alguns sapos. De forma a evitar o boicote dos jogos da parte de algumas democracias ocidentais e garantir o seu sucesso, libertou presos politicos, passou indultos, retirou processos judiciais e "tentou" demonstrar que a Rússia não é um país homófobo, apesar da controversa lei que em Julho de 2012 criminalizou demonstrações públicas de afecto entre pessoas do mesmo sexo e publicidade a actos homossexuais. Antes dos jogos Putin anunciou que os homossexuais "eram bem vindos, desde que deixassem as crianças em paz". Foi pior a emenda que o soneto, e à recepção realizada esta semana na véspera dos jogos faltaram vários líderes de potências mundiais ocidentais.
Os jogos que ontem se iniciaram e que terminam no próximo dia 23, os mais caros de sempre de qualquer olimpíada, ultrapassando Pequim 2008, são o "tour-de-force" de Putin para mostrar ao mundo que a Rússia é outra vez uma grande potência. Vão ser duas semanas que não vão deixar o presidente russo dormir tranquilo, quer pelo receio de ataques terroristas da parte de grupos separatistas dentro do território russo, quer pelas provocações de associações de defesa dos direito LGBT, que não perderão a minima oportunidade de demonstrar a insatisfação pelo tratamento que lhes tem sido dado pelo Kremlin. Pessoalmente agrada-me que Putin resolva demonstrar o poderio do seu regime através da realização de um certame desportivo, e não de outra forma, mas compreendo e simpatizo com todos estes "mas" que referi acima. Este é um daqueles casos onde se aplica o adágio popular: "um olho no burro, outro no cigano". Aqui o burro são os jogos, e o cigano é Putin.
PS: O vídeoi que aqui deixei é da cerimónia de abertura na sua (quase) totalidade, cortesia da RT. Para quem se interessa por estas coisas, e estiver com tempo e paciência, claro.
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