Desde 1929 que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas sediada em Beevrly Hills, na Califórnia, atribui anualmente os Oscares, uma estatueta dourada e um prémio monetário que reconhece o melhor que foi feito no cinema no ano anterior. A estátua tem um valor meramente simbólico, e alguns galardoados colocam-na à venda no eBay, mas o prestígio pode abrir muitas portas para projectos lucrativos e apetecíveis. Ninguém ganha um Oscar e depois anda com ele pendurado ao pescoço, ou exibe-o em cima do móvel da sala, para impressionar as visitas. Os Oscares causam a ira dos anti-americanistas militantes, pois os filmes distinguidos são ora americanos, ou circularam na rede de filmes dos Estados Unidos, e mesmo esses são em 99,9% dos casos falados em inglês. Existe uma categoria que premeia o “Melhor Filme Estrangeiro”, e aqui por estrangeiro entende-se “que não é americano ou falado em inglês”.
A própria cerimónia há muito que abandonou características como a simplicidade ou em muitos casos o bom gosto. Apresentados por uma celebridade, normalmente um engraçadinho com um sentido de humor marcadamente americanóide, tipo Bill Crystal ou Ellen DeGeneres, os Oscares navegam normalmente ao sabor do vento das modas, e não há “momentum” social ou politico que seja ignorado. Mesmo a atribuição de alguns Oscares dependem de critérios que vão muito além da qualidade do filme ou da interpretação em questão. Nos seus mais de 80 anos de história os Oscares ficaram marcados por momentos hilariantes, comoventes, bizarros ou surpreendentes, um pouco de tudo para todos os gostos. Mesmo para quem não gosta, é impossível ficar indiferente quando acontece qualquer coisa de…diferente.
Os Oscares mais apetecíveis são os que se prendem com a produção, realização, argumento e interpretação, e são cinco, por esta ordem: melhor filme, melhor realizador, melhor actor principal, melhor actriz principal e melhor argumento, que pode ser original ou adaptado de outro material. Ganhar um ou dois destes sabe sempre melhor que ganhar todos os outros, e apenas três filmes conseguiram o feito de os levar todos: “It Happened one Night”, “Voando sobre um ninho de cucos” e “O silência dos inocentes”. Existem Oscares que distinguem os aspectos técnicos, como o som, a maquilhagem, a cinematografia ou a fotografia. Com o leque se Oscares ao dispôr, há profissionais de outras artes que não o cinema que podem ser contemplados com um Oscar. Só assim se explica que Phil Collins tenha ganho um Oscar por exemplo. Ele também foi actor, mas o melhor é ficar pela música.
Com uma história tão longa e respeitável, é natural que existam recordes. Os três filmes mais premiados, que venceram 11 Oscares, foram “Ben Hur”, “Titanic” e “The Lord of the Rings: The Return of the King”. Este teve o mérito de ter vencido em todas as categorias para que foi nomeado. Além de “Titanic”, “All About Eve” é o filme que recebeu mais nomeações, num total de 14. Como já referi aqui ontem no capítulo que dediquei à animação e ao cinema infantil, Walt Disney foi o indivíduo que mais Oscares venceu, um total de 26 – 22 “a doer”, e ainda mais quatro honorários ou póstumos. A juntar a isto foi ainda o recordista em número de Oscares num ano, tendo ganho quatro em 1953. A título de curiosidade diga-se que a mulher que mais Oscares venceu foi uma tal Edith Head, que levou para casa oito estatuetas, e todas pelo melhor guarda-roupa. Que machista é, ou foi, este sr. Oscar.
O realizador mais premiado é um clássico, John Ford, que venceu quatro da cinco vezes que foi nomeado. Uma eficácia maior que a de William Wyler, o recordista em nomeações com um total de 12 (!), das quais venceu apenas 3. Entre os contemporâneos, Steven Spielberg venceu duas das sete vezes que foi nomeado, enquanto Martin Scorsese e Woody Allen venceram apenas uma, e também foram nomeados em sete ocasiões. Entre os realizadores que nunca venceram o Oscar, apesar de terem merecido múltiplas nomeações, encontramos nomes como Alfred Hitchcock, Federico Fellini, Stanley Kubrick ou Ingmar Bergman – custa a acreditar. Curiosamente nenhum realizador venceu todas as vezes que foi nomeado. Mesmo entre os que venceram apenas numa ocasião, foram nomeados pelos menos duas vezes.
Na representação, o rei, ou neste caso a rainha, é Katherine Hepburn, que venceu quatro Oscares para melhor actriz. Segue-a de perto Meryl Streep, que venceu em 3 das 14(!) vezes que foi nomeada, juntando ainda três nomeações para melhor actriz principal. Nos actores o improvável Daniel Day-Lewis é o mais galardoado, vencendo três das cinco nomeações. Jack Nicholson venceu também três, mas um deles como melhor actor secundário, em “Reds”. Laurence Olivier e Spencer Tracy são recordistas em matéria de nomeações, com nove, mas apenas venceram uma vez. O prémio tem uma tendência para “escrever direito por linhas tortas”, contemplando actores em filmes que não são nem de longe nem de perto os seus melhores. Foram os casos de John Wayne com “True Grit”, ou Paul Newman com “A cor do dinheiro”. A outros faz-se justiça à sua carreira meritosa com um mero Oscar para melhor actor secundário, como Jack Palance em “City Slickers” ou Martin Landau em “Ed Wood”. A quem nunca foi feita justiça é Peter O’Toole, nomeado por oito vezes, e sem uma única estatueta.
No departamento da escrita, ninguém bate Woody Allen, que já arrecadou 3 estatuetas de um total de 15 nomeações para guiões originais para cinema. Quentin Tarantino está no bom caminho, com dois Oscares em três nomeações, mas falta-lhe a frequência de Woody Allen, que faz em média um filme por ano. Nas categorias ditas “menores”, destaque para o Oscar para melhor filme estrangeiro, onde as estatísticas não se fazem com nomes, mas com países. Assim é o cinema italiano o preferido da Academia, com 13 Oscares em 27 nomeações. Segue-se a França (12/36), a Espanha (4/19) e o Japão (4/12). Israel tem dez nomeações, e nenhum Oscar. São assim os Oscares, uma vez por ano, para alguns uma festa, para outros uma ostentação inútil. Tantas histórias que tem para contar, e certamente outras ainda virão.
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